domingo, 27 de outubro de 2013

Quixotadas curtas I

Inicio hoje um espaço que não garanto que seja muito continuado, mas que me vem passando pela cabeça há muito. Quantas vezes vou pela rua perdida nos meus pensamentos miúdos e chego à conclusão de que «isto era giro para pôr no blogue»? Mesmo muitas. Mas depois esqueço-me ou então não me apetece estar a escrever mundos e fundos (isto de manter duas casas, leia-se blogues, é coisa que, parecendo que não, cansa). Vai daí lembrei-me de fazer umas quixotadas compostas por itens curtos que mais não são do que algumas das coisas que vejo ou penso e que gostava de partilhar. Atenção: não esperem nada de muito interessante. Só mesmo parvoices que me passam pela cabeça e que deixarei por aqui perdidas.
 
Ora então, vamos lá.
 
- Estou fartinha de ouvir falar do Valter Hugo Mãe e do seu livro sobre a Islândia. Acho bem que promovam o livro, mas já não aguento ler as frases catitas que compõe nas entrevistas sobre a luz da Islândia ou a beleza dos fiordes.
 
- No seguimento do ponto acima, deixem-me dizer que a edição de Outubro da revista Ler está muito desinteressantezinha. Aliás, a mudança de imagem que conhecemos a partir do mês de Setembro não abona nada em favor da publicação.
 
- Nunca li nada do Mário de Carvalho, contudo li há pouco um texto de opinião sobre o último livro dele e apeteceu-me sair do lugar para ir comprá-lo.
 
- Ao corrigir testes li coisas como «adulechente» em vez de «adolescente», «sitoasoens» em vez de «situações» e «acrechenta» em vez de «acrescenta». Vi, também, textos de onze linhas sem um único ponto final e miúdos que continuam a achar que «seca» e «secante» é vocabulário adequado para um teste de avaliação. Tirem-me deste filme.
 
- Hoje li que uma rapariga indiana se suicidou porque os pais a proibiram de ir ao Facebook. Deixou escrito na nota de suicídio que não aguentava viver sem aquela rede social. Até tremo ao imaginar uma coisa destas... A linha entre a sanidade mental e o outro lado é mesmo muito fina.
 
- Palavra de honra: olhar para o segundo volume de Os Pilares da Terra já me causa engulhos. Quem acha aquilo formidável nunca leu, certamente, A Catedral do Mar. O senhor Ildefonso Falcones dá uma real tareia no Ken Follett no que aos romances históricos sobre a construção de catedrais diz respeito.
 
- Gostava muito, mas mesmo muito de aprender a fazer coisinhas giras em tecido. Agora que há uma máquina de costura cá em casa, gostava bastante de aprender a fazer capas para livros. Já vendo os livros usados que por aqui ocupam o espaço todo, era só começar a vender capas também para a coisa ser perfeita. Infelizmente não percebo nada de costura e temo nunca vir a perceber.
 
- Como é que um aluno tem a distinta lata de tecer comentários sobre o telemóvel de uma professora? De dizer que «não sabe como é que ela conseguiu pagá-lo com o salariozinho de professora»? Onde estão os limites destes miúdos?
 
- Pessoal que gosta de andar de autocarro com todas as janelas fechadas devia ser proibido de utilizar os transportes públicos.
 
- Finalmente sei por que razão não temos um D. Pedro III na lista de reis que nos governaram. Ele existiu, só que não foi ele que nos governou. A rainha era a esposa e chamava-se D. Maria I. Foi ela que o nomeou rei quando assumiu o trono.
 
- Já não há pachorra para a «Casa dos Segredos». Quando é que vão perceber que aquilo é chão que já deu uvas? Nem sei quem lá mora, mas imagino. O tipo de concorrentes é sempre o mesmo.
 
- Vem aí o Natal e gosto disso. É a minha época do ano favorita.
 
- A minha sobrinha é uma ternura. Isto de ter alguém que estica os bracinhos para nós quando chegamos a casa é realmente coisa para derreter qualquer um.
 
- O «Quem Quer Ser Milionário» é desesperante. É preciso levar tanto tempo para bloquear a resposta de um concorrente e para revelar a resposta correcta? Não se aguenta.
 
- A RTP2, mesmo não tendo nada de novo para dar, vai arrumando a RTP1 a um canto. Todas as noites, por volta das nove, passa um documentário sobre um escritor, um cantor, um pintor, enfim, alguém ligado à cultura. Os documentários já não são novos, mas mesmo assim soam muito melhor do que o enervante «Preço Certo».
 
- Se não vender o livro novo do Vargas Llosa, fico com dois. O livro é bem bom, mas ainda não cheguei ao ponto de ambicionar ter dois volumes de cada livro óptimo com que me cruzo. A ver o que acontece.
 
- Por que motivo não tenho eu um D. Quixote antigo em alemão e por que razão não tenho o Quixote apócrifo do Avellaneda? Vá-se lá saber...
 
- Por que é que os CTT aqui do sítio não fecham só às sete da tarde? Dava-me tanto jeito...
 
- Isto dos telemóveis que fazem tudo é muito giro, mas ter baterias a durar apenas dois ou três dias cansa-me a paciência.
 
- O «Candy Crush» ainda vai obrigar-me a usar óculos. Aquele nível 33 está a rebentar comigo. E não há maneira de eu rebentar antes com ele.
 
- A sério que há quem vá no autocarro a falar sobre sexo ao telemóvel? Esta semana uma senhora dizia para a amiga com quem conversava telefonicamente que naquela noite «tinha ido ao castigo, mesmo estando com a 'coisa'». E depois de dizer isto acrescentou que não podia falar mais porque ia no autocarro «mas que ela tremia toda e que tinha sido 'muita' bom». POUPEM-ME!
 
- Ter a página do facebook da «Moinho de Vento - Livros Usados» encalhada nos sessenta e nove «gostos» está a consumir-me os nervos.
 
E pronto, minha gente, vou parar por aqui ou ainda corro o risco de passar a noite a acrescentar linhas a esta quixotada longa feita de «curtas». Passem um bom resto de noite que amanhã já é segunda. Ninguém merece.

Quando o Cuco Chama

A J. K. Rowling, na figura do seu policial escrito sob pseudónimo, chegou cá a casa. Não sou louca por policiais, mas, por ser esta a autora, até me dedicarei a lê-lo logo que termine o livro que estou a devorar agora. Ora, esta postura era precisamente a que ela não queria: que o livro fosse lido e comprado por ter o seu nome na capa. Pois J. K., querida, depois de um Harry Potter, as pessoas andarão loucamente atrás dos teus escritos, nem que se tratem apenas de listas de compras. É uma coisa com a qual terás de conviver. Não escrevesses tão 'espampanantemente' bem e isso não acontecia. O sucesso é uma chatice, bem sei, mas acho que se convive melhor com ele do que com outras coisas chatas, como as dores nas costas...
 
 

Eu e os nós de leitura


Esta podia ser eu. Tenho a impressão de que já li em todas as posições imagináveis. Aliás, acho que até já consegui dar um nó nas pernas. Mas, enfim, o que importa é ler, não é verdade? Os nós desatam-se...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Menina Quer Isto XLIII

Parecendo que não, já se caminha para o Natal. Bem sei que faltam dois meses, mas hey!: de hoje a dois meses estaremos nós na noite da consoada a regalar-nos com o bacalhau e os doces e a cobiçar a árvore de Natal e as suas promessas embrulhadas. Posto isto, vamos ao regresso aos pedidos, que blogue sem autora pedinchona já nem é blogue. O que vale é que por aqui só se pedem livros (por enquanto) que é sempre coisa para fazer muita falta. Ora, começo já com dois pedidos fofinhos de coisinhas novas que estão mesmo, mesmo, mesmo a pedir para vir cá para casa, para os espaços livres que já consegui arranjar com a venda de uns quantos livros usados que já me estorvavam muito. Parecem-me os dois muito apetitosos, por isso, Pai Natal, se ainda tens margem de manobra para dar presentes às pessoas e se a Troika ainda não te fez quinar, a menina gostava de ter estes dois.
 


Nota: Ambas as capas foram retiradas da página da Wook.

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Quando o carteiro toca...

...geralmente traz livros. E hoje trouxe este, que veio a reboque de uma promoção janota da Fnac. Já o queria há tanto tempo, mas achava-o sempre tão caro e, convenhamos, a minha carteira, como a de todos, anda a amargar o tempo de crise. Por isso lamento não pagar o preço inteiro do livro numa livraria de bairro, mas efectivamente é difícil. Bem sei que é a pensar assim que as pequenas livrarias se afundaram e afundam e bem sei que não tenho desculpa, mas enfim... Que dizer? Tomara eu ter todo o dinheiro do mundo para comprar os livros sem promoções noutros lugares. Infelizmente não tenho.

Entretanto, olhem, este já está em lista de espera para uma leitura devoradora. Depois do último do Llosa, que é maravilhoso, experimentarei este esperando que seja tão bom ou ainda melhor.


Nota: A imagem, como se vê, saiu da página da Wook.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Menina Sugere Isto XIII

Minha gente, hoje terminei o livro novo do Vargas Llosa e olhem... Estou rendida! Caramba, que história! Não sou muito daquelas pessoas que lêem sem parar para respirar, que não conseguem pousar os livros enquanto não souberem como acaba a história, mas com este fui um bocadinho mais assim do que de costume. Só para que vejam, há uns dias acordei sem sono às cinco e meia da manhã e, em vez de me virar para o lado e de tentar dormir, pus-me a ler e assim estive até perto das sete. 

A história é cativante e o tom em que é narrada faz com que não tenha momentos aborrecidos. O autor conseguiu, também, momentos de diálogo fascinantes pela mistura de vozes e de planos narrativos. Só mesmo lendo podemos perceber como tal sucede. As personagens são, também, admiráveis, não só pelo modo como se apresentam, destoando umas das outras, mas também pelo modo como se exprimem, como enfrentam (ou não) as várias situações com que se deparam. Perante ameaças de vários tipos, encontramos personagens que vergam (poucas) e outras que, como se de pedra fossem, fincam os pés no chão e enfrentam o mundo, não se deixando pisar. Depois, encontramos, também, neste livro aquele realismo mágico tão próprio da américa latina e que torna os livros sul-americanos tão ricos. Vamos desde a mulher que tem "inspirações" até ao jovem que tem visões misteriosas que não conseguimos explicar. 

É, enfim, um livro tão rico que as trezentas e oitenta e seis páginas que o compõem passam num instante. A menina sugere-vos isto. Vão gostar!


Nota: A imagem saiu da página da Wook.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Acabado de chegar

Este menino acabou de chegar. Realmente, só mesmo alguém muito viciado em livros chega ao ponto de comprar um dicionário... do livro. Mas, enfim, a curiosidade é um bicho que não pára e tenho muita no que aos livros diz respeito. Por isso lá vou eu aprender mais um bocadinho. Mal não faz.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O recado

Aqui fica um possível recado na caderneta que ando a idealizar e a aperfeiçoar mentalmente há já algumas semanas:

Estimados encarregados de educação,

Serve o presente recado para informar que talvez não fosse pior mandarem os vossos meninos e meninas para a escola com um pacotinho de lenços de papel na mala. É que o ordenado dos docentes não é pago em artigos da Renova ou da Scottex para poderem "emprestar" diariamente toneladas de lenços de papel. Os vossos meninos e meninas são anjinhos, mas têm ranho que não acaba e nós, professores, não estamos na escola para fornecer lenços de papel de cada vez que o pingo aparece. Vocês só têm um ou dois filhos: nós temos dezenas de alunos. 

Sem mais nada a acrescentar, despeço-me acrescentando esperar não vir a ser necessário incluir pacotes de lenços no material obrigatório das aulas.

Assinado: Professora farta de procurar lenços de papel na mala sem os encontrar porque os deu todos a alunos pingões.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A árvore

Ando completamente louca! Desde meados de Setembro, portanto há um mês, que o meu cabelo cai, cai, cai, cai e cai. É desesperante! Todos os anos chega o Outono e pumba: transformo-me em árvore e vejo as minhas douradas folhinhas ficarem caídas no chão, na roupa, na banheira, pelas mangas abaixo, na almofada... Eu encontro cabelos meus caídos em todo o lado e a todas as horas do dia, estando já a ficar louca com isso! Bem sei que é normal, que é da época, que somos todos um bocado arraçados de árvores, mas não deixo de rosnar de cada vez que encontro um amiguinho capilar à solta em algum lado. Enfim... Vejamos quando me acaba a queda da folha.

domingo, 13 de outubro de 2013

É ou não é lindo?

É ou não é lindo o meu novo Quixote? É uma edição francesa de 1909, em muito bom estado e alindada com a ilustrações de Gustave Doré. Estou encantada com ela. Só não sei muito bem onde a vou arrumar...





quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Parece que já aí vem... o Natal

Informo que, tal como de costume, a "Loja do Gato Preto" do Colombo antecipou-se e foi a primeira a encher as suas montras com artigos alusivos ao Natal. Há lá de tudo: árvores de Natal, enfeites, pais natal de todos os tamanhos e feitios, luzes e mais luzinhas. É sempre a primeira loja que vejo decorada desta maneira e todos os anos espero para ver quando é que dá início à sua época natalícia. Tenho a impressão de que é cada vez mais cedo... Realmente, ainda nem estamos a meio de Outubro. Mas vá: se quando baixa em nós o espírito natalício ficamos todos mais simpáticos, deixá-lo vir em forma de montra. Mal não faz.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Meninos-polegares

Ai se vocês soubessem o que me enerva quando um aluno diz que não sabe se trouxe determinado livro porque foi a empregada que lhe fez a mala e não sabe o que ela pôs lá dentro. A sério? Cabe às empregadas encherem as mochilas dos meninos de acordo com as disciplinas que terão no dia seguinte? Não faria muito bem às crianças terem essa responsabilidade e serem elas a verem o horário e o que devem levar em cada um dos dias? E se um professor pedir um material específico para determinado dia, também cabe à empregada tratar disso? E já agora, as empregadas desta vida também já fazem os trabalhos de casa dos meninos? É que é só o que falta. Tenho a impressão de que com estas mudanças todas que levam as criancinhas a não terem de fazer nada, em breve os bebés começarão a nascer sem mãozinhas, só mesmo com os polegares necessários para jogarem nas consolas. Vamos no bom caminho, vamos...

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Quinze anos

Foi há precisamente quinze anos que Portugal recebeu a notícia de que José Saramago era o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 1998. Volvidos estes anos, perdemos a sua figura física, mas mantemos o orgulho e a sua obra. Acredito que os autores ficam na obra que escrevem e que assim se libertam, como dizia Camões, da «lei da morte». José Saramago, homem de raízes simples e de opiniões fortes, deixou a sua marca nas palavras que escreveu e que, tal como presente, ficaram cá para nós. Legou-nos as suas memórias, os seus sonhos e pensamentos. Saramago ofereceu-nos a maior flor do mundo em cada um dos seus livros: uma flor que cresce a cada página virada, a cada parágrafo volvido, a cada momento passado na companhia do muito que os seus livros têm para nos dizer. Passaram-se, pois, quinze anos e José Saramago já não se encontra entre nós, mas o orgulho pela obra magnífica que deixou, esse, não diminuiu. Pelo contrário: há quinze anos lia pouco e nunca um autor como este (embora tenha tentado, ainda muito jovem, ler a edição do Memorial do Convento que a minha irmã tinha cá por casa), todavia hoje este é, sem dúvida, o meu autor português favorito.
 
Quinze anos é muito tempo para qualquer um de nós, mas não para um escritor tão grande, tão bom e tão único quanto este. Saramago viveu, vive e viverá sempre nas suas palavras. O Nobel é motivo de orgulho e uma das razões pelas quais devemos recordá-lo sempre.

Precisa-se de gramática

Ontem acabei de ler o Expresso (vá lá, o desta semana: estou a melhorar capacidades) e deparei-me com um texto de José Cutileiro que me deixou aterrorizada. Não costumo reparar nos textos dele, mas o do jornal que saiu neste sábado era tão, digamos, "vistoso", que foi impossível não o ler e não pensar na importância de saber fazer frases curtas.
 
O texto, na página trinta e seis, falava sobre Marcella Hazan, uma senhora nascida em Itália, que fundou a Escola de Cozinha Italiana Clássica e que, infelizmente, faleceu este ano. O nome do espaço em que este texto se insere é adequado, «In Memoriam», ou seja, trata-se de um obituário.
 
Ora, que problema pode haver num singelo obituário? Apenas o facto de todo o primeiro parágrafo, que é enorme, ser constituído por apenas uma frase. Querem ver? Procurem perceber isto que aqui vou citar e que corresponde ao primeiro parágrafo deste texto. Tudo o que estiver entre parênteses rectos é fala minha.

«Marcella Hazan, nascida Polloni em Cesenatico, na Emília Romana, perto de Veneza, que morreu no passado domingo, 29 de Setembro, em sua casa num condomínio de Longboat Key, Florida, tendo ao seu lado o marido, Victor, judeu sefardita de família americana, nascido em Itália de onde voltara para Nova Iorque pouco depois de casar com Marcella para se ocupar do negócio de casacos e estolas de peles da família [fazia estolas com peles da família???], enquanto ela, que nunca cozinhara na vida, filha de gente burguesa com criadas em casa, licenciada e doutorada em ciências naturais e em biologia pela Universidade de Ferrara, horrorizada como o marido pela má qualidade gastronómica da comida americana desse tempo [ainda aí estão????] e como ele saudosa do que estavam habituados a comer em Itália (não seriam só saudades patrióticas pois, bem vistas as coisas, a italiana, a francesa e a chinesa são as três melhores cozinhas do mundo), já com bem mais de 40 anos metera-se a cozinhar em casa para os dois convencida pelo que ia fazendo e pelo entusiasmo do marido, começou a dar cursos a amigas no seu pequeno apartamento, a fama da sua arte espalhou-se, cursos maiores passaram a ser dados fora de casa no que chamou Escola de Cozinha Italiana Clássica fundada em 1989; juntamente com as suas receitas, o seu temperamento tornou-se objecto de conversas primeiro entre gulosos nova-iorquinos depois na sociedade em geral - escrevera  uma carta ao mais reputado chefe italiano da altura na costa oriental dos Estados Unidos, dizendo-lhe que a receita dele de risotto estava completamente errada do princípio ao fim: para já, risotto fazia-se numa frigideira e não num tacho (o chefe italiano não esteve de acordo mas ficaram amigos, encontrando-se de vez em quando e tomando um Bourbon, álcool predilecto dela) - e, para tentar corrigir o que considerava tantos error frequentes de conceito e de prática culinários italianos, publicou em 1973, "O Livro de Cozinha Italiana Clássica", ajudada pelo marido que escrevia admiravelmente o inglês dos Estados Unidos (publicara ele próprio dois livros muito apreciados sobre vinhos italianos) o qual adaptado em 1980 ao inglês dos ingleses por Anna Del Conte (na língua inglesa, não se praticam, entre Londres e Washington, desconchavos como o acordo ortográfico luso-brasileiro; Oscar Wilde dizia que a Inglaterra e a América do Norte eram dois países separados por uma língua comum - e assim se vão governando) ganhou um prémio distintíssimo [já encontraram algum ponto final???]; seguiu-se-lhe, em 1978, "Mais Cozinha Italiana Clássica"; os dois foram reunidos num só volume em 1992 e, em 1997, "A Cozinha de Marcella" recebeu o prémio mais importante atribuído nos Estados Unidos a livros de cozinha internacional: The Julia Child Award for Best International Cookbook.»

Isto, minha gente, é o primeiro parágrafo e, melhor, a primeira frase do texto. Tem de tudo: desde extensão até parênteses com informação adicional. Consegue, na mesma frase, falar da senhora, do marido, do modo como começou a cozinhar, depois a escrever, depois a relacionar-se com chefes... É de mais. Não sei se este autor escreve sempre assim, mas eu, que acho que até sei ler, não consegui perceber nada do texto. Fiquei estupefacta com esta má divisão frásica, com a mistura de assuntos dentro do mesmo parágrafo e frase, com a intrincada rede que aqui se montou e que vai contra aquilo que, para mim, são as regras para se escrever bem. Não percebi nada e, sou honesta, a partir daqui desisti.

No pódio

Este Outono/Inverno subo ao pódio e saio medalhada. Fui a primeira cá de casa a constipar-me. Felizmente foi só isso: uma constipação e nada de gripes. Só nariz tapado e pouco mais. Mas foi o suficiente para me deixar mona e a carpir o facto de ter de me levantar cedo todos os dias. Bastaram três ou quatro dias de chuva, porém abafados, para isto. Agora estou para ver como sobreviverei ao Inverno, só por acaso a minha estação favorita...

domingo, 6 de outubro de 2013

As Coisas Que Ele Diz II

O meu moço, querendo chamar-me coisas fofas e ternurentas, vai ao extremo e aí ninguém o bate. Hoje, por exemplo, chamou-me "borra de anjo". Enfim, vamos acreditar que os anjos borram arco-íris ou afins...

sábado, 5 de outubro de 2013

Estes humanos são loucos

Hoje, ao assistir ao Jornal da Noite, fui brindada com duas notícias que só não me puseram a fazer as malas para mudar de planeta porque ainda não descobri um meio de transporte que estoure comigo daqui para fora.

Ora a primeira era gravíssima. Coisa para uma pessoa ficar doente com a vida, com a imbecilidade humana, com a crueldade de mentalidades retardadas e a precisar de uma reciclagem rápida. O caso foi este: uma mulher chinesa, grávida de seis meses, viu a porta de sua casa ser arrombada, sendo de seguida levada à força por um grupo de vinte pessoas que a deixaram num hospital onde foi obrigada a abortar e a assinar uma declaração em como ela e o marido haviam concordado com o procedimento. Chamar animais a estes tipos é pouco. Aquele casal está absolutamente desfeito e eu só consigo perguntar-me onde raio anda a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Andarão os chineses responsáveis por tais actos a limpar os rabos com ela?! E o resto do mundo, pelo menos a parte que não anda para aí contra a vontade dos pais a matar bebés que ainda nem nasceram, assiste de camarote a esta nojeira sem uma palavra que seja? Mas desde quando, em que mundo e por que raio podem vinte pessoas forçar a entrada na casa e no útero de alguém?! O país tem gente a mais? E é a matar quem não tem nada que ver com isso e a destruir a vida de um casal que devia ter o direito de ter os filhos que quisesse que isso se resolve?! Ora, não me lixem! Até gostaria de um dia conhecer a China, mas depois do que ouvi hoje, nem que me saísse o Euromilhões mais recheado de sempre iria gastar um cêntimo que fosse a um lugar que trata assim a sua gente.

A segunda notícia surgiu logo de seguida e era sobre um novo programa de televisão de um canal do Reino Unido. Num programa em directo vai acontecer o que, dizem, nunca antes se viu em televisão: um casal entrará numa caixa (uma espécie de cabaninha dentro do cenário) e manterá relações sexuais. Depois de feito o serviço, sairá para fora da caixa (é mesmo assim que lhe chamam) e conversará com um painel de convidados do qual farão parte psicólogos, sexólogos e outros quejandos. O conceito assenta, pelo que foi dito, na lógica de que só se pode falar de forma sincera e aberta sobre sexo depois de este ter acontecido, porque quanto mais tempo passa, mais vamos pensando e construindo imagens mentais que se afastam daquilo que verdadeiramente sentíamos imediatamente depois do final da relação sexual. Perceberam? Pois, nem eu. A mim parece-me que se elaborou uma explicação muito pomposa para o facto simples de alguém ter achado que era giro pôr um casal a papar-se durante um programa de televisão, enquanto um painel de pseudo-intelectuais atira umas baboseiras para o ar e o restante público se entrega à imaginação do que estará a acontecer dentro da caixa.

Quanto a mim, que não posso mudar de planeta embora continue a achar que não me dou nada bem com este, só me apraz dizer que o Obelix devia alterar a sua emblemática frase. Não são só os romanos que são loucos. A versão correcta é foneticamente parecida, mas muito mais precisa e reza assim: estes humanos são loucos!

Crochê

Acho que hoje iam decorrer várias iniciativas desportivas. Uma delas era uma maratona. Ai o que eu gostei de ver uma senhora no metro, acompanhada do marido, ambos trajados a rigor, ele impaciente por sair de lá e ela, com uma t-shirt a fazer publicidade à dita maratona e os óculos empoleirados na ponta do nariz, a fazer calmamente um «naperon» em crochê... Vamos acreditar que estava em estágio para a corrida.

Coisinha boa

Hoje, finalmente, chegou-me às mãos esta coisinha boa. Estou histérica para continuar a lê-lo (já que li todo o primeiro capítulo num folheto lançado pela editora, a Quetzal). O início é estupendo e, sendo o Vargas Llosa um escritor muitíssimo talentoso, o livro tem tudo para continuar bem e terminar ainda melhor. Por isso, logo que me veja livre do segundo volume de Os Pilares da Terra (que já parece uma praga na minha vida) e que termine o livro A Minha Pequena Livraria (que vou lendo no autocarro), lanço-me a este e descubro quem anda a ameaçar a personagem principal. Espero que lhe torçam o pescoço.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Que mundo

O que aconteceu ao largo de Lampedusa é tão, mas tão triste que nem sei o que diga. É a miséria a somar-se a miséria, sendo doloroso ver como a vida humana vale tão pouco e pode ser tão dura. Estou com o Papa na definição do dia de ontem como o «dia de lágrimas»: é verdadeiramente triste ver a tentativa de fugir à miséria e de encontrar a liberdade terminarem com morte. Que mundo este!...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vai ser bonito

Ainda nem um mês de aulas passou e eu já me sinto como se me tivesse passado um autocarro turístico por cima. A minha voz já parece a de um menino na puberdade: ora rouca, ora normal, ora rouca, ora quase inexistente, ora normal. Já chego ao fim da última aula do dia com os pés a pedirem misericórdia. Espectacular! Por este andar chego ao final do ano com um andar novo e sem garganta. Vai ser bonito, vai...

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eu tenho dois amores

Na realidade, no que aos livros diz respeito, e embora tenha um enoooorme coração para estes objectos, o meu grande amor é só um. Ponto. Apenas o grandioso Dom Quixote de la Mancha, um livro tão magnífico que só mesmo lendo se consegue perceber o quão valioso ele é. A minha colecção de edições do Quixote já vai longa, mas de tanto que se publica, dá sempre para acrescentar mais qualquer coisa. Desta vez foi uma adaptação ilustrada e em língua inglesa e uma novela gráfica em dois volumes, no mesmo idioma. Ambas as edições são extraordinárias e muito cuidadas em termos visuais. São os meus novos dois amores e são duas belas variantes do meu maior amor literário.
 
 
 
 

Mas ainda se lê?

Há uns dias, um menino entrou em choque ao analisar um gráfico sobre como um certo número de pessoas ocupava os tempos livres. Em determinado ponto do gráfico estava indicado que uma percentagem (não me recordo qual) de pessoas lia nos tempos livres. A criança não percebeu e exclamou:

- Mas as pessoas ainda lêem??!

Eu, que até sei como a leitura anda pelas ruas da amargura junto da população mais jovem, consegui arrepiar-me porque aquele menino tratou a leitura como uma actividade de outros tempos, não do século XXI e não de agora, mas de 1720 pelo menos. Expliquei-lhe que ainda havia quem, felizmente, largasse os jogos e pegasse em livros, mas o nó não se desfez e fui brindada com um:

- O meu pai não lê!

E é isto: o modelo não lê, logo o filho, que acha que nos pais está tudo o que precisa de saber (como é normal), encara os livros e a leitura como sendo algo que já não se pratica, que já não faz sentido numa altura em que ainda há tanto para fazer (e tantos jogos a serem lançados constantemente...). 

Eu já conhecia a realidade, mas ouvi-la desta maneira, com um tom de surpresa por haver quem leia, assustou-me. O que será dos livros no futuro? E pior: como serão estes cérebros de amanhã?...