sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vamos?



Se há instituição que respeito e pela qual tenho a maior admiração ela é o Banco Alimentar contra a fome. Sempre que há uma campanha de recolha de alimentos, e mesmo que não esteja nos meus planos ir às compras nesse fim-de-semana, arranjo uma forma de ir a um hipermercado e de contribuir com um saco cheio de arroz, massa, feijão, salsichas e atum. Sei que aqueles dois ou três euros que gasto não me vão fazer falta, mas que farão a diferença sobre a mesa de quem precisa. Não me interessa, como muita gente teima em lembrar de forma mesquinha, se há gente a receber ajuda sem que precise realmente dela. Não quero saber disso: sei que há muitas pessoas que precisam daquela comida e conto com o bom discernimento de quem faz a divisão e distribuição dos bens.

Por isso parte-me o coração a notícia que li no Expresso deste Sábado. O que o Banco Alimentar tem em armazém, neste momento, é muito pouco e por isso este mês a presidente, Isabel Jonet, «teve de decretar um corte nos cabazes de bens essenciais que distribui a cada instituição de solidariedade social e que estas entregam às famílias carenciadas.»*. Prevê-se um enorme corte naquilo que o Banco Alimentar poderá dar até Maio de 2012: «[...] serão dados menos 30 mil litros de leite, duas toneladas de bolachas e 25 toneladas de arroz». Esta realidade parece-me assustadora, tanto mais porque as dificuldades com que o Banco Alimentar se depara não ficam por aqui. Para conseguirem poupar, as empresas diminuiram a produção, uma vez que a procura também desceu. Como tal, as sobras são cada vez menos e, assim sendo, o que as empresas entregam ao Banco Alimentar chega em menor quantidade do que noutros anos. Também os produtos frescos (que todos nós sabemos que são usados nas cantinas sociais que diariamente preparam refeições para quem não tem o que comer) estão a escassear, já que os próprios vendedores destes produtos estão a reduzir as encomendas, sobrando menos alimentos para entrega ao Banco.

Contudo, a mais chocante machadada no trabalho do Banco Alimentar tem que ver com a verba que o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC) da União Europeia vai entregar aos países membros. Se até aqui «Portugal recebia 40 milhões em leite, arroz, massa, bolachas, cereais, queijo, leite, manteiga, açucar e farinha», nos próximo dois anos passará por um inacreditável corte de 76%, ou seja, «passa a receber 4,5 milhões». De 40 milhões para 4,5 milhões. E sabem porquê? Porque seis países (Alemanha, Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Holanda e República Checa) «bloquearam a distribuição da verba». Isabel Jonet explica: «É uma decisão política, inconsciente, de países de indústria onde a agricultura não tem importância e a quem não interessa contribuir para um fundo que não lhes anima a economia». E, com muita razão,  opina: «É incrível fazerem braço de ferro com a comida que alimenta 18 milhões na Europa».

Portanto, minha gente, o Banco Alimentar, que sempre tentou não faltar a ninguém, vê-se agora em risco de chegar a cada vez menos mesas e precisa de nós. É verdade que nunca conseguiremos suprir o enorme corte de 76% do PCAAC, mas podemos dar o nosso melhor e ajudar esta instituição que nos enche de orgulho e que tem feito um trabalho tão admirável. Nos próximos dias 26 e 27 de Novembro decorrerá a próxima campanha de angariação de alimentos e eu faço o apelo a todos os que por aqui passam diariamente, a todos os que já têm vindo aqui rir comigo: desta vez o assunto é de poucos sorrisos, mas pede grandes acções. No fim-de-semana de 26 e 27 de Novembro vamos todos ao supermercado mais próximo e vamos encher os sacos que nos for possível encher. Vamos ajudar o Banco Alimentar e quem dele depende. Vamos fazer a diferença e mostrar que, mesmo no meio da crise em que vivemos, conseguimos olhar para o lado e ver que existe quem precise da nossa ajuda. Vamos contribuir. Vamos encher o Banco Alimentar e ajudá-lo a fazer aquilo que até hoje tem feito tão bem: lutar contra a fome.

Conto convosco.

* Citações retiradas da notícia «Menos arroz, leite e bolachas nos cabazes do Banco Alimentar», publicada na edição do Expresso de 12 de Novembro de 2011 e escrita pela jornalista Raquel Moleiro.

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