terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A Menina Quer Isto XLIV


A menina viu o Professor Marcelo no outro dia e ele falou deste livro. Pobre de mim que não posso ver nada! Ora, já li umas coisas deste autor português e fiquei muitíssimo curiosa relativamente à sua biografia. Porem, os mais de quarenta euros que custa fazem uma pobre como eu fugir a sete pés. Longe vão os tempos em que comprava muitos livros. Agora, além de ter de considerar que já tenho bastantes (apercebi-me disso quando tive de os arrumar nas novas estantes), ainda tenho de considerar as outras contas que vão aparecendo. Mas vá, fica a vontade. Sonhar não custa, não é?

Nota: A imagem da capa saiu daqui.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Novos Programas

Pois parece que vêm aí novos programas para o Ensino Secundário na disciplina de Português. Confesso que tive meia paragem cardíaca quando ouvi dizer que queriam trocar o Memorial do Convento por O Ano da Morte de Ricardo Reis ou pela História do Cerco de Lisboa, também de José Saramago. A apoplexia que quase tive deveu-se ao facto de saber que os alunos do décimo segundo ano, passado o susto inicial, acabam por gostar da obra sobre a construção do convento e sobre um peculiar casal que consegue voar por força das vontades que recolhe. Não é que os outros dois romances de Saramago não sejam bons, nada disso. Mas parece-me que quando metade do programa do último ano do secundário é sobre Fernando Pessoa, incluir também um romance que remete para ele parece-me exagerado. Sempre que leccionei o décimo segundo ano, os alunos mostraram desagrado pelo facto de andarem a estudar Pessoa quase até Março. E, em meu entender, com razão. Fernando Pessoa é incontornável, mas há mais vida literária além dele.
 
Quanto à História do Cerco de Lisboa, que já li, parece-me um livro que coloca uma questão extraordinária: a do famoso «e se...?». No caso, o que aconteceria à nossa História se a uma determinada afirmação acrescentássemos um «não»? Todo o livro é fabuloso, mas, perdoem-me, não é o Memorial. Não tem uma série de elementos que existem no Memorial do Convento e que atraem os alunos para a leitura. É verdade que se se pode visitar o convento retratado na obra, também se podem visitar as zonas da cidade de Lisboa evocadas na História do Cerco de Lisboa. Porém, são romances muito diferentes que, quando lidos por gosto, são deliciosos. Porém, no que às leituras escolares diz respeito e considerando a maturidade dos alunos do décimo segundo ano, o Memorial do Convento leva vantagem pelas muitas temáticas abordadas, pelo elemento «sobrenatural» que nele aparece, pelo contraste entre um casal apaixonado e um casal real vergado pelo peso do protocolo.
 
Relativamente às outras mudanças previstas para o programa e apesar das muitas críticas negativas que tem recebido parece-me bem. É verdade que há pormenores que não conheço e também é verdade que a inclusão de muitos novos autores pode ser complicada na medida em que um ano lectivo (numa disciplina que trabalha leitura, escrita, oralidade e gramática) é muito curto. Contudo, penso que estas alterações (o regresso de Fernão Lopes, das cantigas de amigo, de Gil Vicente, de Camilo, entre outros) é o reparar de um erro realizado há vários anos quando se eliminou o Português A e o Português B, criando apenas a disciplina de Português e reduzindo consideravelmente o número de obras a estudar. Os alunos liam muita coisa desinteressante (até os regulamentos do «Big Brother» chegaram a aparecer em manuais da disciplina), estudavam muita gramática, escreviam actas, relatórios e contratos, mas não conheciam os nossos autores. Meia dúzia deles em três anos de ensino secundário e nem sequer por uma ordem que fizesse algum sentido. Parece-me que estes novos programas procurarão emendar esse erro que prejudicou os muitos alunos que os estudaram nos últimos anos. Na escola não cabe tudo, mas cabe-lhe apresentar aos seus estudantes os nossos maiores autores para que, no futuro, possam por si mesmos decidir se querem continuar a lê-los e a conhecer outros ou se, por outro lado, querem pousar os livros e dedicar-se a outras vidas. A disciplina de Português pode perfeitamente preparar os alunos para aspectos práticos como a realização de actas ou de relatórios sem que isso signifique descurar a leitura dos que melhor escreveram. Vejamos no que isto dá e se não vêm de lá surpresas que estraguem este regresso de muitos escritores nacionais ao programa de Português no ensino secundário.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Somos burros

As imagens da tortura na Síria são a prova de que o ser humano não aprende nada com a História. Temos o passado que temos, devíamos sentir-nos embaraçados para a eternidade com o que já fomos capazes de fazer a outros seres humanos, no entanto repetimos constantemente as mesmas asneiras. Somos burros, somos maus, somos uma vergonha para os animais que, sendo chamados de irracionais, não fazem o que nós fazemos a outros como nós. Temos no nosso passado a pesada palavra «holocausto», contudo parece que é o mais doce dos vocábulos, de tão pouco que aprendemos com o que ele significa. Morreram milhões de pessoas, torturaram-se tantas mais e em nome de quê? E agora, vamos continuar a esquecer o que sabemos sobre o passado e persistir na tortura de seres humanos? Vamos permitir que se matem outros homens e mulheres à fome e não só apenas porque um homem assim decide? Parece que vamos.
 
Caramba, como somos burros. Já não há esperança para nós.

Os nove milhões

Portanto, a ver se eu entendo: há quem ache que dar menos bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento faz sentido, mas que gastar nove milhões de euros num referendo que podia perfeitamente não existir se quem nos representa decidisse de uma vez a questão é muitíssimo pertinente e algo a considerar. Portanto, para o desenvolvimento das ciências e das humanidades (sobretudo para essas) o dinheiro não chega e não tem de chegar, mas para se fazer uma ramboia que mais não é do que empurrar um assunto sério com a barriga o dinheiro já sobra?
 
Minha gente, tomai juízo e arranjem coragem para dizer «sim» à adopção e à co-adopção homossexual. Deixem-se de coisas: podem perguntar ao país e rezar para que o «não» vença, até porque, num país conservador como o nosso, isso é o mais provável; mas o ideal era que pensassem nas crianças e vissem que entre não ter família nenhuma e ter pais homossexuais, a questão nem se coloca. Evitem gastar desnecessariamente nove milhões só para não serem vocês a decidir uma coisa que vos custa a decidir. O dinheiro faz muita falta num país onde a manta já está tão curta que não tapa nem a cabeça nem os pés. Poupem o nosso dinheiro e percebam que as famílias de hoje já não são as de há cem anos, mas que isso nada tem de mal. Ou então, façam o referendo aos miúdos institucionalizados ou aos que vêem a possibilidade de perderem um dos pais por inexistência de co-adopção homossexual: tenho a certeza de que os principais interessados nos elucidariam muitíssimo bem.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Monsieur le chat: primeiro balanço

Amanhã o gatito comemora o seu primeiro mês cá em casa. Fui buscá-lo no dia dezanove de Dezembro e foi uma espécie de presente de Natal para nós. No mesmo dia tive de lhe comprar o enxoval todo e, quando parei para fazer as contas à coisa, fiquei meio tonta.
 
No entanto, ele lá veio. Metido no seu saquinho de viagem, sobrava saco para tão pouco gato. Miou o caminho todo e cheguei a ter pena do taxista que nos fez atravessar Lisboa no meio de chuva e de um trânsito para lá de caótico. O outro dono desesperava num jantar de Natal que nunca mais terminava e que não o deixava vir conhecer o novo amigo. À chegada a casa, o bichano, que mais não era do que um tufinho de pelo meio longo e espetadinho, entendeu que o melhor em casa estranha era seguir para todo o lado a única coisa que se mexesse: eu. Fiz-lhe a cama num cesto de pão sem uso (não lhe encontrara melhor cama nesse dia), com uma mantinha enrolada e por lá adormeceu no meu colo. Contrariamente ao que esperava, não chorou durante a noite. Habituou-se muito depressa a tudo e em cinco minutos a casa já era toda dele. Não teve nome durante uns dois dias porque não conseguíamos chegar a acordo. Enfim, lá decidimos, mas ele continua a não querer saber do nome que tem para nada.
 
Começou logo a comer e a ir à areia. Não foi preciso ensinar-lhe nada, contudo ainda hoje lhe custa a dormir sozinho noutra divisão. Connosco é que não pode dormir, pois esta bola de pelo comprido não sabe o que é estender-se aos pés da cama: é em cima de pescoços e peitos que ele se sente bem. Na realidade, é em cima do meu peito que dorme agora, enquanto escrevo deitada esta quixotada.
 
Descobriu hoje que adora ser escovado, o que me deixa muito contente, já que terá de ser escovado muitíssimas vezes devido ao pelo longo que tem. De raça Bosques da Noruega, este bicho é um pequeno «cão» que nos segue para todo o lado e que quer que estejamos sempre a tocar-lhe ou a brincar com ele. É tão cão que até apanha e traz os brinquedos que atiramos depois de ele no-los deixar aos pés, pedindo brincadeira.
 
Enfim, num mês já engordou e cresceu bastante. Aliás, tanto que noto a diferença de dia para dia. Esta semana cresceu-lhe mais pelo nas orelhas e começa já a notar-se algum pelo mais comprido no meio do de bebé. Quando entramos em casa, ele está no tapete da entrada pronto para deitar-se de barriga para o ar em jeito de boas vindas. Só faz isso com os donos, ainda que se dê bem com outras pessoas. Barriguinha mesmo, só para quem o atura todos os dias. Sim, porque este pequeno louco morde, arranha, salta, corre, atropela e trepa para onde não deve, mesmo que lhe digamos «Não» sete mil e oitocentas vezes por dia. Deixa-me louca quando entra em divisões onde não deve e de onde só sai com o som de um guizo. Põe-me à beira de um ataque de nervos quando arranha alguma coisa ou quando sobe para cima da mesa da sala ou da cozinha (estejamos ou não a comer...). No entanto, passado um mês, descobri que sou muito mais feliz com este peludo. Os três fazemos uma excelente equipa. É muito relaxante tê-lo no colo e escová-lo ou, simplesmente, coçar-lhe as orelhas até começar a fazer-se ouvir o «purr purr» de um gatinho feliz. Um mês de convivência depois, acho que esta casa está muito mais completa com este novo habitante. Nós gostamos muito dele e, pelo purr purr que vou ouvindo agora, acho que ele também gosta muito de nós.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Abusos

Há alguns dias resolvi colocar no meu Facebook uma fotografia do meu gatito, que tem dois meses e meio. Tirei-lhe uma foto, escrevi uma mensagem e publiquei-a no meu mural. Recebi «gostos», «comentários» e até aí tudo bem. Porém, no dia seguinte, verifiquei que outra pessoa, numa daquelas ocasiões que alguns adoram e em que põem fotos de animais fofinhos nos seus murais acompanhadas de um smile, publicou a foto do meu gato sem qualquer referência a mim. Essa pessoa estava na minha lista de amigos, embora não nos conhecêssemos directamente. Adicionei-o por alturas do Farmville, quando ter «vizinhos» que jogassem aquilo ajudava a progredir no jogo. Além disso, era sugestão de alguém que conhecia e, parva, passei a tê-lo como amigo no Facebook.
 
Ora, como ia dizendo, essa figura tende a colocar muitas fotografias de animais catitas no Facebook, mas, sinceramente, nunca me ocorreu pensar muito sobre o modo como obtinha as imagens. Pois, agora já sei como o faz. A foto que eu publicara no dia anterior apareceu, parecia que do nada, no mural dele, acompanhada do referido smile, mas sem qualquer referência ao local de onde havia saído ou mesmo um pedido para o uso da foto.
 
Perante aquilo que me pareceu logo um abuso, resolvi fazer um comentário inocente, a ver se a pessoa percebia que estava a esticar demasiado a corda. Disse então «Olha o meu gato!». E sabem o que me respondeu a pessoa em questão? Num tom de graça, qualquer coisa como «Prova-o.». O meu pensamento imediato foi «Quer dizer, rapinas a foto e ainda tenho de o provar. Queres mais fotos, é?», mas respondi qualquer coisa como «Publiquei essa foto no meu mural ontem, está lá.». E o tipo diz-me que isso não quer dizer nada, que ele também já tinha a foto no dele e que também podia dizer que o gato lhe pertencia. Resolvi terminar a conversa dizendo «Pois, mas esse é o meu gato no meu sofá da sala.». De seguida, bloqueei-o no meu Facebook.
 
Detesto abusos, embora perceba que a culpa foi minha. Na altura em que aceitei aquela pessoa, não queria o Facebook para mais nada que não o jogo. Depois, passados muitos meses, mudei o meu nome, coloquei algumas fotos e comecei a torná-lo mais pessoal. Nesse momento devia ter eliminado quem não conhecia verdadeiramente, mas fui deixando ficar. Também é verdade que é apenas a foto de um gato, mas não é isso o que me enerva: é o abuso que constitui esta atitude. Aquela pessoa viu uma foto que se enquadrava no que gosta de publicar, surripiou-a e publicou-a novamente como se esta tivesse vindo do nada. Até podia ter partilhado a minha publicação que eu não me importaria, contudo preferiu apropriar-se de uma imagem minha e usá-la como se tivesse pura e simplesmente aparecido sabe-se lá de onde. E, pior, depois de um comentário meu, preferiu argumentar que eu é que podia estar a inventar dizendo que o gato era meu. Brincadeira ou não, meteu nojo e foi o suficiente para lembrar-me de que não conheço aquela pessoa de lado nenhum.
 
O gato está bem e recomenda-se, dormindo aninhadinho no meu colo. A pessoa em causa sumiu do meu Facebook e espero que o perceba rapidamente. Isto, por seu lado, fez-me pensar noutra coisa: se numa rede social se apropriam da foto de um gatito, o que não farão com outras fotos, mesmo as de crianças que os pais colocam nos seus murais por orgulho e sem maldade? Uma coisa é certa: tão cedo não aparecerá outra foto daquelas no meu Facebook. Geralmente não coloco fotos minhas e agora já nem do gato. Vivemos mesmo num «mundo cão»...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As estimativas

Desde que me mudei, recebi duas contas da luz e ambas geraram longas conversas telefónicas com o serviço de Apoio ao Cliente da empresa. E porquê?
 
Quando chegou a primeira conta, que abrangia o primeiro mês de vida cá em casa e, assim, uma série de dias em que ainda não nos tínhamos mudado definitivamente, mas em que já por cá passávamos umas horas, tive um ataque cardíaco. A conta rondava os sessenta euros e explicava-me que havia consumido mais de duzentos kWh. Depois do choque inicial, fui até ao contador e percebi que havia gasto uns míseros cinquenta kWh. Liguei para lá, pedi a correção da factura e, na volta do correio, a queridinha baixou para menos de metade.
 
Há uns três dias chegou nova factura e lá tenho eu nova conta a bater nos cinquenta euros e a estimar-me um gasto de mais de duzentos e vinte kWh. Regresso ao contador e verifico que, na realidade, consumi novamente cinquenta e poucos kWh. Nova chamada para a empresa e nova correção da factura. A conversa foi, diga-se, surreal e incluiu-me a garantir à senhora que passaria a deixar as luzes todas ligadas de modo a justificar os consumos astronómicos que me atribuem todos os meses. Agora estou a aguardar a factura corrigida para ver o que vem de lá. Prometida está uma chamada semanal para dar as minhas contagens de modo a evitar as estimativas absurdas que de lá têm vindo.
 
A empresa explicou-me que o problema deve-se à potência contratada que, não sendo pouca, faz com que as estimativas sejam elevadas. A mim não deixa de fazer-me confusão que a estimativa seja o quádruplo daquilo que consumo efectivamente. Que fosse um pouco mais alta do que aquilo que gastamos, até percebia, mas quatro vezes mais parece-me realmente absurdo. Mais: não dei a contagem nesta segunda vez porque a funcionária que me cancelou a primeira factura disse que, estando eu a ligar ao dia onze de Dezembro, a melhor altura para dar a próxima contagem seria um mês depois. Estava eu à espera do dia onze e pimba: vem de lá uma segunda factura igualmente má. Agora estou expectante para saber em quanto tentarão roubar-me no próximo mês. Sim, porque acredito que muita gente pague as facturas sem ir ao contador para ver se está a pagar o que efectivamente consumiu. E então com os débitos directos deve ser uma verdadeira animação.
 
Estou, portanto, deliciada com estas estimativas e com este modo de cobrar sem saber quanto a pessoa gastou ao certo. Surgiu-me a ideia de pedir o meu salário por estimativa, mas tenho quase a certeza de que com a sorte que tenho vinha de lá um ordenado equivalente a um sexto do que ganho agora.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Do degredo

Sobre a canção do Canuco com a Bernardina, uma ex-concorrente da Casa dos Segredos, só me ocorre dizer o seguinte: se quando saem cá para fora é isto que fazem, por favor deixem-nas ficar eternamente lá dentro.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Mais livrinhos

Com o vale que recebi no Natal e com mais uns pozinhos, trouxe um saquinho bem composto da Fnac. Já não me lembrava de trazer tanta coisinha boa comigo e soube-me pela vida, já que nos últimos tempos só pago contas e comida. Ora, cá ficam as minhas novidadezitas. Que bem que me vão saber.

 
 
 
 
 
 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Feliz ano novo agora no blogue certo

(Por lapso, esta quixotada foi publicada no meu outro blogue e só hoje dei conta do erro. Enfim, as pessoas que compram os meus livros usados devem ter adorado...)

E eis que chegámos ao novo ano. Claro que isso já aconteceu há três dias, porém ando com uma preguiça tão grande que passo os dias a pensar "Tenho de ir ali escrever uma quixotada", mas depois deito-me no sofá e por lá fico em modo jibóia. Apesar disso, parece-me que ainda não é tarde para desejar-vos um feliz ano de 2014, cheio de tudo aquilo que vale a pena.

A primeira palavra que disse este ano foi "Acabou!". Se é verdade que muito mudou para mim em 2013, também devo dizer que nem tudo mudou para melhor. Comecei o ano a perder a minha avó e isso marcará para sempre o ano que terminou. Em suma, embora tenha conseguido realizar um sonho, 2013 ficará como sendo o ano em que a minha família perdeu uma referência, alguém que era, no fundo, a cola que ainda nos ia unindo a todos. A casa da avó já não é a casa da avó, ainda que custe a crer que ela já lá não esteja e já lá não volte. Já não se telefona à avó aos domingos e, acreditem, isso foi o que mais confusão me fez ao longo do ano. Costumava perguntar à minha mãe: "Já ligaste à avó?". Quantas vezes me segurei quando ia dizê-lo por lembrar-me repentinamente de que essa pergunta já não fazia sentido. E na véspera de Natal o meu pai, que percebe muito de telemóveis, pediu-me para apagar da agenda dele uma boa meia dúzia de números de que já não precisava. Ora, um deles era precisamente o da minha avó. Portanto ali estava eu, exactamente um ano depois de a ter ouvido pela última vez (quando me disse que só queria voltar a ter saúde e mais nada) a apagar o número dela porque, do outro lado, já ninguém atenderia. A avó Céu ficou em 2013 porque assim teve de ser. Ou porque adoeceu e porque, como de costume neste país, levou um ano ou mais até que começasse a ser tratada. Vou perguntar-me sempre se teria sido diferente caso a saúde funcionasse melhor e não tratasse os nossos idosos doentes como escumalha que não vale a pena tratar. Mas de que me vale isso? A minha avó ficou em 2013 e deixou de dar despesa ao país. Melhor ainda: depois de ela falecer, apareceu uma conta de IRS para ela pagar. Enfim... 

Por tudo isto, fico contente por já não estar em 2013. Não sei se acredito que 2014 vá ser melhor, mais simples ou mais fácil. Aliás, tenho medo do que aí possa vir. Contudo, resta-me esperar para ver, sabendo que uma parte da minha vida ficou no ano passado: perdi uma avó e deixei a casa dos meus pais. Mudou muita coisa e eu aqui estou, sem grandes expectativas, mas desejando um ano melhor e inequivocamente mais feliz. 

Bom ano novo, malta!