sábado, 12 de novembro de 2011

Fantasia


«[...] teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó»

                                  José Agostinho Baptista


Descendo a rua apinhada não deixo de reparar em rostos que me recordam de ti. Que fazer? Cair desamparada na ânsia de que surjas do nada e me dês a mão, talvez, ou sufocar um grito já antigo que pede para sair todos os dias, a todas as horas? Sei que nada posso, pois os rostos são apenas memórias de qualquer coisa que não houve realmente e nenhum deles é o teu. São misturas de sonhos que terão existido, mas que acabarei por esquecer. Teria sido fogo se assim o quisesses. Teria sido ouro se o sol não se tivesse apagado às tuas próprias mãos. Hoje é pó. Daquele que se cola à pele e que fica agarrado ao nosso ser anos a fio. E agora reconheço que és tão-somente isto: o pó que ainda se levanta na estrada quando recordo a tua partida.

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