quinta-feira, 31 de maio de 2012

As compras à cabeceira


Vou começar agora a ler isto. Gosto muito de ler sobre o consumo e o modo como nos transformamos em marionetas dentro de algumas lojas. Gosto bastante de ler sobre o lugar dos bens e do luxo na nossa vida, por isso depois deste livro sou capaz de saltar para um Lipovetskyzinho, logo se vê. Entretanto espero que estas páginas me ensinem a fugir à tentação das compras que, honestamente, até já foi piorzita. Agora só compro mesmo livros, pois esse é, parece-me, problema manifestamente incurável.

Boa noite e durmam bem, caros quixoteiros.

Letras sem jeito

Chega a ser fascinante a quantidade de livros sem conteúdo que hoje em dia se publicam. Pergunto-me quantos bons autores ficarão por publicar porque as editoras preferem dar voz a pessoas que até sabem juntar as letras, mas que têm tanto para dizer quanto eu tenho de vontade de levar uma sova. Enfim, a verdade é que agora tudo dá um livro e que isso só acontece porque existe gente tão pouco exigente que aceita como livros alguns volumes que nada dizem, que nada interessam. A exigência, a vontade de encontrar mais e melhor são os únicos caminhos para uma edição literária de qualidade e que não se limite a publicar porcariazitas sem interesse só porque, se calhar, até há alguns pouco iluminados que compram.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Arco-íris

O dia foi mau. Santo Deus, que mau que foi! Mas a determinada altura, à tarde, uma aluna diz-me que eu sou a professora de quem ela gosta mais e que se lhe der aulas até ao nono ano, então serei a professora de quem ela mais gostou durante mais tempo. São ideias de menina, é certo, mas caíram-me muito bem num dia tão mau.

terça-feira, 29 de maio de 2012

À espera do carteiro

Estou à espera que o carteiro me traga a encomenda que fiz à Wook e que é composta por dois livrinhos que quero e quero e quero e quero até meter nojo. Portanto, nos próximos dias espero poder arrumar estes dois na prateleira (quanto mais não seja numa imaginária porque em casa já não abundam muitas disponíveis...):



Leiturinhas

Ando a ler estes dois:



Isto de ler García Márquez no original tem muito que se lhe diga. Há algumas palavras que me escapam, é certo, contudo a edição é boa e com muitas notinhas que ajudam. Cada vez me convenço mais de que há verdadeiros tesouros entre os escritores de países da América latina. Aquela componente de magia que adicionam aos seus textos e as notinhas de humor, às vezes subtis, mas frequentemente bem óbvias, são muito bem-vindas. Vê-se que é gente bem disposta que conta grandes histórias de um modo magistral. Este livro vai sendo maravilhoso.

Já o Manhã Submersa é a minha leitura de autocarro e de pré-soninho. É a história de um miúdo que estuda num seminário, mas que tem tanta vocação para padre como eu. Alguém endinheirado quer, ou melhor, exige que ele estude para ser um ministro do Senhor e nem pensar em não realizar tal vontade. Portanto vemos o que vai sucedendo dentro daquela instituição, como os miúdos se descobrem, como a sociedade vê os seminaristas, entre outros aspectos. Vergílio Ferreira não era um autor de boa memória para mim: a Aparição, que li no 12.º ano, não me deixou lá muito satisfeita. Contudo, os anos passam e já fazia falta voltar ao senhor para confirmar ou não a minha repulsa pela sua escrita. Ainda chegará o dia em que volte a tentar Camilo Castelo Branco que é outro de péssima memória para mim: aquele Amor de Perdição ainda hoje me faz uns nervos...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pondo os pontos nos "is"

Hoje, véspera de teste, um aluno meu estava inspiradíssimo após ouvir uma conversa de dois colegas sobre os círculos e os corações que algumas pessoas fazem como pintas dos "is". Ora, a determinada altura resolve informar-me de que a partir de hoje vai passar a fazer «carrinhos» como pontos para tais vogais. Mas depois corrige: «não, não: vou passar a pôr cogumelos em cima dos "is"!». Neste momento já eu ria a bom rir. Podia lá imaginar que aquele miúdo, normalmente tão pacato, ia continuar e propor uma nova moda:

- Já sei, professora: a partir de agora em cima dos "is" vou escrever Os Lusíadas!

Bem, morri. Ri, ri, ri, ri, ri ao imaginar aquela alminha pequena a parir «As almas e os barões assinalados / que da ocidental praia lusitana / por mares nunca dantes navegados / passaram ainda além da Taprobana» e mais os restantes milhares de versos em cima de um singelo "i". Lá sabia ele o que estava a dizer. Eu bem lhe tentei explicar que precisaria de um caderno inteiro só para pôr o ponto na vogal, mas ele disso não quis saber. Enfim, chegou ao fim da aula dizendo que a partir de agora:

a) Concluiria todas as suas frases com o seu primeiro nome;

b) Terminaria todas as frases com o seu último nome;

c) Colocaria a sua opinião sobre as respostas que dá nos testes sobre os "is".

O que eu me ri! Ainda por cima fez alguns dos desenhos em cima dos "is" para me mostrar as suas invenções. Teve mesmo muita graça, contudo amanhã, pelo sim pelo não, antes do teste é melhor lembrá-lo de que umas singelas pintas são mais do que suficientes em cima de uns pobres "is".

Mas já?

Já Segunda-feira? Já??? Mas eu fiz mal a alguém para merecer fins-de-semana tão curtos? Oh valha-me São Pónei que ninguém merece isto!...

domingo, 27 de maio de 2012

À "Manosga"

Fui contigo ao Museu Nacional de Arte Antiga quando era uma amostra de gente. Fui contigo à Cinemateca ver As Viagens de Gulliver quando ainda era uma pequena «loira bombástica». Fui contigo comer panquecas e hoje volto lá porque me ensinaste o caminho. Fui contigo ouvir o coro da Gulbenkian, onde adormeci. Fui contigo à feira do livro no Mercado da Ribeira e saí de lá com os meus Estrumpfes debaixo do braço. Fui contigo à Feira do Livro de Lisboa e corri contigo as barraquinhas que hoje adoro tanto. Fui contigo à redacção do Diário Digital e à do Diário de Notícias. Fui contigo provar sushi e foi a tragédia que bem sabemos. Fui contigo à Porfírios e trouxe de lá um blusão azul que amei até me fartar. Fui contigo ao cinema tantas vezes e quantos filmes maus viste por minha causa? Fui contigo à final do «Jogo do Ganso», na Praça da Figueira, com uma peça de roupa azul, como mandavam as regras. Fui contigo à Expo 98 e estava contigo quando ela encerrou com aquele fogo de artifício sobre o rio. Fui contigo aos Pastéis de Belém e ao Museu de Arqueologia. Fui contigo comemorar a vitória de Portugal contra a Holanda no Euro 2004. Fui contigo à praia e engelhei-te a pele de tanto tempo que te obriguei a estar dentro de água. Fui contigo comer caracóis. Fui contigo ao funeral de uma das tuas maiores amigas. Fui contigo a tantos lugares.

Há seis anos e meio escreveste um «Post alegre» que dizia «Há 20 anos que me rio por ti, às vezes de ti, sempre contigo. És o sorriso, sei-o de ciência certa, que manterei SEMPRE.». Para ti, neste teu aniversário, um aniversário tão docinho, vai a minha resposta: fui a tantos lugares pela tua mão, aprendi tanto contigo, tenho tanto orgulho em ti e sou tão feliz por te ter como irmã que sei que também tu és e serás SEMPRE uma boa parte do meu sorriso.

Muitos, muitos, muitos parabéns, "Manosga"...

Ajudas

Hoje fui de propósito ao supermercado para contribuir com produtos para a campanha do Banco Alimentar. Não me custou nada e sei que se não fosse ia ficar triste comigo própria. Dei um saco com alimentos que não sei para quem irão, mas que espero serem suficientes para aligeirarem um pouco as dificuldades de alguém. Sei que há quem não dê, quem ponha quinhentos entraves e dê outras tantas desculpas para não contribuir. Porque não chega a quem precisa, porque alguém ganha muito com isto, porque as coisas acabam por estragar-se nos armazéns, porque... Felizmente os resultados vão mostrando que, neste tempo tão difícil, as pessoas contribuem mais, são mais solidárias, mais pessoas, e que, portanto, são menos estes «Velhos do Restelo» para quem tudo está mal feito e é um esquema para qualquer coisa que nem se sabe muito bem o que seja.

Se há instituição que me sensibiliza é o Banco Alimentar, precisamente porque o seu trabalho chega a tantas outras instituições e porque é dos seus armários que têm saído, para muita gente, as refeições para quem deixou de poder assegurar a sua própria alimentação. Há muitos anos que faço questão de ir aos supermercados nos dias da recolha porque sei que o que vou dar, ainda que não seja muito, faz falta. Não sei se algum dia virei a precisar, mas se vier, creio que gostaria de receber esta ajuda. Uma senhora dizia numa reportagem que passou num noticiário que «é melhor ajudar do que ser ajudado» e se há coisa que não conseguimos é prever o que nos acontecerá amanhã. Assim, parece-me que não custa nada contribuir, tendo sempre em consideração que alguém passará um pouco melhor com um pequeno gesto nosso e que nunca sabemos se um dia não precisaremos nós.

Notinha: A quem não contribuiu, podem fazê-lo até ao dia 3 de Junho através do sítio do Banco Alimentar.

sábado, 26 de maio de 2012

La musique

O poder da música... Ah, o poder da música! Eu que nem ando sempre de fones nos ouvidos a bombar os últimos sucessos «da rádio, teledisco e cassete pirata», como diria o saudoso Serafim Saudade, tenho de admitir que viajo com ela.

Hoje, num belo Sábado, desperta desde as oito da manhã, dedico-me ao trabalho, preparando os enunciados dos testes que vou dar durante a semana e, porque os Simpsons me distraem, desligo a televisão e ligo a música. E eis que dou comigo a fazer paragens porque determinada melodia me recorda alguém, alguma coisa, algum lugar. Depois acordo, invento mais uma ou duas perguntas para os testes, e lá vem outra que me leva de volta para os tempos da parvoíce (que vendo bem já foram há mais de dez anos, caramba). A coisa é um bocado agridoce, mas tem a sua piada. Só acaba por me ficar uma dúvida: chama-se a isto o poder da música ou o ternurento poder da procrastinação?...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O frigorífico dos meus sonhos


Um frigorífico cheio de clássicos???

A menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer,  a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer,  a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer,  a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer,  a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer,  a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer, a menina quer!

(Não sei se me fiz entender...)

Notinha: A imagem saiu daqui.

O meu tigre de peluche e os hominídeos

Hoje ia eu no autocarro (essa fonte permanente de histórias) quando entram uns rapazolas (que não devem andar muito longe da minha idade, mas enfim) alunos de uma escola de Lisboa. Sei que frequentam aqueles cursos que têm uma sigla muito conhecida e que servem para amarrar na escola boa parte dos adolescentes que não têm qualquer talento para aprender e nenhuma vontade de trabalhar (felizmente há excepções, mas vão sendo raras). Ora, dizia eu, entram essas pérolas no autocarro e aquilo de repente vira o inferno. Música aos berros, hominídeos aos urros, narrativas de episódios de violência gratuita, enfim, todo um chorrilho de bosta. Mas o melhor, ai gente, o melhor é que aquela cambada de boçais ia comemorar não sei para onde o facto de serem finalistas. FINALISTAS de uma javardice de um curso que fazem aos empurrões, a armar zaragatas diariamente, a recusarem-se a estudar o mínimo que seja, a transformarem a vida dos professores num inferno, a infernizarem também os sítios para onde vão estagiar, enfim... Não são alunos de nenhuma escola em que dê aulas, mas as peças são bem conhecidas aqui na zona e, portanto, o facto de irem no autocarro a zurrar que eram finalistas enquanto incomodavam todos os outros desgraçados que com eles partilhavam o espaço, chega a ser deprimente. Finalistas de quê? De uma coisa em que não se chumba? Grande coisa: isso até o meu tigre de peluche, cujos miolos são de esponja, conseguia. E uma coisa é certa: ele é muito mais educado, muito menos azeiteiro, muito mais inteligente e muito menos arruaceiro. Ao pé daquilo merecia um Doutoramento Honoris Causa e uma viagem de finalistas ao Dubai!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Uma raça estranha

Existe uma raça humana que me faz espécie e que me deixa a pensar se serão efectivamente humanos ou não. Calma que não vem aí um manifesto de extrema-direita. Vem, sim, uma breve reflexão sobre os totós que adoram autocarros abafados e que, portanto, seja Verão ou Inverno, fecham as janelas mal sentam os reais rabos nos assentos do dito transporte. Às vezes consigo, em pleno Inverno, viajar num autocarro mais quente do que aquilo que acontece no próprio Verão, quando os motoristas lá têm piedade e ligam os ares condicionados desta vida.

É mania que não percebo: ao fim de uns minutos de entrar alguém no autocarro, pimba, lá vem o sonoro estalo de um vidro a ser empurrado. E lá são menos umas brisas que entram e um sufoco que aumenta. É uma maravilha! Mesmo no Inverno, estando frio, é bom arejar os autocarros para não andarmos todos a respirar as gripes dos outros, mas, enfim, há quem não o entenda. Não entendem e, pior, não perguntam aos outros se se incomodam com o fecho da janela. Qual quê?! Fecha-se e acabou.

Proponho a extinção dessa raça e estou a aceitar sugestões criativas sobre o modo através do qual deve cumprir-se esse objectivo. Eu tenho cá a minha ideia, mas não digo, não vão vocês dizer que sou uma selvagem impiedosa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

7 anos de TUDO

Esta quixotada tem um destinatário e este destinatário sabe bem quem é. Atura-me há sete anos, partilha a vida comigo há um tempo que mais pareceu sopro, acompanha-me há milhares de dias. Este destinatário tem-me dado tudo e pede-me muito pouco. Por isso merece tudo o que de bom a vida possa ter e eu esforço-me por estar à sua altura, por ser uma melhor pessoa, por merecê-lo.

No dia em que comemoramos sete anos de um namoro como nunca existiu outro, deixo-lhe uma quixotada que é um beijo. Podia ser uma flor, um presente, um embrulho catita. Mas para ele, para nós, faz mais sentido um beijo, um riso, uma gargalhada daquelas que não param. Há sete anos que rimos juntos e havemos de continuar a fazê-lo. Cá estaremos para isso.

Amo-te! 

Miúdos

E o engraçado que é um aluno pequenito chamar-me a um canto para me perguntar ao ouvido se pode ir buscar umas calças para a irmã. Perante tão inusitado pedido, julguei estar a ouvir mal e ordenei-lhe que repetisse. Após ter percebido que havia ouvido bem e que a meio da minha aula alguém precisava de umas calças novas, só consegui exclamar:

- Oh valha-me Deus!

Felizmente recompus-me logo e perguntei:

- Mas para quê? O que é que aconteceu?

Acreditem que, naquele momento, temia o pior. Felizmente ele só disse:

- Ela tem as calças rotas e só reparou agora, professora.

- Pois, eu já tinha reparado... Mas vocês andam com um par de calças extra?

E ele, como se eu fosse muito totó, responde:

- Sim, estão no cacifo.

Lá saem da sala: ela muito embaraçada, ele a girar a chave do cacifo/guarda-roupa no dedo e o resto da turma a querer saber o que se passa e onde vão eles.

No fim de contas ela lá regressa com as calças igualmente rotas. Afinal não havia vestuário de emergência para a salvar naquele dia. Mas, enfim, as calças da moça serviram-me para perceber que numa turma de gente pequenita, pode acontecer tudo. TUDO!

domingo, 20 de maio de 2012

Nas ruas da amargura

O pessoal do cinema e do teatro que já recebeu o «Globo de Ouro» respectivo tem aproveitado o momento do agradecimento para dar um cheirinho da miséria que vai a cultura em Portugal. Acho bem. A cultura passa tantas vezes pelas gotas da chuvas e ninguém dá conta dela. Agora mais do que nunca definha e sabe-se lá no que acabará.

Somos um país com gente boa, muito boa até, em diversas áreas, mas muitas vezes não os vemos. Conhecemos os bons do futebol e pouco mais. Contudo, há mais vida para a qual vamos fechando os olhos. Agora corremos o risco de nos ver ainda mais pobres sem o nosso próprio cinema, sem o teatro feito por excelentes profissionais. Lamúrias fora, a situação é assustadora. E se ninguém se arrepia com isto, e se ninguém tem mesmo vergonha de ver o seu país numa situação tão apoucada, então estamos mesmo mal e, provavelmente, sem salvação possível.

Má língua

Portanto, os Globos de Ouro vão para o desporto, música, cinema, teatro e televisão. Muito bem. Só ficam a faltar os livros, ou melhor, a literatura. Seria interessante e muito didáctico. É que acredito que parte daquela gente que passou sete dias a vestir-se para estar ali hoje não imagina sequer o que seja um bom livro...

A Menina Sugere Isto V

Passei o fim-de-semana a dizer que determinado produto merecia uma quixotada o que, na minha tacanha linguagem, equivale a dizer que é maravilhoso e que, portanto, merece partilha. Ora, e que produto era esse? Nada mais, nada menos do que um pequeno mas muy reconfortante baldinho de gelado de «Dulce de Leche» da boa da Häagen-Dazs.

Eu, que sempre disse que os gelados de chocolate é que eram e que não queria nada com nenhum outro sabor, descobri esta pérola há uns meses na Häagen-Dazs. Cada vez que lá ia, pumba, juntava no mesmo prato uma bola de gelado de chocolate e uma de «Dulce de Leche». Saía de lá contentinha de todo, mas uma bola é coisa que pede sempre mais e, por isso, neste fim-de-semana perdi o amor a alguns euros e comprei um baldinho. Ora, eu e o moço, munidos de duas colheres (a minha era de sopa, eh eh eh) mandámos a coisa abaixo em três tempos. No fim, raspados os últimos pozinhos, apeteceu-me fazer o luto por aquele gelado tão cremoso, tão docinho, tão fofinho que tinha acabado ali, nos meus pobres braços. Não fiz luto, mas quase. Serve a divagação para vos mostrar o quão disposta estou a adoptar todos os meses um baldinho daquela preciosidade. Aliás, estou a pontos de começar a pedir baldes de gelado «Dulce de Leche» da Häagen-Dazs pelo Natal e aniversário... Sim, minha gente, cheguei a este ponto.

Portanto, amiguitos, corram até ao hipermercado mais próximo e deliciem-se. E mais: se lá forem, tragam cinco baldinhos para mim. Muit'agradecida.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Professora aos palmos

Hoje, no final de uma aula, uma aluna veio ter comigo e disse-me:

- A professora hoje tem uns tacões tão altos! Não lhe doem os pés?

- Não porque o pé não está muito inclinado. É impressão tua.

Quando volto a olhar tenho a menina de costas atrás de mim, de esquadro em punho e a tentar medir a altura do salto de cunha. Acaba por exclamar:

- Dez centímetros! A professora tem uns tacões de dez centímetros de altura! E tem pés de princesa. Quanto calça? O trinta e três?

Ai gentes, a vontade que tive de rir ao ver aquela criatura emboscada para me medir os centímetros extra com um esquadro e a descobrir que sou minúscula.  Só a mim...

Perigos

Hoje foi atropelado um miúdo pequenito, com mais ou menos dez anos, em frente à escola que frequentava e perto daquela em que dou aulas. Tive de interromper a minha aula umas duas vezes porque o som das ambulâncias era ensurdecedor. Depois soube que a estrada teve mesmo de ser cortada e que foi um pandemónio. Diz quem viu que o miúdo ficou muito maltratado e que o taxista que o atropelou estava num pranto. Dizem as testemunhas que o miúdo voou sobre o carro e que não atravessava na passadeira. Um aluno meu chegou à sala a contar o que se havia passado e vinha em choque com toda a cena. Contudo, reconhecia que os jovenzinhos que frequentam as escolas da zona passam o dia a atirar-se para a estrada, ainda que exista um gradeamento na berma do passeio.

Não sei o que resultou dali, mas pela descrição a criança não ficou muito bem. Também não sei em concreto o que aconteceu porque não vi e só pude ouvir os relatos. Agora, o que sei, porque já vi, é que as pessoas naquela zona, mesmo sabendo que passam autocarros a cada dois ou três minutos, atiram-se para a estrada sem olharem. Já estou farta de ver alunos a saltarem as grades protectoras para atravessarem a estrada a correr, sem sequer prestarem atenção ao trânsito. Já ali morreram outras crianças, mas por muito que sejam avisadas, não aprendem. O que fazer? Não faço ideia, parece-me um problemas sem solução.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

De hamburgueres paliativos

Desconfio que o nosso cada vez mais inexistente Serviço Nacional de Saúde devia comparticipar os hamburgueres de uma certa cadeia de fast food americaníssima. E se com esta frase já estão a duvidar da minha sanidade mental, ora ouçam (ou melhor, leiam) a minha ideiazinha.

Quando tenho um dia mesmo muito ruim, como o de hoje, e um almoço que me dá vontade de chorar, chego ao final da tarde a implorar por calorias. Felizmente isto só acontece de vez em quando, senão já seria uma pequena orca assustadora. E porquê? Porque lá arranjo maneira de obter essas calorias a partir de uma maravilhoso hamburguer cheio de queijo que mais parece plástico e bem regado com umas batatas fritas em palitos de quinze centímetros cada. Claro que depois acabo a beber uma garrafa de água com gás para ajudar o estomagozinho, mas gentes... Quando o dia é péssimo, mas meeeeesmo muito mau, aquele hamburguer sabe-me pela vida e poupa-me uma semana ou duas de terapia com psicólogos. Assim sendo, talvez o futuro de boa parte da nossa saúde mental esteja nessas sanduiches de chicha picada e um pickle (o abençoado de que já aqui falei). É evidente que depois todo um campo de senhores doutores terá de entrar em acção para nos salvar do colesterol, da tensão alta e do excesso de peso, mas vá: com a cabeça a funcionar bem, o resto acabará por ir ao lugar.

Notinha: Estou a brincar, minha gente. Não tenham já dois ou três colapsos porque ainda não ensandeci. Mas lá que o hamburguer me cai que é uma maravilha, cai.

Quixotada sem conteúdo

Perdoem-me, mas tenho de desabafar: estou tão farta de aturar gente estúpida que só me apetece hibernar. E não, não estou a falar dos alunos até porque estes, hoje, deram uma lição de dignidade a uma senhora que precisava de quilos dela.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Violência peluda

Hoje lia uma composição de um aluno do 3.º ciclo em que ele dizia que gostava de animais, que já tinha tido um cão e um canário que tinham morrido, e nhó nhó nhó nhó. Lá pensava eu que era mais uma composição igual às outras: umas linhas sobre um tema muito infantil com o objectivo de apresentar serviço sem ter com isso grande trabalho.

Contudo, as últimas duas linhas justificam a quixotada. O menino que passa o tempo a falar dos seus animais e do quanto gostava deles, sem que fosse viciado, conclui dizendo que «Para além disso não tive mais nada, apesar de não me importar de ter um coelho para lhe dar umas chapaditas.» Oi? Perdão? Chapaditas num coelho? Mas é suposto?

E eis como uma composição infantil se tornou numa pérola inesquecível, capaz de alegrar o meu dia.


sábado, 12 de maio de 2012

Despedidas

Já aqui disse que odeio o programa da SIC «Alta Definição», mas hoje ele é o ponto de partida para uma quixotada que me andava debaixo da língua já há algum tempo. Tenho neste momento a televisão ligada porque gosto de trabalhar com algum ruído de fundo e acabei por ouvir uma frase do Carlos do Carmo pronunciada nesse mesmo programa. Disse ele: «O que perdi de amigos nestes últimos anos é algo de assustador.».

Infelizmente tenho de dizer que partilho com o fadista esse mesmo problema. O que perdi de amigos desde há uns dez anos para cá chega a ser penoso. Na realidade, depois destes anos todos é-me mais fácil contar os que ficaram, que sempre vão sendo menos. A alguns perdoo a deserção porque a mereci, a outros nunca perdoarei porque fugiram na pior altura, porque foram reles, traidores e idiotas. Deixei ir todos: em alguns casos ainda me esforcei por alterar a situação, mas não obtive grandes resultados. Não fez mal: aprendi a viver com poucos amigos, embora bons, e acabei por compreender que eu sou a minha melhor amiga. Nunca me fugirei, nunca me trairei, nunca me darei um chuto no real rabo, até porque é anatomicamente impossível.

A última amiga que foi à vidinha dela foi minha colega de faculdade. Eu gostava muito dela e ela, pensava eu, gostava muito de mim. Rimo-nos que nem loucas juntas, inventámos personagens, escrevemos disparates, passámos horas em gelados e conversas. Um dia fui acusada de não acreditar nela, ou melhor, nas capacidades dela. Alguém o teria dito, alguém se achou no direito de o fazer e eu vi-me a receber gritos e acusações de uma pessoa em quem sempre acreditei. Recebi pedidos de desculpas. Sabia que poderia tentar perdoar, contudo conhecia-me o suficiente para saber que não seria capaz de esquecer. Enfim, fiz o esforço. Há algumas semanas parei para fazer o balanço da situação e resolvi desistir. Sim, digo-o aqui oficialmente, desisto. Não posso e não quero esperar para retomar fios que não fui eu que quebrei; não posso e não quero reatar laços com quem me tratou mal e me acusou dos males do mundo, tendo depois acolhido no quentinho do coração aquele que envenenou tudo. Não posso e não quero. Tentei, esforcei-me, procurei convencer-me de que era possível, mas afinal não é. Há hipocrisias que me enojam e para mim esse é o fim do caminho. E sobre isso são as minhas últimas palavras.

Amigos tenho poucos e sei por que é que assim é. Sei por que é que cada um foi à sua vida e, concorde ou discorde, aceito. Não sou maravilhosa, não sou pessoa de apaparicar ninguém, não sorrio a toda a gente, não tenho a simpatia como a minha maior qualidade; sou mordaz, sarcástica e irónica. Gosta de mim quem se esforça por me conhecer: quem não tenta odeia-me logo. Aprendi, porque teve de ser, a viver comigo própria, a gostar  de ir às compras sozinha, a apreciar o sol na esplanada enquanto, sozinha, folheio uma revista. Pode parecer incrível para alguns, mas adoro esses momentos. Gosto, também, de estar com amigos, com os que ficaram, com os que me fazem rir, com os que gostam de panquecas e gelados e massas cheias de queijo parmesão. Mas já não morro, como noutros tempos, se todos desaparecem durante uns tempos. Se alguma coisa boa retirei de dez anos de amigos que somem porque assim o querem é o facto de agora saber estar e gostar de estar sozinha. O silêncio já não me incomoda e eu sou a minha melhor amiga. Assim é que tem de ser.

Esta quixotada havia de nascer um dia. Parece que esperava apenas um gatilho que a disparasse e, enfim, cá está ela. Aos que ficaram digo que gosto muito deles e que serei, enquanto por cá andar, a melhor amiga que souber ser. Aos que foram que sejam felizes sem mim. Não lhes faço falta: sou facilmente substituível.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

«Que um fraco rei faz fraca a forte gente»

No manual de Português que uso com o 12.º ano há uma página onde foram transcritas as reacções de várias personalidades ao Prémio Nobel do nosso Saramago. A maioria são mensagens de alegria e contentamento pelo reconhecimento a um autor português. Contudo, há uma que destoa. O bom do D. Duarte terá dito que Saramago «É um autor de leitura difícil e pesada, que insulta abertamente os sentimentos cristãos. Duvido que os membros do júri tenham lido os seus livros. É como se tivéssemos ganho o campeonato de futebol. É bom mas não tem muito conteúdo.»

Haveria todo um mundo de coisas engraçadas a dizer sobre tais palavras supostamente proferidas pelo nosso eterno herdeiro da coroa. Todavia, consigo ser sucinta e suficientemente eficaz ao dizer que é maravilhoso ver que o mesmo país foi capaz de parir duas figuras tão diferentes: por um lado, o génio literário de que todos nos devemos orgulhar, independentemente dos preconceitos que sobre a sua obra existem. Por outro lado, o outro. Sim, isso apenas: o outro.

Notita muito venenosa da autora: Gostava de andar por cá em 2112 para ver de quem se falará e quem será recordado: se o bom do homem que tinha uma escrita pesada e difícil ou se o senhor que não o conseguia ler...

Bernardo Sassetti (1970 - 2012)

Estou chocada com o que aconteceu ao Bernardo Sassetti... Caramba, que morte prematura e tonta. Perdemos um enorme talento e só podemos lamentar que, mais uma vez, um jovem cheio de qualidades, capaz de criar magia com os dedos nas teclas do piano, tenha desaparecido e deixado em silêncio este nosso ruidoso mundo.


Voltas pela Feira VII

Na Quarta-Feira fui à feirinha para despedir-me dela (snif snif) e trouxe de lá mais dois livritos da senhora dona Maria Filomena Mónica, comprados nos alfarrabistas. Os Cantos e Confissões de Uma Liberal são, pois, os novos habitantes aqui do palácio. Sejam bem-vindos, fofinhos.



Nota: As fotografias foram retiradas da página da Wook.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Os sinais da ignorância

Hoje ouvi, no autocarro, o discurso mais estúpido da minha vida. Um senhor ia indignadíssimo porque o condutor do autocarro que o trouxera até ali, onde àquela hora apanhava o transporte de volta para casa, praguejava porque, e citarei o génio, «o parvalhão do motorista parou em todos os sinais vermelhos que apanhou no caminho: não soube passar nem um!». Sim, minha gente, há pessoas assim, não são seres míticos, como os unicórnios. Mas o melhor é que o senhor queria que concordassem com ele e, por isso, lá ia desfiando o rosário das enormidades para a senhora que teve o azar de se sentar ao seu lado: «Já viu? Parou nos semáforos todos, nem tentou passar nenhum! Há gajos que deviam pagar à Carris para conduzirem os autocarros!». A desgraçada lá ia resmungando um apagado «pois», de vez em quando. Aposto que, na realidade, amaldiçoava a hora em que decidira sentar-se naquele lugar, mesmo ao lado do tipo suicida que queria ver o motorista a praticar contra-ordenações a cada semáforo novo.

Nem sei como ainda me espanto. Já devia estar suficientemente calejada em disparates similares de gente que não conhece a máxima, que gosto de seguir, e que adverte «Se não tens nada de bom para dizer, cala-te.». O silêncio é uma virtude e cada vez me convenço mais de que essa é uma grande verdade esquecida...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O saber não ocupa lugar

«Repita-se que aprender e pensar é trabalhoso mas interessante, e que estas duas actividades propiciam incomensuráveis alegrias ao ser humano.»

Maria Lúcia Lepecki, "A vida íntima das palavras",
Revista Super Interessante, n.º 99, Julho de 2006.


Fui, em 2006/2007, aluna da Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Lepecki na disciplina de Teoria da Literatura I e posso dizer que a reconheço nestas palavras que, por essa mesma altura, publicou. Ela era, e uso este tempo verbal porque, infelizmente, já não se encontra entre nós, uma apaixonada pela aprendizagem e pelo pensamento. Mais: ela irradiava esse gosto e nós, sentados diante dela, éramos inevitavelmente envolvidos neste gosto. Não foi com esta professora que aprendi a esmiuçar a sério um texto literário, mas ela ajudou a consolidar esse conhecimento. Era da velha escola que parava para olhar para todas as palavras que o escritor desenhara no papel e que na sua junção via um sentido. Foi num teste dela que li o primeiro excerto de Saramago depois da tentativa falhada de, aos doze ou treze anos, tentar ler o Memorial do Convento. Foi por causa desse teste, coroado com um dezoito numa cadeira tida como dificílima, que comecei a comprar a obra do nosso Nobel.
A professora Maria Lúcia Lepecki faleceu há relativamente pouco tempo e levou consigo um mundo de conhecimentos que não posso sequer tentar imaginar. Mas se consigo levou muito, a verdade é que também é enorme o legado que nos deixou. Ao ler esta frase, com que topei num dos manuais escolares em uso no próximo ano lectivo, senti muita pena por ter passado tão depressa o tempo em que partilhou connosco o seu saber, mas fiquei, também, satisfeita por ler duas linhas cheias de um significado que não poucas vezes se esquece. Olho para alguns alunos e percebo que não retiram qualquer prazer do processo de aprendizagem e que, pior, não percebem para que é que têm de aprender.

Contava-me, no ano passado, um colega que um aluno lhe perguntara porque tinha de aprender Latim se não queria ser professor dessa disciplina. Ficámos chocados: alunos como este ainda não perceberam que "o saber não ocupa lugar" e que nos enriquece, tenha ou não posteriores aplicações. No caso do Latim até existe aplicação (por exemplo, ajuda a compreender a gramática da nossa língua), mas ainda que não tivesse, não deveriam os miúdos ficar satisfeitos por conhecerem algo que muitos não conhecem?

Creio que boa parte dos problemas de insucesso escolar se devem, precisamente, a esta mentalidade desmotivada dos alunos que só querem aprender o que lhes dá jeito e gozo de forma imediata e que não se divertem a apreender novos conhecimentos. Dizia-me um professor no primeiro ano da faculdade que "sabemos de cor aquilo de que gostamos, aquilo que fica no coração" e que a palavra "cor", que tão frequentemente utilizamos, nasce da palavra latina para "coração". Nem tudo o que aprendemos fica no coração, é certo. Não guardo grande amor às equações e às expressões numéricas, mas aprendi-as. Esforcei-me e ainda que hoje não as saiba resolver, pelo menos posso dizer que em tempos as aprendi. Alguns conhecimentos foram uma tortura: eu, como todos, não fui talhada para todas as áreas, embora gostasse de o ser. Ainda assim, mantive o gosto pela aprendizagem e sei que me torno muito mais rica a cada novo livro, a cada novo artigo que leio. É um processo trabalhoso, como disse a professora Maria Lúcia Lepecki, mas gratificante. Sei coisas que talvez nunca utilizarei, mas e depois? Sei-as e é o que importa. 

domingo, 6 de maio de 2012

Gargantas

Andava toda satisfeita porque desde a varicela do ano passado, julgo eu, que não adoecia. Já me achava a super-mulher, mas lixei-me, «com o perdão da real palavra», como diria o nosso Saramago. Ontem lá me começou a vir uma dor de garganta chata e a noite, embora sem outros sintomas, foi aborrecidazinha. Não tenho febre e no corpo só moleza, nenhuma dor. Ainda assim, este Domingo de sol foi passado a jiboiar na cama, acompanhada por duas fofas almofadas e o Bilhete de Identidade, da Maria Filomena Mónica (que levou um belo avanço). A esta hora e uma carrada de «Strepsils» depois, ainda sinto qualquer coisa na garganta, mas parece-me que não vai desembocar em nada de mais chato. O pior é que para trabalhar preciso de ter uma garganta impecável e cheira-me que tal não vai suceder. Pergunto-me como raio serão as aulas de amanhã e não consigo imaginar...

Voltas pela Feira VI

Não, desta vez não fui eu quem se passeou pela Feira do Livro. O meu moço, muito simpaticamente e a quem, desde já, agradeço, ofereceu-se para ir lá comprar-me um livro de que vou precisar em breve e que estava como livro do dia hoje. Claro que fazer uma viagem só por um livro era um desperdício (cof cof) e por isso pedi-lhe para trazer-me mais dois... E assim o António Barreto e o Orhan Pamuk vieram morar cá para casa, salvo seja.


sábado, 5 de maio de 2012

O "selinho" inspirado


Pois que a caríssima colega de bloguices Miss Pipeta resolveu ofertar ao blogue «As Minhas Quixotadas» um "selinho" que o rotula como inspirador. Fico muito satisfeita com a distinção, até porque sei que nos últimos tempos este estaminé tem andado muito mortiço. O trabalho é muito e o cansaço às vezes turva-me as ideias ao ponto de me deixar incapaz de juntar um par de frases num texto catita. Ainda assim, sei que há quem venha cá (como a Miss Pipeta) à procura das últimas quixotadas. A esses agradeço e desculpo-me pelas poucas novidades que têm recebido: mais um mesinho e a coisa melhora.

Ora, o "selinho" traz com ele algumas obrigações. Nada que não se possa fazer, tendo em conta que alguém se lembrou deste humilde blogue para o distinguir com um pequeno presentinho. É uma espécie de agradecimento e de retribuição, que é coisa que fica sempre bem. Assim sendo, cabe-me:

- Escolher cinco blogues com menos de duzentos seguidores para atribuir este "selinho";
- Mostrar o meu agradecimento a quem me atribuiu o "selinho" fazendo uma ligação para o seu blogue (feito!);
- Colocar o "selo" no blogue, a lista de blogues a quem escolho atribui-lo e deixar um comentário nessas páginas para que saibam do que se passa;
- Partilhar cinco factos aleatórios sobre mim que ainda não sejam do conhecimento geral (esta será difícil, parece-me...).

Deixo, portanto, a lista de blogues a quem atribuo o "selinho" porque me inspiram e me encantam:


E os cinco factos aleatórios extremamente interessantes sobre a minha pessoa são:

- Adoro o cheiro das favas à portuguesa, mas nunca experimentei tal prato porque me assusta;
- Bebo chá verde como se o mundo fosse acabar amanhã;
- Sou incapaz de ver o «Eduardo Mãos de Tesoura» sem desatar num pranto;
- O meu ursinho de infância chama-se Crustáceo Júnior e ainda o tenho;
- Já ganhei um prémio no programa «A Tarde é Sua» da Senhora Dona Fátima Lopes (acho que adorarão este facto...).

Mousse de chocolate

Matava por uma mousse de chocolate. A sério: tornava-me numa besta sanguinária se soubesse que teria, de forma imediata, direito a uma tacinha com a preciosa sobremesa. Portanto, minha gente, se estão em posse de mousse de chocolate, escondam-se, fujam, devorem-na depressa ou acabarão por sentir o peso da minha gula e da minha inveja!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Horários loucos e crianças fartas

Lembro-me de que quando andava na escola, na primária e depois também, terminava as aulas e vinha para casa. Lanchava uma sandes e uma caneca de leite com chocolate e a seguir ia fazer os trabalhos de casa. Cumpridas tais tarefas, o resto do dia era meu. Podia brincar ou ler até à hora de jantar e, mesmo depois deste, ainda podia ver alguma televisão até à hora de ir dormir.

Podia escolher a que queria brincar, que brinquedos usaria, que desenhos animados veria. A minha missão ficara cumprida na escola, o meu dia de «trabalho» havia chegado ao fim. O resto do dia era meu. Nunca tive actividades extracurriculares, nunca quis fazer nenhum desporto (sou alérgica a tal coisa) e portanto tinha tempo para tudo.

Escrevo isto porque hoje percebo que esse modo de vida tão infantil tem os dias contados, isto para não dizer já que morreu mesmo. Os miúdos têm, para além da escola, três, quatro ou até cinco actividades diferentes que chegam ao cúmulo de lhes ocupar os fins-de-semana. Ouço os meus alunos mais novos falarem no que costumam fazer e fico louca ao pensar que o seu número de horas de actividade não é muito diferente do meu. É uma insanidade que terá, sabe Deus, que resultados nestes miúdos. Não deixo de ficar de boca aberta quando fico a saber que o único momento de descanso que uma aluna de dez anos tem durante uma semana inteira acontece ao Domingo à tarde. Será isto normal? Far-lhe-á bem? Haverá algum sentido em estarmos constantemente a colocar os miúdos em contextos de aprendizagem (seja no Inglês, que muitos frequentam como actividade extracurricular, seja no piano, seja no ténis) e não lhes dar nenhum momento de sossego além das obrigatórias oito horas de sono diárias?

Esta ânsia em manter os miúdos ocupados durante vinte e quatro horas é fruto da vida maluca que vamos levando: os pais têm um dia preenchido e não têm forma de tirar os filhos da escola a meio da tarde, quando terminam as aulas. Resultado: vêem-se obrigados a ocupar o tempo dos miúdos de modo a poderem cumprir aquilo que têm a cumprir nos seus próprios empregos. Mas note-se que isto não explica o facto de alguns pais arranjarem actividades extracurriculares para ocupar os Sábados e os Domingos dos filhos...

Não defendo isto. Aliás, como já perceberam, é coisa que me custa a compreender. Os miúdos, que tantas vezes são tratados como bebés, não podem ter horários próprios de adultos. Os miúdos não deviam poder responder que não vão poder escrever um texto porque vão ter piano e natação no mesmo dia. Os miúdos também aprendem quando brincam e, mesmo que a sua vontade seja estar de papo para o ar no sofá, também devem poder escolher o que vão fazer a seguir. Protegem-se tanto as crianças, passa-se-lhes tanto a mão por cima e, afinal, neste ponto ninguém toca. Mais violenta do que a carga horária na escola, que é obrigatória, é a carga horária de uma escola paralela para meninos e meninas futuramente muito prendados que os pais, no fim de contas, só escolhem porque querem.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Manuais ao quilo

Nas últimas três ou quatro semanas recebi aproximadamente dezassete caixas com os novos manuais escolares para o próximo ano lectivo. Já faço uma ideia daqueles que vou adoptar, mas as editoras enviam sempre mais e mais e mais (curiosamente, aqueles que mais quero ver são os que nunca mais chegam...). Ora, não sei se vocês sabem, mas um manual nunca é só um manual. Cada vez que recebo na escola ou em casa uma caixa nova vêm de lá uns bons cinco quilos em papel, divididos pelo manual propriamente dito e pela parafernália que o acompanha: caderno de actividades, caderno do professor, guiões de leitura, caderno de planificações, um cd e um cd-rom. Em alguns casos até vem um dossiê A4. Resultado: não há prateleiras que cheguem nem que resistam a tanto peso. Nem há capacidade para analisar isto tudo. Vejo manuais fantásticos, muito bem pensados e feitos. Apetece voltar a estudar só para poder folhear e utilizar aquelas páginas deliciosas com alguns textos que me são desconhecidos. Mas assim, com tanta oferta, acabo por não conseguir olhar para todos eles com a atenção que merecem, o que lamento.

Tenho de reconhecer aqui o trabalho das equipas editoriais que se esfalfam para produzirem bons materiais (que sejam, ao mesmo tempo, vendáveis, porque isto é, acima de tudo, um negócio enorme). Quem trabalha com estas coisas diariamente percebe que há muito esforço na sua produção e os professores sabem bem que um bom manual lhes facilita imenso a vida, ao passo que um mau manual é uma cruz que se carrega durante alguns anos. Ainda assim não consigo deixar de me perguntar se será necessário tanto papel, tanta coisa, tantos cadernos, se não chegaria o livro e o caderno de exercícios. Quantos professores utilizarão, efectivamente, o caderno de planificações, que em alguns casos passa da centena de páginas? Gosto de receber manuais novos e percebo que haja um empenho enorme por parte das editoras no negócio que eles constituem, mas a determinada altura pergunto-me se não é um exagero. Receber dezassete manuais respeitantes a apenas dois níveis de ensino parece-me uma loucura. Desses só posso escolher um por nível, por isso sobram muitos preteridos. Enfim, faz parte do negócio e as editoras sabem disso. A mim resta-me arrumar na prateleira (sabe Deus qual, que já não há nenhuma livre) os que não escolherei e consultá-los sempre que necessário. Fora isso, só posso continuar à espera daqueles que efectivamente me vão fazendo mais falta e que tardam que se farta. É típico.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

De diplomas e úteros

Palavra de honra que ainda mando alguém para aquelas partes se volto a ter um diálogo deste tipo:

- Então P., erraste esta questão do trabalho de casa. Tu sabes isto.

- Pois sei, professora, mas a minha mãe disse para eu fazer desta maneira.

- Pois, P., mas está errado.

Eu não devo saber, mas, a seguir à expulsão da placenta no momento do parto, deve ser expelido pelo canal vaginal um diploma que abrange as Humanidades (todas as línguas conhecidas), as Ciências (todas, até as desconhecidas), os Lavores (deve sair um manual de bordados e de rendas de bilros) e ainda, como bónus, o Livro de Pantagruel porque mãe que é mãe cozinha que é uma maravilha. É que a julgar pelos disparates que vou ouvindo, as mães é que sabem tudo e as professoras só vão às reuniões lançar as notas (que já só falta serem as mães a dar). O problema surge quando os miúdos erram porque «a mãe disse que era assim» e nós acabamos a ter de dizer aos alunos que as mães se enganaram e que, afinal, é de outra maneira.

Para concluir, se isto de parir diplomas, livros de culinária e afins se verificar, deixo aqui o meu pedido específico à reitoria que funcionar no meu útero: não quero ter nenhum pónei e o diploma não precisa de vir na caixa de metal porque isso faz demasiado volume e não convém...

Voltas pela Feira V

Ora, ontem foi dia de voltar à Feira do Livro de Lisboa. Desta vez fui com uma amiga que ia inaugurar-se nas andanças feirescas deste ano. Como sou uma fraca que não consegue estar naquele espaço sem trazer umas coisinhas para casa, aqui fica o fruto de um 1.º de Maio numa feira que abarrotava pelas costuras.


Ainda bem que lá fui porque assim encontrei o Bilhete de Identidade, da senhora dona Maria Filomena Mónica, que julgava não vir a ver tão cedo. Além disso, como se pode ver ao lado do livro da toupeira em cima de quem alguém se descuidou (um presente que comprei para os meus futuros filhos: adoro o livro!), trouxe também uma daquelas lampadazinhas que ajudam a iluminar as páginas dos livros. É uma picuinhice, je sais, mas no que toca a livros sou picuinhíssima, até enjoa.

Nota: Mais picuinhas que eu só mesmo o senhor que na Relógio d'Água pediu um outro exemplar de um volume qualquer que o funcionário da editora lhe estendia porque aquele estava «amarelado» e ele espirra quando toca em livros que não estejam branquinhos...