quinta-feira, 30 de junho de 2016

Como???

O que leva alguém escolarizado (repito ESCOLARIZADO) a achar que “hanbiente” é a grafia correcta da palavra “ambiente”? E que “houvesse”, do verbo “haver”, se escreve “ouvesse”? E que em vez de falar em “civismo”, menciona o “civilizismo” ou, pior ainda, acha que gente com civismo é gente “sivilizada”? Ou que acha que uma atitude que causa vergonha é “envergonhosa”? Ou ainda que acha que em vez de “quisessem”, no pretérito imperfeito do conjuntivo, a grafia correcta é “quise-sem”? O que passa pela cabeça destas pessoas que frequentaram a escola durante largos anos e depois escrevem assim? Principalmente quando boa parte dos erros eram evitados com um pouco de raciocínio (por exemplo: se “houvesse” é do verbo “haver”, obrigatoriamente tem de escrever-se com “H”). Ainda me choco com esta gente, ou melhor, com esta “jente” (sim, este também é um erro já visto...).

domingo, 26 de junho de 2016

Em ânsias


Comecei a ler este livro ontem e já quase estou a precisar de acalmar-me. Narra a história de um bibliófilo que encontra um manuscrito comquatro séculos que dá a entender que o autógrafo do Quijote (ou seja, o manuscrito escrito pela mãozinha boa de Cervantes) existe e pode ser encontrado. Claro que isto é ficção (se tal hipótese fosse a sério já estaria a hiperventilar e a respirar para um saquinho de papel). Mas com a brincadeira, acabei de descobrir que no local onde antes funcionou a oficina de Juan de la Cuesta, o impressor do Quijote, agora está a Sociedade Cervantina (Calle de Atocha, 87) e que pode ser visitada. Por isso, muy em breve aí vou eu! 

É raro um livro deixar-me neste estado de nervos, mas os senhores Cebrián e Mendonza estão a consegui-lo muito bem. Ainda por cima não existe tradução para português, pelo que ler sobre o Quijote em espanhol é ainda melhor. Estou em ânsias para ver no que isto dá, senhores, em ânsias!

Gatos pretos

De tempos a tempos vou vendo no Facebook avisos a pessoas que tenham gatos para dar/vender para que tenham cuidado com os seus gatinhos pretos e para que, assim, tenham cuidado com as pessoas a quem vão entregar esses animais. É que, dizem, não raras vezes esses animais são procurados para rituais e sacrifícios que envolvem animais daquela cor.

E assim, de repente, apenas com a ajuda de uma ferramenta tão do século vinte e um como é o Facebook, faço uma viagenzita até à Idade Média, quando as pessoas acreditavam em coisas que hoje nos fazem rebolar a rir. A ser verdade o que ali está, coisa que até nem me faria espantar dados os níveis altíssimos de estupidez que alguns humanos conseguem alcançar, estamos perante a idiotice das idiotices, a crueldade das crueldades. Alguém devora filmes de terror e acredita em coisinhas obscuras e tenebrosazinhas e quem se lixa são os gatos pretos? Caríssimos tipos que vivem retidos algures no século XIII, querem sacrifícios? Querem oferendas às “coisas" em que acreditam? Pois sacrifiquem-se a vós mesmos. Que têm os animais que ver com isso? Ah, pois... Um pequeno gato não dá luta, não é? Isso chama-se cobardia. Será que a “coisa” adorada gosta de ser adorada por cobardes? 

Já que estamos a falar de gatos pretos, ainda outra coisa que costuma aparecer-me no Facebook. Muitas vezes sou informada pelas páginas de pessoas que recolheram animais ou por instituições sobre o facto de os gatos pretos serem os de mais difícil adopção. E porquê? Porque, novamente, muita gente ainda vive encalhada ali entre o período pós-queda do Império Romano do Ocidente e o Renascimento e acha que (até me custa dizer isto) os gatos pretos dão azar. Filhos, sabem o que dá um azar do caraças? Ser estúpido ao ponto de se achar que um gato (santo Deus, isto é tão ridículo), UM GATO, dá azar pela cor que tem. Como se o gato tivesse uns poderes maléficos quaisquer que lhes chegam pela coloração do pêlo. A sério, minha gente? A sério que um gato dá azar por ser preto??? Portanto, se for cinzento pode ser; se for branco com manchas pretas também; se for preto com manchas brancas, manda vir que se põe um guizo e dá-se-lhe comida... Mas se for preto cruzes canhoto que vamos ter muito azar! É isto? Desculpem-me, mas se este é o vosso pensamento, talvez nunca ninguém vos tenha dito mas sois idiotas e talvez acéfalos.

Um gato é um gato. Só isto. Independentemente da cor que tem, merece respeito, carinho, atenção. Os humanos que fogem de gatos pretos pela crença de que trazem azar conseguem ser estúpidos ao pontos de serem assim mais ou menos “racistas" com gatos. Estou a fazer de propósito para evidenciar o quão estúpido e medieval isto é. São coisas destas que cada vez mais me fazem olhar de lado para os humanos e de frente para os animais.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

A teimosia

Uma pessoa gasta dinheiro em bolinhas, ratinhos, caninhas de pesca, arranhadores de última geração com diferentes andares para descanso e brincadeira e no fim de contas o que querem eles? Um pacote de M&M’s vazio ao qual se deu um nó para voar melhor e o braço de qualquer sofá da casa para afiar as unhas. Não há dúvida: quando Deus criou os gatos, criou a teimosia.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Contentinha

E não é que finalmente ganhei um livro num passatempo de uma editora? Estou tão contentinha!

A “gatica"

Este blogue vive numa balança que tem dois pratos: livros e gatos. De vez em quando lá vem outra coisa, mas os dois temas de que mais se fala aqui são mesmo esses. E hoje voltamos aos felinos.

Faz hoje um ano que a minha gata chegou cá a casa. Lady Gatinha era uma migalhita de gato e ao pé do gatarrão que já por cá morava parecia o pequeno-almoço dele. Apesar de o Senhor Gato ser um doce, tivemos medo de que ele lhe desse uma dentada ou assim, mas depois de alguma estranheza ficou tudo bem. Portanto, faz hoje um ano que a “gatica”, como costumo chamar-lhe, dormiu a primeira noite cá em casa, escondida sob a minha mesa de cabeceira para o Senhor Gato não lhe moer o juízo, protegida por uma barreira de chinelos. Faz um ano hoje que ganhei o hábito (que entretanto desapareceu, felizmente) de “adormecer a gata”: ela era tão bebé, tão pequenina que eu precisava de garantir que ela dormiria de forma segura. Então quando eu ia para a cama, levava-a comigo, punha-a a meio da cama (para não cair, como se faz com os bebés) e fazia-lhe festinhas até ela adormecer. Depois eu já podia descansar sossegada porque ela estaria ali quietinha. Faz hoje um ano que o Senhor Gato mudou completamente: deixou de parecer um cão para passar a parecer-se mais com um gato. Uma companhia, mesmo tão pequenina, mudou-lhe a vida toda. De há um ano para cá passou a ter quem perseguir e também passou a ser perseguido. As corridas que faz já não são atrás de mim, mas atrás da colega peluda que desconhece o que seja “estar quieta”. Eu deixei de ser “o gato do meu gato” porque ele passou a ter uma companhia à sua altura. Fui muito menos mordida desde que chegou a “gatica”. Há um ano que aqueles dentinhos não me atormentam e isso é bom.

E então é isto: vivo numa loucura desde que o Senhor Gato me entrou em casa. Tenho quinhentos olhos para tudo e desde o dia vinte de Junho de dois mil e quinze passei a ter o dobro para os disparates felinos que por aqui se fazem. Se fui feliz com a chegada do Senhor Gato, o aparecimento da “gatica” completou tudo. Por mim até havia mais um peludo cá em casa, mas enquanto tal não acontece, somos todos muito felizes assim. Eu cuido deles com tudo aquilo que posso, mas eles também me dão muito a mim. Quem tem animais sabe como é e sabe que cada dia com eles vale bem a pena.

domingo, 19 de junho de 2016

Para o spam

Fui em tempos cliente da Tiendanimal. Acho que todos os donos de animais sabem o que é: uma página na internet que é como uma loja de produtos para animais, mas virtual. As coisas que compramos chegam-nos a casa uns dias depois de fazermos a encomenda e os descontos relativamente às lojas físicas são consideráveis. Toda a gente sabe que as rações, as areias, as saquetas... enfim, tudo o que é para animais domésticos é caríssimo. Por isso tudo o que tenha promoções é uma ajuda. 

Ora, no final de 2014 tive uma chatice com a transportadora que faz as entregas da Tiendanimal. Reportei ao site, mesmo sabendo que uma coisa é a Tiendanimal e outra é a empresa que leva as coisas a casa do cliente. Nunca ninguém me respondeu. Dei a conhecer à transportadora que por causa do seu mau desempenho teria de deixar de fazer compras na Tiendanimal (e nessa altura fiz questão de que a Tiendanimal soubesse disso). Nunca se manifestou.

Noutros tempos tinha tido um problema com a Tiendanimal e esta resolvera-o bem. Mas não gostei de pedir umas três ou quatro vezes uma informação sobre um produto e não obter resposta. Como não gosto de falar para o boneco, comecei a fazer compras na Zooplus, que é uma página parecida, mas com uma maior oferta e, sobretudo, um armazém que fica mais perto de casa nos casos em que a transportadora não apanha ninguém em casa para fazer a entrega.

Mudei, está mudado. Os clientes agarram-se não pelo silêncio quando têm uma dúvida ou uma questão, mas sim pela resposta e preocupação demonstrada com a sua satisfação. A Tiendanimal, a quem cheguei a fazer muitas encomendas nunca me soube ou quis responder às simples perguntas “Por que motivo não vendem ração para Bosques da Noruega da Royal Canin? Há previsões de virem a vendê-la?”. A Zooplus vende essa ração e por isso (e pela tal confusão com a transportadora) mudei a minha preferência para a Zooplus.

Uma coisa não tem nada que ver com a outra, mas agora não há dia em que não receba um email com promoções da Tiendanimal. UM ÚNICO DIA! Dá vontade de mandar para lá um email a dizer que os meus gatos não comem assim tão depressa para poder aproveitar as promoções diárias. Mas fiquei vacinada: não receberia resposta nenhuma, assim como nunca recebi às questões que coloquei. Por isso mesmo, mantenho a Zooplus e mando os outros emails para o spam

Heresias

Ontem, o Daniel Oliveira (o que participa no programa “O Eixo do Mal”, da SIC Notícias) fez uma publicação no Facebook na qual criticava veementemente a “qualidade” dos livros de José Rodrigues dos Santos (JRS). Fui espreitar os comentários, pensando que as pessoas concordariam com ele e cai-me tudo ao chão quando percebo que o autor da publicação estava a ser altamente censurado pelo que tinha dito. Alguns dos comentários são até, parece-me, ofensivos e desnecessários. Começo, por isso, a considerar que agora há um D. Quixote histérico dentro de cada um de nós, sempre pronto a pegar na lança e correr à porrada moinhos de vento ainda mais inofensivos do que os do livro de Cervantes. Mas adiante.

Um dos comentários arrepiou-me tremendamente. Uma senhora, no seu desejo de defesa do jornalista da RTP que por acaso se dedica à escrita e vende que se farta, disse que ele, JRS, era para ela o sucessor de... Eça de Queirós. Não consegui evitar e tive de perguntar à senhora se estava mesmo a falar a sério. Se se referia ao Eça de Queirós de Os Maias e de O Crime do Padre Amaro. A senhora confirmou e disse que a JRS só faltava a ironia queirosiana porque de resto, nas descrições e tudo, eram muito parecidos. Ora, só por aqui me chega: se lhe falta a ironia queirosiana, como raio poderia ser o seu sucessor se a ironia de Eça era tudo? Ela distingue-o de todos. 

Ainda pensei responder à senhora, mas depois de pensar um bocadinho na coisa acabei por concluir que ao domingo estou de folga e não tenho de dar aulas a ninguém. Bem bastam os dias úteis para ouvir disparates como os que ouço vindos de MIÚDOS, gente pequena ou já adolescente que ainda anda a aspirar informação para um dia fazer escolhas e dar opiniões formadas sobre o que lhes passar sob a vista (e que, portanto, sempre têm mais perdão para os disparates). Explicar a mulheres adultas que comparar JRS a Eça de Queirós daria, noutros tempos, direito a Auto-de-Fé no Terreiro do Paço tamanha é a heresia dá trabalho e não me pagam para isso.

Por outro lado, tenho pena. Quando uma pessoa é incapaz de ler Eça de Queirós e outra coisa cuja qualidade estético-literária é, digamos, “diferente” e escondidita (para dizer o mínimo) e não reconhecer as diferenças, já está tudo perdido. Não há professor de Português ou de Literatura deste mundo que consiga voltar a pôr o mundo nos seus eixos na alma de quem fez tal comparação. Muito menos utilizando apenas a caixa de comentários de uma rede social. 

Mas é, enfim, muito doloroso saber que há quem diga estas coisas com um grau de certeza quase inabalável. Eça de Queirós pode ser comparado a outros autores, sim. Foi desde sempre comparado ao brasileiro Machado de Assis e nessa comparação, meus caros, não sei se o segundo não ganha (da genialidade de Machado de Assis poderemos falar noutro dia), já se falou dele em alguns estudos em comparação com Zola, por exemplo. Comparar não é mau e se for com os melhores então é perfeito. Mas comparar alguém que nos deixou das melhores páginas de prosa da literatura portuguesa; que espelhou a nossa realidade da época em romances plenos de ironia, mas que nunca sacrificaram a qualidade da narrativa no altar do “avacalhanço”; que soube descrever como quem “dá a ver” in loco as personagens, os lugares, as paisagens que se avistavam de dentro de uma caleche ou através de uma janela voltada para um jardim; que soube relacionar os espaços exteriores com o que acontecia na vida das personagens, que foi capaz de ir deixando indícios que nos permitiam (pelo menos aos mais atentos) perceber o que viria de lá a seguir, através de um pormenor num tapete ou de umas rosas vermelhas numa jarra; que soube, num tempo sem internet e acesso facilitado ao saber, num tempo em que os livros chegavam de Paris através do comboio... Comparar esse escritor com um jornalista que pesquisa muito para escrever os seus livros, mas que parece que não tem o mesmo domínio da palavra que tinha o Eça e que parece procurar sempre uma teoria da conspiração (opinião minha) que é pomposamente revelada no seu romance é de mais. Absolutamente de mais. É não ter a mínima noção do que é a literatura, do que é o cânone literário, do que são os clássicos, do que transforma um livro num clássico e do que exclui um livro dessa designação. Eça sobreviveu ao tempo: morreu há mais de cem anos e continua a ser lido. Mais: é de tal forma um monumento literário que os seus livros se estudam no sistema educativo português (tal como, se não estou em erro, Machado de Assis se estuda no brasileiro). Só isso já me dá conta do que é Eça e a sua obra. Será que o mesmo acontecerá um dia aos livros de JRS? Na minha mais que modesta opinião, duvido. 

Vende muito, será bom entretenimento (para quem aprecia o género, o que não é o meu caso), mas não me parece que tenha o que é preciso para perdurar na memória das gerações. Leva-se para a praia e lê-se bem, não exige um esforço interpretativo tremendo, mas não creio que um dia venha, como o Eça, a merecer ser estudado pelos alunos em formação. Um fenómeno de vendas não é sinónimo de qualidade. O livro do menino que diz que foi ao céu e voltou também vendeu milhões de cópias e nem por isso tem a garantia de vir a ser mais do que isso: um livro no meio de tantos outros que todos os dias são colocados nas prateleiras das livrarias. Vender é uma coisa, vencer é outra. Aparentemente só muda uma letra, mas neste caso faz toda a diferença. Eça vende (muito em parte porque é estudado), mas menos que JRS, provavelmente, mas venceu o tempo. JRS vende muito, contudo, será capaz de vencer o teste do tempo e da memória ao longo das gerações? Eu duvido. E vocês?

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Trocas e baldrocas

Estamos a poucos dias do início do Verão. Pois bem: hoje vinha comigo no autocarro uma senhora vestida com um casaco de Inverno. E olhem que não parecia nada encalorada ou incomodada com o cobertor que trazia em cima. De facto, estava um vento frio. Talvez não justificasse totalmente tal peça de roupa, mas até se consegue compreender o que passou pela cabeça da senhora quando resolveu vestir aquilo a dezasseis de Junho.

Ontem, ao sair de casa de manhã, chovia. Já havia chovido durante a noite, mas quando saí já era uma chuvinha “molha parvos” que não fazia grande mossa. Entrei no autocarro e cruzei-me com coisas tão estranhas como pessoas de chapéu de chuva na mão, casacos no corpo e sandálias nos pés. Ora, quando percebi que tinha chovido e que parecia bem que continuaria a chover, a primeira coisa que fiz foi proteger os pés. Como ainda não tinha arrumado as minhas botas mais “levezinhas”, calcei-as. Mas devo ser a única que pensa em proteger os pés quando chove. O resto do mundo protege-se com casacos e guarda-chuvas e que se lixem os pés. Sandálias, sabrinas e até chinelos era o que se via nos pezinhos das pessoas com quem me cruzava. E só me perguntava: então e as poças? Só eu é que me cruzo com poças? Bom, parece que sim. Para mim o problema maior desta chuva idiota à beira do Verão é a água badalhoca que fica no chão. Para o resto do pessoal é a aguinha rala que cai do céu. Cada um com os seus problemas. Respeitemos.

Mas antes de ir-me embora, expliquem-me por favor que raio de Primavera foi esta. Continuo a ter de usar camisolas de manga comprida ou meia manga e há dois dias que ando de botas... Estamos a poucos dias de chegar à estação supostamente mais quente do ano, mas a mim parece-me Outono. Já não percebo nada. É verdade que não gosto nada de calor, mas gostava de conseguir perceber alguma coisa disto e, de preferência, de pés ao léu.

terça-feira, 14 de junho de 2016

É triste

A Feira do Livro acabou há um dia e já tenho saudades. Não há dúvida de que Lisboa fica bem mais bonita com aqueles pavilhões coloridos no Parque Eduardo VII. 

Claro que nestes dias em que a Feira esteve aberta ouvi de tudo. Desde o “Ainda não fui lá.”, passando pelo “Tenho muitos livros para ler e por isso este ano não vou.” até ao mítico “Não gosto nada de ler.”. Felizmente, também falei com pessoas que gostam efectivamente de ler e de conhecer novos livros. 

A minha relação com a Feira é já antiga. Normalmente a minha irmã ia lá comigo uma vez e podia trazer um livro. Lembro-me de uma vez em que fui com a minha mãe e uma prima. Era eu tão teenager que comprei... um Nicholas Sparks (vá, gozem). Entretanto fui crescendo e muitas vezes namorei a Feira quase de longe, com pouquíssimos tostões no bolso para lá gastar. Era estudante e isso significava que não tinha rendimentos para gastar em livros. Nessa altura nem tinha muitos livros em casa. Ou melhor: tinha uns quantos, mas não eram as coisas de que mais gostava no mundo. A minha irmã lá me oferecia uns livros de vez em quando. Foi dela que veio O Principezinho e os Diários de Adrian Mole. Facilmente se percebe que foi grande o seu contributo para me transformar numa leitora. Também vi sempre a minha mãe a ler, sobretudo policiais (curiosamente, é coisa que aprecio pouco). O meu pai lê diariamente jornais, mas livros nunca.

E assim fui crescendo até ter o meu próprio dinheiro e poder gastar uns trocos em livros. É dinheiro que não gasto em viagens, em roupa ou noutras coisas. Se calhar se deixasse de comprar livros teria uns trocos valentes, mas não seria a mesma pessoa. Se passasse o período da Feira sem ir lá, não seria MESMO eu. Acho que me sentiria parecida com aqueles que dizem que “não gostam de ler” (a frase mais parva de todos os tempos porque é mais ou menos como dizerem que não gostam de respirar). A Feira não é, para mim, um supermercado de livros a céu aberto. É, sim, uma experiência que gosto de viver anualmente. Gosto de ver as novidades e de estudar as promoções; gosto das barraquinhas com paparoca; gosto dos alfarrabistas; gosto de quase tudo na Feira e é por isso que quando acaba sinto mais ou menos o mesmo que um brasileiro no final do Carnaval. 

É por isso uma pena que eu sinta tudo isto e outros nada sintam. Passam o ano sem saber o que é um livro, sem ler nada que vá além do seu material profissional (ou às vezes nem isso)... Parece-me pouco. Com tantas vidas livrescas que podem caber na nossa vida, é uma pena que se troque isso pelo nada. E tantos que dariam tudo para poder ler e não podem. É triste. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Menina Quer Isto LXX

Hoje termina a Feira do Livro de Lisboa. Fui lá várias vezes, trouxe de lá uma quantidade obscena de livros (já comecei a ler um deles), comi bifanas e gelados, relaxei naquele parque que só visito quando há Feira. Mas, mesmo tendo trazido tantas coisas, houve muitos livros que ficaram por comprar. Na maioria dos casos porque o preço não estava convidativo, mesmo tratando-se da Feira do Livro. Assim, aqui fica o “A Menina Quer Isto Pós-Feira”. A ver se o Natal chega mais cedo e tal... Ora, a menina quer:











Nota: As imagens saíram da página da Wook, como bem se vê.

Tempo parado

Preciso muito, mas mesmo muito que este mês e meio até às férias passe num piscar de olhos. Aliás, gostava mesmo era de me deitar hoje e acordar a um de Agosto. Há um provérbio qualquer sobre o facto de o rabo ser o pior de esfolar e, bem, é um facto. É mesmo o pior. Estes últimos dias de trabalho são os mais difíceis de aguentar e o tempo parece parado. Que terror!

Caudas

Afinal, para que servem as caudas dos gatos? Para manterem o equilíbrio, dirão já alguns. Pois, não sei... Cá para mim é só mesmo para os donos saberem sempre onde estão escondidos.


domingo, 12 de junho de 2016

Manias estranhas

Numa das idas à Feira do Livro de Lisboa assisti ao seguinte diálogo entre uma jovem adulta e o vendedor de uma das editoras representadas no evento:

Jovem: Tem o livro ... ? (Não ouvi bem o título que ela referiu.)

O vendedor responde-lhe que sim e, antes de estender-lhe um exemplar, ela pergunta quanto custa.

Vendedor: Doze euros.

Jovem: E quantas páginas tem?

Vendedor: Quinhentas e trinta e seis. Mas pode ver.

Estende, então, o livro à jovem, que fica a folheá-lo. Aqui já eu fingia observar um livro qualquer para ver em que culminaria aquele interrogatório a partir do qual ela parecia avaliar o preço do livro pelo número de páginas. Até que ela atira a pergunta mais tonta de sempre feita por alguém interessado em comprar um livro a alguém que quer vendê-lo:

Jovem: Sabe como é que acaba o livro?

Vendedor (meio atónito): Não sei...

Admito que me ri um bocadinho. Parecia uma conversa de tontos. Geralmente o fim dos livros é mesmo aquilo que queremos manter em segredo até chegarmos lá. Mas para aquela menina, a decisão de comprar ou não tal volume dependia de três factores: o preço, o número de páginas e o final. Provavelmente se me contassem o final de alguns livros eu já não os comprava, mas aparentemente há quem pense de outra forma. A menina lá levou o livro e chegará (se é que não chegou já) o momento em que conhecerá por ela mesma o final da história. Não é esse mesmo o objectivo dos livros?

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Feira do Livro de Lisboa - Partes III e IV

Bom, desde a última quixotada sobre a Feira do Livro de Lisboa já lá voltei duas vezes: uma sozinha na tarde de sexta-feira e uma com o moço ontem à tarde. E que dizer? Há uma coisa que não revelo nem sob tortura que é o número de livros que já comprei na Feira deste ano porque é... Um número muito jeitoso. Mas posso atirar mais umas postas de pescada sobre o tema.

1. Depois de ter constatado que os pavilhões da Babel nunca me viam a cor ao dinheiro por serem os primeiros e por eu pensar sempre “depois já cá volto”, resolvi, na sexta-feira, iniciar a Feira ao contrário. Comecei pelos alfarrabistas e fui subindo. E não é que resultou? Quando cheguei à Babel vi como livros do dia os volumes da História de Portugal do Veríssimo Serrão e como só tínhamos até ao décimo segundo volume, lá vieram os seis que faltavam (a colecção é do moço e ele pediu-me para lhos trazer). De caminho veio também um Frankenstein e um Assim Falava Zaratustra a preço de livro do dia porque gastei tanto no pavilhão que a supervisora permitiu que me fosse feito esse miminho. Ainda me ofereceram marcadores e uns seis livrinhos de uma coleção gira da Babel. Foram impecáveis. 



2. Mantenho a sensação de que na sua maioria os descontos estão muito fraquinhos. Em vários livros vi descontos de três ou quatro euros e isso, para mim, não é o espírito da Feira do Livro. Mesmo os livros do dia em vários pavilhões não chegavam a ter um desconto por aí além. Claro, arranjou-se uma ou outra pechincha, mas ficaram por lá muitos livros porreiros precisamente por serem ridiculamente caros mesmo depois de lhes ser aplicado o desconto.

3. As esplanadas e os espaços dedicados à alimentação estão ali muito bem. Por exemplo, ontem chegámos à Feira e havia gente que nunca mais acabava. Subimos até à praça Leya e sentámo-nos na esplanada a beber uma cervejita. Quando nos levantámos já havia menos gente e aquela pausazinha soube-nos muito bem.

4. Consegui alguns livros que queria a preços mais convidativos (mesmo achando que ainda ficaram carotes). Exemplo disso é a Autobiografia de Thomas Bernhard que custa perto de trinta euros e veio por dezasseis euros e oitenta. Ainda é caro, bem sei, mas ou era isso ou nunca teria o livro.


5. Este ano a organização da Feira percebeu, finalmente, que a Feira sem multibanco era um verdadeiro DISPARATE e, portanto, colocou duas caixas, uma na entrada do primeiro corredor (o dos alfarrabistas) e outra no cimo do primeiro corredor (do lado da Relógio D’Água). Tendo em consideração que muitas das roulotes de produtos alimentares só aceita pagamentos em dinheiro, era coisa que fazia mesmo falta. 

6. Na Aletheia escolhi um livro e a menina que me atendeu tirou lá de dentro um exemplar que colocou num saco. Não vi o livro a não ser em casa e, nesse momento, entrei em ponto de ebulição, pois tive o desprazer de ver que na contracapa, numa parte branca, alguém tinha escrito uma espécie de código a caneta. Já estava a ponderar escrever um email dos bons à editora quando me lembrei de passar álcool na contracapa. Felizmente, aquilo saiu, mas não deixou de causar má impressão, até porque a funcionária viu o exemplar, virou-o para ver se a parte de trás estava também em bom estado. É difícil que não tenha visto que o livro estava escrito a caneta. Enfim, fica a atitude e o lamento de quem já comprou muitas coisas à Aletheia e que agora se sente decepcionada. Já agora, o livro foi este:


7. Consegui a metade do preço um livro que nunca pensei vir a comprar, mas li o início e fiquei interessada. Trouxe, então, para casa o Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie. Parece-me porreiro. Foi das poucas coisas que consegui comprar na Leya. Odeio a praça Leya desde que ela foi inventada ainda antes de existirem outras parecidas. Parece um mundo à parte e um mundo muito claustrofóbico. Além disso, os descontos também não são espectaculares, tirando algumas oportunidades como esta.


8. Anos depois chegam, finalmente, cá a casa os Contos de São Petersburgo, de Gogol. Aleluia!


9. Bem como o livro O Tempo das Criadas, da Tinta-da-China (aquela editora de onde apetece levar tudo, mas isso implicaria ficar sem carteira, basicamente). Apanhei-o como livro do dia e o preço até ficou mais simpático (podia ter ficado mais...).


E assim foi a minha feira em 2016. Espero não voltar lá mais porque se voltar tenho de assaltar um banco. Foi porreira, mas saiu-me cara. Ficam muitos livros por apresentar, mas já dá para terem uma ideia da loucura que foi. Para o ano há mais, com mais estantes disponíveis, espero. Ah, a maioria das imagens saiu, como bem se vê, da página da Wook.

domingo, 5 de junho de 2016

O relógio satânico

A minha vizinha de baixo (acho que já vos falei dela: fala ao telefone de maneira a ser ouvida em Viana do Castelo e assiste em decibéis pouco recomendáveis aos programas da SIC com videntes) é uma senhora velhita que deve ouvir mal (mas que espirra de maneira a que todos a escutem e tremam com isso). Com certeza devia achar que ter o telefone a tocar num som bem elevado às sete da manhã, que falar ao telemóvel aos gritos e que assistir às tarólogas da TV com a televisão no máximo não era suficiente. Vai daí e arranjou uma m**** capaz de arruinar a paciência a um santo e de pôr uma pessoa a ter ideias violentas: a minha querida vizinha de baixo arranjou uma porcaria de um relógio de pêndulo. 

Ou seja: a horas certas sou brindada com uma música e as respectivas badaladas logo de seguida. Às meias horas só recebo a musiquinha. Imaginem um prédio em silêncio de noite em que, subitamente, parece que vos estão a chamar para as Avé-Marias através do sino da igreja. É mais ou menos o que sinto. Até dou por mim a contar badaladas para saber as horas quando, na realidade, devia estar a dormir!

Eu pergunto-me quem é que hoje, século XXI, acha porreiro ter em casa um causador de chinfrineira a horas certas. Aquilo nem sequer é muito bonito (se bem que nunca lhe vi o relógio). Ficava bem nos filmes do Poirot, mas custa-me a crer que fique bem numa casa dos arredores de Lisboa e programadinho para tocar com pontualidade britânica. 

Portanto agora acordo com uma musiquinha e badaladas, depois a senhora recebe uma chamada e grita para o telefone enquanto liga a TV e vê a taróloga (ou suas aprendizes que só dizem disparates como aquela que deu uns belos conselhos a uma alegada vítima de violência doméstica) aos gritos, espirrando bem alto de vez em quando para quebrar este “silêncio" todo.


Nota: Não sei como é o relógio da vizinha, mas eu imagino-o assim. A imagem saiu daqui.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Com companhia sabe melhor

Corrigir testes (ou mesmo visitar o blogue) sabe melhor com companhia. Mesmo que a companhia esteja a dormir enquanto eu faço coisas...