sábado, 30 de abril de 2016

Aumentando problemas de espaço

Nos últimos tempos voltei a arranjar maneira de aumentar o problema da falta de espaço para os livros. Aliás, andei realmente a ver se começava já a resolver algumas faltas que tinha na biblioteca para depois poder dedicar-me a outras coisas na Feira do Livro, que começa já no final de Maio. Haja trocos para isso e calcorrearei muito aqueles pavilhões pelos quais aguardo ansiosamente o ano inteiro. Mas, enfim, por enquanto, entre novos e usados, alguns livros vieram até cá. E são muitíssimo bem-vindos!






sexta-feira, 29 de abril de 2016

"Os Dois Natais"


Voltando a Manuel António Pina, deixo-vos aqui a tal crónica de que falava no outro dia. Apreciem-na vocês também e digam-me o que acharam. Entretanto, já li outras muito boas ou com passagens irresistíveis. Tenha eu tempos e deixar-vos-ei aqui alguns desses excertos. É curioso que um tipo de texto tão datado como a crónica possa ter exemplares que ecoam em nós vinte e alguns anos depois de terem sido escritas. Há parágrafos que com o tempo ficarão irreconhecíveis, já que o tempo apagará os nomes das pessoas referidas e cujos feitos não foram grandiosos o suficiente para da lei da morte se libertarem; no entanto, outras frases serão eternas. Faziam sentido no início da década de noventa e  fazem sentido hoje porque são do domínio do humano e o que é nosso, por sorte ou azar, ainda não passa de moda. Por isso, estas crónicas de Manuel António Pina, assim como outras de outros autores que também já tive o prazer de ler (aqui entre nós, quando andava pelos treze ou catorze anos queria ser cronista... Ainda anda por aqui um caderno desses tempos com ‘crónicas’ minhas escritas a lápis numa letra bem desenhada.) fazem sentido, mesmo que tantos anos tenham passado. A peneira deixa cair tudo o que já não nos diz nada, mas guarda secreta e delicadamente aquilo que ainda aproveitaremos.

Deixo-vos a crónica, então.

OS DOIS NATAIS

     O Menino Jesus, deitado, olhava em volta e não compreendia. Entrevia difusamente o rosto fatigado da mãe, o vulto de S. José mais atrás, os olhos grandes da vaca e do burro fitando-o. Chegavam-lhe de forma obscura o murmúrio das vozes e o cheiro dos animais; tinha frio. Via também, em qualquer sítio, como num sonho, rostos disformes, punhos, gente gritando, a enorme sombra de uma cruz, e não compreendia.
     A dor, quando as mãos trémulas da mãe cortaram o cordão umbilical, o sabor do sangue dela na boca, as primeiras lágrimas, a primeira carícia, o corpo de Nossa Senhora, branco e transido, era tudo tão estranho! Um deus, sobre húmidas palhas, coberto de trapos, aprendia naquele instante coisas graves e essenciais: o frio, a dor, o mistério dos sentidos, o medo indistinto de algo que ainda não podia saber.
     O deus transformara-se num frágil e confuso ser de sangue e de músculos, tocado por um dom extraordinário e novo: o da vida. Os pulmões do Menino enchiam-se de áspero ar, os olhos de incompreensíveis imagens do mundo vasto e profundo do estábulo, e o sangue corria violentamente nas suas veias, líquido e quente, ruborizando-lhe as faces. Quando os seus pequenos dedos afloraram pela primeira vez o rosto próximo da mãe, o deus aprendeu subitamente, com uma alegria desconhecida, qualquer coisa densa e maravilhosa inacessível aos deuses.
     Por um singular milagre repetido, um homem igual aos outros homens jazia imensamente numa tosca manjedoura, no fim de uma longa viagem interior. Um homem condenado a viver uma tragédia absurda, como a de todos os outros homens, um homem solitário e ferido de brusca e humana vida, tocado pela glória extrema da transformação e da morte. Os seus olhos olhavam pela primeira vez tudo, incapazes de compreender o íntimo desígnio divino que o movia. Em algum improvável lugar, no entanto, os deuses conheciam agora algo único e absoluto sobre os homens e sobre si mesmos.
     Pelo segredo essencial da infância, da “balya”, por onde passa o caminho dos homens para o reino dos céus, passava também naquele dia distante, o caminho dos deuses para a terra dos homens. Um deus nascera entre os homens, mas um homem como todos os outros nascera igualmente entre os deuses. E enquanto no estábulo de Belém a mãe dava o peito ao menino deus, noutro estábulo, noutro sítio, Adão menino estendia os braços e chegava sem pecado aos ramos altos da árvore proibida.

JN, 25/12/1984

in Pina, Manuel António (2013). Crónica, Saudade da Literatura. Porto: Assírio & Alvim.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O insulto à inteligência materna

As sugestões para o Dia da Mãe de algumas livrarias são um insulto à sua inteligência. Vamos lá a ver: a minha mãe é, obviamente, mulher e tem filhos, mas isso não significa que goste de romances tão cor-de-rosa que fazem a Pantera parecer desbotada. E também não quer dizer que seja fã de cozinha ou de jardinagem. Nem que precise de colorir mandalas para se acalmar. 

A minha mãe é tão ou mais leitora que eu e lê coisas sobre guerras, lê policiais, lê sobre espionagem, sobre História, lê biografias de gente que foi importante no mundo, lê clássicos. Que eu me lembre, foram muito poucos os romances cor-de-rosa que lhe passaram pelas mãos. Por isso as sugestões esterotipadas não se enquadram e parecem-me não ter em consideração que os gostos de uma mãe podem muito mais vastos do que aquilo que as Modignani, as Steeles e o Sparks desta vida significam.

O menino Kinder

No que aos doces diz respeito, não me sinto nada gulosa. Prefiro muito mais sabores salgados do que doces e tenho a tendência para enjoar chocolate de tempos a tempos. Com os doces, o meu problema maior são mesmo os baldes de pipocas do Continente. Isso, admito, é bastante viciante e é preferível nem sequer ter tal coisa em casa. Ultimamente tenho conseguido escapar bem a tal manjar dos deuses, mas acho que mal ponha uma pipoca amarelita na boca, regrido bastante e torno-me no “monstro das pipocas”.

No entanto, e mesmo gostando mais de salgados, de vez em quando também preciso de doces e uma das coisas que costuma haver cá por casa são barritas Kinder. O moço A D O R A e, não havendo mais nada, de vez em quando também cedo à tentação. Aliás, o queriducho costuma oferecer-me uma caixa de barritas de tempos a tempos. Mas depois de comer as dele, come as minhas e o resultado é que nunca tenho verdadeiramente barritas. Guloso!

Nos últimos dois dias, os almoços têm sido para esquecer e à noite o corpinho pede açúcar. Não havendo mais nada de que goste, lá tenho eu de comer barritas que tenham escapado à fúria gulosa do meu moço. Com isto lá me pus a pensar que este chocolate é mesmo saboroso e que o menino da caixa deve ser das figuras mais conhecidas no mundo dos chocolato-dependentes (vamos imaginar que esta palavra existe, sim?). Louro, de pele alva e dentes claros, não está ali a fazer nada porque o chocolate é tão bom que se vende a ele próprio. Além disso, tirando casos estranhos, acho que ninguém compra caixas de barritas porque gosta do menino da embalagem. Ali até podia estar a imagem de um cinzeiro vazio que eu gostaria dos chocolates na mesma. Mas é curioso porque, sendo a fotografia mais desnecessária de sempre, é já tão conhecida que se só víssemos a imagem do rapazito, saberíamos logo a que produto se fazia alusão.

Enfim, isto tudo para dizer que hoje passei algum tempo a olhar para a caixa, comi duas barritas e a caixa está agora na posse do meu moço. Despedi-me da fotografia do “menino Kinder” por uns tempos: é que duvido que amanhã ainda existam barritas nesta casa...


Para memória futura

Ontem fiz um exame às cordas vocais. Para memória futura: tubos a entrarem-me pelo nariz é coisa que me desgosta bastante, pelo que NÃO pretendo repetir.

Ah, e está tudo bem, felizmente. 

domingo, 24 de abril de 2016

A grande crónica


Bem, sei que ainda não acabei o livro que tenho ali ao lado, Um Homem de Partes, mas este livro com as melhores crónicas do Manuel António Pina estava a gritar por mim na estante. Fui buscá-lo, li a primeira crónica, intitulada “Os Dois Natais”, e estou siderada. Já conhecia os seus livros infantis e alguma poesia, mas acho que as suas crónicas me foram escapando. Infelizmente, porque o que acabei de ler ultrapassa em muito aquilo que a crónica costuma ser: é literatura pura, boa, melhor, excelente! Felizmente, também, estive até hoje sem ler este texto, pois assim pude fazê-lo pela primeira vez e experimentar o espanto, o indescritível assombro de ler algo assim. Uma crónica sobre um deus que se faz homem e, exactamente ao mesmo tempo, esse mesmo homem faz-se deus. É absolutamente brilhante e capaz de nos deixar durante uns momentos a pensar no que acabámos de ler. É tão cheio de coisas e ao mesmo tempo tão transparente. Pede tanta interpretação e, simuntaneamente, revela-se-nos em todo o seu alcance. A mim deixou-me consciente de que Manuel António Pina pensou em alguma coisa que faz parte da nossa matriz cultural, que está sempre diante dos nossos olhos, mas que nunca vimos daquela maneira. Isto é ser um grande escritor.

Agora alguém pensará que, se calhar, para quem só leu a primeira crónica, podem ser elogios a mais. Talvez, ainda que acredite (pelo que conheço da sua restante obra e sabendo que foi distinguido com o Prémio Camões) que não é autor que não aguente a fasquia elevada. Mas também, mesmo que da sua pena apenas tivesse saído esta magnífica crónica, já seria fabuloso. Tantos escrevem tanto e não chegam além da medíocridade. Tomara eu fazer um texto assim, mesmo que fosse o único na minha vida. Que pena que Manuel António Pina já não esteja entre nós para continuar a escrever ad eternum.

Reduzida ao meu cantinho

Portanto, vamos lá rever a matéria: sou diariamente acordada por felinos às seis e tal da manhã porque decidem que querem vir dormir comigo. Faz todo o sentido, realmente. Bandidos!

P.S.: Neste momento, às 8:21 da manhã, estou encolhidinha na ponta da cama porque os doutores peludos entenderam que haviam de colar-se a mim. Não me deixaram dormir, mas depois é isto. Déspotas!

sábado, 23 de abril de 2016

Os mercenários felpudos

Chegaram cá a casa dezoito quilos de ração e vinte e quatro saquetas de comida húmida para felinos fofos. Seria o suficiente para enlouquecer de alegria qualquer gato, pois, basicamente, ficaria com mantimentos para uns seis meses. Ora, os dois tarecos cá de casa garantiram assim que não passarão fome até meados do próximo Outono ou, talvez, até um pouco mais. 

Mas o que apreciaram estes dois totós? As saquetas? Não! A saca de dez quilos? Nem pensar! A saca de oito quilos de uma ração especial para o trato urinário? Isso é para meninos! O que eles apreciaram mesmo foi a caixa de cartão onde vinha a encomenda. São uns mercenários peludos, é isso o que eles são!


Falta de jeito

Devo ter nascido sem aquela parte do cérebro que faz com que tenhamos coordenação motora suficiente para não entornar nada do conteúdo de um tacho ou frigideira em cima do fogão quando o mexemos com a colher de pau. É que não há uma refeição, UMA, que não acabe com vestígios no fogão! Consigo SEMPRE entornar qualquer coisa. A mexer coisas com colheres de pau tenho a destreza de uma parede de betão! É tão frustrante. 

"Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos"

Todos os anos os professores são convidados a participarem nas sessões de apresentação que as editoras fazem para darem a conhecer os manuais escolares para o ano lectivo seguinte. Numa fona incessante, muitos profissionais percorrem o país procurando mostrar à classe profissional mais desconfiada e reclamante que conheço (e na qual me insiro) que o manual escolar preparado pela sua editora é o melhor e que só trará vantagens à vida destes mouros que já não têm tempo para criar materiais dada a quantidade de burocracia que lhes cabe na sua vida profissional.

Por isso, agradeço muito às editoras o esforço em fazerem cada vez mais e melhor. De facto, percebe-se cada vez mais um trabalho insano por trás de cada projeto que apresentam. Note-se que os manuais são feitos por professores que, na maioria, está a leccionar enquanto se dedica a esta tarefa que não deve ser nada fácil. Lia há pouco no Expresso de hoje que “Nos manuais escolares, cada página obriga a muitas horas de trabalho de uma equipa de 7 ou 8 pessoas. Há um trabalho de procura de exemplos, ilustrações e conceitos que sejam os mais adequados para transmitir aos alunos aquelas matérias. Há revisões científicas. E há todo o trabalho com materiais que entregamos aos professores e que não está visível no manual.” (p. 29, entrevista a Vasco Teixeira, da Porto Editora). E de facto, se ao folhear um manual facilmente me esqueço de que aquilo não caiu do céu aos trambolhões e que, portanto, saiu do esforço de uns quantos, ao assistir às apresentações apercebo-me de que foi preciso muito esforço e muita concentração para imaginar exercícios, recursos áudio adequados a cada conteúdo, exercícios gramaticais, propostas complementares com temas que não sendo exactamente os estudados com eles mantenham alguma relação... É, de facto, um trabalho admirável e insano. E que tem consequências nos preços obscenos destes materiais practicamente incontornáveis nas nossas escolas.

Os manuais são caríssimos. Recebo as amostras gratuitamente, mas não deixo de pensar no que custou aos meus pais e a todos os outros pais por este país fora pagar oito, nove, dez ou mais manuais por ano. E quando têm mais do que um filho... Nem imagino o pesadelo! É verdade que muitas vezes o livro chega, não sendo necessários os outros materiais que com ele costumam vir (cadernos de actividades ou CD’s, entre outros), mas muitos acabam por comprar o bloco pedagógico completo, deixando dezenas de euros nas editoras. O mês de Setembro é, por isso, sinónimo de pesadelo para muitas famílias com estudantes em Portugal. Considerando que o ensino é tendencialmente gratuito, é realidade que dói e que preocupa.

Mas além disto, outra coisa salta à vista de quem percorre estas apresentações. Já se percebeu que cada editora, cada chancela faz um esforço tremendo no sentido de convencer o maior número possível de professores a considerar o projecto que apresentam o melhor de todos aqueles que vão conhecer. Contudo, como é possível aumentar ainda mais as hipóteses de ter os manuais adoptados no maior número de escolas possível? É simples: preparando mais do que um projecto por nível. Assim, os docentes vão à apresentação de uma editora e saem de lá não com uma, mas com duas caixas de manuais. E recordo-vos de que nunca vêm apenas os manuais: vêm os cadernos de actividades, as planificações, os modelos de testes e as suas correcções, vêm grelhas de avaliação, vêm CD’s, vêm guiões de leitura, vêm transcrições dos registos audio, vêm muitas outras coisas. Por isso, no fim de duas das apresentações a que já assisti nas últimas semanas recebi... sacos. Sim, as editoras entregavam sacos para que pudéssemos carregar tudo para casa. Não sei como é com as outras disciplinas, mas se todas forem como o Português, não sei como é que os meus colegas fazem para guardar tudo o que as editoras preparam para nós. Eu tento guardar tudo em caixas empilhadas na varanda e recorrer a estes materiais sempre que possível. Porém, para ser honesta, recebo tantas coisas, o excesso de informação é tanto que nunca me lembro de onde está aquilo de que preciso. Geralmente acabo por dar-me conta, tarde de mais, de que tinha tudo feito neste ou naquele projecto e que andei a fabricar sozinha determinado material. Fosse o leque de opções menor e talvez não me esquecesse de onde procurar aquilo que já sei que foi feito por outro. Pode parecer estranho a quem não vive isto, mas é mesmo difícil (especialmente quando num ano se lecciona a diferentes níveis de ensino) saber onde está tudo, lembrarmo-nos daquilo que vimos nas apresentações de manuais e que pensámos, na altura, “ora aqui está uma coisa boa para utilizar”. Entretanto passa o tempo, o ritmo do trabalho aumenta e cai no esquecimento este ou aquele pormenor que parecia tão bom. No fim já nem nos lembramos do projecto em que se encontrava.

Portanto, não sei dizer se este excesso de informação é bom ou mau. Por um lado, os docentes agradecem de mãos postas o facto de alguém lhes fazer tanta papa. Mais cedo ou mais tarde acabamos por recorrer aos muitos materiais que, não sendo manuais, fazem muita falta para um ensino de qualidade (especialmente quando o tempo para grandes aventuras em sala de aula é cada vez menor). Mas, por outro lado, não sei se não nos sentimos atropelados com tanta oferta, com tanto fogo de artifício, com tanto papel, com projectos que até concorrem entre si dentro da mesma editora. Como se não bastasse, em ano de adopção temos de avaliar estes manuais todos (mais uma burocracia) e, assim, além de carregarmos para casa quilos e quilos de papel, ainda temos de os olhar com bastante detalhe para depois os classificarmos com justiça. Sobre isto tudo que hoje vivemos enquanto professores, sobre esta dicotomia entre o que nos facilita a vida, mas que ao mesmo tempo nos leva a ter mais trabalho, só me ocorre a frase que inicia o romance História de Duas Cidades, de Charles Dickens: “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos."

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Camões ainda hoje

Na última semana, que não foi fácil, recordei-me muito deste poema de Camões que aqui vos deixo. É incrível que um texto do século XVI traduza de modo tão perfeito aquilo que por estes dias, no século XXI, senti e julgo que continuarei a sentir. 

Os bons vi sempre passar
No Mundo grandes tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só pera mim, 
Anda o Mundo concertado.

                          Luís de Camões

sábado, 16 de abril de 2016

A Menina Quer Isto LXVIII

E desta vez não são só livros: também são revistas. Mas como não são portuguesas, devem chegar cá a Portugal com uns cinco meses de atraso, como de costume. Às vezes pergunto-me se me ensinaram geografia como devia ser quando andei na escola e se Espanha não será muito mais longe do que aquilo que imagino. É que só isso poderá explicar o atraso na chegada dos periódicos publicados no país aqui do lado. Enfim, esperemos porque estas quero mesmo em papel e não em versão digital. Acho que se percebe a razão se olharmos para as capas.

Quanto aos livros... Venha a Feira do Livro de Lisboa que eu tenho a lista preparada!






Tiranos

Estou a viver um daqueles momentos em que os meus gatos entendem que o prazer de poder esticar as pernas na minha própria cama não me pode ser permitido. Eis-me tolhidinha de todo. Mas os felinos estão bastante confortáveis, parece-me.

domingo, 10 de abril de 2016

Primeira vez

Hoje, pela primeira vez na minha vida, fiz molho agridoce. E não é que ficou bem?!

Não acordem o monstro adormecido

O meu moço ofereceu-me umas sandálias ontem. Note-se que foi ele quem me fez olhar para elas porque, na realidade, eu ia à procura de um casaco (que, aliás, não encontrei. Mas encontrei uma saia, umas calças e uma camisola...). São altas, de cunha e por cima são num tecido preto muito macio. São, como ele diz, a minha cara. 

Quem me conhece sabe que já fui altamente viciada em sapatos e afins. Sabe que já cheguei a comprar cinco pares de sapatos numa semana. Sabe que já pude calçar todos os dias uma coisa diferente e passar um mês e meio sem repetir nada. Também sabe que eu não sou milionária, pelo que este feito é qualquer coisa. Ora, ontem senti o bichinho dos sapatos (que tem estado adormecido) querer acordar. Acho mesmo que abriu um olho, bocejou, prestou alguma atenção e agora está num sono mais leve do que estava ontem quando me levantei.

Adorei o presente do meu moço, claro. Mas não quero este monstro a acordar outra vez que já sei que isto dos sapatos é coisa para me arruinar. Esperemos as cenas dos próximos capítulos e, já agora, esperemos o calor para poder andar com aquelas ternuras nos pés. Eheh...

Para quando?


Ontem, a fadista Ana Moura deu um concerto no Meo Arena que, certamente, ficará na memória de todos os que a ele assistiram. Foi absolutamente encantador desde o início até ao momento final. Ana Moura interpretou sobretudo as canções do seu último álbum, “Moura", mas não deixou de presentear a assistência com alguns temas mais antigos como “Leva-me aos fados” ou “Búzios”. A meio do concerto, os seus músicos brindaram o público com um momento puramente instrumental que foi uma verdadeira mostra de talento. Todos os músicos que acompanham Ana Moura são brilhantes, mas a guitarra portuguesa está particularmente bem entregue. 

Claro que quando Ana Moura cantou o tema “Dia de folga” foi o delírio. Como música bem conhecida e animada que é conseguiu pôr toda a gente de pé, a cantar e a acompanhar o ritmo com palmas. E quando eu pensava que viria para casa sem ouvir o “Desfado” (por ser do álbum anterior e porque a Ana Moura já se tinha despedido do público), eis que regressa ao palco e canta esse e outros dois ou três fados. Foi o delírio. Já se dançava fado na coxia.

Todo o espectáculo está muitíssimo bem pensado. Tem de tudo e enche-nos bem as medidas. Consegue inclusivamente associar um momento de performance de um bailarino à letra da canção interpretada pela Ana Moura naquele momento. Foi brilhante! A voz dela é um mimo. Não é a desilusão que por vezes temos quando ouvimos determinado cantor interpretar ao vivo e percebemos que não é nada como soava na rádio e nos cd’s. A simpatia para com o público foi também imensa. Enfim, foi uma excelente noite e ficou a vontade de repetir. Para quando o regresso a Lisboa, Ana Moura?

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Provavelmente seria assim


Sim, provavelmente seria assim e seria muito mais desinteressante. A imagem saiu desta página.

A tosquia

Hoje levei o Sr. Gato à tosquia. Devido a uns quantos nós muito abusados naquele seu pêlo que parece de algodão, a tosquia foi integral. Basicamente só a cauda ficou intacta.

Agora imaginem o que é levar um Bosques da Noruega gigante ao veterinário e voltar com um gato pequenito. Imaginem o que é estar habituada a chamar “gordo” ao gato e perceber que afinal ele não tem um pingo de gordura e que é bem, mas bem mais pequeno do que aquilo que pensávamos. 

Levei um gato inteiro e voltei com um terço de gato. E está uma ternurinha, como sempre, aliás.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Do prazer em assustar animais

Recentemente o Facebook foi inundado por vídeos em que gatos eram assustados com pepinos. No fundo, alguém descobriu que colocar um pepino atrás de um gato enquanto ele come acaba por provocar-lhe o maior dos sustos quando se apercebe da presença daquela coisa estranha. O resultado é um salto monumental, o pelo eriçado, quem sabe uma cambalhotazita que diverte os mais ingénuos. Aliás, diverte apenas aqueles que não têm, não gostam ou não cuidam a sério de um animal.

Pouco me importa o motivo que faz com que os gatos se assustem quando se lhes faz tal coisa. Nem quero saber se é por associarem o formato do pepino ao de uma cobra, como inicialmente se afirmou. Não me importa um tostão que haja bestas que digam que não tem mal nenhum fazer tal coisa aos animais, como se pudessem imaginar o nível de stress que lhe estão a provocar apenas para soltarem uma gargalhada ou para publicarem mais um vídeo idiota na internet. Não me importa o que esses dizem porque, lá está, são perfeitos anormais, desprovidos de qualquer vestígio de inteligência e de compaixão por bichos que não percebem (nem têm de perceber) aquilo que eles julgam uma piada. Importa-me sim o mal que esta porcaria de graça pode fazer aos animais. Sim, porque lamentavelmente são sempre estes que se lixam com a idiotice dos humanos. E pior: dos seus humanos, já que na maioria das vezes os responsáveis por estas partidas são os próprios donos, aqueles que têm a obrigação de assegurar o bem-estar e a tranquilidade dos seus bichanos.

Não acredito que os seguidores do blogue sejam gente desta. Mas podem conhecer alguém assim (enfim, são azares que acontecem nas nossas vidas). Por isso deixo aqui um texto que a Royal Canin publicou sobre o assunto. Se tiverem a infelicidade de conhecer algum génio que ache piada a assustar de morte o seu gato porque viu outros idiotas fazerem o mesmo no Facebook, partilhem com eles este texto. A ver se se percebe de uma vez que há limites, que há coisas que não se fazem a ninguém e muito menos aos nossos melhores amigos.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Dúvida


Desculpem lá a minha dúvida, mas isto existe sem ser para totós? É que fui obrigada a experimentar uma vez e não me pareceu...

As minhas quinze mãos e a chuva

Em dias chuvosos como o de hoje, devia transformar-me num polvo. Ou mesmo numa centopeia (o bicho mais nojento do universo). É que segurar o chapéu-de-chuva e duas malas, o passe e o telemóvel porque alguém resolveu ligar-me no preciso momento em que o meu autocarro estava a chegar e prestes a passar por cima de uma descomunal poça de água está ao nível dos melhores. Mas mais: já dentro do autocarro tenho de, ataviada com isto tudo, desviar-me de toda a gente, sentar-me e atender a m**** do telemóvel. Ora, como se não bastasse, o chapéu-de-chuva pinga por todos os lados. Lá consigo devolver a chamada, tentando desviar o chapéu molhado das minhas pernas, e, quando desligo, procuro guardar o passe (que continuava numa das minhas aparentes quinze mãos) na mala. Descubro que o estojo das canetas está na minha carteira e não na pasta dos livros (ainda bem que o descobri no autocarro e não em plena aula, pois havia de fazer uma bela figura). Resolvo passá-lo para a pasta dos livros, mas o fofinho está de pernas para o ar e abre-se quando o puxo. Saltam canetas e marcadores e borrachas pelo ar. Felizmente ficam circunscritos ao interior da carteira. Dá-se então início à "Operação Estojo". Quando está finalmente terminada, guardo o estojo na pasta e tento enfiar o chapéu molhado num saco de plástico. Depois quando chegar ao trabalho pô-lo-ei a secar. 

Claro que são oito e meia da manhã e já só desejo que o dia acabe. Não tenho quinze ou vinte mãos, mas tenho nervos fáceis de perturbar. 
  

domingo, 3 de abril de 2016

A novela ou o vôo do cérebro (para bem longe)

Diz-me a Wikipédia (esse poço de sabedoria) que a novela Única Mulher, da TVI, começou a 15 de Março de 2015. Já vai, entretanto, na segunda temporada, coisa inédita em novelas portuguesas. Portanto, já está a passar na televisão há mais de um ano.

Admito que durante algum tempo segui a história daquelas personagens todas. Infelizmente, sou criatura com um trabalho mentalmente tão extenuante que quando chego a casa preciso de encher o meu cérebro com lixo televisivo de maneira a desligar do dia que tive. Não comecei a ver a novela desde o início, mas lá consegui apanhar o fio à meada e os dias foram correndo.

Portanto, a coisa funcionava assim: menina rica angolana apaixona-se (e é correspondida) por menino  rico português. Muita confusão pelo meio e nunca podem estar juntos e sossegados. Pelo caminho ela dá umas escapadinhas com outros, ele dá muitas escapadinhas com metade do elenco feminino da novela (mas atenção: amando sempre muito a menina angolana rica). O pai dele e o pai dela odeiam-se. O pai dela leva um tiro na cabeça que mataria qualquer ser vivo à face da terra. O pai dele vai preso e paga o pato, mas afinal não tem culpa de nada. O pai dela aparece vivo e com uma cicatriz de nada na cabeça (cicatriz essa que, ou muito me engano, ou acabou por desaparecer com o decorrer da novela). Vem decidido a vingar-se. Há uma personagem que tem uma empresa de acompanhantes de luxo que, afinal, também é mau como as cobras e também anda ali a ameaçar e a matar a torto e a direito. Pelo caminho, o menino rico português tem uma mãe que também é mais ou menos como as baratas: se vier uma bomba que arrase com isto tudo, só sobram as baratas e ela. Já andou direita que nem um fuso, já foi parar a uma cadeira de rodas, já anda novamente direita que nem um fuso, já teve uma cara imaculada, já teve uma enorme cicatriz de queimadura numa das faces, já tem outra vez uma cara imaculada. As filhas da menina rica angolana que se apaixonou pelo menino português já foram raptadas ou em vias de o ser algumas duzentas e oitenta e sete vezes. Eu já teria feito um seguro de vida às miúdas que aquilo é mais precioso que o ouro. Já para não falar dos quatro mil novecentos e oitenta e dois problemas que a personagem interpretada pela actriz Rita Pereira enfrenta, muitos deles envolvendo o filho, o Júnior, que também já esteve mais vezes em perigo de vida do que um pescador de caranguejos no Alasca.

Isto é tão vertiginoso que me fartei e desisti da novela. Mas tenho por hábito ver diariamente na aplicação "Sapo Jornais” as capas dos diários e, uma vez por semana, as capas das revistas. Eu não sei se o que vem nas capas das revistas é verdade ou não, mas a ser, multipliquem o que eu disse por dez. Afinal as crianças da novela já estiveram todas em perigo de vida; provavelmente oitenta por cento das personagens já foram raptadas sempre pelos mesmos tipos e o tipo rico português já voltou a trocar de braços femininos mais umas quantas vezes. Note-se que em Outubro do ano passado iniciou-se a segunda temporada desta novela, tornando-a assim numa espécie de série. As personagens regressaram, apareceram uns mauzões novos... Enfim, uma preciosidade que parecia recomeçar. Mas como já andávamos desde Março a ver tudo a acontecer a toda a gente, foi basicamente mais do mesmo, pelo que percebo. Quando de vez em quando perco dez minutos no meio do zapping a ver como pára aquela trapalhada toda, percebo que é disso mesmo que se trata: de uma enormíssima confusão que parece extremamente repetitiva.

Quando me lembro das novelas brasileiras que via na minha infância (algumas adaptadas de textos literários), ou mesmo de algumas portuguesas que deixaram muito boa gente colada ao ecrã, pergunto-me para onde foi aquela capacidade belíssima de não complicar. Havia uma acção principal, várias secundárias e as coisas eram construídas de maneira a que em casa não vomitássemos a novela a determinado momento. Recorrer mil e duzentas vezes ao rapto não me parece inteligente ou interessante: parece-me cansativo. Ter um casal muito apaixonado como principal, mas depois ter os dois a picar o ponto aqui e ali a todo o momento também não é muito coerente. Ir fazer novelas para lugares distantes e depois ter um enredo que, para mim, já ultrapassou o absurdo é só mandar dinheiro fora. E quando penso na quantidade de boas histórias que por aí andam em livros, clássicos ou não, para depois nos servirem estas coisas em quantidades tão industriais que até já vêm em temporadas... até me dá uma coisa! Além disso, antigamente as novelas durariam uns seis ou sete meses. Agora podem ultrapassar bem um ano! Quem aguenta??? Eu não, certamente.

Portanto, agora chego a casa e não tenho com o que esvaziar o cérebro. É que por muito que quisesse fazê-lo com aquela novela, a ideia era descansar o cérebro e não abdicar dele durante uma hora.