segunda-feira, 30 de abril de 2018

Feira do Livro: a primeira lista


Ora bem: a menos de um mês do início da sempre fantástica Feira do Livro de Lisboa, lanço ao mundo a primeira lista de vontades. Não sei se as vou cumprir todas, que as finanças ainda não endireitaram depois de um ano e meio de desemprego, mas alguma coisa haverá de vir comigo. Para já, estes são os primeiros desejos. Estes e o de uma bifana no topo do Parque.






domingo, 29 de abril de 2018

Sacrificar Livros

Enquanto andei desaparecida pelos motivos que todos já conhecem, a C., do blogue «O meu reino da noite», desafiou-me para responder a algumas perguntas bastante engraçadas sobre livros. Neste caso, livros mauzinhos que eu usaria para as mais variadas funções à excepção da mais óbvia: lê-los. Mais de um mês depois, aí vai a minha participação.

1. Um livro muito falado: Vamos começar com um Apocalipse de zombies! Digamos que estás numa livraria, apenas a ver, quando BAAM! ATAQUE ZOMBIE! Um anúncio é feito através do sistema de som a dizer que o exército descobriu que a única fraqueza dos zombies são livros muito falados. Qual o livro, que todos dizem que é fantástico mas que tu odeias mesmo, começas a mandar aos zombies sabendo que vai contar como um livro muito falado eliminando assim os zombies com sucesso? 

Ai que problema... Acho que com a minha lista de ódios conseguia dar cabo dos zombies num instante. Mas vamos lá ver... Acho que começava por arremessar os livros do Pedro Chagas Freitas e passava depois para as Cinquenta Sombras de Grey, embora desconfie que depois do Prometo Falhar já não houvesse zombie nenhum nas redondezas.

2. Sequela: Digamos que acabaste de sair do cabeleireiro com um novo corte de cabelo BOMBÁSTICO e BOOOM, chuva torrencial! Que sequela estás disposto a usar como guarda-chuva para te protegeres? 

Provavelmente seria O Mundo Sem Fim, do Ken Follet. Se Os Pilares da Terra é mau, a continuação não deverá ser melhor.

3. Um clássico: Digamos que estás numa aula e o teu professor de português está a falar e a falar de como este clássico mudou o mundo, como revolucionou a literatura e tu cansas-te tanto de ouvir isso que lhe atiras o clássico mesmo à cara. Porque sabem que mais? Este clássico é estúpido e vale a pena seres castigado só para mostrares a todos como te sentes! Que clássico atirarias? 

Fácil, fácil: Eurico, o Presbítero. Odiei. Lê-lo foi um sofrimento por que ninguém merece passar.

4. O livro que menos gostas na vida: Digamos que estás a passar algum tempo na biblioteca quando BAAM o aquecimento global desaparece e o mundo lá fora torna-se um terreno congelado. Estás preso e tua única hipótese de sobrevivência é queimar um livro. Qual o primeiro livro para o qual corres, o livros de que menos gostas na vida? Que livro não te arrependerias minimamente de queimar?

Queimaria com gozo qualquer livro de auto-ajuda que me aparecesse pela frente. E da Nora Roberts. E da Danielle Steel, e do Nicholas Sparks, e da Sveva Coiso, e do Pedro Chagas Freitas. Nem pensava duas vezes. Aliás, nem precisava do cenário de «terreno congelado» para sentir vontade de os queimar.

Não vou indicar aqui outros blogues para responderem a estas questões, mas se quiserem responder a alguma delas com a vossa experiência enquanto leitores, podem sempre fazê-lo na caixa de comentários. Entretanto, boas leituras!

sábado, 28 de abril de 2018

Gato meu, gato meu

Gato meu, gato meu, por que me acordas às quatro e meia da manhã se o teu pratinho não desapareceu? Gatinho, o pratinho estava cheio, não precisavas de mim para nada. Dás cabo da melhor parte da minha noite e por isso agora, às seis da manhã, acabo a chatear os senhores com uma quixotada. É que não consigo dormir, coisa que tu agora estarás a fazer regaladamente...

Gatinho, se queres doninhos duradouros, reconsidera essa tua atitude e passa a ver o pratinho meio cheio quando julgas que está meio vazio. É que já nem é uma questão de optimismo versus pessimismo. É mesmo uma questão de olhares para o teu pratinho, veres, reparares (como dizia o Saramago) e deixares dormir os outros, seu grande fascista peludo!

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Nos sapatos dos outros


Durante os quarenta dias do internamento do meu pai e tendo ido ao hospital vê-lo quase todos os dias, encontrei muitas pessoas a viverem dramas tão ou mais difíceis que aquele que eu e a minha família vivíamos. Não sei se o mesmo acontece nos outros serviços dos hospitais, mas fiquei com a sensação de que quando se passa tanto tempo num serviço tão delicado quanto o dos transplantes, tornamo-nos todos muito próximos e as histórias vão correndo ao ritmo da aflição de cada novo dia. 

Quando um familiar adoece e passa a precisar de um transplante, vivemos tudo de forma muito solitária. A pessoa doente está lá em casa e facilmente nos esquecemos de que como ele há muitos outros. Queremos que o seu nome seja o primeiro na lista de espera para a recepção de um órgão compatível e nem pensamos em mais nada. Depois, quando este aparece e passamos a viver dia após dia a realidade da convalescença em ambiente hospitalar, olhamos em volta e percebemos que há tantos, mas tantos pacientes que vivem o mesmo que o nosso familiar. Compreendemos que há tantas outras famílias que rezaram como nós, que esperaram como nós, que viram apenas a situação do seu familiar tal como nós só olhámos para a do nosso. Nesse momento faz-se luz e nasce em todos os que vivemos aquela experiência qualquer coisa absolutamente nova que só se compreende verdadeiramente quando é sentida na pele. É uma empatia desconhecida até então. Posso ter passado a minha vida toda a achar que sentia empatia pelos outros ou mesmo a tentar transmitir aos meus alunos o que é isso de ser empático para com o próximo, contudo, a verdade é que mesmo eu só passei a perceber a enorme dimensão dessa identificação com outras pessoas depois de ver o meu pai a lutar pela vida e de olhar em volta, vendo tantos outros fazendo o mesmo. 

Aprendemos a parar nas salas de espera, nos corredores, nos elevadores, à porta das casas de banho para perguntar a quem vamos sistematicamente encontrando por ali como está o seu ente querido. E habituamo-nos a alegrar-nos com as melhorias de uns e a entristecer com os retrocessos nos estados de outros. Saímos do quarto onde está o nosso famíliar porque vão fazer-lhe um RX ou por outras mil razões possíveis e, enquanto esperamos na sala de espera para podermos voltar para junto dele, vamos sabendo junto dos que como nós aguardam como vão decorrendo as outras recuperações. Mais: à medida que vamos conhecendo outros testemunhos vamos também tomando consciência de que percebemos cada vez melhor aquelas pessoas porque agora estamos no seu lugar, calçamos os seus sapatos e eles calçam os nossos. É talvez a altura em que melhor podemos dizer que percebemos aquilo por que os outros estão a passar. Podemos mesmo afirmá-lo com certeza porque estamos a viver outro tanto e, por isso, sempre que desejamos «as melhoras» de alguém, fazemo-lo de coração porque queremos o mesmo para o nosso familiar.

Ouvi inúmeras histórias enquanto passei pela sala de espera dos Cuidados Intensivos e enquanto passei pelos diferentes quartos da Unidade de Transplante em que esteve o meu pai. Conheci uma rapariga, que aparentava ter a minha idade ou pouco menos, cujo pai estava doente há vários anos com uma doença oncológica. Cresceu com a doença do pai e, subitamente, viu-se ali porque ele viveu uma situação aguda muito complicada que gerou uma enorme hemorragia e muitas consequências dificílimas. Durante vários dias vi-a a ela, à mãe e à tia revezarem-se para visitarem o seu familiar. Começámos a perguntar uma à outra pelos respectivos pais. Cruzávamo-nos nas entradas e, enquanto desinfectávamos as mãos, fazíamos o ponto de situação. Quando o pai dela melhorou e foi transferido para outro serviço, tendo o meu permanecido nos Cuidados Intensivos, senti-me feliz por ela porque vivi nos seus sapatos durante algum tempo. Porém, também me senti mais sozinha porque era menos uma voz empática que iria ouvir (e foi de todas aquela com que melhor me identifiquei). Mas depois apareceram outras pessoas, outras histórias, outras dores e voltámos a ligar-nos uns aos outros desejando o melhor para nós e para todos.

Acho que me lembrarei para o resto da vida de todas as histórias que ouvi, de todos os casos de doença, de esperança e de desesperança, que infelizmente também existia muita. Mas recordarei particularmente a situação de uma mãe que vivera a doença do filho dezoito anos antes, o acompanhara durante a recuperação de um transplante e que agora, tanto tempo depois, esperava na sala de espera a pior das notícias chegada da Unidade de Cuidados Intensivos. O filho contraíra uma bactéria que se espalhara e os médicos haviam-lhe dito, como numa série de televisão, que «agora só um milagre». A mãe, na sala de espera, nem conseguia entrar para ver o filho. Ia ao hospital acompanhada por outros familiares, como o neto, mas não conseguia atravessar o longo corredor e abeirar-se da cama onde estava o filho. Quando lhe perguntávamos como estava, dizia-nos que só queria um milagre e que custava muito. Muito, muito, muito. Chorava, dizia que era horrível e eu, a viver também momentos difíceis, mas ainda invadida pela esperança, não conseguia calçar os sapatos dela. Ficavam-me apertados: ainda não eram para mim. Desejei muito que não perdesse o filho e que o milagre acontecesse. Desejei que ela ganhasse forças para o ver. Desejei nunca viver o mesmo que ela estava a viver. Não sei que desfecho teve a sua história, embora continue a desejar que tenha surgido o tão pedido milagre. Sei apenas que, mesmo quando estamos numa situação destas na qual pensamos que todos já calçamos os sapatos dos outros, há ainda casos que nos ultrapassam e que nos mostram que, mesmo na adversidade e quando a empatia impera, há quem esteja sempre mais perto do inferno. Há sempre mais para aprender e há aprendizagens que, de facto, preferimos nunca ter de vir a fazer.

Creio que estas experiências não se esquecem e tenho a certeza de que algumas imagens, sons e cheiros me ficarão na memória. Tenho a certeza de que vivi tempos muito difíceis, mas felizmente nunca pensei que as coisas pudessem acabar mal e isso ajudou-me. Todavia, por outro lado, também me ajudou muito saber que ali à volta havia outras pessoas a saberem o que eu sentia, com experiências semelhantes e com tantas palavras simpáticas para dizer. Mesmo que as suas vozes também saíssem a custo, mesmo que também tivessem medo, mesmo que lhes fosse difícil falar. É, apesar de tudo, mais simples quando estamos todos a experimentar os sapatos uns dos outros.

Nota: A definição de «empatia» saiu daqui.

domingo, 22 de abril de 2018

Domingo normal

No primeiro Domingo de regresso a uma vida mais normal do que a do costume (que só não é perfeita porque continuo ranhosa), o sofá está aberto, o gato dorme para um lado, o dono dorme para o outro e eu vou alternando entre documentários e penteadelas ao felino. Tenho de aproveitar estes momentos de sossego para livrar-me do maldito pelo morto que teima em fazer-lhe nós horrendos. Importa, donos de gatos, encarar a mais dura das verdades: voltámos à época da mudança de pelagem e os bichanos estão a cumprir o calendário à risca. Tanto que temo um dia deixar em casa um Bosques da Noruega para regressar e reencontrar um felino todo nu, despido de preconceitos e de pelo. 

Pelo meio disto tudo, umas canecas de chá, uns biscoitos e uma quixotada. Depois de tempos tão conturbados, o que mais poderia desejar (a não ser menos ranhoca)?

sábado, 21 de abril de 2018

Que caneco!

E agora que o resto vai sossegando e que também já estou a trabalhar (sem ter voltado ao ensino, felizmente), vejo-me fortemente constipada e com uma crise de sinusite. E ainda por cima parece que apagaram as luzes do céu e nem dá para ler em condições. Que caneco!


Nota: A imagem saiu daqui.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Chora, Camões, chora... XXIV

Este print screen é de uma notícia que está hoje na aplicação do Notícias ao Minuto. A notícia em questão é sobre a subida das temperaturas prevista para esta semana. 

Parece que afinal a culpa é de um “anticiclope”. Eu até percebo que os ciclopes sejam gajos chatos e que seja bom ter uma coisa “anti-eles”. Vejam com o Ulisses. Os ciclopes deram luta, foram mauzinhos. Por isso, tudo o que espante esses seres míticos é bom para nós, dá-nos mais tranquilidade. A mim, por exemplo, revolta-me que não existam mais “antilobisomens” ou “antiunicórniosraivosos”. Ou mesmo “antivampiros”. Há para aí tanta bicharada mítica que precisava de ser afastada e posta no seu devido lugar! Agora, a única coisa que não compreendo é mesmo em que é que isso faz subir a temperatura. Alguém me explica?




segunda-feira, 16 de abril de 2018

88.ª Feira do Livro de Lisboa: as datas

Pois é, o tempo voa e estamos quase lá: no dia 25 de Maio abre a Feira do Livro de Lisboa no Parque Eduardo VII. Estará aberta até ao feriado da cidade a 13 de Junho. Portanto, meus caros, é altura de começar a fazer as listas e a prepararem as carteiras porque quando derem conta já estarão a percorrer os pavilhões cheios de livros e a desejarem ser milionários. 

sexta-feira, 13 de abril de 2018

O primeiro dia do resto das nossas vidas

Depois de um mês e dez dias de internamento, o meu pai regressou hoje a casa. Ainda está fraquinho e o corpo ainda pede um considerável caminho de recuperação, mas pelo menos já o pode fazer junto da família num ambiente mais acolhedor do que o de um hospital.

Foram tempos difíceis estes. Foram avanços e muitos recuos, com cada dia a ser uma surpresa, sendo alguns um enorme pesadelo. Foram várias estadias nos Cuidados Intensivos, foram reveses de mais para quem já tinha sofrido tanto. Foram muitos dias em que o caminho para casa depois da visita foi feito em silêncio porque já nem se sabia o que dizer em cima de tudo o que os olhos tinham visto. Foram tempos de muito cansaço, mas também de muita esperança. De muita Fé. Descobre-se neste momentos duros que, de facto, a mesma Fé que nunca se entende nos outros é a que nos ajuda quando o temor aperta. É preciso acreditar que vai correr tudo bem, mesmo quando parece correr tudo mal e a Fé ajuda-nos muito nessas alturas.

O beijo que no Dia do Pai ficou adiado foi dado hoje. Com uma máscara pelo meio, é certo, mas que mais posso pedir? Tenho o meu pai comigo, a melhorar, e com perspectivas de uma vida nova. Não posso pedir mais nada. Um dia poderei tirar a máscara, mas até lá continuaremos juntos a percorrer o caminho que falta até ao momento em que a doença e o medo do fim sejam só uma má e longínqua lembrança.

***

Neste que é o primeiro dia das nossas vidas, quero agradecer de coração à Unidade de Cuidados Intensivos e à Unidade de Transplantes do Hospital Curry Cabral. Aos médicos que cuidaram do meu pai, àquele que o operou e de quem desconheço o nome, aos enfermeiros que estiveram disponíveis sempre que solicitados e aos auxiliares que fazem trabalhos tão difíceis com um sorriso na cara e uma palavra amiga. Agradeço também às meninas da copa, que cantavam e animavam os doentes no momento da distribuição das refeições. Agradeço de coração a todos os que de alguma forma me ajudaram a ter o meu pai em casa hoje. Todos foram importantes e todos serão guardados no meu coração para sempre. 

Mas o maior agradecimento vai para a Doutora Mariana Cardoso, médica de Gastro no Hospital Fernando Fonseca. Por nunca ter desistido, por ter persistido e remado contra a corrente, por ter acelerado o processo todo, por estar um passo à frente do que ainda estava por chegar, por ter sempre as palavras certas para com um doente já esgotado e para com uma esposa devastada. A ela devemos-lhe tudo. Mesmo tudo. E talvez muito que nem sequer chegámos a saber. É muito bom encontrar tanta humanidade, tanta empatia numa médica tão jovem e que ainda tem tanto para dar à sua profissão. Vi-a duas vezes apenas, mas sei que fez tudo pelo meu pai e a minha gratidão por isso é imensa e eterna. 

No fundo, embora muito ainda esteja por vir, por agora respira-se de alívio e sente-se uma gratidão enorme por tudo o que foi feito por uma só pessoa. Diariamente, os hospitais fazem outro tanto por outros doentes. Cada vez que se cortam as verbas para a Saúde, crianças, mulheres e homens como o meu pai ficam um bocadinho mais longe de regressarem a casa. O nosso SNS, que tanto nos põe os cabelos em pé, tem a trabalhar nele gente muito, mas muito competente, que merece ser bem recompensada pelo trabalho difícil que desempenha. Para que um doente possa encontrar uma nova vida no final de um internamento, uma enorme máquina tem de trabalhar e todos têm estar em sintonia. Médicos, enfermeiros, auxiliares e muitos outros funcionários têm de cooperar para chegar a bom porto. Não é fácil, há dias muito duros, mas acredito que a grande maioria dá o seu melhor para que todos os pacientes tenham um dia que possa ser chamado de «o primeiro dia do resto das suas vidas».

Obrigada, de coração, a todos.