domingo, 29 de setembro de 2013

Comichosos

Estava hoje a dar a minha voltinha pelas notícias quando topei com um artigo da revista americana The New Yorker onde se falava dos "AMBER Alerts". Para quem não sabe, são alertas emitidos num determinado espaço quando se dá o desaparecimento de um menor. A ideia é a de que deixem a população da zona do desaparecimento e em redor em alerta para que possam mais facilmente colaborar com as autoridades nas tentativas de localização da pessoa desaparecida. 

Ora, estes alertas sempre foram passados através dos meios de comunicação social, dos placares electrónicos em autoestradas, entre outras formas. Surgiu, contudo, uma nova forma de emissão destas alertas: através da internet, os cidadãos americanos podem receber um AMBER Alert em forma de sms nos seus smartphones. Parece-me uma boa ideia. Uma pessoa pode receber uma mensagem indicando que desapareceu uma criança da sua zona de residência e pedindo-lhe que esteja atento a um determinado veículo com uma certa matrícula. Continua a parecer-me bem.

Mas eis que já há americanos que procuram, segundo a revista, uma forma de bloquear estas mensagens porque as mesmas os incomodam quando estão no trânsito ou a dormir. Sim, o egoísmo chega a este ponto. É assim que uma boa ideia deixa de ter o alcance desejado: quando algumas mentes peregrinas só conseguem olhar para o umbigo e esquecem o resto do mundo em redor. Se fosse eu a viver nos Estados Unidos e pudesse receber estes alertas, recebê-los-ia. Há coisas que incomodam muito mais e das quais ninguém se queixa. Além disso, nunca sabemos se um dia não viremos a ser nós quem precisará de tais serviços. Vivemos efectivamente num mundo cheio de comichosos pouco cooperantes. É triste.

sábado, 28 de setembro de 2013

Mau comportamento no ensino superior

Esta pequena chamada está na capa do Expresso que, extraordinariamente, saiu à sexta-feita (espertalhões...). Não li a notícia, apenas isto e, embora a imagem esteja com má qualidade, o que aqui diz é que o «Mau comportamento leva universidades a criar castigos. Uso de telemóveis nas aulas é um dos maiores focos de perturbação» e logo de seguida «Professores lamentam que estudantes estejam a chegar cada vez mais imaturos ao Ensino Superior. No passado ano letivo, pelo menos oito universidades instauraram processos disciplinares a 35 estudantes. Vários foram suspensos das aulas.» (sublinhado meu).
 
Importa-me começar por dizer que cavaria um buraco e enfiar-me-ia lá dentro se numa faculdade ou em qualquer outro estabelecimento de ensino superior alguém tivesse de me castigar pelo meu mau comportamento. Aliás, se tal coisa acontecesse com um filho meu, tenho a impressão que lhe punha as costas em brasa de tanto o varar. Por outro lado, já não me choca assim tanto ler esta pequena notícia: eu estava a terminar o mestrado quando a «geração Morangos com Açúcar», como lhe chamávamos, chegou ao ensino superior. Ora, se havia meninos e meninas atinadinhos, que se divertiam, mas com responsabilidade, havia uma avalanche deles que encaravam aquele espaço como um prolongamento das noitadas de sábado. Invadiam os bares da faculdade e consumiam cerveja como se estivessem a armazená-la em bossas, enquanto jogavam PSP (eu vi isto!) nas horas em que deviam estar nas aulas. Não imagino como tais criaturas seriam dentro de uma sala de aula, mas posso fazer uma pequena ideia.
 
O problema é que o ensino superior não é obrigatório e só vai para lá quem supostamente quer continuar, por alguma razão, a sua formação. Ora, creio que nos dias de hoje, muitos miúdos fazem o secundário com a certeza de que os estudos continuarão, mas sem saberem muito bem porquê. Vão porque os pais nem dão outra hipótese e porque não se sentem tentados a trabalhar em qualquer coisa que não exija o diploma universitário. Vão com a cabeça nas praxes e nas festas e nos trajes e na vida académica, esquecendo-se muitos deles de que a vida académica também passa pelas aulas, pelos exames e pelas notas. Um "canudo" com um dez vale pouco, por isso importa subir as notas.
 
O ensino superior está agora a apanhar com os estilhaços da bomba que rebentou nas mãos dos docentes do terceiro ciclo e do ensino secundário há alguns anos. É lamentável e vergonhoso que uma fase do ensino em que se aprende porque se quer e em que, supostamente também, aprendemos aquilo de que gostamos seja um prolongamento da basófia e falta de educação que preencheu o ensino secundário. Novamente: eu cobria-me de vergonha e trancava-me em casa durante um século se um docente universitário, uma pessoa que provavelmente sabe mais do que aquilo que vou conseguir saber na minha vida toda, tivesse de reportar o meu comportamento a outras entidades no sentido de ser-me aplicado um castigo que pode passar pela suspensão! Bem sei que as liberdades que o ensino universitário permite, por ser aquela fase em que já somos crescidos o suficiente para sabermos o que andamos a fazer, pode ser aliciante e levar os alunos a distorcerem-na e aumentarem-na ao ponto de abusar dela. Todavia, não deixa de ser vergonhoso ver alguns estudantes universitários reduzirem-se a uma papa amorfa que pulula de festa em festa, ignorando à grande aquilo que deviam estar efectivamente a fazer: estudar.
 
Quando trabalhava na livraria da faculdade, apareceram-me à frente, num certo dia, um par de idiotas, daqueles que se acham com uma piada que vai daqui à galáxia seguinte. Diziam estar a fazer um inquérito: deveria um deles ir ou não à aula seguinte. A minha colega respondeu que deviam, o meu chefe também. Quando chegou a minha vez de falar, perguntei:
 
- Trabalhas?
- Não.
- Quem te paga o curso?
- Os meus pais.
- Então por que razão não lhes ligas para saberes o que acham da tua peregrina ideia de andares a querer faltar àquilo que eles andam a pagar?!...
 
Um dos rapazes olhou para o amigo com o qual eu falara e disse-lhe:
 
- Iiiiiiiii... Se calhar é melhor ires à aula.
 
Não sei se foram ou não. Por mim até podiam ter colocado uma corda com uma pedra ao pescoço antes de se atirarem a um rio que ia dar no mesmo. O que me ficou desta história é que realmente abundam hoje no ensino superior seres que não sabem o que aquilo é e que achincalham instituições e docentes que mereciam todo o respeito, como também já deviam ter merecido as escolas e docentes das escolas por onde passaram antes. Também faltei a aulas, também e diverti muito, mas nunca tive esse comportamento obtuso que agora traz estas notícias para a capa do jornal.
 
Felizmente e como em tudo há excepções, chegando também às universidades alunos e alunas dedicados e interessados, que sabem divertir-se sem prejudicar o bom ambiente das aulas e que sabem que existe tempo para tudo. Esses também mereciam ser referidos e destacados, porque não são só os maus desempenhos que merecem ser discutidos. É bom ver que muitos sentem ao chegar hoje à universidade, numa época tão complicada, o mesmo ou até mais do que aquilo que eu senti há exactamente dez anos atrás, quando fui colocada na faculdade e no curso que escolhera. Nada está, afinal, perdido enquanto esses alunos existirem.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Coincidências

É raro, mas de vez em quando aparece um livro ou um filme que parece que nos espelha, que nos lê os pensamentos, que reproduz com exactidão aquilo que desejamos e fazemos. É fenómeno que acontece pouco, parece-me, pois não somos (com algumas excepções) tão lineares que seja fácil uma obra de arte reproduzir aquilo que somos por dentro. Mas vai acontecendo e, quando assim é, tem piada. Ora, no outro dia vi na Fnac um livro pelo qual não dava nada e pelo qual teria passado sem grande atenção se não fosse o facto de chamar-se A Minha Pequena Livraria. Não comprei porque não sabia se valeria a pena, contudo vim para casa com aquele volume na cabeça. Nesse mesmo dia surgiu-me a ideia de criar o blogue Moinho de Vento - Livros Usados e, na tarde seguinte, fui comprar o livro.
 
A história é verídica e narra a odisseia de um casal para abrir uma loja de livros usados numa pequena comunidade americana. O que tem graça é que tal como eu tinham empregos que queriam deixar, onde se sentiam no meio de muito veneno; tal como eu adoravam livros e queriam trabalhar com eles; tal como eu começaram com o seu próprio espólio; tal como eu tiveram de parar para pensar em como iriam resolver uma série de problemas; tal como a mim, foi sugerido que se fizesse um plano de negócios; tal como eu só queriam saber dos livros... Enfim, são tantas as semelhanças que até faz confusão.
 
Ainda não sei como continua a história e espero sinceramente que a comunidade tenha aceite bem a livraria. E também gostava que a minha ideia corresse bem.
 
 
Nota: A imagem da capa saiu da página da Wook.
 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pequenas descobertas

Bom, isto de montar um blogue de venda de livros usados serve pelo menos para uma coisa: para perceber o que se tem em casa. Só ontem consegui encontrar três primeiras edições de livros de autores portugueses. Portanto tenho alguns tesourinhos, mas desconhecia tal coisa. Normalmente quando compro vou ao sabor da curiosidade e da vontade de conhecer certos autores. Lá pelo meio acabo por arranjar umas perolazitas.
 
Porém, as prateleiras vão pesando e o tempo para ler tudo não abunda. Por isso sugiro aos quixoteiros que por aqui passam que dêem um pulinho ao blogue Moinho de Vento - Livros Usados e que apreciem as vistas. Se algumas coisa vos agradar, apitem.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Saem uns, entram outros

Eu bem tento vender, mas não deixo de comprar... A Moinho de Vento - Livros Usados a tentar ajudar-me a aliviar as estantes e eu a colocar-lhes mais peso. Com os vales da Fnac que me ofereceram, ainda comprei mais umas coisinhas. Uma delas foi este livro, que já namorava há muito tempo. O Negócio dos Livros fala de como funcionam os bastidores das transacções de um tipo de objecto muito especial e particular e de como os grandes grupos editoriais influenciam o que lemos. É já um livro incontornável sobre este tema. A ver se me ensina qualquer coisita.
 
 
A propósito, "o meu mai' novo», leia-se Moinho de Vento, já apresenta quase duas dezenas de livros e uma oferta para a primeira pessoa a gastar mais de dez euros em livros. Ide lá espreitar, se vos for possível, e vão espalhando a palavra. Tenho muitos livros para despachar porque cá em casa há muitos livros a quererem entrar.
 
Nota: A imagem saiu da página da Wook.


Coisa parva

No outro dia, num restaurante, um grupo de amigos ali pela casa dos quarenta anos conversava sobre telemóveis. Discutiam um telemóvel muito bom que uma delas tinha tido, até que a antiga proprietária profere esta pérola:

- Era iPhone, mas era da Samsung!

Até estremeci de vontade de rir. Ai senhores... Onde as pessoas chegam quando querem armar-se em ricas!

Rituais do início do século

Hoje vinha pelo caminho a recordar um ritual que existia nas escolas básicas do 3.º ciclo e nas secundárias há alguns anos e que, pelo que vou vendo, continua a manter-se, embora em moldes diferentes (o facebook mudou muita coisa...). Refiro-me ao acto do «cumprimento diário» (inventei agora o nome). Ora, o que era isto, perguntam vocês? Uma coisa estranhíssima e digna de uma hora de documentário da National Geographic.
 
Qualquer miúdo ou miúda que frequente o ensino do sétimo ao décimo segundo ano está condenado ao facto de ter de cruzar-se diariamente com as mesmas caras, sejam elas de colegas de turma ou de outros. Um ano lectivo dura sensivelmente nove meses e as aulas espalham-se pelos cinco dias úteis das infindáveis semanas (agora ainda me parecem mais intermináveis do que então, mas enfim...). Qualquer ser humano normal e com mais de vinte anos considerará agora que era para lá de estúpido cumprimentar solenemente com dois beijos na cara as figurinhas que víamos dia após dia no mesmo espaço escolar que frequentávamos. Porém, o acto do «cumprimento diário» às criaturas do sexo oposto era sagrado e ai do atrasado mental que o quebrasse!
 
Veja-se: uma gaja via um gajo «bom». Ria-se estridentemente e dava nas vistas, qual pavão, até ser vista pelo moço. Ora, como bem se sabe pelas aulas de Ciências (das quais só ouvíamos a unidade referente à reprodução humana), os rapazes «amadurecem» mais tarde que as raparigas, portanto das duas uma: ou elas deitavam logo o olho aos meninos mais velhos, só naquela de evitar andar com um parvinho sem maneiras ou, por outro lado, não eram muito selectivas e saía-lhes um totó ainda mais totó do que elas. Pois bem, deitado o olho (delas a eles e deles a elas, que a fauna funcionava em uníssono), seguia-se a fase do «posso conhecer-te?». Assim mesmo: o tipo ou a menina dirigiam-se ao alvo e esmurravam-no com esta pergunta.
 
Momento de tensão.
 
Se a coisa corria bem e se nenhum dos dois fosse um camafeu, conheciam-se. «Olá, eu sou a Gertrudes.», «Olá Gertrudes, eu sou o Crisóstemo.». Estava travado o conhecimento: daí para a frente só podia melhorar.
 
E como melhorava! Entrava em campo o ritual do «cumprimento diário» em todo o seu esplendor. Dia após dia, quando a Gertrudes e o Crisóstomo se cruzassem um com o outro à saída do bar da escola, já de croissant gorduroso na mão, ou mesmo no caminho para o WC, lá vinha o beijinho na cara. Porém, se julgam que o ritual se resumia a isto, estão extremamente enganados. Havia todo um subentendido por trás do acto de oscular a cara do menino ou da menina. Havia a análise do beijo. Sim, senhores: a análise dos beijo. E sobre isto, apenas posso revelar o lado feminino da coisa porque infelizmente nunca consegui infiltrar-me no meio masculino ao ponto de saber se o mesmo se passava do outro lado da barricada.
 
Ora, a menina cruzava-se com o menino antes das oito e um quarto, hora de início das aulas (e hora muito desapropriada para beijocar rapagões), e vinham de lá as duas beijocas. O que se seguia era isto: a menina ia para as aulas e revivia o momento enquanto conjugava o verbo sortir na aula de Francês. «Ele deu-me dois beijos mesmo na bochecha, não se limitou a encostar a cara!». A que se seguia outro pensamento inevitável: «Oh porra, já nos cumprimentámos hoje. Agora só amanhã...». Que eu saiba esta regra nunca foi quebrada e nunca nenhuma menina fingiu ter alzheimer só para poder esbeijaçar o moço pela segunda vez num dia. Inevitavelmente, também, dava-se início à troca de bilhetes com a melhor amiga da turma, nos quais cada uma fazia o relatório do cumprimento do dia com o respectivo desejado, esmiuçando cada milímetro de beiço encostado à bochecha, o olhar dengoso ou não com que o rapaz mirou as meninas, o epíteto que lhes dirigiu («linda», como em «olá, linda» era sempre um êxito capaz de derreter mais do que o sol em pedra de gelo!).
 
No dia seguinte a cena repetia-se e o mesmo ia acontecendo até que se fartassem um do outro ou que, finalmente, se decidissem a transferir o beijo da bochecha para os beiços, atitude desejada desde o primeiro dia, mas nem sempre fácil de pôr em prática.
 
E pronto. Ali pelo fim do século passado e início deste era assim que a coisa sucedia. Hoje lembrei-me disto e das tantas vezes que vi isto acontecer. À boa maneira de Flaubert importa ser honesta e admitir a verdade toda: a menina Gertrudes desta história... c'est moi.

Ai a gramática...

Bem... A quantidade de gente que chega a este blogue depois de pesquisar o que são orações coordenadas disjuntivas! Acho que se fizesse uma quixotada a explicá-las estaria a fazer um serviço público que grande utilidade. Por agora, caros exploradores da gramática do Português, ficais sabendo que as orações coordenadas disjuntivas pertencem ao grande processo de criação de frases complexas que se chama "coordenação", no qual as várias orações estão ao mesmo nível na frase, não havendo uma a "mandar" na outra (como acontece na subordinação). As disjuntivas são precisamente aquelas onde é oferecida uma alternativa, como a típica frase materna "Ou comes ou levas." Neste caso, existe o uso de uma conjunção coordenativa correlativa, mas "ou comes" é uma oração coordenada e "ou levas" é uma oração coordenada disjuntiva.

Um dia destes explico melhor. Agora vou acabar o pequeno-almoço para ir ensinar outras coisas. Bom dia a todos e não se esqueçam de visitar o blogue moinhodeventolivrosusados.blogspot.pt . Está à vossa espera!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Menina Sugere Isto XII

A menina sugere hoje um filme de terror que merece não só um T maiúsculo, mas todas as letras maiúsculas, a negrito e com duplo sublinhado. O filme está agora nos cinemas e chama-se «A Evocação». Confesso que depois de ler a sinopse não fiquei nada convencida e pensei mesmo que ia pagar para ver uma borregada qualquer daquelas que metem tanto medo quando um carneiro de peluche. Porém, a verdade é que dei por mim a quase ter uma apoplexia a meio do filme. É que aquilo não pára! A partir do momento em que se apresenta a situação inicial, as peripécias sucedem-se e os espectadores ficam de respiração suspensa à espera do momento em que possam sossegar um bocadinho. Eu, que julgava ter já visto todos os filmes de terror do mundo e que já quase não me deixava convencer por nenhum, saí daquela sala com um novo favorito. Os apreciadores deste género não devem perder o filme. Vale cada cêntimo gasto.

Explico-me

Quando digo que vou começar a vender alguns dos meus livros, há dois tipos de reacção: a daqueles que acham muito bem porque é um exagero ter, com esta idade, tantos livros em casa; e a dos que ficam chocados sem perceber como consigo eu separar-me dos objectos de que mais gosto.
 
A verdade é que há duas razões para fazer o que agora decidi fazer, dando início ao blogue que ontem apresentei. Por um lado, porque se há coisa que gosto de fazer é de lidar com livros (não apenas de lê-los) e gostava de começar por algum lado. Já que ainda não posso cumprir o sonho de ter a minha própria livraria, esta foi a forma que encontrei de começar a tentar perceber em que estado as coisas estão. Já trabalhei numa livraria, consegui conhecer mais ou menos como funciona o meio, mas há outras coisas que gostava de aprender. Talvez, se as coisas correrem bem, consiga daqui a algum tempo responder às questões que me coloquei. Por outro lado, existe, sim, uma quantidade exorbitante de livros nesta casa e, sinceramente, não vou deixar de comprar mais. Parte do que colocarei à venda corresponde a livros que já li e que não relerei. Se por alguns tenho um sentimento de posse muito forte que não deixa ver-me livre deles, com outros tal não acontece. Assim sendo, melhor é que passem para quem também os queira ler e que não fiquem trancados nas prateleiras de alguém que não mais lhes pegará. Importa ser prático e parece-me que o estou a ser.
 
Com honestidade, não gostaria de trabalhar como professora até ao fim dos meus dias. Pelo menos, não da maneira como hoje se encontra o ensino. Como tal, qualquer passo numa outra direcção conta, mesmo que seja tão pequenino quanto este. Se tudo isto não chegar, encarem-no como uma ocupação que me ajuda a desligar do que vai acontecendo diariamente no âmbito da minha profissão.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A novidade

Hoje tenho uma novidade para dar a todos os que me seguem e que eu sei que o fazem, mas também a todos os que dão cá um pulinho, embora nunca deixem pegadas. A autora do blogue «As Minhas Quixotadas» acaba de abrir um outro blogue onde faz o que já devia fazer há muito tempo: vender boa parte dos livros usados que tem em casa. O novo espaço chama-se «Moinho de Vento - Livros Usados» e está à vossa espera. Encontrarão lá livros praticamente novos, mas também outros que já acusam algum cansaço. Está tudo explicado aqui, na página do blogue, mas também aqui, na página do facebook.
 
Todos os contactos que queiram fazer relativamente a este novo blogue devem ser enviados para o endereço moinhodevento.livrosusados@gmail.com ou em mensagem privada para a página do facebook que acima referi.
 
Estou ansiosa por encontrar-vos por lá. Por enquanto ainda está tudo a funcionar a meio gás, que o tempo não tem dado para tudo. Contudo, espero começar ainda hoje ou já amanhã a colocar títulos para venda, com as respectivas descrições e preços. Agradeço as visitas, mas também que vão espalhando a palavra. Se hoje é um blogue que nasce, amanhã pode ser muito mais que isso. Para tal, só preciso da vossa ajuda.
 
Sejam bem-vindos ao novo espaço. Vamo-nos encontrando por aqui e por lá.

Os dias do terror

Todos os meses existe um dia que considero ser "o dia do terror". Por vezes até existe mais do que um desses dias num único mês... Não, não é quando se gastam os últimos pós do ordenado e também não é quando começam os popularmente chamados "dias difíceis". Não: a coisa é muito mais assustadora. Trata-se do dia em que temos de ir ao supermercado para trazer para casa os produtos de higiene de que necessitamos.

Gel de banho, champô, máscara para amaciar este arame farpado, creme para desembaraçar e ser possível penteá-lo sem grandes dores, tampões, desodorizantes, pasta de dentes, uma nova escova de dentes que a antiga já estava transformada numa máquina de fazer cócegas a gengivas, elixir bucal, toalhitas desmaquilhantes, creme para as mãos, creme para os pés, acetona para as unhas, cotonetes para as melecas nos ouvidos... É um nunca mais saia daqui que, a brincar a brincar, consegue pôr num único saco de supermercados aquilo que um único dia de trabalho não consegue pagar. É duro.

Quando chega o dia de fazer estas compras, sinto um terror que nem vos digo. São coisas às quais não podemos fugir e dado o carácter tão, digamos, íntimo de algumas delas, convém não comprar a primeira porcaria barata que aparece pela frente. E portanto é ver a conta a subir. Muitos dos itens que enumerei custam, à unidade, perto de cinco euros ou até mais do que isso, no entanto vêm, não raras vezes, em embalagenzinhas tão pequeninas que nos perguntamos onde estará o resto. Tenho a sensação de que estas coisas são consideradas um luxo. A mim sempre me ensinaram que temos de escovar os dentes com uma boa pasta dentífrica se queremos vencer a luta contra as bichezas que nos infestam os dentes. Mas quando olho para a pasta de dentes que comprei na semana passada e que me custou quase, quase quatro euros pergunto-me se não estarei a armar-me em rica ao querer ter limpinhos estes dentitos feios que Deus me deu. E quando pago, como há uns dias, mais de cinco euros por um champô perfeitamente normal, pergunto-me se afinal o meu cabelo louro são finos fios de ouro de dezanove quilates a precisar de mimo. 

O que chateia é que nada disto é luxo, sendo apenas coisas a que não podemos fugir. Havia de ser bonito deixarmos de comprar pastas de dentes, champôs e sabonetes ou embalagens de gel de banho. Nessa altura, todas estas coisas passariam rapidamente a ser vistas como bens de primeira necessidade! Mas como não faremos essa experiência, continuaremos a pagar um preço exorbitante por coisas que talvez nem custem assim tanto a produzir. Continuaremos, portanto, a viver mensalmente um ou mais "dias do terror". É doloroso!

domingo, 22 de setembro de 2013

O Senhor Cinco Por Cento

 
Com o primeiro dos vales recebidos ontem, trouxe para casa esta biografia de Calouste Gulbenkian. Já procurava uma há algum tempo e agora, com o novo livro do José Rodrigues dos Santos a aparecer, este senhor volta a ser recordado. Por isso pude finalmente encontrar uma biografia dele. De Calouste Gulbenkian apenas sei que amava o nosso país e que nos deixou um legado valiosíssimo pelo qual devemos estar muito gratos. Espero ficar a saber mais umas coisas depois de ler este livro.
 
Nota: A imagem saiu daqui.
 

sábado, 21 de setembro de 2013

Outra vez a Quetzal

Ontem comprei o Público porque me interessava o que era dito no Ípsilon sobre J. D. Salinger. Dentro do jornal vinha uma agradável surpresa: um "mini-jornal" feito pela Bertrand (grupo a que pertence a editora Quetzal) com todo o primeiro capítulo do novo romance de Mario Vargas Llosa, O Herói Indiscreto. Achei fenomenal: uma coisa é ter acesso a um resuminho de meia dúzia de linhas ou, até, às primeiras duas ou três páginas do romance; outra é poder ler de uma assentada o primeiro capítulo inteiro. Ora, como este autor não deixa os seus crédito por mãos alheias, o primeiro capítulo lança desde logo o mote para o resto da história: situa-nos num lugar poeirento e muito quente, cheio de gente peculiar e interessante, onde coisas estranhas podem acontecer. Apresenta, também, a peripécia que nos conduzirá até ao final do livro, terminando o capítulo num momento de tensão que nos leva a querer ler mais para saber o que virá depois e o que fará o senhor Felícito Yanaqué, o herói discreto. 

Pareceu-me uma excelente forma de publicitar um livro. Eu li hoje o primeiro capítulo na cama porque tinha tempo para isso. Talvez muitos dos que compraram o Público tenham deitado fora tal oferta, mas é possível que outros, como eu, tenham parado para conhecer o transportista que recebe uma carta estranha numa manhã que parecia ser como todas as outras. E talvez, como aconteceu comigo, tenham sentido a enorme vontade de correr a uma livraria para trazer e devorar mais este livro da Quetzal. É que estou mesmo em pulgas para saber o que acontece ao senhor, depois de a adivinha da cidade o ter assustado com uma das suas "inspirações"! Vejamos quanto tempo resiste a minha curiosidade...



Nota: como bem se vê, a imagem da capa do livro saiu da página da Wook. A outra é uma fotografia do "folheto" que saiu com o Público de ontem.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Contentinha

Hoje o meu moço fez-me uma surpresa e ofereceu-me a caixinha com os quatro volumes dos diários do Miguel Torga. Já os tinha cortejado, por isso ele sabia bem que os queria e, como é um exemplar único no reino encantado dos namorados, hoje apareceu-me com eles e com uns quantos vales da Fnac (para aí a melhor coisa que me podem oferecer). Estou, portanto, à beira da loucura! Obrigada, fofo.



Que é isto????

Realmente, quando elogiamos uma coisa é que ela se estraga. Ó senhores da Apple, que iOs 7 é este?! É medonho! Até ontem à noite, antes da actualização, tinha um iPad e amava-o. Agora parece que tenho uma coisa desmaiadinha e para cegos, porque tudo me parece maior. Não gosto. Vou deixar o iPhone como está, com a versão antiga da coisa que gosto muito mais. Há mudanças que santo Deus...

Mandaram-me esta imagem e como não sei de onde vem, não posso citar a fonte, perdoem-me. Mas parece-me perfeita para a situação:


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A redoma

Conheci há algum tempo uma menina de dez anos que me tira do sério. Pequenina, muito franzina, sempre que fala fá-lo num fio de voz que mais parece uma lamúria. É tão fragil que chega a ser assustador. Mas o pior são os olhos. Os olhos, senhores! Sempre lacrimejantes, sempre prontos a desatar num pranto sem igual. É revoltante! Esta menina é filha única e a relação que os pais mantêm com ela assusta-me de morte. Sei que a mãe não se limita a deixá-la na escola: ela leva-a até ao cacifo e só sai quando já não pode mesmo manter-se dentro do edifício. No outro dia a menina esqueceu-se do boné em casa e desatou num pranto que a levava a repetir "vou ficar doente, vou ficar doente". O pai lá foi a casa para ir buscar o malfadado chapéu.

Sempre que esta criança, por qualquer motivo, se dirige a mim, parece-me que vem pronta a deixar um novo Tejo sair-lhe pelos olhos. Chora porque não gosta daquele pão, chora porque já está farta da sopa, chora porque não encontra o lápis, chora porque tem chichi (juro!!), chora porque não sabe onde deixou o casaco... Chora, chora, chora. Caramba!

É óbvio que acredito que haja muito da sua própria personalidade nestas atitudes, mas também ninguém me tira da cabeça que a redoma em que vive, com uns pais que a tratam como se ela fosse uma florzinha frágil a precisar dos cuidados de um batalhão de servos, faz com que ela seja o que aqui descrevi. É uma criança que tem tudo, mas que parece constantemente em sofrimento. Não é que assim esteja realmente, mas parece. Tenho receio de que no Inverno o vento a leve, ou que a chuva a encolha. Eu sei lá que receios tenho! Quando vejo aquela criança assusto-me pela fragilidade imensa que aparenta. Não consigo deixar de pensar que o amor que os pais lhe têm os cega para a realidade de que aquela criança precisa de mais espaço, de menos protecção em exagero, de mais autonomia e que não irá conseguir nada disso enquanto os pais não perceberem que assim não pode ser. Mas quanto sofrerá ela até lá?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Faltava-me este

Da Maria Filomena Mónica faltava-me este. Pois veio hoje comigo. Não sei se é a melhor biografia de Eça de Queirós (acredito que haja por aí uns académicos com umas mais perfeitinhas), mas depois de ler a que escreveu sobre o rei D. Pedro V, resolvi experimentar conhecer melhor a vida de um grande autor português através das palavras desta socióloga.
 
É mais um livro da Quetzal. Depois de quase transferir o catálogo da Cavalo de Ferro para as prateleiras cá de casa, parece que nos últimos meses fiz o mesmo com os livros da Quetzal. É uma editora de que gosto bastante, tanto pelos autores que publica, quanto pelas capas e pelas edições cuidadas que faz. Deve dar gosto trabalhar numa editora assim. Pelo menos dá gosto apreciar o resultado do que por lá se faz.


Nota: A imagem saiu da página da Wook e o livro custa 19.90€. Pelo que folheei pareceu-me bom, mas depois conto-vos como foi.

M-E-D-O

Terei ouvido bem? O livro Sei Lá, da Margarida Rebelo Pinto, vai ser adaptado para cinema? A sério? Assim de repente lembro-me de trezentos e setenta e três autores cujos livros já deviam ter passado ao grande ecrã há muito, mas dos quais, injustamente, ninguém se lembra.
 
Tralálá, menos um filme para eu ver, tralálá...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

As hormonas, essas más

Hoje, um aluno dos mais novos, em jeito muito sério, dizia a um colega de turma:

- E podes apanhar hormonas e hormonas é bué lixado...

Juro que até me encostei a uma parede para não cair para o lado de riso. 

domingo, 15 de setembro de 2013

Ai o feta...

O meu mais recente amor gastronómico leva-me a isto:


Ai o que eu amo queijo feta!...

Ser original

Na semana passada fui a Óbidos com o meu moço. Sabia que agora aquela vila é considerada "literária" devido às várias livrarias que por lá abriram (uma delas numa antiga igreja). Gostei do que vi e pelo que sei nem cheguei a ver as livrarias todas. 

Ora, a livraria Pedro e o Lobo (logo à entrada, depois de passarmos a muralha) é uma das que enriquecem Óbidos. É destinada ao público infantil e tem livros, jogos e brinquedos, sendo estes últimos as coisas mais fofinhas que já vi. Comprei lá um pequeno jogo que procura levar as crianças a utilizar a imaginação ao serviço da escrita e trouxe estes dois lápis de que gostei muito. E porquê? Pelas mensagens que trazem incluídas. Criar em vez de copiar é coisa que nem sempre é linear. Quem tem um blogue, por exemplo, sabe que muito facilmente poderá encontrar os conteúdos que criou noutros espaços, apropriados por alguém com uma terrível falta de imaginação. Mas não só: há quem copie livros, quem copie artigos científicos, quem copie teses... Quem copie de tudo, porque quem copia não tem limites nem escrúpulos. 

Mas o que faz referência à cópia é apenas um. O outro procura, com uma frase muito simples, incentivar a escrita. Numa época de comunicações rápidas, do passa a palavra velozmente, o simples acto de parar e escrever vai-se perdendo. Vivemos tanta coisa todos os dias, somos feitos de tantas histórias por contar que um dia acabarão por morrer connosco sem que tenhamos tido a hipótese ou a vontade de as deixar para outros. Escrever pode libertar-nos um pouco da "lei da morte" de que falava Camões. Nem todos seremos Saramagos ou Pessoas (com p grande, claro), mas escrever faz bem e, independentemente do resultado, pode ajudar-nos a ver melhor por onde andamos e o que queremos.

Se forem a Óbidos, visitem as várias livrarias que por lá abriram. Creio que em breve serão onze. Visitem, também, a Pedro e o Lobo e deixem-se regressar à infância enquanto estiverem por lá. 


Eureka!

Acabei de descobrir que o adaptador de corrente do iPhone e do iPad funcionam com o cabo de carregamento do Kindle, ou seja, acabou-se a seca de ter de ligar um computador propositadamente para carregar o senhor Kindle. Estou em êxtase!

Antes que considerem o Kindle uma grande estopada por só poder ser carregado numa porta USB, deixem-me explicar-vos que ele (pelo menos em 2010, quando mo ofereceram) trazia um adaptador para usar com o cabo. Contudo, este era adequado ao tipo de tomada usado no Reino Unido. Por isso cá nunca serviu. Hoje lembrei-me de experimentar com o adaptador do iPhone e, assim, tenho pela primeira vez em quase três anos o Kindle agarradinho a uma tomada. Oh alegria! Oh júbilo! Oh êxtase!

Bom domingo, caros quixoteiros!


Notinha: A imagem saiu daqui e corresponde aos adaptadores de corrente da Apple que se deram bem com o cabo do Kindle.

sábado, 14 de setembro de 2013

Feira da Ladra

Depois de passar semanas e semanas a ganir de saudades da Feira da Ladra, hoje foi, finalmente, dia de lá regressar. Fui comedida, que as férias foram há muito pouco tempo e as contas estão meio desequilibradas, mas trouxe de lá umas coisinhas. Trouxe, no que a livros velhos diz respeito, uma biografia das irmãs Brontë e uma da rainha Isabel I da Inglaterra. Trouxe ainda uma antologia de contos húngaros.
 
Quanto aos livros recentes, fui ainda mais contida. Por incrível que pareça nenhuma das novidades me encheu o olho e apenas comprei um livro que deixara ficar por lá na última visita, mas que me ficou entalado na memória. Foi o Gente do Passado, sobre o fim da aristocracia russa no século XX.

 
Depois, o meu moço, que é um amor por estas surpresas e por muito mais, ofereceu-me mais um livro de viagens. Desta feita, trouxe comigo o Sul, do Miguel Sousa Tavares. E fiquei hoje a saber que este livro faz parte das listas do PNL, por isso talvez ainda me dê muito jeito.
 
 
Hoje foi também (finalmente) dia de trazer para casa a edição de Setembro da revista Ler. Por ter mudado a sua imagem e por apresentar-se com uma cara nova pela primeira vez este mês, resolvi comprá-la em papel. Já a folheei e numa primeira olhadela parece-me mais tristonha, mais envelhecida. Vamos lá ver se esta opinião se mantém. Espero, pelo menos, que tenham desistido de partir textos ao meio, que era uma coisa que me deixava doente. Não tinha lógica partir uma entrevista em dois e mandar as últimas quatro ou cinco perguntas e respostas para o final da revista. Era, para mim, o único defeito que encontrava na revista.
 
 
Nota: As imagens dos dois livros saíram, como se vê, da página da Wook. A capa da revista Ler foi retirada daqui.



Fã da maçã trincada confessa-se

Ora bem, deixem-me lá dar a mão à palmatória e dizer que a Apple é do caraças. Eu, que sempre fui muito arredada dos telemóveis supermodernos e dos tablets (que nem percebia para o que serviam), acabei por converter-me numa fã dos aparelhos da maçã trincada, vulgo Apple.

Juro: quem experimenta aquilo já não quer outra coisa. Eu apregoava que jamais compraria outro telemóvel que não fosse da Samsung. Mentira: à primeira oportunidade rendi-me aos encantos da Apple e acho que tão cedo não quero mudar. Agora é que compreendo a loucura que se montava à volta do Steve Jobs a cada vez que vinha apresentar um produto novo. E também começo a compreender a corrida às lojas para comprar o último iPhone ou o mais recente iPad. Quem experimenta estes dois aparelhos fica fã. Facilitam-nos a vida, mas também proporcionam experiências extraordinárias pela infinidade de aplicações disponíveis.
 
E eu, que nem sequer gosto de maçãs, acabo por admitir: estou terrivelmente apaixonada pela Apple.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Trinta são muitos

Eu fui sempre a maior defensora da escola pública e sempre disse que, ainda que tivesse todo o dinheiro do mundo, nunca colocaria os meus filhos numa escola privada. Curiosamente, dizia-o ainda antes de dar aulas em instituições privadas. Porém, hoje começo a repensar esta minha grande certeza...
 
Fui sempre aluna da escola pública. Mais: fui aluna em escolas tidas como assustadoramente problemáticas. Quando digo onde estudei as pessoas falam logo em violência e em resultados baixos. Sim, até podem ser e ter sido escolas para lá de difíceis, mas a verdade é que considero que tive uma excelente formação nesses sítios. Cruzei-me com professores e auxiliares de grande qualidade, ainda que, naturalmente, também tenha tido o desprazer de ter docentes que me deixavam à beira de um ataque de nervos de tão maus que eram.
 
Contudo, sempre acreditei que a experiência numa escola pública ia muito além do ensino formal. Tive desde cedo consciência de que aquilo que vivia nos corredores e pátios de uma escola aberta a todos me proporcionava uma «bagagem» importante para o futuro. Hoje olho para os meus alunos e percebo que eles não vivem um terço daquilo que eu e os meus colegas viviamos, e que não são, de modo algum, tão autónomos quanto nós éramos, precisamente por causa do regime de protecção extrema em que vivem.
 
Tudo isto levou-me a ter sempre a escola pública em grande consideração. Ali aprende-se dentro e fora da sala e, por muito que tentem convencer-me do contrário, nunca saímos de uma escola privada com tanta noção da realidade como acontece com um estabelecimento de ensino público. Todavia, agora começo a achar que as coisas estão a alterar-se e a retirar à escola pública muita da sua qualidade. Quando ouço que existem turmas com trinta e cinco alunos ou que dentro da mesma turma estão alunos de quatro níveis diferentes ou mesmo quando sei que numa turma de trinta alunos, seis são jovens com necessidades educativas especiais até fico arrepiada. Mais ainda quando percebo que os pais não estão a fazer muito barulho com isto. A sensação com que fico, eu e outros docentes, é a de que se tudo isto fosse culpa dos professores, muito já se teria ouvido. Mas como não temos nada que ver com o aumento do número de alunos por turma, nem com a mistura de níveis dentro da mesma aula, nem uma mosca se ouve. A verdade, minha gente, é que ensinar vinte não é o mesmo que ensinar trinta. E estar numa turma com três dezenas de colegas quando seis deles precisam de muito acompanhamento é meio caminho andado para o insucesso. Por muito que nos tentem vender a ideia de que estas mudanças não alteram a qualidade do ensino, a verdade é que qualquer pessoa consegue perceber que estamos a falar de crianças e de jovens e que o meio onde estão inseridos para fazerem o seu processo de ensino-aprendizagem é da maior importância para que tudo corra pelo melhor. Eu andei em escolas complicadas, onde podiam dar-se grandes bulhas durante o intervalo. Ainda assim, nunca estive em turmas tão grandes e, dentro da sala de aula, as coisas iam correndo bem. Esperar que um único docente consiga controlar trinta e tal alunos dentro de uma sala é, no mínimo, risível. Mas mais risível mesmo é este silêncio perante tais coisas. Se fosse uma greve de professores, todos teriam o que opinar. Neste caso e perante tais monstruosidades, todos assobiam para o lado, levando alegremente os filhos para a escola. Não compreendo isto.
 
Se neste momento tivesse de escolher entre o privado e o público para colocar os meus filhos, talvez optasse pelo último precisamente por ser aquele que melhor mostra a realidade aos alunos, por ser aquele que, em meu entender, melhor desenvolve a inteligência emocional das crianças e dos jovens. No entanto, fá-lo-ia com um nó na garganta por saber que o meu filho seria um entre muitos que não poderão aprender tudo o que poderiam e deviam por causa das asneiras de quem só pensa em cortar nos gastos com a educação.
 

domingo, 8 de setembro de 2013

Mas que raio?...

Até me custa a crer que, às oito horas e vinte minutos da noite, o jornalista Nuno Luz esteja nas notícias da SIC a falar com um desenho animado. O Special One da série de desenhos animados do canal está, em boneco, a explicar como fazer de uma equipa medíocre um verdadeiro sucesso. No Jornal da Noite. Vinte minutos depois do seu início... Ou o mundo parou e não há notícias ou anda tudo completamente passado dos carretos. 


Adenda: E a notícia seguinte é sobre os desacatos e as detenções no Brasil. Que raio de alinhamento... 

Notinha: A imagem saiu daqui.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Velha

Há pouco passou um anúncio na televisão que dava conta de um espectáculo por ocasião do décimo quinto aniversário dos "Anjos". E eu, que ainda me lembro dos videoclips deles no canal de música Sol (algures por alturas do terramoto de 1755...), de ter corrido a comprar o seu primeiro CD quando andava no oitavo ano e de ter decorado todas as letras das músicas do mesmo pensei: "Chiça, já passaram quinze anos?"

Pois, diz que sim. E também diz que estou a ficar velha. 

(Suspiro)

Eu nem ia falar disto...

ATENÇÃO: A linguagem desta quixotada vai ser obscena.

Ora bem, eu não ia falar disto, mas depois li este texto e resolvi escrever duas ou três linhas sobre o assunto.
Pois parece que algumas deputadas do Bloco de Esquerda se lembraram de discutir a questão do «piropo». Admito que quando ouvi a notícia na televisão pela primeira vez não consegui deixar de rir um bocadinho, principalmente pelo inesperado da coisa. Porém, depois de pensar um bocadinho sobre o assunto, achei que talvez não fosse assim tão má ideia. Vai para aí muita javardice sobre o nosso corpo a sair da boca de desconhecidos e isso é, não me venham com merdas, incomodativo. Se há quem ache graça quando vem de um jeitoso, a verdade é que é tão nojento saído da boca de um Brad Pitt quanto de um homem-elefante.
A grande, grande maioria das reacções que já vi sobre isto resume-se a «por amor de Deus, há problemas mais sérios para resolver e nesses ninguém mexe». Pois por amor de Deus digo eu: existirem miúdas de doze, treze, catorze anos que têm de ouvir coisas como «comia-te essa c*** toda» ainda antes de terem entrado na escola não merece discussão? O facto de sermos constantemente brindadas com coisas como «martelava-te toda» ou «se te apanhasse comia-te à canzana» (sim, eu já ouvi isto na rua) é giro? É que se é então eu tenho o sentido de humor de uma centopeia porque, acreditem, quando um coxo-marreco teve a triste ideia de pronunciar a última frase perto da minha pessoa nos meus tempos de faculdade, ouviu uma resposta que o deve ter posto a coxear da outra perna e a entortar-se ainda mais.
Mas aquilo de que mais gosto é de ver que a maioria das pessoas que estão a dizer que há coisas mais importantes para resolver são MULHERES. Ou seja, os alvos preferenciais da javardice verbal alheia acham-se tão dignas de serem assediadas por tipos que acham que tudo podem que nem se importam. Podem irritar-se com tudo: desrespeito por filas, o aumento do preço do combustível, uma manicura mal feita, uma burocracia qualquer. Contudo, se um desconhecido lhes disser «és tão boa que te papava esse cuzinho todo» está tudo bem. São só palavras. Pois claro. E portanto têm sido, em boa parte, as visadas aquelas que mais força têm dado ao piropo. Para muitas já é coisa tão banal que pensar em tentar levar as pessoas a perceber que é assédio é pura perda de tempo. Tempo, recorde-se, que está a ser roubado às questões verdadeiramente importantes. Perdoem-me, mas ter um gajo desconhecido que me diz que me comia em determinada posição quando eu estou a passar para ir para o trabalho logo de manhãzinha parece-me uma questão importante. Desculpem lá o narcizismo, han.
Há uns tempos andava um tipo (com idade para ser mais que meu pai) a fazer a manutenção de um relvado aqui da zona. Ao lado tinha a carrinha da empresa estacionada. Quando eu passei lembrou-se de dizer uma pérola qualquer. Parei, olhei para o idiota e disse «Obrigado, estúpido. Como tens o número de telefone da empresa para a qual trabalhas escrito na carrinha, amanhã terás uma queixa na mesa do teu patrão.» Foi tão lindo ver aquele sorriso passar a um ar preocupado. Nos dias seguintes, sempre que passava por ele, baixava a cabecinha e nem abria a boca porca. Remédio santo. Todavia, nem sempre me apetece responder e nem tenho de andar sempre a puxar do dom da palavra para o gastar com ordinários. Não me conhecem, não falam. Simples. Mas quando existem mulheres que não se importam, que dizem que isto sempre existiu e que, portanto, não vale a pena falar nisso agora, que está na natureza masculina lançar piropos a uma mulher bonita, que há piropos que até são engraçados, que quem é a favor desta discussão sobre o piropo são as feiosas que nunca recebem nenhum, que o piropo é um elogio, bem, aí torna-se difícil. Se muitas aceitam isto como um mal menor, ou pior, como algo que nem mal chega a ser, as outras que, como eu, se incomodam têm também de comer e calar.
Se temos um rabo jeitoso, óptimo. Não precisamos que o javardo da esquina no-lo grite. Se temos um valente par de mamas, melhor ainda. Mas tendo em conta que ele deve existir há muitos anos (a menos que nos tenhamos rendido aos encantos do silicone na semana passada), já devemos ter conhecimento do mesmo e não necessitamos que um retardado o constate quando passamos numa rua movimentada. Se somos boas dos pés à cabeça, fantástico! Mas será mesmo necessário que um tipo que eu não conheço, de quem não sei nada e que não sabe nada sobre mim mo diga? E tenho de aguentar isso calada porque há fome no mundo, violência doméstica, uma crise financeira, animais em vias de extinção e uma alta taxa de insucesso escolar (a.k.a. «coisas mais importantes para discutir»)? Ora, o c******* é que tenho! Se gostam de piropos, peçam a um amigo para gravar meia dúzia deles e ponham-nos como toque de telemóvel. Pela minha parte apoio a discussão do assunto e se quiserem legislá-lo, tanto melhor. Talvez assim se calem algumas bocas porcas.

Notinha: Peço desculpa pela linguagem, mas há coisas que me tiram do sério e este pouco apreço que muitas mulheres têm pelo seu corpo e liberdade pessoal enquadram-se nesse domínio. Achei que assim conseguiria expressar de forma mais fiel o que penso sobre o assunto. Por vezes a linguagem imaculada não chega para «despejarmos o saco». Perdoem-me os leitores que não estão habituados a isto.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Excelente

A minha impressora morreu. E eu, que ingenuamente achava que ela estava na garantia, acabei de constatar que não está. Tinha comprado um tinteiro novo antes de ir de férias, ou seja, morreu dando despesa, que assim é muito mais giro. Grande p***.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Letras atrasadas

Tenho uma característica que me tira do sério, mas que não consigo mudar. É absolutamente de malucos, mas é com o que convivo e já nem vale a pena combater tal pancada. E de que falo eu? De um fenómeno tão estranho quanto isto: de tempos a tempos sinto vontade de comprar muitos jornais e revistas. A sério: vou a qualquer lado e passo imenso tempo diante dos esparates a namorar revistas internacionais de história e literatura, bem como jornais e respectivos suplementos. Namoro tudo e quero tudo, ao ponto de deixar o meu moço arto de espear pelas minhas decisões. Chego ao Verão e, como sei que tenho mais tempo livre, quero ler tudo e mais alguma coisa. Bem, até aqui a questão não é assim tão grave, dirão vocês. O problema é que compro jornais e revistas, sim, mas nunca, NUNCA, os consigo ler dentro do prazo. Imaginem que compro o Expresso ao sábado. Começo a ler o jornal nesse mesmo dia, mas, muito provavelmente, duas semanas depois ainda não terei lido o Atual nem a Revista. Imaginem que compro a Sábado à quinta-feira. Certamente ainda não terei terminado de a ler umas duas semanas depois. Basicamente consumo notícias passadas do prazo. Nem sei como consegui ler todo o Courrier Internacional de Agosto ainda em Agosto.

Já me aconteceu estar a ler a revista Ler com um mês de atraso e ver pequenas notícias sobre espectáculos ou apresentações que até me parecem interessantes e depois perceber que "ups, já passou". É tão ridículo...

Mas, enfim, o que me vale é que estes atrasos com as revistas de História não transtornam muito. Em primeiro lugar porque geralmente, como são de outros países, já cá chegam na versão em papel com um certo atraso. Em segundo lugar porque História é História e convenhamos que não se altera assim tanto quanto isso. Quanto às restantes publicações, olhem... É bem feita que ninguém me manda ser totó.


Nota: A imagem saiu daqui.