quarta-feira, 31 de julho de 2013

Prendinhas para mim

A abrir o mês das férias, chegam dois volumes bem catitas cá a casa. Dificilmente poderiam dois livros cheirar tanto a Verão como estes. 


Sem medidas

Portanto parece que há gente muito endinheirada que acha piada a "brincar aos pobrezinhos". Ainda bem que o facto de não se ter dinheiro para férias na Comporta e para luxos muito maiores já virou um tipo novo de brincadeira. Antes saltava-se à corda, jogava-se à macaca e ao berlinde. Hoje brinca-se aos desgraçadinhos que vivem despojados do que a vida tem de melhor. Que máximo, ouçam lá!

Acho, muito honestamente, que anda por aí uma enorme falta de talento para a escolha de palavras. Um apela à "união nacional" (glup) e outra praticamente diz que brinca àquilo que ninguém quer ser, mas a que muitos não estão a conseguir fugir. Não sei se a frase dita pela senhora que passa férias na Comporta não tem um contexto que a explique bem porque não li o texto onde ela se insere. Contudo sei que se tornou viral e que caiu muitíssimo mal. Ser "pobrezinho" não tem graça nenhuma e aposto que ninguém o é porque quer. Haver quem ache giro referir-se às férias que faz como uma troca de posição social a brincar é ofensivo para quem passa mal e a contar os trocos até ao final do mês.

Eugénio de Andrade escreveu num poema que "São como um cristal, / as palavras. / Algumas, um punhal, / um incêndio." Se umas refrescam e são espelhos que reflectem inúmeros sentidos, outras levam tudo à sua frente, incendeiam e fazem estragos por onde passam. É muito importante que as pessoas, principalmente estas que são a minoria que passa ao lado da crise, meçam bem aquilo que dizem e o alcance que as suas palavras podem ter. A senhora podia dizer um monte de coisas: que durante as férias na Comporta experimentam um tipo de vida mais simples, que ali os luxos são menores do que aqueles a que estão habituados, que vivem ali dias marcados pela inexistência de elementos tecnológicos sem os quais não conseguem viver usualmente... Estou para aqui a imaginar argumentos, mas a verdade é que podia ter dito qualquer uma destas frases que a mensagem passaria. Porém, dizer que no seu lugar de férias brinca aos pobrezinhos é ofensivo. É de quem parece não ter consciência do que se passa nem do que diz. É verdade que com esta crise e com tanta austeridade andamos todos muito melindrados com as palavras dos outros, mas neste caso parece-me natural que todos nós, os pobrezinhos que não têm vasta fortuna, nos sintamos gozados. E isso já vamos sendo de sobra, não precisamos de mais nenhumas palavras mal medidas.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Monstros

Desde há muito tempo que acho que todos os que se lembram de abandonar um animal doméstico deviam ser fulminados por um raio no momento em que o fazem. Não consigo compreender como raio há seres humanos (?) capazes de ter um cão ou um gato ao longo do ano que depois acabam por abandonar por aí à sua sorte. Em meu entender, quem não trata bem os animais, não trata bem as pessoas e não é mais do que um monstro. Enoja-me que existam pessoas (?) que, em determinado momento, esquecem tudo o que os animais já trouxeram à sua vida (o carinho, a companhia, a lealdade...) e os deixam em situação de enorme sofrimento, amarrados a qualquer lado, a passar fome e sede, sem terem um abrigo. Para mim, essas supostas pessoas não passam de montes de merda que mereciam um pelotão de fuzilamento que as transformasse em papa ao poder de balas. Quem faz isto não merece viver, não merece respirar, não merece educar ninguém e, por isso, quem abandona animais porque estes «estão a estorvar» devia ser proibido de ter filhos.
Sou muito radical quanto a este assunto. Não tenho cães nem gatos, só mesmo periquitos. Todavia sei ver que é uma acção muitíssimo errada e que deve ser veementemente condenada por todos nós. Quem o faz não pode ser boa pessoa e, assim, é alguém com quem não quero conviver.

Nota: A imagem saiu daqui.

Parabéns, amor

O meu menino chegou hoje a "doutor". Sei que cumpriu um sonho e que está muito feliz. Conheço poucas pessoas que mereçam mais este título académico e ainda menos as que trabalharam de forma tão árdua para o conseguirem. Trabalhou e estudou ao mesmo tempo, viveu com horários com os quais eu nem me imagino a viver, passou sábados e domingos agarrado a matérias que tirariam qualquer um do sério. Ao mesmo tempo, teve um enorme gozo com o que fazia e com os resultados que obtinha. Sabe hoje que é capaz de chegar onde não parecia ser possível há alguns anos. Sabe que é muito bom naquilo que faz. Sabe que mereceu cada valor da nota final. Sabe que estou muito orgulhosa dele.

Parabéns, amor.


domingo, 28 de julho de 2013

A Menina Quer Isto XLII

Vi isto hoje e fiquei curiosa. Não tenho emenda. Enquanto não montar uma livraria, não descanso. Ai o que eu gostava de ter uma...


Next!

Depois de uma incursão por três vultos da literatura portuguesa (Eça de Queirós, José Saramago e Camilo Castelo Branco), segue-se um policial cujo enredo decorre no meio de livros. Já li dois livros deste autor e gostei bastante. Vamos ver se o mesmo sucede com O Último Livro.


Chuva

Correndo o risco de ser considerada louca pelos fanáticos do sol e do Verão, devo dizer que esta chuva me está a saber muitíssimo bem. Sou uma pessoa dada ao tempo cinzento que não aprecia por aí além os dias de muito sol. Já os dias como o de hoje são sempre bem-vindos.
 
Esta água que cai no chão seco e que deixa no ar um cheiro muito agradável fez-me recordar uns versos de Eugénio de Andrade que dizem que «A chuva em Abril tem o sabor do sol: / cada gota recente canta na folhagem.». Podem muitos hoje resmungar com o tempo por não estar para praias, mas eu estou como o sujeito poético: hoje, no fim de um mês muito quente, esta chuva tem o sabor de algo querido e desejado. Sabe bem, cai melhor ainda.
 
Chove. Uma rapariga desce a rua.
Os seus pés descalços são formosos.
São formosos e leves: o corpo alto
parte dali, e nunca se desprende.
 
A chuva em Abril tem o sabor do sol:
cada gota recente canta na folhagem.
O dia é um jogo inocente de luzes,
de crianças ou beijos, de fragatas.
 
Uma gaivota passa nos meus olhos.
E a rapariga – os seus formosos pés –
canta, corre, voa, é brisa, ao ver
o mar tão próximo e tão branco.
 
Eugénio de Andrade, Até Amanhã

Confirmam-se as tréguas

Após umas jeitosas gargalhadas com as Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, confirmo as tréguas com Camilo Castelo Branco. O livro tem muita graça e, em determinado momentos, senti naquelas aventuras uma ligeira semelhança com o par mais conhecido da literatura universal: D. Quixote e Sancho Pança. O que ali está também envolve uma história de amor com muitos avanços e recuos, mas até esse romance confuso entre as personagens tem piada pelo atabalhoado e dado a confusões que é. Quem tiver oportunidade de ler este romance, que o faça. Verá que gostará bastante da D. Custódia e da D. Bonifácia...

sábado, 27 de julho de 2013

Tréguas (?)

Quando estudei no ensino secundário, ainda existia a diferenciação entre Português A, todo literatura, e o Português B, muito mais levezinho. Como menina de Humanidades que era, tive a sorte de frequentar o primeiro, facto que hoje agradeço muito porque definiu o meu caminho posterior. 

Alguns lembrar-se-ão de que no Português A se estudava tudo (ou assim parecia) o que de mais importante as nossas letras tinham produzido até então. Começava-se pelos contos tradicionais, ia-se pelas cantigas de amor e de amigo, dava-se um pulo às crónicas de Fernão Lopes, descodificava-se a Menina e Moça, batia-se continência a Os Lusíadas e à lírica camoniana, bem como uns quantos poemas de contemporâneos seus, conhecia-se o sermão pregado aos peixes pelos nosso Padre António Vieira, lia-se alguma daquela risível poesia barroca, cheirava-se o locus horrendus nas palavras de Bocage, viajava-se com Garrett até ao Vale de Santarém para ver a famosa janela da Joaninha, lia-se a sua poesia e a sua famosa tragédia, perdíamo-nos com a perdição de Camilo, seguíamos até à saborosíssima Questão Coimbrã, conhecíamos a tristeza de Antero de Quental e a crítica da sociedade romântica em Os Maias. Passava-nos uma ou outra "farpa" sob os olhos e seguíamos até Teixeira de Pascoaes com o seu saudosismo e uma gigantesca quantidade de poetas do século XX português. Por aí aparecia-nos a por mim pouco apreciada Aparição, porque não tive a sorte de estar no lote das escolas que leccionavam já o Memorial do Convento. Enfim, chegávamos ao final do ensino secundário com uma ideia muito clara do que tinha sido, desde o início, a literatura portuguesa, com as suas inovações e imitações. Não se estudava gramática como agora, mas formavam-se leitores, algo que por estes tempos não se faz com o mesmo sucesso.

É óbvio que aos quinze anos muitas destas leituras custavam a engolir (e creio que hoje ainda custariam mais aos que agora têm essa idade), mas de forma mais ou menos coxa faziam-se e a verdade é que acabei por regressar mais tarde aos livros que deixei a meio nessa altura. Também acabei por chegar sozinha ao Memorial do Convento. Aqueles três anos com uma excelente professora serviram de semente para o que viria depois.

Mas nem tudo são rosas. Houve textos que quase me levaram à loucura. Ler o Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco foi uma daquelas tarefas que pretendo não repetir em dias de vida. Lembro-me de que li aquilo num sábado à tarde porque teria o teste na semana seguinte. Ia vomitando a história de tão ultra-romântica que era. Aquele Simão Botelho e a honra que não o deixou fugir com a amada quando tal foi possível e que preferiu deixar-se prender causou-me engulhos! Fiquei nauseada com o diacho do azar que aquela gente tinha sempre ao virar da esquina. No fim vai para lá uma mortandade que assusta. Ganhei ódio ao livro e, em jeito de metonímia, ao autor. Nunca mais li nada do senhor e quase me benzia ao ouvir o seu nome. Escolhia sempre os realistas ou os naturalistas para ler. Nunca Camilo porque aquele romantismo reciclado e exagerado me tinha posto doente aos quinze anos.

Nas muitas idas à Feira da Ladra lá me fui cruzando com os livros dele, geralmente ao preço da chuva. Acabei por comprar um ou dois sem saber se os leria na realidade, mas esta semana lá me decidi. A tentativa de tréguas com este autor português dar-se-á por intermédio de Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado. A escolha deveu-se à graça do nome e ao facto e saber que o autor não escreveu só romances cheios de amores impossíveis. Também escreveu textos cómicos, geralmente considerados menores pela crítica. Pois é mesmo a esse "menor" que vou e já vou em meia centena de páginas palmilhadas. Até agora fez-se bem e sem engulhos. Gosto muito das falas das senhoras, com a mania de que são fidalgas, mas a utilizar palavras e expressões bem populares e muito típicas do norte do país. Adoro essa cor local dos livros que incidem sobre um lugar bem delimitado e identificado, ao contrário daqueles que, de tão desenraizados, podiam ter a acção a passar-se em qualquer lado que não faria diferença nenhuma. Até aqui a história teve graça, por isso tenho a bandeira da paz a começar a hastear-se, embora com muita calma. Vamos lá a ver se saem, ao fim de doze anos, as tão prometidas tréguas...


As Coisas Que Ele Diz I

Estando eu a falar de forma pouco simpática de umas pessoas de quem não gosto, o moço diz-me:

- Isso não se faz! É feio! Dizes que vais ficar comigo durante a eternidade, mas é mentira: tu assim vais para o Inferno e eu vou ser um anjo!

Portanto Eusebiozinho, filho, cuidado: vem aí um concorrente forte para te levar as asas. Já eu parece que estou mais para João da Ega, vestido de Satanás...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Da brancura

Não sofro de tanorexia, felizmente. Não ando para aí a carpir que tenho a pele branquinha e que passo o ano a parecer-me com o tecto cá de casa. Mas daí a ir à praia vezes e vezes seguidas e não mudar o tom da pele já é coisa que me enerva. Toda a gente que conheço fica com um tonzinho diferente depois de um dia de praia. Eu fico vermelha e... depois regresso ao já habitual tom branco. As únicas partes do meu corpo que mudam efectivamente de cor para um tom bronzeado fofinho são os meus pés, que ficam descapotáveis a partir de Abril. Fora isso nada e tal coisa leva-me a passar o tempo a ouvir comentários como «És tão branquinha.» ou «Tu não mudas de cor!». Eu sei, minha gente. Não precisam de mo dizer sete vezes por dia.
 
A única parte boa disto tudo é que quem não muda de tom de pele também não precisa de arranjar outra base para o Verão porque a cara continua a ter a mesma cor que o resto. Sempre se poupam trinta e muitos euros.

domingo, 21 de julho de 2013

E agora uma Viagem a Portugal

Depois do monumento que foi o Cem Anos de Solidão, li A Relíquia, do nosso génio Eça de Queirós, e dei umas belas gargalhadas. Aquele Teodorico Raposo e os diminutivos com que recheia o texto são de babar. 

Por agora começo este Viagem a Portugal, de José Saramago, ainda na velhinha edição "cor de ovo". É uma boa altura para percorrer o país nas palavras do nosso Nobel. Começo pelo norte e quando der conta já estou em banhos de sol no Algarve. Vai saber-me bem esta viagem a Portugal. 

Em banho-maria está o Caligrafia dos Sonhos porque não me cabe na carteira. Sou uma desgraça. Mas vou acabá-lo, podem ter a certeza!


Notinha: A imagem desta capinha nova (não gosto nada: preferia as antigas) saiu da página da Wook, como bem se vê.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Novos por aqui

Hoje estes dois mudam-se cá para casa com a ajudinha de uns descontos. Mais uns relacionados com a mais recente pancada: a literatura de viagens. Parecem-me bem adequados para as férias de Verão.




quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cem Anos de Solidão: o balanço

Existem livros que nos escancaram a boca e que só nos permitem fechá-la quando também os fechamos a eles. Creio ser esse o caso de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. O que ali está é uma história tão rica e tão vertiginosa que muito mais louca que a genealogia das personagens acaba por ser a vida que lhes coube em cem longos anos de solidão. É como se de um desfile mágico se tratasse: passam diante de nós figuras ímpares na literatura, gente tão agarrada à vida que dura mais do que o tempo costuma permitir. Observamos personagens com poderes sobrenaturais, com a capacidade de ver mais além do que aquilo a que estamos habituados. Enfim, vemos neste Cem Anos de Solidão uma história onde entra tudo, tudo quanto a imaginação consegue  conceber. Aliás, diz-se que Gabo é o pai do realismo mágico latino-americano, sendo esta obra um excelente filho dessa corrente (se assim lhe posso chamar). O bom do realismo mágico é que faz com que tudo seja possível numa obra. Dá ao autor a desculpa ideal para que possa fazer TUDO o que entender com o enredo que cria e com as personagens que molda. Gabriel García Márquez deu, portanto, rédea solta à sua imaginação de modo a construir uma história onde cada linha surpreende pelo bem que se encaixa no resto e pelo que de extravagante traz consigo. Está tudo tão perfeitamente interligado, tudo tão bem montado que, voltando ao início da quixotada, o queixo fica caído durante longas e longas horas.

Conheci, neste livro, personagens extraordinárias. A matriarca Úrsula que aguenta a casa até ao momento em que é obrigada a desprender-se do mundo; Amaranta, uma mulher que prefere a raiva e o ciúme em vez da própria felicidade; o coronel Aureliano Buendía, que tanto faz uma guerra quanto singelos e inocentes peixinhos de ouro; Melquíades, o inventor da ciência e do progresso, autor em sânscrito da saga da família Buendía e profeta do seu desfecho; Pilar Ternera, olho preocupado e atento à família que ajudou a continuar e pela qual vela quase até ao último instante... São tantas as personagens extraordinárias que já devem ter dado origem a inúmeros estudos e dissertações! Contudo, tendo de eleger a que mais me ficará na memória, bem como a frase que mais me inquietou (o que, num livro como este, é tarefa quase impossível pela abundância de excertos inquietantes), escolho o sábio catalão que, já nos últimos capítulos, fornece a Aureliano os livros que lhe permitem estudar os pergaminhos de Melquíades. É dono de uma livraria de incunábulos e outros textos valiosos, mas a quem poucos dão valor. Homem de grande saber, leva os clássicos às crianças quando elas ainda estão nas mais tenras letras. No fim decide partir para Barcelona e levar com ele os seus escritos que, ao longo do tempo, vieram a ocupar três grandes caixas. No comboio não querem que ele as leve nas carruagens junto dos outros passageiros, mas sim que as despache com o resto da carga. A um homem de letras que passou a vida a ler e escrever, tal ideia é inconcebível. De tal forma que profere as palavras que aqui vos deixo e com que termino este balanço satisfeito: "O mundo estará fodido de vez no dia em que os homens viajarem em primeira classe e a literatura no vagão de carga." 

É genial!

Procuram-se opiniões

Já alguém leu algum destes livros? E se sim, têm opiniões para partilhar? É que eu estou curiosa porque se há coisa que tem graça é a corte do senhor Henrique VIII (desde que não sejamos suas esposas, claro...). Nunca comprei o Wolf Hall porque o nome me soava a qualquer coisa muito dark com lobitos, mas depois lá perdi o meu tempo a ler a sinopse e a coisa até me pareceu bem. E agora este volume novo, que faz uma espécie de continuação do primeiro e que é significativamente mais barato...

Se conhecem estes livros digam de vossa justiça para eu saber se vale a pena namorar/investir nestes meninos para ler ainda durante o Verão. Muit'agradecida.



Notita: As fotos foram retiradas, como se pode ver, a página da Wook.


terça-feira, 16 de julho de 2013

A Menina Quer Isto XLI

Depois de ler uma recensão na revista Ler sobre este livro, descobri que o quero. Ao que parece, trata-se de uma antologia onde o autor colocou os excertos de obras que, no que respeita ao tema da «viagem», mais o marcaram. Está, pelo que li, cheio de palavras de grandes autores que viajaram e que falam sobre as suas experiências, sejam elas ao nível dos meios de transporte, dos outros povos, da gastronomia ou do próprio acto de viajar, com todo o significado que pode encerrar. Parece-me, por isso, um excelente livro para o Verão, tanto para os que viajam muito como para os que, como eu, não costumam ir muito longe. Assim sendo, a menina quer isto e, mesmo sem ter lido, a menina sugere isto.
 
 

Ignorância

Ando desde ontem a ouvir muitas enormidades por causa das más notas nos exames nacionais de Português, especialmente no do nono ano. O que achei mais extraordinário foi mesmo a velocidade com que muitos «professores de bancada» se apressaram a descobrir o culpado e a achincalhá-lo o mais possível. Os responsáveis pelas más notas foram, claro, os professores de cada um dos meninos a quem o exame correu mal. Esta é a opinião da maioria das pessoas que têm cuspido pérolas preciosas desde que as notas dos exames saíram.
 
Este ano não levei nenhum aluno do nono ano a exame, no entanto fiz questão de resolver a prova no dia seguinte à realização nacional da mesma. Ao terminá-la disse a quem tinha por perto que se avizinhava uma «mortantande» nas notas dos alunos do nono ano. Não porque não tenha confiança nas capacidades deles ou dos professores que os ensinaram, mas sim porque o exame era de uma complexidade abissal e porque qualquer professor de Português pode, com facilidade, constatar que aquele grau de dificuldade não é muito adequado a jovens daquele nível de ensino. Não se trata de querer facilitismo, mas de ter olhos na cara: ali pediam-se coisas que eu talvez pedisse no décimo segundo ano e não no nono. Assim, o único responsável pelos maus resultados foi o inventor de uma prova que, sendo interessante, era demasiado complexa para ser realizada com igual sucesso por alunos que se apresentaram a exame com cinco ou com três valores de nota interna (já para não falar dos outros). É isso que os «docentes de bancada» não vêem e não entendem. O exame era difícil até para o melhor dos alunos do nono ano. Recorria a saberes que poucos jovens daquela idade têm adquiridos ou consolidados. Porém, o que me irrita mais é que estas pessoas saibam apontar logo o dedo aos «parasitas» (como já li no Facebook) que são os professores quando a maioria nem olhou para a prova! Atrevo-me a dizer que a quase totalidade destes inquisidores desejosos de fogueira na Praça do Comércio não foi à página do GAVE para ver como era a prova e não espreitou os critérios de correção da mesma. Falam de cor porque já é moda neste país a culpa ser sempre dos professores. Eu até me admiro por ainda não ter sido atribuída aos docentes a crise política em que estamos! É que se chove, a culpa é nossa, mas se faz sol e calor também é! Há maus professores? Há. Aliás, há professores que não são maus: são péssimos! Assim como há maus médicos, maus enfermeiros, maus empreiteiros, maus psicólogos, maus polícias e, até, maus pais. Em todas as profissões há bom e mau, mas nenhuma é tão atacada como a profissão docente. Nenhuma classe profissional é tida como preguiçosa como esta. Fala-se dos professores e da sua profissão com um conhecimento de causa tão grande que, na maioria das vezes, só se diz lixo. Há uns tempos cheguei ao cúmulo de ler um texto de uma blogger que parecia indignada por os professores da escola do filho não assegurarem os tempos livres do menino em período de férias, como se além de tudo fossemos babysitters sazonais. Li, também, que os professores têm três meses de férias, fora as do Natal e da Páscoa. Ai sim? Então por que motivo vou trabalhar amanhã? E por que razão vou fazê-lo até ao final deste mês? Onde estão os meus três meses de férias? Viram-nos? Eu não.
 
Existe uma raiva generalizada pelos professores, profissionais outrora respeitados e acarinhados. São talvez os estranhos que mais diferença fazem na nossa vida, mas são também aqueles que a sociedade mais abomina e despreza. Se tudo corre bem o mérito é dos alunos, se tudo corre mal a culpa é nossa. Neste caso julgo que não é nem de uns nem de outros e bastava a ignorância de quem crucifica os docentes ser um pouco menor para que isso fosse rapidamente entendido. Uma rápida vista de olhos pelos exames chega para perceber o que aconteceu. Mas como parte dos que partiram logo para o ataque cego não sabe muito bem ler e escrever em condições, chego a ter dúvidas de que a consulta do exame seja suficiente. Enfim, a ignorância é uma coisa lixada...

domingo, 14 de julho de 2013

Não percebo

Palavra de honra que não me cabe na cabeça como raio os laboratórios farmacêuticos permitem que esgotem medicamentos para doenças crónicas. Não consigo perceber isto.

sábado, 13 de julho de 2013

Três novidades

Ora, saltam mais três novidades para as minhas prateleiras. O primeiro da esquerda veio por um preço catita graças ao PPL da Wook. Os outros dois garantiram-me muitos pontinhos no cartão da Fnac. Mais dois livros de viagens, que agora anda a dar-me para isso.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Menina Sugere Isto XI

Hoje, pela primeira vez, vou sugerir um livro cuja leitura ainda não terminei. Faço-o porque ainda que a história se destrambelhe, a leitura já valeu pelas frases tão acertadas sobre bibliotecas e livros. É um livro pequeníssimo que me deixou rendida desde a primeira linha. Chama-se A Casa de Papel e foi escrito por Carlos María Rodriguez, sendo publicado, em Portugal, pela Asa. No fundo, ali está uma história curta que em setenta e oito páginas mostra como os livros podem alterar a vida de uma pessoa. Pelo meio encontramos frases que espelham bem aquilo que é a relação de um apaixonado por livros com esses objectos tão especiais. Hoje li um parágrafo que julguei muito acertado e que refere um aspecto em que nunca tinha pensado, mas que se aplica a mim também, na medida em que construí já uma biblioteca jeitosinha e muito bem composta para uma pessoa da minha idade. Por ainda não ter muito mais para vos dizer sobre o livro (só li trinta páginas), deixo-vos esse excerto de modo a espicaçar a curiosidade daqueles que, como eu, são loucos por livros e adoram ter sempre mais um.

"A biblioteca que se constrói é uma vida. Nunca é, digamos, uma soma de livros soltos. (...) O senhor acumula-os nas estantes e parecem uma soma, mas, se me permite, trata-se de uma ilusão. Seguimos certos temas e, ao fim de um certo tempo, terminamos por definir mundos; por desenhar, se preferir, o percurso de uma viagem, com a vantagem de conservarmos os seus rastos. Não é simples. É um processo pelo qual completamos bibliografias, preocupados com a referência de um livro que não temos, conseguimo-lo, deixamo-nos conduzir para outro." (Dominguez, 2010: 30-31)

Só por este parágrafo, tão sugestivo para os que como eu arranjam sempre maneira de aumentar a biblioteca, este livro vale a pena. É por isso que a menina sugere isto.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Os "carrascos"

Portanto para a Presidente da Assembleia da República, os manifestantes (e por extensão todos nós) são "carrascos" dignos de ouvirem uns berros, como fez hoje. Diz que não foram eleitos (ela e os deputados) para serem desrespeitados. E nós não os elegemos para que nos desrespeitassem constantemente com decisões tontas que nos prejudicam. Se não consegue perceber isto então estamos bem.

"Carrascos"... Só faltava mais esta.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Aselhice

Eu gostava de perceber como é que ao pôr protector solar me escapam sempre algumas zonas, que, claro, acabam invariavelmente escaldadas. Comprei o protector da Avène com factor 50+. Devia era ter perguntado na farmácia se também vendiam jeitinho, que é o que me falta em grande escala. Não há ano nenhum em que não existam uns centímetros de pele chamuscados pelo sol, exclusivamente pela minha aselhice em matéria de espalhamento de protectores solares. Palavra de honra... Dar mais de vinte euros por um creme e acabar escaldada é coisa que enerva. Mas não poder deitar as culpar no creme ainda me enerva mais.

domingo, 7 de julho de 2013

Luxo para periquitos

O calor hoje foi tanto que dei por mim a borrifar os meus periquitos com água termal da Avène. Foi um luxo! Eles parecem ter apreciado o gesto.


Nota: A imagem saiu daqui.

sábado, 6 de julho de 2013

Previsões para a tarde

Para hoje, depois de uma manhã de compras e antes de um jantar para matar saudades, estão previstas cerejas, litros e litros de água e muita leitura. Mesmo muita.


Mais uma coisinha: Ontem acabei de ler a Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster. Não gostei. Apesar de ter lá pelo meio uma teoria curiosa sobre o Quixote, parece uma maluquice pegada. Eu percebi a ideia do autor, mas não me convenceu. Gostei muito mais do Palácio da Lua e de A Noite do Oráculo, do mesmo autor.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sugestão

Meus caros, leiam este texto que o autor do blogue «Pó dos Livros» acabou de publicar. É das coisas mais geniais que li nos últimos tempos. É, sobretudo, uma belíssima leitura da gaiola de loucos em que estamos enfiados.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ai aguenta aguenta

Sinto-me numa gaiola de loucos. O dia de hoje foi surreal. Mais um assim e volto ao calmantezinho que o meu pobre coração não aguenta tanto disparate. Chiça...

Será em papel

Tenho andado a comprar a Ler em formato digital para ler no iPad, mas parece-me que a edição que sairá na sexta-feira será em papel para poder ir comigo para a praia à vontadinha. 

Gosto muito desta revista, já aprendi taaaaanto com ela e já me decidi a querer tantos livros por causa dela. Adoro as capas, adoro as entrevistas, adoro as recensões aos livros, adoro o sofá vermelho, adoro as listas dos tops e os comentários mordazes aos péssimos livres que não saem dos lugares cimeiros. Enfim, gosto de tudo nesta revista e sou, desde que recebo ordenado certinho, fiel compradora e devoradora da mesma. Os mais sábios que eu dirão que há muito melhor do que esta revista no que aos livros diz respeito. Haverá com certeza. Mas eu entendo-me bem com a Ler, que posso eu fazer? Até rimei.


O problema do «'tar»

Na oralidade até podemos todos dar cabo da primeira sílaba do verbo «estar». Não devíamos, mas é mais forte que nós e a maioria dos seres humanos (os lisboetas então é uma loucura) acaba por dizer «'tava» e «'tão» a toda a hora. Agora, transferir isso para a escrita é de bradar aos céus e vocês não fazem ideia da quantidade de miúdos que escrevem o verbo «estar» sem a sua primeira sílaba. É um erro doloroso de ver porque creio que toda a gente sabe que não existe o verbo «'tar» e, como tal, não podem existir coisas como «'tavam». Oralmente já é banal, mas por escrito fere e muito.
 
O Camões deve «'tar» às voltas lá na tumbinha dele, seja lá onde for...

Lá se foi a oportunidade de ser fixe

Alguém foi direccionado para este blogue depois de ter pesquisado a expressão «tranches de vitela». É justo, tendo em conta que é dos pitéus de que mais gosto, mas retira-me a possibilidade de vir a ter um blogue «fixe». Tranches de vitela não é fashion, nem muito culto. Bolas! Sinto-me perdida na vida. Por outro lado, fiquei a salivar...
 
Adenda: Mas já que o «As Minhas Quixotadas» está aqui também para auxiliar bons garfinhos, que fique para memória futura: as tranches de vitela na sertã do restaurante «O Bodegão», no shopping de Viana do Castelo, são das melhores iguarias que este palato e esta pancinha já experimentaram. Se puderem provem e contem-me como foi. Eu, pela minha parte, espero reviver essa sensação já neste Verão.

À flor da pele

Eu sempre aprendi que a pele é o maior órgão do corpo humano, sendo que as pessoas se esquecem frequentemente disso. A pele é, por isso, recorrentemente esquecida enquanto órgão que é e, assim, maltratada ou pouco cuidada. No entanto, lá surge a ocasião em que nos lembramos dela e em que compreendemos que assim não vamos lá: temos mesmo de parar para dar-lhe atenção, sob pena de virmos a passar mal.
 
Falo contra mim, que conhecendo a importância da pele, passo quase o ano inteiro sem lhe aplicar um pouco de creme hidratante que seja. E se tenho a pele muito seca! Já dei muitas vezes por mim, a caminho do trabalho, a olhar para as mãos e para os braços e a pensar «tenho de pôr aqui creme». Contudo, depois era o 'punhas'. Não gosto de me sentir pegajosa, a colar a tudo quanto é sítio. Não me aguento. Quando já vai sendo desagradável, lá esfrego creme nas mãos, mas fico-me por aí. Ora, como disse, lá chega a altura em que somos levados a perceber que o comportamento deve ser outro. Porém, existem problemas maiores do que a viscosidade dos cremes.
 
Na segunda-feira fui a uma consulta de dermatologia e saí de lá com uma receita de dois itens e o aviso de que nada daquilo era comparticipado. Pois bem, vamos lá à farmácia ver disto. No final do atendimento, entre aqueles dois cremes e um protector solar, saí de lá com uma conta de setenta euros. Uns módicos e catitas setenta euros. Paguei e não bufei, tendo a certeza de que estes cremes são para estourar até à última gota, dado terem custado tanto dinheiro. Todavia, não posso evitar uma questão: sendo a pele o maior órgão do corpo humano, sendo muitíssimo importante enquanto revestimento e sendo um elemento que ao não estar bem nos deixa bastante desconfortáveis, como é que é possível que TUDO o que até hoje me foi receitado para a pele não tenha comparticipação? Mais: até podiam não ser cremes comparticipados se fossem baratos, mas não são. Só um dos cremes para o rosto custou vinte e quatro euros e tem apenas quarenta mililitros! Então mas a pele não merece o mesmo cuidado que outros órgãos? Ou será que se depreende que quem precisa de medicamentos para a pele são pessoas endinheiradas que têm tempo e dinheiro suficientes para repararem que têm pele e que ela precisa de uma ajudinha? Não compreendo.
 
O que sei é que ando desde segunda-feira num constante estado de 'besuntice aguda'. Já consegui pôr duas manchas na parede do quarto por ter tocado lá sem querer com um braço cremoso. E enquanto me lembrar dos euros todos que ficaram na farmácia, continuarei a untar-me com aquelas coisas. Mas que me custa a entender esta maneira de pensar, custa.