sábado, 31 de outubro de 2015

Estou curada, mas...

Em tempos já sofri de um monumental vício por sapatos, chegando a ter várias dezenas de pares de botas, sapatos, sandálias e, até, ténis. Acabei por conseguir curar essa tara e uma das formas de solucionar o problema passou por evitar entrar em sapatarias ou outras lojas que vendessem calçado. Acabei por ir perdendo o interesse e cheguei ao ponto de não saber o que calçar, por já não ter tantas sabrinas, botas e sapatos como antes. Considerei-me, portanto, curada e até de mais.

Há umas duas semanas constatei que estava sem botas rasteiras e que isto de andar de saltos todos os dias é coisa para destruir as costas de uma pessoa em três tempos. Mais ainda quando boa parte do seu trabalho é feita de pé e quando, diariamente, uma mala cheia de cadernos e livros é carregada de um lado para o outro. Assim, lá entrei eu numa loja Guimarães para substituir as botas rasteiras que, no ano passado, deitei fora em muito mau estado.

Bom, meus caros, resumindo a história: no dia em que lá entrei, comprei dois pares de botas. Umas eram realmente rasteiras e cumpriam os requisitos. Outras tinham um pouco de salto, mas o cano era alto e eram ideais para calçar com saia... Não pude evitar. Mas, além destas, outras ficaram debaixo de olho. Bem tentei evitar, mas vá: foi mais forte que eu. Hoje regressei ao Guimarães e... Pumbas: mais dois pares de botas rasteiras. Umas impermeáveis e outras mais giras que vieram não porque fizessem falta, mas porque eram estupidamente bonitas. 

Ainda me considero curada, porque só comprei coisas que vou mesmo calçar e noutros tempos comprava tudo, fosse capaz de andar em cima de tal calçado ou não: desde que fosse bonito e me enchesse o olho, ia para casa comigo. Todavia, tão cedo não entro numa loja Guimarães. Pelo menos enquanto não chegar o calçado para a Primavera. É que assim não dá: quatro pares de botas em duas semanas, nem que fosse uma centopeia!

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Ligeiras diferenças

A minha gata, tendo sido esterilizada, precisou hoje de tomar dois comprimidos ao mesmo tempo. O dono pôs um pouco de malte no dedo, espetou com os comprimidos lá no meio e a tipinha devorou aquilo sem se queixar. Acho até que se deu ao luxo de mastigar um deles e mesmo assim não deitou nada fora.

Perante isto, olhei para o Sr. Gato, recordei este episódio, e disse “Meu ordinário, por que não és tu assim?!”. 

Ele virou-me a cauda e retirou-se, lenta e provocadoramente.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Regressão felina

A minha mai'nova foi deixada ontem ao final do dia na clínica veterinária para ser esterilizada. Consequência óbvia foi que o Sr. Gato ficou sem a sua amiguita peluda para as brincadeiras do costume. Foi por isso que na noite que passou e esta manhã vivi com o gatarrão uma espécie de filme de ficção científica que consistiu numa interessante viagem de regresso ao passado. Como? Eu explico. 

O Sr. Gato foi, desde que chegou lá a casa com dois pequenitos meses de existência, sempre muito parecido com um cão no que ao comportamento diz respeito. Li em vários sítios que era mesmo assim, era próprio daquela raça, eram muito amistosos e ligados aos seus humanos, seleccionando um dos donos e seguindo-o para todo o lado. Ele era assim: seguia-me para todo o lado. Podia até estar em sono profundo ao meu lado, mas se eu mudasse de divisão ele acordava e ia atrás. De manhã acordava e ia para cima do meu peito (coisa que quando ele começou a ter mais de quatro quilos se tornou estranha...) para ronronar e dar marradinhas que eram verdadeiras intimações para lhe fazer festinhas. Era um gatarrão enorme, mas era um bebé a precisar de atenção humana constante. Nem parecia um gato, ainda que fosse (e é) para lá de adorável. 

Depois, há quatro meses, a Lady Gata mudou-se lá para casa e ele passou a ser, de facto, um gato. Deixou de estar fundido com os donos para passar a assumir o papel de protector daquela peluda mais pequenita. Dormem juntos, lambem-se, partilham a comida (e com isso enlouquecem-me porque era suposto ela não comer a comida dele)... Ele já nem faz questão de dormir comigo! Há quatro meses que ele, que já era feliz e muito mimado, rebenta pelas costuras de contentamento por ter "uma das suas" a fazer-lhe companhia. Eu já não sou a sua companhia de eleição: eu sou "aquela tipa que dá comida e, ultrage, tenta escovar o pelo"!

Na noite passada ele foi exactamente igual ao que era antes de ter a gatinha. Dormiu comigo e ainda antes de soar o meu despertador, já ele estava deitado em cima do meu peito a ronronar e pedir festinhas, dando marradinhas e roçando o focinho na minha cara. Esteve naquilo uns quinze minutos. Depois, enquanto me preparava, seguiu-me para todo o lado e miou quando fechei uma porta. Era o gato antigo de volta!

Portanto, depois deste filme de regressão felina, posso ficar feliz porque afinal o peludo não deixou de gostar de
mim: apenas se limitou a arranjar uma companhia à sua medida, que lhe lambe as orelhas e lhe faz massagens. Hoje à noite a menina regressa e eu voltarei a reduzir-me ao meu papel de gaja que traz o pitéu. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Espargos?!

Meus queridos, a Telepizza tem algumas pizzas muito boas, como a pizza de Lasanha ou a pizza Burguer. Porém, esta pizza Preciozza (na foto que saiu daqui), na minha modesta opinião, é peculiar, para dizer o mínimo. Estranha, mas estranha. Esta ideia dos espargos na pizza é demasiado estranha para o meu palato, habituado a coisinhas mais convencionais e menos amargas.

Senhores da Telepizza, admiro-vos por serem capazes de inventar pizzas de tudo e mais alguma coisa, mas há combinações que não funcionam e esta Preciozza é uma delas. Já a Burguer... Ai a Burguer... Essa sugiro e muito!


domingo, 25 de outubro de 2015

Descongelar tudo

De tantas coisas que inventam e que pretendem inventar, será que ainda ninguém se lembrou de inventar um frigorífico com congelador que não precisasse de ser descongelado de tempos a tempos? É que é coisa para pôr a casa num virote! Em primeiro lugar porque esvaziar todo o congelador é o inferno. Até é fácil acabar a carne e o peixe, mas e as outras coisas que sempre estão por lá e que parecem pragas que não acabam (ervilhas, macedónias de legumes, salsa congelada...). Em segundo, porque há sempre coisas no frigorífico (iogurtes, maioneses, manteigas...) que precisam de frio e que ficam desalojadas temporariamente. Depois ainda vem a água que sempre escorre para o chão e que ensopa tudo, deixando uma boa dose de toalhas a precisar de tratamento... em dia de chuva, o que é espectacular, sem dúvida.

Este fim-de-semana foi dia de proceder ao maldito descongelamento e limpeza do desgraçado do frigorífico e, meus caros, espero que ainda demore até ter de voltar a tais vidas que aquilo é infernal!

sábado, 24 de outubro de 2015

Eu sou velha o suficiente para... IV

Quando eu era pequenita, a televisão era um caixote enorme com vários botõezitos para apenas dois canais. Sim, ainda sou do tempo em que ou víamos a RTP1 ou víamos a RTP2. Se não quiséssemos assistir a nenhum dos dois, não víamos nada. Também me lembro de que não existia telecomando, pelo que mudar o canal (e, sim, mesmo com dois canais os pais gostavam de mudar de canal) consistia num eterno “senta/levanta”, geralmente protagonizado pelos mais novos. A mim calhava-me muitas vezes essa tarefa.

Também ainda sou do tempo dos programas especiais de desenhos animados durante a tarde, apresentados por pessoas que parecem ter desaparecido dos ecrãs, mas não das memórias dos miúdos daquela altura. Quem não se lembra da Vera Roquete ou do José Jorge Duarte, vulgarmente conhecido por Lecas? É que os desenhos animados eram bons e chegavam-nos pelas mãos destas pessoas, não eram apenas despejados na programação. São dessa altura ícones como Bocas, A Ana dos Cabelos Ruivos, Tom Sawyer, Sindbad, o Marinheiro, entre outros. Não vinham em HD nem em digital, mas eram maravilhosos (a prova é a de que muitos deles ainda hoje são conhecidos e saudosamente recordados). 

Com o tempo lá chegámos aos quatro canais nacionais. Mais desenhos animados, mais caras novas, mais zapping e, portanto, mais “senta/levanta” protagonizado pelos mais jovens da família. Sim, sou velha o suficiente para lembrar-me de que os “Jogos Sem Fronteiras” eram o delírio nacional no período do verão. Os jogos eram delirantes e a vista daquelas piscinas em tempo quente era muito relaxante.E também sou tão velha que me lembro de que era normal, normalíssimo, haver apenas uma televisão por casa. Só mais tarde, já na década de noventa e não nos seus primeiros anos, começaram a chegar novos aparelhos às casas portuguesas, sobretudo, parece-me, aos quartos dos pais e às cozinhas.

Mas agora esta é uma memória longínqua. As televisões são enormes, mas fininhas. Não raras vezes temo-las e acabamos a comprar umas colunas extra (de nome estrangeiro e pomposo) porque queremos uma qualidade de som superior. O tempo dos dois canais cuja emissão encerrava cedo e onde diariamente um boneco (que mudava de tempos a tempos) mandava os mais novos para a cama parece coisa de há muitos séculos. No entanto eu, que roço os trinta anos, lembro-me desse tempo e quase lhe tenho saudades quando me vejo de comando na mão a correr perto de duzentos canais para conseguir descobrir o que vou ver afinal. Chego ao fim da lista e nada encontro que mereça o meu tempo. Por vezes desisto amaldiçoando os malditos duzentos canais que todos juntos não chegam a fazer uma RTP1 dos anos oitenta e inícios de noventa. Noutras vezes, já passou tanto tempo desde que comecei a correr os canais que outros programas já tiveram tempo de terminar e de dar lugar a um melhor.

E os comandos, senhores! Se para mim permanecem um mistério todos os pequenos botões que a velha televisão tinha se apenas havia dois canais, não menos misteriosa é esta nossa necessidade de ter comandos para tudo. Ao meu lado, neste momento e apenas relativamente a um espaço de pouco mais de dois metros quadrados, estão o comando da televisão (que apenas serve para ligá-la, desligá-la e configurar qualquer coisa nela), o comando da box da NOS, o comando do leitor de DVD e o comando das colunas. Às vezes, quando alguém me pede “Sobe aí o som depressa!” porque quer ouvir algo em particular, transformo-me naquela deusa que tem não sei quantos braços, mas a minha versão é a da pessoa que enrola os braços todos e que pega sempre na coisa errada perante a estupefacção do desgraçado que só queria ouvir melhor determinada informação.

E já agora, falemos do número de televisões. Nós, os putos dos idos de oitenta e inícios de noventa, sabíamos que a coisa funcionava assim: o pai vê o que quer, a mãe vê quando o pai não quer ver nada e a nós sobram-nos os momentos em que nenhum pode ou quer ver televisão. Era premissa aceite, ainda que enraivecesse um pouco. A vida levava-se nestes moldes e o resultado era que ou a família via a mesma coisa ou então tínhamos de arranjar outras atividades para fazer. Muitos jogos joguei eu com a minha mãe enquanto o meu pai via o futebol! Agora resolve-se tudo com uma televisão cheia de canais em cada divisão. Depois um dia alguém reclama que a família nunca está junta... Bom, se de repente faltar a luz talvez voltem a unir-se novamente.

Os desenhos animados já não são como eram. Agora são quase sempre digitais. Perdeu-se essa simplicidade que existia nas animações dos idos de oitenta e noventa, ganhou-se a espampanância do digital e das dobragens para tudo, mesmo para o que não precisava de as ter. A minha mãe convenceu-me a querer ir à escola precisamente porque assim poderia ler as legendas dos desenhos animados. Provavelmente agora a minha mãe teria uma tarefa muito mais árdua para incentivar-me a ir aprender a ler.

Enfim, eu sou velha o suficiente para conhecer estas coisas e para falar aos meus alunos sobre elas. E sou velha o suficiente para me sentir ainda mais velha com o ar que eles fazem ao olhar para mim enquanto procuram imaginar uma vida tão diferente daquela que eles conhecem. Mas acreditem que apesar da simplicidade e da estranheza que causava um televisor enorme e sem comando, a exibir dois singelos canais, gostava muito de dar um pulinho a esses tempos e a poder voltar a espreitar a Vera Roquete anunciando que a seguir ia ver o Bocas ou a assistir ao momento em que o Vitinho chegava com o recado de que estava “na hora da caminha”. Caramba, como a vida mudou!

A Menina Quer Isto LXIII - Edição de Aniversário (e Natal)

A menina quer muito este livro porque leu a sinopse e considerou que aquilo tem pano para mangas. A propósito, para quem goste e interesse, vai uma informação: o autor surge hoje em destaque na Revista do Expresso, precisamente devido a este seu novo livro. E se calhar também um bocadinho por causa do que se passou na Feira do Livro de Frankfurt...


Nota: A imagem e a sinopse podem ser encontradas aqui.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A Menina Sugere Isto XIX

Como acontece quase todos os anos, passei uns dias de férias em Viana do Castelo, durante o mês de Agosto. Assim, pude assistir à Romaria da Senhora da Agonia e passear-me pela feira de artesanato que todos os anos decorre no Jardim da Marginal. Já é uma espécie de tradição gastar uns trocos valentes naquele evento, mas este ano até parecia que ia escapar desse destino. Contudo no penúltimo dia de feira resolvi ir comprar uns presentes para trazer (e agora me lembro de que ainda não os entreguei) e foi o descalabro.

Podia falar-vos de muitas peças fantásticas que por lá encontrei, mas aqui quero sugerir-vos apenas um artesão e a sua arte. Encantou-me naquele penúltimo dia de feira e encantou-me hoje outra vez. A Sem Espinha é uma marca de artesanato que faz ilustrações muito originais que podem ser estampadas em peças de vestuário, por exemplo. Mas aquilo de que gosto mesmo é das matryoshkas. No início da Romaria lembro-me de ver uma que representava os elementos do presépio, mas entretanto esse foi vendido, passando a restar uma outra na qual figuravam as personagens do conto “Capuchinho Vermelho”. Foi inevitável: veio comigo.

Quando fiz a compra, o artesão, explicou-me que poderia fazer matryoshkas com outras figuras que eu desejasse. Disse ainda que, por exemplo, já tinha feito algumas por encomenda em que se pretendia representar os membros de uma família. Ao explicar-me isto ocorreu-me logo que poderia fazer uma matryoshka com as personagens do Quixote. E assim foi. Fiz-lhe o pedido há umas semanas e o esboço não tardou muito. Apenas pedi para que a peça referente à Dulcineia tivesse dois lados: um em que fosse deslumbrante e o outro em que fosse horrível. Isto porque a personagem só existe, tal como D. Quixote a descreve, na cabeça do Cavaleiro da Triste Figura. Na realidade, como Sancho confirma, a mulher que deu origem à Dulcineia é uma camponesa feia e fedorenta por quem o fidalgo Alonso Quijano andara em tempos embeiçado.

Depois do esboço aprovado, seguiu-se a pintura das peças e o envio. Foi tudo feito de forma muito rápida e o resultado é espectacular. Neste momento tenho mais umas mil ideias para outras matryoshkas e acho que estas peças são ainda mais giras por isso: porque podemos partir de algo de que gostamos e ter um objecto único em casa. Pelas mãos do artista que depois as pinta, podemos conseguir uma colecção de matryoshkas subordinadas a um ou mais temas que nos aqueçam o coração. No meu caso, comecei pelo Quixote e não ficarei, certamente, por aqui. Por isso sugiro-vos a Sem Espinha, cujo link para a página do Facebook deixo aqui. Parece-me ter um potencial extraordinário para presentes de Natal e de aniversário absolutamente únicos. De facto o trabalho fica lindíssimo e é feito de forma muito célere. Eu regressarei à Sem Espinha com certeza. Agora espreitem vocês as duas matryoshkas que já tenho e digam lá se não são deliciosas...



(A Dulcineia está de lado para mostrar um pedacinho da ‘princesa’ e um da ‘camponesa’. A propósito, a minúcia foi tanta que do lado da lavradeira, a Dulcineia só tem um dente... e de fora!)

Nota: E ao comprarmos estas peças, além de ficarmos com objectos lindíssimos a decorar as nossas casas, estamos também a fazer muito pelos nossos artesãos que, mesmo tendo um talento extraordinário, são muitas vezes trocados por coisas feitas a granel e sem personalidade nenhuma, mas com uma marca mais conhecida. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mundo visto pelos olhos de um pau

Devido a uma renegociação de contrato, a NOS bafejou-me com a possibilidade de, durante um mês, descodificar uma série de canais premium, daqueles bons que se pagam para serem vistos. Ora, um dos canais que poderei ver avidamente durante os próximos trinta dias é o Dog TV, um canal pensado para ser visto por cães enquanto os donos estão a trabalhar e, portanto, longe de casa.

Há um bocado resolvi fazer de mim um cão e viver a experiência de ver conteúdos televisivos produzidos por especialistas que pararam para pensar no que fazer para entreter canídeos nas horas mortas. Assim, pude assistir a um programa que consistia em ver o mundo através dos olhos de um pau. Sim, leram bem. Imaginem que seguram um galho e que este tem uma câmera agarrada a ele. A seguir aparece um cão e vocês agitam esse mesmo pau, filmando em simultâneo o ar esgrouviado do animal a tentar abocanhá-lo, a tentar roubar o pau e fugir com ele... Foi isto que vi durante perto de cinco minutos. Depois desisti. O meu grau de paciência para ver o mundo daquele ponto de vista é muito curto, talvez por não ser um cão. Pelo menos da última vez que reparei não era.

Depois fiquei indignada porque considerei uma afronta não haver um equivalente felino. Para quando um canal que me deixe os gatos relaxados enquanto não chego a casa? Ah, esperem... Eles estão sempre relaxados. Pois, faz sentido: são gatos. Bom, mas e um programa que os deixe a dormir que nem uns anjos? O quê? Mais alto! Ah, eles estão sempre a dormir... Sim, é um facto... Então deixem lá isso. Ainda ficava com gatos viciados em televisão e seria uma chatice. No entanto, imaginem uma novela pensada para um público felino. Seria qualquer coisa com um enredo deste tipo: uma gatinha linda e felpuda apaixona-se pelo filho de uma família rival. O seu amor é impossível, pois ele é... um rato. Juntos encetarão uma luta pelo seu amor, procurando superar obstáculos e dificuldades. De vez em quando, gatinha comerá um membro da família de rato para diminuir a oposição à sua paixão. O mínimo era que isto ganhasse um Emmy. 


Nota: A imagem saiu daqui.

domingo, 18 de outubro de 2015

A Menina Sugere Isto XVIII

Hoje a sugestão não é para vocês, mas para os vossos gatitos. E é uma sugestão muito específica, mas que pode ser mais alargada. 

Quando o meu gatito mais velho veio cá para casa, vinha habituado a uma ração para bebés até aos quatro meses, da Royal Canin. Comprei-lha, fui aos arames com o preço e a verdade é que se deu muito bem com isso (com a ração, não com o preço). Depois mudou para a Kitten (gatos acima dos quatro meses e até fazerem um ano ou serem esterilizados), aos seis meses passou para a Kitten Sterilized e aos doze meses passou a sacalhões enormes de Sterilized (para gato adulto). Depois descobri que a Royal Canin tem uma linha, tanto para cães quanto para gatos, dirigida a determinadas raças e que uma das disponíveis era, precisamente, para Bosques da Noruega. Comecei a comprar essa ração para o Sr. Gato, uma vez que só existe para gatitos acima dos doze meses, e a diferença no pêlo é abismal. Ele já tinha uma pelagem bonita com as outras rações da marca, mas com a ração especificamente dirigida à sua raça passou a ter o pêlo muito mais brilhante, macio e com tendência a formar menos, mas mesmo muito menos nós. Além disso, deve saber-lhe muitíssimo bem, porque o gato adora-a ainda mais do que já adorava os outros tipos de ração. Mas como aquilo tem pedaços maiores e mais duros (precisamente para cuidar dos dentes), dá mais trabalho a mastigar e, assim, comem menos quantidade do que comeriam com outro tipo de ração.

A minha gatinha fará o mesmo percurso. Brevemente será esterilizada e passará a comer Kitten Sterilized, com a diferença de que, depois dos doze meses, nem provará a Sterilized, pois passará logo para a ração específica para a sua raça. Como complemento dou-lhes uma ou duas vezes por semana saquetas de comida húmida com molho da Royal Canin. O momento em que eles vêem as saquetas e que percebem que as vão comer é hilariante e bastante barulhento...

Agora o preço... A Royal Canin, sendo uma marca de gama alta de comida para animais, não é barata. Todavia, existem formas de conseguir alimentar bem os nossos peludos sem ficarmos nós a passar fome. Uma das formas é recorrendo às muitas lojas online (como a Tiendanimal e congéneres) que depois vos entregam a encomenda em casa. Muitas vezes, em encomendas acima de um determinado valor, os portes até são gratuitos. Outra forma é encontrando perto de vocês uma loja Petoutlet ou recorrendo à sua loja na internet. Têm sempre promoções e uma oferta variada, pelo menos no que a esta marca diz respeito. Há outras igualmente boas, mas não posso falar sobre elas porque os meus gatos nunca as experimentaram.

O que é importante é que os nossos animais domésticos tenham o que de melhor lhes pudermos dar. Há por aí muito alimento que pode até matar a fome, mas que é deficiente no que ao aspecto nutricional diz respeito. Há também quem opte por ir comprando o que está em promoção nos hipermercados, mesmo que isso signifique trocar quase semanalmente a marca da ração e provocar com essa atitude problemas gastro-intestinais que facilmente seriam evitados. Nenhum de nós gosta de ter dores de barriga, diarreias e outros problemas parecidos. Então por que motivo havemos de provocar tudo isso nas barriguitas dos nossos peludinhos? Tudo aquilo de que eles precisam é de estabilidade no que à alimentação diz respeito. E isso pode depois poupar uns trocos no veterinário, que é bem mais caro do que uma saca de ração de boa qualidade.



Nota: Ninguém me pagou para fazer publicidade à Royal Canin. Falei desta marca porque é a que dou, desde sempre, aos meus gatos e porque tem corrido muito bem. Outras haverá igualmente boas, mas o mais importante é mesmo que demos comida de qualidade aos nossos animais e que sejamos constantes com as marcas escolhidas. Neste caso, além do resto, queria salientar a gama voltada para determinadas raças que, de facto, faz diferença, nomeadamente no pêlo.

sábado, 17 de outubro de 2015

Quase me esquecia!

Quase me esquecia... Com que então a maldita “prova dos professores” foi considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional?! Que espanto!!! Então, Dr. Nuno Crato? Que aconteceu às suas certezas de que a prova era a coisa mais certa a fazer para garantir a qualidade de ensino? E agora, vai reembolsar os desgraçados que se sujeitaram a realizá-la e que pagaram para isso? E vai trazer de volta os anos em que os que não a fizeram porque ainda têm orgulho, mesmo no âmbito de uma profissão que é humilhada todos os dias, estiveram afastados da profissão para a qual passaram ANOS  a preparar-se no ensino superior (muitas vezes no ensino superior público, como é o meu caso)? E devolve os anos perdidos pelos que fizeram a prova e reprovaram porque aquilo está feito para poder-se apregoar ao mundo que os docentes que reprovam não estão preparados para ensinar no maravilhoso sistema de ensino português, quando a verdade é que a prova não tem jeito nenhum e exige aos docentes competências que eles não têm de ter para leccionar as suas disciplinas?

Mas vá, são demasiadas perguntas para alguém que deve estar ocupadíssimo a preparar uma nova forma de afastar da profissão os docentes que foram formados ao longo de anos nas universidades, que muitas vezes o fizeram com excelentes classificações, mas que ainda assim devem depender de uma porcaria de um exame ou congénere para poderem exercer a profissão para a qual, perdoem a redundância, se profissionalizaram (e repito para que não se esqueça: em estabelecimentos de ensino sob a alçada, imagine-se, do Dr. Nuno Crato)...

Quixotada mimosa

Quando a Lady Gatinha veio viver connosco, a nossa relação foi estranha durante uns tempos. Tinha passado um ano e meio só com o Sr. Gato, felinito pelo qual me apaixonei quando lhe vi a foto e que fui buscar logo no dia seguinte a vê-la. Era (ainda é) o gatinho mais bonito que já vira e percebi que, em adulto, ficaria um gatarrão capaz de deixar o mundo de boca aberta. Mas com a gatinha foi diferente: soube que ia haver uma ninhada, disse que ia querer um bebé, de preferência uma fêmea, e de uns cinco gatinhos lá saiu uma menina. Recebi fotos dela quase de semana a semana, desde que mais parecia um ratinho até estar à beira de vir viver connosco. Na realidade, pelas fotos até preferia outro gatinho, amarelinho como sempre quis, mas mantive-me fiel à ideia de que, desta feita, seria uma fêmea a companhia para o Sr. Gato.

Ela lá veio. Era muito pequenina e, embora mais velha do que o Sr. Gato era quando veio viver connosco, conseguia ser ainda mais pequenina que ele nessa altura. Teve de ser bem protegida nos primeiros dias, enquanto o grandalhão não se habituou a ela. A primeira noite passou-a numa caminha improvisada debaixo da minha mesinha de cabeceira, com os acessos devitamente vedados para que o Sr. Gato não pudesse chegar-lhe. E assim dormiu. Eu é que mal preguei olho nessa noite porque sabia-a tão pequenina que temia que precisasse de alguma coisa, que se visse em situação  complicada com o Sr. Gato durante noite. Ele não queria fazer-lhe mal, mas também não sabia brincar com ela, pois estivera durante um ano e meio apenas com seres humanos (eu era o que de mais parecido com um gato ele tinha). Enfim, o tempo foi passando, mas o que sentia por ela era estranho, nada parecido com o que acontecera com o Sr. Gato. Ele era o MEU gatarrão, o bichano que me seguira para todo o lado durante um ano e meio, era o meu companheiro peludo, lindo, lindo, lindo. Cada vez mais lindo.

Mas eis que a Lady Gatinha chegou aos seis meses de vida e aos quatro meses connosco. Já não saberia viver sem ela, aliás, sem esta dupla de terroristas que continua a acordar-me quase de madrugada porque quer brincadeira. Hoje já tenho muitas histórias (e disparates) protagonizados pela felinita mais louca que o mundo já viu. Ela também já dormiu ao meu lado, já me amassou a barriga enquanto ronronava, já correu para mim, já me roubou coisas (é uma pequena ladra!)... Ainda que não tenha a imponência do Sr. Gato, tem uma meiguice nos olhos que derrete qualquer um. Por isso agora a vida ainda tem mais piada: tenho dois morceguinhos que são chatos e destruidores como tudo, mas que são os melhores amigos peludos que poderia ter. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A Menina Quer Isto LXII - Edição de Aniversário (e Natal)

Ainda falta um mesinho para o aniversário (e mais um bocadinho para o Natal), mas além de livros, aceito cartões de oferta na Springfield, Bershka, Stradivarius e Pull & Bear. Por amor de Deus, não me oferençam nada da Zara que é muito difícil comprar lá o que quer que seja.

Ah, também aceito cartões da FNAC. Eheh... Há coisas que não mudam.

domingo, 11 de outubro de 2015

Comodidades (ou o momento nerd do dia)

A leitura exige comodidade. Ponto. Para mim, não existe leitura se o livro que estou a ler não me oferecer essa mesma comodidade. É por isso que o trabalho de edição é fundamental e não pode ser descurado. Em livrarias, já deixei nas estantes (e até na secção de destaques) muitos títulos que até queria ter, mas que, ao serem folheados, mostraram um grafismo débil e, claro, incapaz de garantir a comodidade necessária para que a leitura aconteça. Tipos de letra cansativos (letras com serifa são, para mim, as melhores: poupem-me da Helvética!), tamanhos de letra muito pequenos, linhas muito longas ou muito curtas, espaçamento exíguo entre linhas, margens gigantes ou então quase inexistentes. Fora isso ainda temos as gralhas que, quando se tornam regra e não excepção, se transformam em cubos de gelo pelas costas abaixo do leitor. Nas leituras deste ano já encontrei dois casos verdadeiramente de fugir: um na Dom Quixote e um na Presença.

Lembrei-me disto porque estou, ao mesmo tempo que leio o Infância, Adolescência e Juventude, de Tolstói, a ler as Novelas do Minho, de Camilo Castelo Branco, numa edição de bolso feita há uns anos pela Bertrand. É muito incómodo ler leste livro porque as margens são mínimas e, para que tenham uma ideia, o simples acto de segurarem o livro faz com que os vossos dedos tapem uma parte das linhas. Mas como as margens na parte interior da folha (aquela que fica mais junto da lombada) também são mínimas, quase precisamos de partir a lombada do livro para conseguirmos ler o texto na íntegra. Ora isto é tudo menos cómodo. 

O livro afiança, na capa, que é um best-seller (um atributo não necessariamente bom, mas que o Camilo aguenta na perfeição). Aquilo que me ocorreu é que para best-seller podia estar mais bem feito. Um livro que mal pode ser segurado sem se cobrirem letras e cuja lombada tem de ser dobrada para se chegar a uma parte do texto só pode ser best-seller na medida em que o preço baixe em proporção com a subida destas faltas de cuidados. É pena, pois estou a gostar das Novelas do Minho, ainda que lê-las neste suporte esteja a ser um pesadelo.

Nota: Por ironia, hoje o meu blogue entendeu que uma parte do primeiro parágrafo devia ter outro tipo de letra que não o habitual. Pareceu-me uma espécie de conspiração!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Um dos problemas de ter gatos muito peludos...

...é que de vez em quando temos de lhes dar uma ajudinha com toalhitas Dodot ou congéneres. Hoje foi dia disso e ainda nem eram oito da manhã. Uma pessoa até perde o apetite para o pequeno-almoço! Como costumo dizer, "Quem tem filhos tem cadilhos, quem tem gatos tem sarilhos."

terça-feira, 6 de outubro de 2015

As Três Filhas da Senhora Liang - o balanço


Terminei ontem a minha primeira leitura de um romance de Pearl S. Buck e nem sei bem o que dizer-vos. Pelo que sinto depois de o ler, julgo que só posso crer que a autora é brilhante, pois nunca julguei que uma história com este tema (as mudanças políticas na China, o Comunismo, o modo como artistas e outros intelectuais viam as suas capacidades colocadas ao serviço do regime) ficasse a soar tanto dentro da minha cabeça. 

A história parece simples: a Senhora Liang, que participou das mudanças políticas do século XX na China, tem três filhas que vivem e estudam nos Estados Unidos. Subitamente, o governo apercebe-se de que o cérebro da sua filha mais velha (uma conceituada médica) tem de estar ao serviço da pátria e, por isso, ela é intimada a regressar à China, abandonando toda a sua vida no continente americano.

A filha do meio tem um namorado e convence-o de que devem casar e partir para o seu país de origem, onde deverá nascer o seu filho que será, então, mais uma riqueza para a China, contribuindo com o seu trabalho. Também os pais, ela música e ele cientista, servirão a pátria com o seu esforço. No fundo, há a ideia de chamamento a uma missão patriótica que todo o bom filho daquela terra não deve ignorar.

A filha mais jovem da Senhora Liang pára para pensar de tempos a tempos sobre a possibilidade de voltar para junto da mãe e de fazer a sua vida no país onde nasceu, colocando também o seu talento enquanto pintora ao serviço do seu povo. Só não o faz porque entretanto se apaixona por um pintor que vai recusar-se terminantemente a perder o que tem e a carreira que construiu num país livre para partir para um lugar que sabe que castrará a sua liberdade e criatividade. 

Deste modo, a história decorrerá em parte na China e em parte nos Estados Unidos da América. Um dos aspectos que mais me desgostou no livro foi a ideia, repetida até à exaustão, do indivíduo ao serviço de um bem maior para o qual todo o cidadão deve contribuir com o que tem e com o que sabe fazer. Isto é repetido e repetido e repetido ao longo do texto e torna-se aborrecido. Mas se pensar melhor, faz sentido: é que estamos a falar de um país preso dentro das mesmas ideias, que incute desde cedo na cabeça dos seus cidadãos a necessidade de todos trabalharem para o mesmo e de colocar o bem da pátria acima do próprio bem pessoal. Sob esse ponto de vista, a repetição compreende-se.

Acabei por ser incapaz de desistir do livro porque queria, PRECISAVA, de saber como terminariam as personagens, desde a Senhora Liang, passando por cada uma das suas filhas e pelos seus genros. Tendo em conta as imagens que cada uma formou sobre a China, as desilusões ou a felicidade que o país lhes trouxe, é imperativo saber como tudo acaba. Também queremos saber o que será da vida de Joy, a mais nova, que nunca chega a partir para servir a sua pátria. Mas acima de tudo, queremos perceber como conseguem ser tão humanas estas figuras de papel que se enchem de ilusão e que terão de confrontá-la com a realidade, convivendo depois com ela, já que fugir do país era quase impossível. Quase.

Nunca tinha sentido esta dicotomia relativamente a um livro. Metade do meu cérebro dizia “larga” e a outra metade gritava “continua”. A verdade é que foi impossível largá-lo sem saber como terminaria tudo e ainda bem. Pearl S. Buck tem uma obra muito fecunda, escreveu um número infindo de livros e julgo que depois deste quererei ler outros.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Hoje viram unicórnios?

Tendo em conta todas as pessoas com quem falei hoje e aquilo que ouvi dizerem, tenho a impressão de que hoje era mais fácil ver passar um unicórnio do que um eleitor que tenha votado na coligação vencedora. Pelos níveis de indignação, pelo espanto, pela raiva (sim, podemos mesmo falar em raiva), pela incredulidade que senti da parte das pessoas, ninguém votou PàF. Mas a coligação ganhou, portanto não percebo... Seja como for, hoje era mais fácil ver um unicórnio e não vi nenhum. Que azar tenho!

domingo, 4 de outubro de 2015

Ora vamos lá então

Ora vamos lá então a mais quatro anos do mesmo. Vá, votaram neles, agora aguentem o que houver para aguentar. E sem serem piegas, que já se sabe que ele não gosta de gente chorona e dada à pieguice.

A propósito, recordem-se do momento em que puseram a cruzinha no boletim quando virem os vossos filhos continuarem a emigrar ou quando as pensões sofrerem cortes ainda maiores. Pensem também nisso quando os impostos aumentarem (sim, porque ainda não vivemos dias gloriosos, como nos quiseram levar a acreditar durante os últimos meses) ou quando o centro de saúde da vossa zona se eclipsar. Ou mesmo quando passarem a noite numa fila para marcar uma colonoscopia. Ou quando o vosso filho professor for colocado a quatrocentos quilómetros de casa. Ou quando precisarem de uma consulta no hospital e esta demorar um ano a ser marcada. Não digo que a oposição resolvesse todos os nossos males, mas sabemos bem o que sofremos nestes últimos quatro anos. Queremos repetir? Eu não queria nada.

Mas vá, vamos lá então a mais quatro anos hilariantemente longos e provavelmente pejados de arrependimento. O de quem lhe deu mais uma voltinha neste carrossel, não meu.

Visita ao início de tudo

O meu moço começou a votar na escola onde fiz os meus dois primeiros anos e meio de ensino básico. Ou seja, vai, a partir de agora, votar no estabelecimento de ensino onde aprendi a ler. Eu, infelizmente e até que o cartão do cidadão caduque, continuarei a votar na escola onde concluí o último ano e meio do primeiro ciclo do ensino básico. 

Claro que não perdi a oportunidade de ir com ele e de visitar a escola, até porque desde que saí de lá (mais ou menos no mês de Março de 1994, vejam bem!), nunca mais lá entrei. Queria muito poder ver a escola novamente, mas nunca foi possível. Hoje, enquanto acompanhante de um eleitor, entrei no pátio onde brinquei tanto, passei junto ao gradeamento onde, num certo dia, entalei a minha cabeça (nem perguntem...), entrei no edifício pela porta junto da qual enchi um casaco de tinta, devido ao inteligente facto de me ter encostado a uma parede acabada de pintar... Depois, lá dentro, o moço foi votar na sala que eu recordo como o “polivalente”, a sala onde víamos filmes, assistíamos a palestras (sabíamos lá nós na altura o que era uma “palestra”) e onde, para mal dos nossos pecados, nos davam o maldito elixir bucal que tão mal sabia. Depois, afastei-me um pouco da sala e, num esforço de memória, apercebi-me de que estava em frente à sala quatro. Hoje era mais uma mesa de voto, mas para mim foi uma viagem no tempo: foi a minha sala de aulas, foi ali que aprendi a ler e a escrever. E o mais giro é que do lado de fora consegui ver a paisagem que se via pelas janelas e recordei-me de uma das minhas memórias mais antigas: no meu primeiro ou segundo ano, umas semanas antes do Natal, estávamos naquela sala a pintar desenhos alusivos à quadra natalícia, usando lápis de cera. O céu estava muito cinzento e o dia de escola estava quase a terminar. A minha mãe iria buscar-me dali a pouco. Lembro-me, é essa a minha memória, de estar a olhar lá para fora e daquilo que via pela janela. Foi o mesmo que vi hoje.

Para o comum dos mortais, vale o que vale. Mas para mim valeu muito porque gostei bastante daquela escola, fui muito feliz ali dentro e saí tão de um dia para o outro que nunca tive a oportunidade de despedir-me daquele lugar como devia ser. Tirando uma ou outra imagem, na minha memória era impossível reconstituir aquele espaço e hoje consegui dar um novo formato às coisas de que ainda me lembrava. A sala quatro, do pouco que consegui ver além das janelas, pareceu-me igual àquilo que recordava e até a cor da parede do fundo fez soar um certo alarme na minha memória. Lembro-me perfeitamente de estar concentradíssima a desenhar, pelas primeiras vezes, a letra “f” manuscrita. Agarrando o lápis com força e com a minha falta de jeito para a caligrafia bonita (que felizmente acabou por entrar na minha vida mais tarde, ali pelo final do secundário), ia desenhando aquela letra tão cheia de voltas e de rodopios, bailarina em cadernos pautados, tirana dos jovens aprendizes. Foi ali, naquela sala, que a minha vasta biblioteca começou a tomar forma, ainda que só na minha cabeça e apenas através das histórias que nos contavam. Foi ali que a leitora que hoje sou nasceu e isso, tão meu, não deixa de ser importante para mim.

É engraçado como um dia de eleições pode ganhar outra dimensão com este simples passeio a um lugar onde fui feliz, ao lugar onde tudo começou. Bem poderão dizer que isto é parvoíce, que se não fosse naquela escola, seria noutra qualquer porque aprender a ler, toda a gente aprende, seja onde for. Até pode ser. Mas há um pormenor: é que fui mesmo feliz ali, fui feliz a aprender as primeiras letras naquela sala, naquela escola pública que servia um público tão carenciado de bairros complicados aqui perto e que o fazia tão bem, especialmente se considerarmos que foi há mais de vinte anos. Aquele foi um lugar que me ficou para sempre no coração e que tive pena de nunca mais ver por dentro. Pude fazê-lo hoje e pude, finalmente, voltar a ver-me numa mesa pequenina, com os pés a balançarem por não chegarem ao chão, a pintar com lápis de cera ou a desenhar “f”... Pude, no fundo, ver-me no princípio de tudo o que sou agora.

É hoje!

Chegou o dia das eleições. Está um bocadinho farrusco, mas nada que um chapéu de chuva não resolva calmamente. Todos, mas mesmo TODOS, os que podemos votar temos a obrigação cívica de sair de casa e fazê-lo. Quem não o fizer terá de estar calado e não chorar durante os próximos quatro anos (e olhem que quatro anos ainda é muito tempo...). Agora, é altura de puxar da memória e de tomar uma decisão.

Para mim, que fui colocada no lote dos "piegas", a decisão está tomada há muito tempo. E gostaria que os meus colegas de profissão, convidados a emigrar para onde fizessem falta porque aqui estavam a mais, tomassem também a sua decisão em consciência e com a ajuda da memória do que foram os últimos anos para a classe docente.

sábado, 3 de outubro de 2015

O "espanta espíritos"

Gostaria de perceber o que leva algumas pessoas a gostarem de ter em casa aquelas coisas horrendas a que chamam "espanta espíritos". Visualmente são objectos horríveis, do ponto de vista auditivo são pura poluição sonora e, como se não bastasse, não servem para nada.

Algures no prédio em frente àquele onde moro, alguém terá uma coisa dessas e é lindo ver-me a olhar para a frente, enquanto estendo a roupa, à espera de ver passar um rebanho de ovelhas. Depois recordo-me de que o som de badalos não vem de carneiros lanzudos, mas sim da coisa mais inútil do mundo: o "espanta espíritos" (ou, noutras versões, o "caçador de sonhos"). Melhor ainda é perceber que há páginas na internet que ensinam a "fazer o seu próprio "espanta espíritos". Sim, porque aquilo já é lindo e útil que se farta para ainda acabarmos a ter trabalho a fazê-lo. Aquilo nem devia chamar-se "espanta espíritos", devia ser mais "estoura nervos". Quanto ao nome alternativo, "caçador de sonhos", faz-me mais sentido, uma vez que ao pé de uma preciosidade daquelas não há alma neste mundo que seja capaz de dormir. 

A Menina QUERIA Isto, Mas Já Tem II

A menina queria estes dois, mas já chegaram cá a casa, pelo que se encontram anulados nas listas de pedinchices para o aniversário e o Natal.



Nota: As imagens são, como se vê, da página da Wook.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A lista dos horrores

Quando alguém me diz que vai votar no PaF porque é o mal menor ou porque apesar de tudo foram o Passos e o Portas quem endireitou o país (riam-se à vontade), gostaria de ter uma lista de todas as monstruosidades pelas quais passámos nos últimos quatro anos e que nos doeram mais e mais a cada novo dia. Mas, infelizmente, isto da memória é uma porra e ainda que saiba bem que foram quatro anos revoltantes, ja não consigo elencar tudo o que neles sucedeu de ruim. Por isso espreitem este post do blogue "Irmão Lúcia" e se alguém vier com a conversa de que afinal não foram assim tão maus estes quatro anos de Passos e Portas, atirem-lhes pomposamente com esta lista de coisas lindas. 

Tomar as dores alheias

Há três ou quatro blogues que de tão conhecidos são praticamente incontornáveis e praticamente todos os que têm um modesto espacinho, como este, seguem o que por lá se vai publicando. Até aí, tudo normal. O que já não é normal é a forma um bocadinho à maneira de um rottweiller pouco simpático como alguns seguidores defendem os bloguers e atacam os comentários daqueles que discordaram de algo publicado ou que fizeram um comentário um pouco mais depreciativo (mesmo que nada ofensivo). Torna-se ridículo ver como, perante um comentário que não consiste apenas em elogios à responsável pelo blogue (como são quase todos), alguns seguidores parecem tornar-se feras prontas a estraçalhar o ordinário que se atreveu a dizer que aquela camisa não assentava bem à autora do blogue ou que os últimos posts publicados são já muito distantes daquilo que o blogue se propôs a ser desde o início. 

Às vezes, ao assistir a esta bizarria, imagino o que, do outro lado, pensará a bloguer que tem de decidir que comentários publica e que comentários censura. Calculo que se recoste na cadeira, sorrindo porque tem o circo a arder, mas nem precisa de mexer uma palha para repôr a ordem. Alguém não gostou de algo que disse e comentou-o. Agora a bloguer podia responder ao comentário, mas para quê se dezenas e dezenas de pessoas aparecerão para lhe dizer que não ligue, que não passa de inveja, que é linda na mesma, que tudo o que faz é o máximo e que o resto do mundo é composto apenas por dois lados: o dos fanáticos que a adoram porque é perfeita e os trolls que não percebem que aquela é a melhor pessoa do mundo porque ajuda os outros, corre que se farta para ficar ainda mais perfeita e porque tem uma vida cheia de doçura e de bens materiais espectaculares.

Pois, caros defensores de bloguers deste mundo, mais chata do que a redundância e peneirice que pejam alguns dos blogues mais conhecidos é mesmo a vossa incapacidade de encaixarem e perceberem uma crítica mais negativa a uma publicação ou à própria pessoa que escreve aquele blogue. Estamos a falar, não raras vezes, de gente que recebe para falar de uma marca ou para aparecer em determinados eventos. Frequentemente, também, alguma coisa desgostará a um ou outro leitor e, assim, no meio de todos os elogios aparecerá então um ou outro comentário mais negativo. Mas isso faz parte: qualquer coisa que se torne pública é alvo de uma apreciação crítica e esta pode ser positiva ou negativa conforme a opinião que cada um fizer dela. Será que para seguir um blogue e comentá-lo tenho de achar sempre que quem o escreve é um poço de virtudes, que tudo o que diz e faz é perfeito e capaz de melhorar este vale de lágrimas em que vivemos? Ora, poupem-me! Todos nós que escrevemos blogues, sejam eles rentáveis ou não, dizemos muitos disparates e, com muita regularidade, coisas que não agradam a outros. Daí a gerar-se uma espécie de guerra civil entre os que querem que a bloguer seja intocável e os outros que encaram a matéria publicada como sendo digna de ser comentada como merece (desde que o nível não desça e se passe ao insulto ou à falta de respeito), vai um bocado.

No fim de contas, em muitas áreas da vida, podemos gostar muito de uma coisa e conseguir, ainda assim, perceber nela dois ou três aspectos que podiam melhorar. Eu adoro Saramago e já percebi que houve dois ou três livros que descarrilaram um bocadinho. Matarei todos os que achem o mesmo? Não. Matarei os que acharem que o Saramago não era um bom escritor? Não. Mandarei para a fogueira todos os que forem incapazes de em cinco segundos elogiarem pelo menos novecentas e vinte vezes o escritor? Muito menos. Por isso, gente que corre as caixas de comentários à espera da oportunidade de poder defender com a vida a/o bloguer dos comentários menos simpáticos que lhe possam surgir, deixem-se disso que já enerva. Ninguém é perfeito e, como em tudo, haverá sempre o dia em que merecemos mesmo os comentários mais críticos. 

Animais territoriais

Dizem que os gatos são animais territoriais e, por isso, muito ciosos do seu espaço, detestando ter de partilha-lo com alguém, muito menos com outro da sua espécie. Há quem diga que deve haver uma caixa de areia para cada gato, um comedouro para cada um e que também o pucarozito da água não deve ser partilhado. Em suma: os gatos são bichos peçonhentos que não gostam de dividir o que é seu, e muito seu, com outros peludos.

Pois, mas uma coisa que aprendi desde que convivo diariamente com gatos é que do que se diz e pensa sobre estes felinos até ao que eles são na realidade vai um passo de gigante. Aqui, ainda que haja mais do que um bebedouro, mais do que um comedouro e duas caixas de areia, partilha-se tudo. E de tal forma que ontem chegámos a um novo nível de partilha e esse, minha gente, não sabia ser possível no mundo dos gatos. Ora, ainda que existam duas caixas de areia em duas divisões diferentes da casa, eles não se importam nada de agora usar uma, depois usar outra, mesmo que o colega-gato já lá tenha estado também a "marcar território". Isto é normal: um de cada vez utiliza a caixa e depois, se quiser, já utiliza a outra. É uma festa! Mas o que eu nunca tinha visto e vi ontem pela primeira vez foi os dois a usarem a mesma caixa AO MESMO TEMPO! Portanto, o gatarrão gigante que tenho por aqui entrou para fazer o seu portentoso chichi e enquanto estava naquele momento zen em que até semicerra os olhitos, a pequenita apareceu junto da caixa e, para nosso espanto, espremeu-se lá dentro e, coladinha ao gatarrão, fez também o seu chichizinho pequenito. A caixa de areia deles não é coberta e tem um bom tamanho, mas ontem ficou lotada de gatos. Ou os meus bichanos são muito pouco territoriais ou gostam mesmo tanto um do outro que nem o momento das necessidades serve para separação. Nunca, nem nos meus mais extravagantes sonhos, poderia sonhar que o meu gato gigante, o meu bosques mimado se deixaria embeiçar deste modo pela farrusquita-bosques pequenina que em finais de Junho veio fazer-lhe companhia. De verdade: para permitir isto, o gato só pode estar mesmo de quatro por ela (bom, devido às quatro patas ele anda, na realidade, sempre de quatro com tudo...). 

Portanto, gente que pensa que sabe tudo sobre gatos e que diz que eles são muito individualistas e ciosos do que é seu e do seu território, ou os meus felinos são apoucadinhos e têm hábitos estranhos, ou então confirma-se a ideia de que os gatos são tão complexos, tão complexos, tão complexos que nem dá para tentar perceber.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Em hiperventilação

Acabei de ler um texto em que alguém escreveu "enconto" em vez de "enquanto". Estou a hiperventilar deste então. 

Esquisitices

Enquanto passava no fundo da sala, espreito um aluno da fila da frente a fazer um gesto estranho, a contorcer-se e a acompanhar tudo isto de um barulho que não identifiquei. Quando perguntei que diabo estava ele a fazer, recebi como resposta do colega do lado:

- Ele está só a tentar morder o próprio mamilo, professora.

Saliento que estou a falar de crianças pequenitas, o que confere uma aura de inocência ainda mais engraçada a este momento. Nunca na minha vida de professora me foi dita uma frase tão estranha...

Enigma republicano

Vamos lá ver se eu compreendo isto... Há uns anitos tiraram-nos quatro feriados porque o país estava muito mal e precisava era de trabalho, não de mandriões. Um desses feriados foi o 5 de Outubro, no qual se comemorava a Implantação da República, que ainda hoje temos, para que conste. Portanto, neste país, o pessoal trabalha numa data histórica que durante muito tempo foi tão importante que mereceu as honras de feriado e as devidas celebrações. Todas trabalham menos, aparentemente, uma pessoa: o nosso excelso Presidente da República.

Recapitulemos e avancemos: o nosso Presidente da República, repito: REPÚBLICA, fará gazeta às celebrações do 5 de Outubro, o dia em que a monarquia foi substituída pela República. A que hoje ele preside. Não vai estar na cerimónia que celebra a implantação do regime político a que preside. E porquê? Porque diz que precisa de reflectir.

Pronto, já disse tudo e mesmo assim não compreendo. Ou sou mesmo apoucadinha ou isto é para aí do mais bizarro que ele já fez (e note-se que o nosso Presidente é capaz de coisas bem estranhas). Por isso se alguém conseguir explicar-me isto, agradeço. E já agora expliquem-me também como é isto permitido.