domingo, 20 de novembro de 2011

Coisas que odeio IV

Esta aura de fascínio em torno da maternidade que teve início com as "famosas", mas que já alastrou a muitas mulheres tão pouco conhecidas como eu é coisa que não compreendo. Não tenho filhos e isso é argumento que algumas mulheres poderão usar contra esta minha falta de sensibilidade para o entender. Até admito que um dia possa vir a mudar ligeiramente de opinião. Contudo, não acredito que venha a passar vinte e quatro horas do meu dia a falar do meu rebento, das estrias que ele me rendeu, do regresso à minha «antiga forma física», e das reais borradas que ele faz.

Minha gente, admito que um rebento nos mude a vida, a torne mais rica e nos faça aprender coisas que nunca julgámos vir a saber. Ainda assim, custa-me a perceber esta "moda" (porque me parece que é mesmo de uma moda que se trata) que faz as "famosas" passarem as entrevistas a falar sobre o modo como a gravidez está a ser vivida ou sobre as riquezas da maternidade ou, melhor ainda, sobre como os seus principezinhos são melhores do que os das outras. E os senhores que entrevistam adoram e exploram o assunto até ao enjoo. Correm atrás das figurinhas que estão grávidas para saberem como está a correr a coisa. Elas, babadas, derretem-se todas «Está a ser uma gravidez muito calma e vivida intensamente» (enjoo). Sabem que elas deram à luz e lá vão eles verificar se já estão boazonas outra vez. Caso estejam, pedem o segredo para tal feito, vindo de lá vem o invejável «Como de tudo: amamentar fez-me perder peso». Mas se, por outro lado, continuarem gordas que nem ursos antes do Inverno, logo vem a manchete «Não sei quantas está triste por ainda não ter voltado à antiga forma física» ou «Fulana, mais feliz do que nunca, luta para perder o peso da gravidez". Se já não lhes interessam as banhas da tipa, então voltam-se para as mudanças sentimentais que o rebento provocou, acabando por obter as lindas respostas «Ser mãe mudou a minha vida. Agora sou uma mulher completa. O meu filho ensina-me muitas coisas.» (vómito).

Mas o pior, o que é terrivelmente exasperante, é que há quem beba estas notícias e adore estes lugares-comuns sobre uma coisa que, ao fim e ao cabo, nos toca a todas mais ou menos do mesmo modo. Ou seja: ainda que o meu filho venha a ser único para mim, a experiência pela qual eu passarei será, no fundo, a mesma pela qual a senhora dona apresentadora, actriz ou manequim passaram. Contudo, não tenho de encher o saco dos outros com isso. O problema é que isto se alastrou e nos dias que correm vamo-nos apercebendo de que muitas mulheres desconhecidas adquirem este tipo de discurso e resumem a sua vida às "profundas mudanças espirituais" que o filho lhes trouxe. E acrescentam que nós, as pobrezinhas que nunca o viveram, não sabemos o que isso é e que, portanto, temos mais é que estar caladinhas.

Pois eu cá fico caladinha no meu canto desde que não me enfiem gravidezes felizes, partos idílicos, bebés de sonho e crianças perfeitas pelos olhos dentro quase diariamente. É que já não chegavam as senhoras que aparecem na televisão, para agora ter de comer esta papinha até nos transportes públicos. É dose!

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