domingo, 26 de maio de 2013

Televisão

É só a mim que esta peregrina ideia de pôr gente mais ou menos famosa a arrumar-se pomposamente para dentro de uma piscina parece uma coisinha para lá de desinteressante? Mas o que me interessa a mim ver A ou B a mergulhar na piscina? Tanto quanto ver C ou D a atirar postas de pescada para o ar numa certa casa filmada do canal concorrente...

Na minha opinião, cada vez é mais difícil suportar a televisão. Os programas passam-nos um atestado de estupidez diário e muitos de nós permitimo-lo ao ligarmos a tv e ficarmos especados diante dela, engolindo a porcaria que nos vão dando. Mesmo os canais da cabo, muitos deles com potencial para serem melhorzitos, enchem-nos os dias com futilidades e com parvoíces de todo o tamanho. "Ah, não há mais nada.", é o argumento que vai fazendo com que muitos acabem a consumir programas como este da piscina ou como outros reality shows. O problema é que essa é a luz verde de que quem faz essas coisas precisa para continuar a fazê-las. Se não dá nada melhor, não vejo televisão e pronto. Felizmente ainda existe mais mundo para além dessa caixa outrora revolucionária.

As novas prendas dos Reis Magos

Considerando as crianças de hoje em dia e o modo como são encarados todos os pormenores da sua personalidade (uma criança irrequieta e, por vezes, mal educada é logo hiperactiva a precisar de medicação; uma criança distraída tem sem dúvida défice de atenção e deve ser medicada; uma criança que faz birras por excesso de mimo precisa imediatamente de consultas de psiquiatria e, por fim, um miúdo a quem custe perceber as contas de dividir necessita logo de um PEI [Plano Educativo Individual]).
 
Vai daí e lembrei-me de que se o Menino Jesus tivesse nascido hoje e se os três Reis Magos aparecessem com presentes, estes seriam:
 
1. Caixas de ritalina;
2. Um pack de cinco consultas mensais num pedopsiquiatra;
3. A elaboração de um PEI que acompanhe o Menino ao longo da escolaridade obrigatória.

Uma Parte do Todo


Comecei este. Sessenta páginas já foram. Estou a gostar. Depois conto como foi, mas ainda vai demorar que este menino é bastante gordinho...

Paraíso Inabitado: o balanço

Terminei hoje a leitura do livro Paraíso Inacabado, de Ana María Matute. O balanço que faço é muito positivo. É um livro muito bonito e fiquei curiosa para ler outros textos desta autora, uma vez que gostava de perceber se a sua escrita é sempre assim tão poética, tão admiravelmente bonita. A infância que ali é retratada nas personagens de Adri e de Gavi contrasta com o que era esperado, ou aceite, em meninos de classes económicas mais elevadas. Aquelas crianças eram verdadeiramente crianças: sonhadoras, curiosas, espertas, irreverentes e com uma capacidade de criar um mundo próprio muito única. Por outro lado, o que a sociedade esperava era outra coisa: crianças mais parecidas com adultos, sossegadas, quietas, sem espírito crítico, exemplares até ao aborrecimento.
 
Ao longo do livro entramos no mundo onírico de Adri e na amizade/amor que cria com um menino de origem russa que mora no seu prédio. Com ele partilha tudo o que não pode partilhar com mais ninguém. Vivem dias de verdadeira alegria, embora cada um tenha uma infância cheia de pormenores complicados para suportar. Porém, um com o outro são felizes, ainda que haja quem não veja aquela amizade infantil com bons olhos.
 
O leitor percebe, desde cedo, que alguma coisa grave estará para acontecer. No meio de tanta inocência, uma sombra atravessa todo o livro. Assistimos ao crescimento de Adri, às descobertas que faz e, acreditem, sofremos com ela. É que, embora nem todos tenhamos sido tão sonhadores como ela, há pequenos pontos que nos recordam a nossa própria infância e a nossa capacidade de inventar mundos a partir dos objectos quotidianos dos adultos. Por isso, porque há um pouco desta menina em cada um dos adultos que lê o livro, compreendemos dolorosamente a vida que lhe é dada viver, mas que ela contraria com o seu jeito infantil e sonhador.
 
De facto, é um livro que vale a pena. É viciante. Há frases de enorme beleza e, portanto, é um texto que vale pelo seu conteúdo e pela sua forma. Deixo-vos uma pequena passagem que considerei particularmente bonita. É um momento em que Adri tem de decidir se regressa a um lugar cheio de memórias felizes, utilizando uma chave que lhe foi dada para isso mesmo: para voltar e continuar, como puder, o sonho que ali viveu. Creio que falará directamente a todos os que já perderam alguém.
 
«Como há anos, guardando agora a chave na mão fechada, fui em busca do Unicórnio e dos fulgores cristalinos das aranhas. Não sabia se a devia utilizar. Histórias de chaves perigosas, cheias de mistério, embrulhavam-se na minha mente, lutavam entre o desejo e o medo. A imagem da chave suja de sangue, que a mulher do Barba Azul tentava limpar com areia, repetia-se sucessivamente. E a esperança de encontrar lá em cima qualquer coisa, nem que fosse um simples vestígio que roubasse a credibilidade à sua ausência, empurrava-me. Eu própria, sentada na cama, apertando a chave na mão, via-me minimizada, uma figura diminuta na grande solidão de um amor que não podia partilhar, que não sabia já onde pôr.»

Título: Paraíso Inabitado
Autora: Ana María Matute
Editora: Planeta
Ano: 2009
Páginas: 302

sábado, 25 de maio de 2013

As novas doenças mentais

Na capa do Expresso surge hoje uma pequena notícia que me arrepiou os cabelinhos todos: "Ciúme, gula e birra passam a ser doenças mentais". Isto porque passarão a figurar como distúrbios num manual muito importante da psiquiatria. Portanto, um miúdo que faça três birras por semana passará a ser um doente mental. E o mal que isto soa?

Portanto deduzo que a mítica e saudosa palmada no rabo será substituída por medicamentos que dopem o suficiente para nenhum miúdo se lembrar de uma birra no supermercado. Está certo... Se é assim que querem, cá estaremos para ver os resultados de tamanha imbecilidade. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A ervilha mirrada e a honestidade

Isto de ter andado em Letras torna a Feira do Livro no local de todos os encontros. Nos primeiros cinco minutos já tinha encontrado três pessoas que fizeram cursos em Letras na mesma altura que eu. Bom, o engraçado da história foi que a primeira pessoa que vi foi uma moça execrável, mais burra que a parede norte cá da habitação e infantil até à quinta casa. Na faculdade detestava-me a mim e a outra colega minha e, portanto, falava nas nossas costas, ria-se quando passávamos, incitava outros colegas a ignorarem-nos, enfim, merdas que universitárias não deviam já fazer, mas que ainda sucedem quando se trata de espantalhos com o cérebro do tamanho de uma ervilha mirrada.
 
A segunda pessoa que encontrei estava uns passinhos mais à frente. Foi minha colega, uma das primeiras que conheci, conversámos algumas vezes, mas nunca fomos amigas no verdadeiro sentido do termo. Quando nos encontramos trocamos umas palavras, mas só isso. Quando a vi hoje espantei-me porque não esperava vê-la a trabalhar numa editora. Conversámos um bocadinho e eu manifestei-lhe a minha surpresa por vê-la ali. Aí a conversa ficou muito mais gira. Ela respondeu:
 
- Sim, eu estou aqui porque estou nesta editora há mais ou menos um ano e meio. E a A. M. está ali mais abaixo.
 
Olhei para a zona para onde ela apontou e de onde eu vinha e respondi, muito calmamente:
 
- Pois, eu vi... Mas como na faculdade ela não me gramava a mim, eu também não a suporto a ela e ficamos assim.
 
A minha interlocutora olhou para mim durante uns segundos (acho que as mulheres já se vão desabituando destas honestidades, andamos sempre a fingir que nos adoramos umas às outras), assentiu, disse «É justo» e prosseguimos a conversa típica de quem já não se vê há muito tempo.
 
Moral da história: o bem que sabe chegar a certa altura e já não ter problemas nenhuns em apontar como monte de merda quem indiscutivelmente o é. O tempo de fingir que somos todas as melhores amigas, ainda que nos estejam a enfiar uma faca pelas costas dentro, acabou, ficou na adolescência e nos tempos da licenciatura. Depois disso, lamento, mas digo tudo, tudo, tudo. Já perdi muitos amigos a sério para ter de sentir-me na obrigação de apaparicar quem nunca me será nada para além de uma memória por quem sinto dó.

Já abriu


E abriu! Podemos descansar todos que já cá temos a Feira do Livro de Lisboa outra vez. Claro que hoje, quando saí da escola, dei lá um pulinho. Já lá fui em outros primeiros dias e fiquei mais impressionada do que desta vez. Nos pavilhões dos grandes grupos editoriais nem se chega a perceber em que difere o desconto da feira do que já é feito nas livrarias e hipermercados ao longo do ano. Dez porcento a menos no preço de capa também eu consigo noutros sítios sem precisar de ir à Feira, mas enfim. Claro que não podem pôr todos os livros ao preço da uva mijona, mas há obras já publicadas há tantos anos e que de edição para edição têm tido, na Feira, sempre um preço alto de mais para aquilo que estamos efectivamente dispostos a pagar. Que se cobrem bem no que é relativamente recente, ainda percebo, mas que exagerem no que já está manifestamente envelhecido, é abuso.
 
Onde notei mais os descontos foi nas pequenas editoras. Aí sim encontramos pechinchas que valem a pena. Por exemplo, só não me desgracei na Cavalo de Ferro porque o multibanco não estava a funcionar. Mas amanhã voltarei (e com companhia), por isso tratarei do assunto nessa altura.
 
Visitem a Feira, passeiem, comprem o que puderem e leiam. Leiam muito!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Lembrete

Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.
Esta semana começa a Feira do Livro.

E é isto que gostava de recordar.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Do primeiro amor

Um dos meus alunos é tão giro que tem, praticamente, toda a escola apaixonada por ele. Mas ele gosta só de uma menina, que eu bem sei e ele não mo esconde. O problema é que o desgraçado não tem sossego nos intervalos porque tem umas seis ou sete malucas a correr desalmadamente atrás dele e a gritar-lhe sonoramente aos ouvidos. A ideia delas é mais ou menos algo como "Se eu o ensurdecer e enlouquecer, talvez ele repare em mim". Não tem resultado.

Entretanto, a menina de quem ele gosta mesmo e que desconfio que também o adora vai andando por ali muito discretamente. Tanto que quase nem se dá por ela. Vai mantendo a histeria feminina das outras debaixo de olho, bem como as corridas de fuga em desespero que ele dá à frente das fãs, mas sempre muito graciosamente. Quase nem se dá por ela.

Mas ele apercebe-se, que não é parvo nenhum. E esta tarde resolveu dar-lhe um beijo. Melhor: resolveu roubar-lhe um. No meio do campo de futebol dirigiu-se a ela e, numa fracção de segundo, chegou a boca dele à dela, para desespero do resto das outras apaixonadas. E depois? Depois a menina de quem ele gosta virou a cara para escapar ao beijo (é assim mesmo, faz-te de difícil, pá) e, ao fazê-lo, mordeu a língua (a dela, felizmente). Resultado: a tentativa de roubar um primeiro beijinho levou a menina em lágrimas para junto de uma das auxiliares, perguntando se a língua estava bem porque a tinha mordido muito.

Ele lá deve ter ido para casa todo pimpão e tenho para mim que esta noite lhe vai parecer longa como tudo e que o amanhã nunca mais chega.

sábado, 18 de maio de 2013

Para ti, por hoje

Para ti, por hoje

Num dia como o de hoje, falar em orgulho é pouco. Dizer que te admiro também. Desejar-te um caminho cheio de sucessos também não me chega. Num dia como o que agora acaba é que vejo que as palavras são verdadeiramente poucas para certas coisas que acontecem e que se sentem cá dentro, bem cá dentro, tão cá dentro que chega a doer. Descobri hoje e contigo que as palavras são poucas para tudo: puxam-se para tapar a cabeça e destapam-nos os pés. Neste caso fiquei de coração destapado à procura das palavras mais certas para dizer-te tudo o que importava. E nada.
 
Além de tudo o que foi o dia de hoje, fiz esta gigantesca descoberta: as palavras que nunca me faltaram são afinal poucas para ti e para tudo o que ainda tenho para te dizer. Sim, estou orgulhosa; sim, estou feliz por ti; sim, gosto de ver-te chegar onde querias estar; sim, admiro-te muito. Mas há mais, há muito mais que não consigo dizer nem com a ajuda de um dicionário, nem com um prontuário, nem com toda a pontuação do mundo. Num dia como o de hoje só posso esperar que o silêncio cubra aquilo que as palavras não dizem e que chegue mais longe do que a meia dúzia de coisas que acabo por, toscamente, exclamar.
 
E por isso espero que o meu silêncio e as minhas palavras te mostrem, hoje e em qualquer dia, que aqui estive, estou e estarei para mais caminhadas como a que agora vai terminando. Longas, extenuantes, difíceis, assustadoras ou mais suaves, agradáveis e simples. Estou cá para todas desde que sejam contigo. Com palavras ou sem elas, aqui estou; aqui estamos.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Orgulho

Admito que dá um gozo enorme saber que um aluno meu recebeu uma menção honrosa e um prémio num concurso de escrita no qual participou com a minha ajuda. É um orgulho gigantesco! Até que enfim uma boa notícia.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Promissor

Este número do JL é muito promissor. A capa dá vontade de sair a correr para ir comprar o jornal e lê-lo de uma assentada. Além do destaque para um pensador como Eduardo Lourenço, fica a promessa de um folhetim (à moda antiga) e de novidades sobre a Feira do Livro (que é o que todos queremos). Tenha eu tempo de o ir comprar e cá virá parar. Para abrir o apetite, fica a capa:

sábado, 11 de maio de 2013

Sai um chazinho calmante

Estou de castigo a corrigir testes e já vi pérolas indescritíveis, mas resolvi partilhar esta em particular convosco.

Num teste do quinto ano coloquei a pergunta "A quem interessam as indicações cénicas iniciais?". Fora o facto de poucos terem percebido que convinham aos atores que representassem a peça e ao encenador, uma menina, tendo o enunciado à vista enquanto fazia o teste, começou a sua resposta assim: "As indicações cénicas enterreçam...".

Se há coisa que me enerva é verificar que os alunos deixam passar as oportunidades que lhes dão. Errar numa palavra que não está escrita à sua frente, com a idade deles, até se compreende (embora com um nó na garganta); errar em praticamente todas as sílabas de uma palavra que estava escrita em letra Cambria de tamanho 12 no enunciado já é coisa para arrancar cabelos. 

A propósito, segundo um aluno meu, quem escreve peças de teatro é um "dramaturco". Deve ser um turco que faz grandes dramas. Sai um chá calmante de tamanho XXL...

Paraíso Inabitado

Estou a gostar muito, muito deste livro da Ana Maria Matute. Paraíso Inabitado narra as memórias da infância mágica de uma menina chamada Adriana. Incompreendida, anã em terra de gigantes (o nome que atribui aos adultos), é constantemente comparada com a irmã mais velha, a certinha Cristina. Adriana gosta de se esconder, de olhar os pormenores, de inventar mundos, de ouvir e de criar histórias, gosta do silêncio e é de poucas palavra. Por isso é, aos olhos da mãe e da maioria dos outros adultos, uma menina "má". Felizmente há alguém que a sabe escutar e que percebe que sob aquela diferença toda está uma menina espertíssima e muito especial.

Nunca tinha lido nada desta autora, mas estou a gostar bastante desta história tão acolhedora e tão bem escrita. Experimentamos ver o mundo pelos olhos desta criança que se esgueira pela casa para espreitar sombras e para ouvir as palavras dos outros não por maldade, mas por curiosidade. Adriana vê um mundo muito diferente daquele que todos nós vemos. Encontra fantasia no muito que vê e, já que ninguém lhe explica nada, ela própria busca as explicações de que precisa para continuar. Vê unicórnios nas suas escapadelas nocturnas pela casa e vê uma infinidade de possibilidades num castigo no quarto escuro. De repente a menina punida sente-se uma exploradora, criadora de novos mundos que vai inventando e sentindo. Muito como ela é a tia Eduarda, irmã da mãe, e a única que a entende. Estou ansiosa para ver o que vai acontecer com esta criança e com a sua infância tão (perdoem-me o pleonasmo) infantil e tão diferente de muitas das infâncias de hoje, tão parcas em sonhos e imaginação, tão ricas em jogos de computador e futilidades.


Bravo!

Belíssima capa! Adoro!


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Erros

Ontem precisei de escrever um recado na caderneta de um aluno. Ao folheá-la li o recado que uma colega tinha escrito uns meses antes. Nele estavam escritas palavras como "deverião" e "pude-se". Caiu-me a alma aos pés porque, se é verdade que todos podemos deixar escapar uma gralha de vez em quando, não é menos verdade que tal ortografia não é fruto de gralhas, mas sim de desconhecimento puro. Vindo de uma professora formada na área de Letras e com muitos anos de experiência, a coisa torna-se muito, muito, muito assustadora. 

Imagino o que terá pensado aquele pai quando leu tal recado. Que credibilidade tem um docente quando aquilo que escreve está pejado de erros, os mesmos que censuramos aos alunos dia após dia? Que confiança pode um pai sentir no ensino ministrado a um aluno quando o docente, ainda por cima experiente, erra naquilo que é mais básico e mais chocante: a escrita? 

Não fui eu que escrevi o recado, mas juro que me senti embaraçada com tal uso da língua. É uma vergonha chegar aos dez ou quinze anos de ensino, com um curso de Letras às costas e não saber que "deverião" se escreve com "m" no fim e sem til. É triste que alguém que alardeia tanto amor pela profissão escreva "pude-se" em vez da forma correcta do Pretérito Imperfeito do Conjuntivo: "pudesse". Mas, enfim, é o que temos. Resta esperar que os pais também não saibam escrever lá muito bem para não darem pelos erros...

Palavras duras

As novas edições dos livros do Miguel Esteves Cardoso estão em todo o lado e, honestamente, nunca lhes dediquei muita atenção. Porém, hoje resolvi ler as oito páginas que a Wook disponibilizou do livro de crónicas Como é Linda a Puta da Vida e fiquei com pena por não serem mais de oito. O modo como o autor fala da doença da mulher, a carta que escreve a Deus sobre o amor, a saudade e o medo que transparecem os textos iniciais tornam-nos realmente tocantes. Creio, por isso, que a compra deste livro é algo a considerar na próxima Feira do Livro de Lisboa.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre a Feira do Livro

A quem interesse saber como vai decorrer a próxima Feira do Livro de Lisboa, consultem o blogue cujo link aqui deixo. É interessante saber o que levou a algumas das alterações pelas quais a feira passou. Na minha opinião, a criação de praças próprias para alguns grandes grupos editoriais tirou parte da graça ao evento. Aquela Praça Leya é todos os anos uma aberração impossível de visitar em dias de maior afluência. E já nem falo no túnel que a Babel fez há uns dois anos e que era uma sauna. Giras, giras são as barraquinhas coloridas, abertas e típicas de uma feira que já leva mais de oito décadas de existência. Giro é andar por aqui e por ali e descobrir preciosidades que nas livrarias já não se encontram. Agora, a veia comercial que transforma certos espaços em metros quadrados iguais a algumas partes de hipermercados é um terror. 

http://edicaoexclusiva.blogspot.pt/

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Blasfemiazita

- Professora, sabia que Jesus Cristo morreu de hemorragia?
 
- Hmmm...
 
- Foi! Tinha os pés e mãos pregados. Que nojo!
 
- ...
 
(Perante toda a história, o que ocorreu ao meu aluno foi a parte do «nojo». Ok...)

terça-feira, 7 de maio de 2013

A Coisa Terrível

Dizia eu na quixotada anterior que comprei um livro. Pois comprei outro. Não se deve avaliar um livro pela capa, mas a verdade é que a primeira coisa que me atraiu neste livro foi, precisamente, o desenho na capa. As cores são bonitas, as imagens também, o cão estonteado a olhar o menino que voa é uma ternura.

A CoisaTerrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket é do mesmo autor de O Rapaz do Pijama às Riscas e dirige-se a um público mais jovem. Trata da história de um menino que nasce com a capacidade de desafiar a lei da gravidade e que flutua. Porém, esta peculiaridade traz-lhe muitos dissabores. Num mundo onde o aplaudido é ser igual, ser diferente é um fardo. Por isso a própria mãe obriga-o a partir. É aí que começa a verdadeira aventura deste menino capaz de ver o mundo a partir de cima. Fará uma enorme viagem, criará laços que de outra forma não conheceria, faz descobertas importantes. Parece-me, por tudo isto, um livro muito promissor. Um dia destes conto-vos como correu.


Notinha: A imagem saiu da página da Wook, como bem se pode ver.

Da minha inveja

Não ia com a intenção de comprar nada, mas é a história do costume: entra sempre um livro novo cá em casa. E quando não entra um, entram dois. Por isso da Fnac veio este Quadros Alentejanos, de Brito Camacho. Quem me conhece sabe que não resisto a um texto que retrate a vida nas aldeias portuguesas de agora e de antes. A paixão começou com Eça, mas sobretudo com o romance O Cónego, de A. M. Pires Cabral, que adorei e do qual já falei muito por aqui. Entretanto já comprei outros livros que tratam dessa temática, que procuram reproduzir as falas e os seres de pessoas que muitos tomam por ignorantes, mas que jamais o foram ou serão. Quadros Alentejanos já me tinha piscado o olho há uns dias, mas na altura resisti. Hoje, contudo, após folheá-lo mais atentamente percebi que o que ali estava era mesmo o que o título dizia: uma série de quadros que pintam sem tintas a realidade de uma zona rural, afastada dos grandes centros urbanos, com um tempo e um modus vivendi próprio e inimitável, feita da junção de muitas vozes e saberes, de muitas forças e vontades. Estes textos apaixonam-me muito mais do que aqueles que retratam as grandes cidades e a vida maluca de todos os dias. Essa eu conheço, a essa não associo nada de bom. Mas a vida do campo, a vida que saboreia os vários minutos de um dia, a vida que tem dentro dela muitas outras e onde o relógio abranda tanto que parece parar, essa atrai-me e recorda-me as férias de Verão de outros tempos. Na altura achava tudo mais mortiço, parado de mais, cansativo de tão apagado. Enganava-me. Essa era a vida colorida, a vida que vale a pena experimentar, a vida que permite olhar e reparar nas coisas. Aquilo que por aqui se vive está muito longe dessa pacatez quimérica que todos desdenhamos, mas que todos ambicionamos comprar.


Coisas que me acontecem

Fico muito enervada quando uns sapatos que nunca me magoaram o começam, de repente, a fazer. Hoje, logo pela manhã, resolvi calçar uns sapatos altos que não me aleijam e que tinham ido para arranjar no final do Verão passado. Surpresa das surpresas: os ditos sapatos, que nunca se molharam e que estão há mais de seis meses guardados numa caixa, estavam cheios de bolor. Alguém consegue explicar-me isto? Eu não consigo perceber... Resultado: ficaram em casa preparados para, no fim-de-semana, serem esfregados até me esquecer do estado em que os vi.

Assim sendo, escolhi outros, igualmente confortáveis e imaculados. Nunca me haviam magoado antes, portanto era à confiança. Uma porra! Tenho os dois pés esfarrapados graças a estes lobos em pele de cordeiro. Só a mim...

Passei anos da minha vida com um vício enorme por sapatos, mas a sofrer, paradoxalmente, com tudo o que punha nos pés. Tudo me magoava. Nem consigo descrever-vos a dimensão do problema, mas posso dizer-vos que vi vários centímetros dos meus pés sem pele. Feridinhos de todo. Num determinado momento e sem que alguma coisa o fizesse prever, os sapatos deixaram de me magoar. Não fiz nada à minha pele e em alguns sapatos apenas colocava uns protectores de calcanhar. Contudo nem os punha em todos e mesmo assim terminava os dias com os pés impecáveis. É por isto, por ainda me recordar destes tempos, que receio um regresso aos tempos de pés cheios de bolhas e esfolados. Vamos lá ver o seguimento que isto vai levar. Espero bem que seja muitíssimo pacífico.

A pilha

Todos os anos recebo as amostras de manuais para o próximo ano letivo. No ano passado recebi de três anos diferentes. Este ano, felizmente, os livros são só para um. Portanto, perante a fotografia do panorama do meu corredor que aqui vos deixo, imaginem como foi cá por casa no ano passado... Todas estas caixas contêm os manuais, cadernos de atividades, planificações, cd's e cd-roms referentes aos projectos das editoras para o nono ano de escolaridade. Onde arrumar isto tudo é a questão que se impõe.


domingo, 5 de maio de 2013

Um Dia da Mãe

Hoje é Dia da Mãe e tenho muita sorte por ter ainda por cá a minha, de quem gosto como não se consegue explicar. Já lhe dei uma prenda e um beijinho e ela sabe que eu a adoro.
 
Mas neste Dia da Mãe, a mãe da minha mãe já cá não está e é a primeira vez que assim é. Por isso é um dia triste, apesar de eu poder ainda mimar a minha. Sei que ela está triste e isso dói-me. Por essa razão, este ano, talvez só por este ano, apagava com gosto o dia de hoje do calendário só para não a ver sofrer e para não sentir, também eu, este enorme vazio.

Um caminho perigoso

Ontem, com muito para fazer, estive até de madrugada a preparar aulas e testes. Enquanto o fazia, ouvi o programa da Sic Notícias «Eixo do Mal». Num determinado momento, parei tudo o que estava a fazer para ouvir a Clara Ferreira Alves a aniquilar o governo que, mais uma vez, carregou os pensionista com novas medidas de austeridade. Carregou, portanto, quem já não devia ser carregado. A jornalista disse, num tom bastante elevado, que o que se está a fazer aos pensionistas é errado, pois são pessoas que trabalharam durante a sua vida e que agora recebem pelo trabalho que fizeram. Não têm de ser tratadas como se já não prestassem, como se fossem uma eterna fonte de despesa e, por isso, estivessem na obrigação de contribuir novamente e muito. Mencionou ainda o desamparo a que muitos idosos estão votados, a quem tudo é dificultado, que são largados à porta dos hospitais pelos familiares que já não têm como cuidar deles, para os quais o acesso aos cuidados de saúde é um problema constante. Mas mesmo com todas essas dificuldades, tratam-se os pensionistas como se fossem responsáveis pela porcaria que foi feita até aqui, como se a necessidade de lhes pagar as merecidas reformas fosse motivo de castigos que vêm sempre em forma de novas medidas de austeridade. A Clara Ferreira Alves falou, então, em «eugenia». Referiu vigorosamente o carácter eugénico do tratamento dado pelos jovenzinhos do Governo aos pensionistas e o perigo que tal modo de agir representa. É que, disse ela, à terceira idade todos nós chegamos e esta forma de lidar com os que já trabalharam o que tinham a trabalhar é um caminho muito perigoso de trilhar. No fundo, são medidas contra uma parte da população que é tratada como lixo que só dá despesa e isto é assustador.
 
Tenho pena de não ter o vídeo do programa de ontem para mostrar-vos. Mas a Sic agora cobra 0,74€ para vermos cada vídeo da sua página e, honestamente, não estou para dar-lhes esse dinheiro. Aliás, essa é outra coisa linda: chegámos ao ponto de um canal cobrar para se verem reportagens ou programas que já passaram na televisão. Pagamos, durante vinte e quatro horas podemos ver o vídeo. Se depois disso quisermos voltar a vê-lo só temos de pagar outra vez. Sem comentários.
 
Por isso, minha gente, só posso aconselhar-vos a assistirem a uma repetição do programa de ontem (vejam as datas) ou a esperarem que o mesmo apareça miraculosamente no Youtube. Vale a pena ouvir o que aquela senhora disse. Arrepia, é certo, mas vale bem a pena.

Gravidade ao contrário

Hoje desejei muito que a lei da gravidade parasse de funcionar por um bocado de modo a eu consegui também incomodar os ogres do andar de cima com as coisas que deixo cair. Eram seis horinhas da manhã quando estes cavalos já trotavam pela casa e já escaqueiravam no chão objectos vários. Para conseguir dormir, tive de esconder a minha cabeça entre duas almofadas.

Palavra de honra que gostava de, um dia, conseguir arrancá-los ao sono da mesma maneira maluca que me fazem a mim. Para isso dava-me jeito uma pausa nesta coisa de os objectos caírem sempre para baixo e nunca para cima. Pode ser? Alguém desliga o botãozinho da gravidade e permite-me uma gostosa vingança? Muit'agradecida.

sábado, 4 de maio de 2013

Mil já estão

 
Com estes números vistosos, escrevo a milésima quixotada. Que coisa catita! Que número redondinho!

Sem limites

Soube ontem de uma história passada numa escola pública muitíssimo conceituada de Lisboa que deixa arrepiado qualquer ser normal. Em rápido resumo, uma mãe foi à escola saber por que razão a filha de treze anos fora agredida fisicamente por uma aluna de dezassete dentro do recinto da escola. Isto aconteceu, note-se, depois de uma discussão típica de gajas em que cada uma tenta ser mais peixeira do que a outra (que me perdoem as peixeiras). Ora, no calor da discussão, a mais velha mandou a menina de treze anos calar-se e chamou-a de "gorda", ao que esta respondeu "gorda é a tua mãe".

Como todos os que já andaram na escola sabem, uma frase destas costuma dar direito a uma valente cena de pancadaria. Este caso não foi excepção. Assim sendo, como disse, a mãe da menina mais jovem foi à escola ver o que se passava. Quando chegou lá, viu a agressora da filha a fumar um cigarro ao portão e cometeu a enorme e inocente imprudência de ir ter com ela e de pedir-lhe que a acompanhasse ao Conselho Executivo para averiguarem o que acontecera. A menina disse que não podia porque estava a fumar e a mãe prontificou-se a esperar que ela terminasse. Surgiu, entretanto, vindo não se sabe de onde o namorado da menina que, imediatamente começou a empurrar a senhora. Num fenómeno tipicamente escolar, um monte de miúdos começa a cercar a mãe da menina de treze anos.

O marido da senhora esperava-a no carro e ao ver o que ali se passava foi até lá. E eis que um miúdo com idade para ser filho dele lhe dá um pontapé na barriga. Confusão e mais confusão, auxiliares a tentarem parar com aquilo, miúdos a fugirem... Enfim, um arraial.

A encarregada de educação lá foi acompanhada por uma auxiliar até ao Conselho Executivo. Ficou no corredor à espera de que a mandassem entrar. Nesse momento, a menina de dezassete anos aparece e atira-se ao pescoço dela gritando "Eu vou matar a tua filha!". Seguram-na pelos braços e lá continua ela a agredir a pontapé a mãe da colega em quem tinha batido horas antes. Quando a cena acaba, a encarregada de educação foi, finalmente, recebida pelo director. Aparentemente até agora nada foi feito para resolver o problema.

Digo há muitos anos que andar na escola nos dias de hoje é como atravessar uma enorme e perigosa selva. São muitas educações diferentes, muitas maneiras de ser distintas, muitos limites diferentes, impostos de forma díspar de pai para pai. São muitos problemas, frequentemente graves, a conviver no mesmo espaço e tanta diversidade gera conflitos desde há muito. Ainda assim, esta história deixou-me de boca aberta pela falta de limites destes miúdos que já nem passam sem pontapear e esbofetear os pais de uma aluna. Os miúdos sempre se bateram, mas havia um limite bem definido e esse eram os adultos. Se a mãe de uma colega com quem eu tivesse tido um arrufo fosse à escola tirar satisfações eu encolhia-me toda. Eu e qualquer outro colega. Agora, isso de ser adulto já não garante que não se apanhe uma sova à porta da escola. Choca-me que para alguns adolescentes bater em tudo e em todos seja a única solução para as frustrações. Se estes montes de esterco atrasados são o nosso futuro, então é oficial: estamos e estaremos na merda. Quando alguns dos adolescentes de hoje não conseguem arranjar dois neurónios que lhes permitam perceber que há actos que não se podem cometer, que para tudo existem limites e que não podemos seguir instintos primários e privar-nos da razão, estamos muito, muito, muito mal.

Novidades da feira

Além de uma História de Espanha, de uma antologia de contos, de um romance do Somerset Maugham e de um livro de Sepúlveda, trouxe da Feira da Ladra estas novidades editoriais que me andavam a seduzir há uns dias. No metro li algumas das crónicas de Manuel António Pina e dei uma gargalhada das boas. Era um excelente autor e falava de tudo com graça, mas com muito acerto. Sente-se a falta de pessoas assim.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Inacreditável

Acreditem ou não, cheguei há pouco a casa, vinda do cabeleireiro onde entrei às cinco da tarde. Até venho enjoada com a tarde perdida que foi. Sim, está bem, o cabelo ficou giro, mas há exageros que enojam e cinco horas e meia num cabeleireiro entram nessa classe. Acabei a vir de taxi para casa porque, tendo entrado lá ainda com um belo sol, nunca pensei que acabasse a sair de lá à hora a que normalmente me deito. Estava esgotada de mais para caminhar.

E o que fiz? Corte e madeixas. De ouro, parece-me.

O dente

Hoje, durante o teste da minha disciplina, caiu um dente de leite a um aluno meu. Que ternura!

Espero que a Fada dos Dentes lhe traga uma boa nota.

A cor das cuecas

Sinceramente, há quem exponha pormenores da própria vida na internet que é de uma pessoa ficar de cara à banda. Bem sei que os blogues permitem um certo anonimato, ainda assim há coisas que ninguém precisa de saber. E depois há sempre quem consiga aplaudir tudo, não ter espírito crítico nem filtro para nada e achar muito normal que alguém vá dizer no blogue coisas que de tão privadas chegam a incomodar.

Bem sei que cada um age no seu espaço como quer, que os blogues servem para isso mesmo, que são os sítios onde podemos deitar para fora muito do que anda sempre cá dentro. Mas, caríssimos, menos. Muito menos. Quando todos passamos a conhecer a cor da vossa roupa interior, alguma coisa está a mais. Somos todos diferentes, eu sei, e cada um coloca os limites onde quer. Mesmo assim isto confunde-me. As pessoas chutam para fora tudo o que lhes sobe ao miolo, o que pode ser e o que não deve ser, mas depois abespinham-se quando alguém se estica nos comentários. Irritam-se quando alguém avacalha ainda mais do que o próprio. Bom, "quando um não quer, dois não dançam": é verdade bem sabida...

O facto é que estes blogues de que falo (ou pelo menos alguns deles) têm muitas visitas diárias e muitos comentários por post. É natural uma vez que a veia coscuvilheira do pessoal está sempre em alta. O que devia era existir um filtro por parte de quem escreve e partilha com o mundo. Chamem-me careta, conservadora ou chata, o que queiram. A verdade é que leio coisas que me deixam de boca aberta e não pelas melhores razões. Quando é que o que aparece nos blogues deixa de ser interessante e passa a ser lixo é a questão que se impõe. Mas além disso: o que espera conseguir quem revela tudo? Visitas diárias? Comentários engraçados? Fama? Tenho a minha opinião, mas gostava de estar enganada.