sábado, 29 de abril de 2017

Abram alas que eles querem passar!

Mais estes para as estantes (sabe Deus onde os vou enfiar...):

(Infelizmente, ficou a faltar-me o volume III, que terei de procurar para completar a colecção. A menina quer o terceiro volume! Já agora: não me apeteceu fotografar os meus livros, por isso esta imagem saiu daqui.)







(E estas capas saíram, como se vê, da página da Wook.)

terça-feira, 25 de abril de 2017

Sugestões (horríveis) para o Dia da Mãe

Fico doente quando vejo as sugestões de presentes para o Dia da Mãe, principalmente no que se refere a livrarias. Fico enjoada, muito, muito enjoada. 

Já o conceito de «Literatura no Feminino», usado por algumas livrarias, deixa-me a pontos de arrancar cabelos! O que raio são livros para mulheres? E por que motivo livros com histórias de amor delico-doces (Sparks, Modignani, Steel e quejandos) são o que ocorre aconselhar às mães? Será que as têm por tão apoucadas que a leitura que se lhes associa é essa? Já para não falar quando no fundo da lista aparecem livros de culinária e semelhantes lavores...

Não sei que raio de ideia se faz das «mães» portuguesas, mas se calhar carimbá-las com a marca de dona de casa desesperada que lê sobre amores porque é uma romântica incorrigível é para lá de estúpida. A minha mãe, uma das mais vorazes leitoras que conheço, lê policiais (e consegue perceber quase desde o início quem é o assassino), lê clássicos (ingleses, russos, alemães, franceses... não é esquisita), lê romances históricos, lê biografias, lê livros de história. Mas a minha mãe, tal como eu, não lê Sparks, não lê Steel, nem Modignani e achou o bestseller A Rapariga no Comboio uma porcaria (eu li os primeiros três capítulos e concordei com ela: fraquinho, fraquinho). Por isso, as sugestões medíocres que tendem a fazer-se para oferecermos às nossas mães envergonham-me. Não porque a minha mãe seja um espécime estranho que deve ser estudado, pois haverá por aí muitas mulheres com um cérebro composto por dois hemisférios inteiros que lêem mais do que os romances cor-de-rosa de história formatada para ser sempre igual. Todavia, invariavelmente, ano após ano lá vêem as brilhantes sugestões para o Dia da Mãe. Para sugerir-se o que se sugere, mais vaia estar-se calado. 

Eu já nem aprecio muito isto do Dia do Pai, Dia da Mãe, Dia dos Avós, mas sobre isso falarei noutra altura. Agora, que estes dias sirvam para recordar-nos que ainda existem maneiras muito estereotipadas para olhar mulheres e homens parece-me bastante idiota. Acho que a esta altura, já estas distinções ridículas, estas maneiras de carimbar eternamente as mulheres (e os homens porque quando chega o Dia do Pai a coisa não é muito melhor) não deveriam existir, mas pelos vistos «mudam-se os tempos», contudo não se mudam as vontades.

Mais quatro





Sou pessoa para lamentar a proximidade de uma loja que, entre outras coisas, vende livros em segunda mão a preços fofos. O que faço à minha vida, senhores? Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

E eis que chega outro...


Comecei a fazer um curso livre sobre imagens da Europa na literatura do século XX. Começamos com Zweig e acabamos com Mário de Carvalho e com este romance. Pelo meio passamos por Calvino e por Le Clézio. O tema do curso é muito interessante e o cérebro já precisava destes miminhos porque uma das coisas que mais me entristecia enquanto professora de horário (mais que) completo era a impossibilidade de fazer fosse o que fosse porque se numa semana talvez pudesse ir, bastava haver uma crise qualquer para marcar-se uma reunião e todos os planos irem ao ar. Como o tempo livre agora permite estas coisas, além de poder ler, também posso ir ouvir falar quem sabe e passar eu ao lugar de aluna.

Penso que de Mário Cláudio só li o conto «A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho» e o livro Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão. Será a primeira vez que lerei um romance seu. E eis que assim se alargam horizontes literários...

domingo, 23 de abril de 2017

Manual de sobrevivência para quem vive com gatos

Depois destes anos a conviver com dois gatos absolutamente loucos, resolvi partilhar com o mundo um breve, porém estupidamente útil, manual de sobrevivência para humanos que convivem com estes felinos. No fundo, são algumas regras que devem ser seguidas de modo a que não passemos a vida mordidos, arranhados ou, quem sabe, assassinados por gatinhos numa das esquinas da nossa casa. Se tem gatos, esta quixotada é para si. Aproveite-a que é de graça e inclua-a na sua vida: ela pode prolongá-la. Muito.

Ora bem, vamos então às regras que, se devidamente observadas, tornarão a convivência entre humano e gato numa coisa mais ou menos pacífica (dependemos sempre do humor deles). Grafarei doravante o nome do animal em causa com letra maiúscula, pois refiro-me aos gatos em geral e também porque tenho um medo tremendo de lhes faltar ao respeito e acabar chacinada.

1.ª Regra - Ter sempre plena consciência de que quem manda é o Gato. Nós limitamo-nos a viver em casa dele e a desempenhar o papel de escravos das divindades felinas.

2.ª Regra - Quando o Gato quer, o Gato tem. Seja comida, festinhas ou brincadeira: não há cá «Agora não posso, Tareco.». O não cumprimento desta regra pode causar dores excruciantes.

3.ª Regra - Mudar os lençóis da cama com o Gato no quarto pode ser giro, mas também extremamente perigoso. Para evitar males maiores, utilize umas luvas próprias para a falcoaria ou um fato de apicultor. Nunca, repito, NUNCA opte por deixar sua majestade fora do quarto ou ao abrir a porta pode ter uma surpresa.

4.ª Regra - Evite vestir ou transportar coisas que tenham penduricalhos, sob pena de ganhar um penduricalho novo que tem dentes aguçados e unhas capazes de tornarem as dores de parto em algo para rir. Cerifique-se de que não «deixa pontas soltas». Se não o fizer, não se queixe, pois o Gato terá o direito de exercer o seu poder (que é imenso).

5.ª Regra - Não tente mexer em atum sem utilizar a frase «Eu já dou!», seguida do efectivo acto de dar um prato bem composto com esse peixe delicioso. A observância desta regra pode evitar um ataque do Gato e já sabe que ele ganha sempre. A propósito: o ataque por privação de atum é o pior.

6.ª Regra - Abanar o pratinho da ração não é dar ração. Nunca pense que pode enganar o Gato. Ele tudo sabe e tudo vê. Quando menos esperar, tê-lo-á a roer-lhe os pés ou a afiar as unhas na sua perna esquerda.

7.ª Regra - Aprenda o mais rapidamente possível que o seu conceito de «prato com comida» não é o mesmo que o do Gato e ele é que sabe. Se tem um buraco no meio e muita comida à volta, encare isso como sendo um prato vazio que tem obrigatoriamente de ser enchido. Recorde a regra anterior: abanar o recipiente não chega. O Gato é um ser superior e ele sabe como dar cabo de si sem deixar vestígios.

8.ª Regra - Se vir o Gato de barriga para cima, não ceda à tentação de meter a mão naquele pêlo fofinho. Provavelmente, tratar-se-á de uma armadinha urdida pelo Gato: mostrar a sua zona mais fofa com todo o descaramento, sabendo que o dono não resistirá a fazer umas festas. O que se seguirá envolve lágrimas e gritos de dor, já que o Gato enrolar-se-á sobre si próprio, tornando a sua mão refém das suas múltiplas unhas e dentes.

9.ª Regra - Aprenda a manipular o Gato. Atenção que «manipular» tem aqui o sentido de mexer. Recorde a regra anterior e lembre-se que embora o todo seja perfeito, há partes do Gato em que não se deve tocar, pois não é suficientemente bom para o deus felino e porque pode gerar a ira dele. Acredite: preferirá cuspir bolas de pêlo em vez de sentir a ira do Gato.

10.ª Regra - Se o Gato tiver de tomar comprimidos, converta-se a uma religião, se não tiver, e comece por rezar. Talvez até por fazer uma promessa à divindade da sua devoção. Dar um comprimido ao Gato pode ser tão perigoso como colocar a mão numa hélice em funcionamento. Assim, recorrer à Fé pode ser mesmo a sua única solução.

11.ª Regra - Cortar as unhas ao Gato, dar-lhe banho e penteá-lo podem ser as últimas tarefas que fará na vida. Certifique-se de que tem um testamento válido antes de realizar qualquer uma destas actividades. Se o Gato lhe permitir alguma delas sem luta, verifique com atenção se se trata mesmo de um gato. Pode ser um gerbo e nunca ter notado.

12.ª Regra - Saiba que o Gato é um ser superior. Se ele se deitar sobre a roupa escura que vai vestir nesse dia e que deixou disponível em cima da cama enquanto foi tomar banho, aguente e não chore. Pense que assim todos saberão que tem um deus peludo em casa e admirá-lo-ão pela bravura com que enfrenta o desconhecido (e o terror) diário. Um rolo autocolante pode, em todo o caso, auxiliar bastante. Evite apenas que o Gato veja que se descarta assim do pêlo que ele, tão atenciosamente, quis colocar na sua roupa com o fim único de melhorá-la.

13.ª Regra - Se o Gato dormir consigo, adopte uma postura passiva e nada territorial relativamente ao espaço ocupado por cada um. Embora o Gato consiga ficar muito compacto ao enrolar-se de modo a reservar todo o calor, se lhe for possível ocupar 3/4 da cama e deixá-lo destapado, ele fá-lo-á só porque pode. Aguente resignadamente, pois o Gato é o dono de tudo o que possui, mesmo que lhe tenha sido oferecido pela sua mãe. A cama é dele, o colchão é dele, o cobertor é dele, você é dele. O caminho da resignação é o menos doloroso. O outro envolve arranhões e dentadas, por isso dói mais.

14.ª Regra - O Gato, ao contrário do cão, desconhece o advérbio de negação. Aliás, o Gato, quando ouve a palavra «Não!», padece de surdez temporária. Por isso, nem se esforce: deixe-o partir tudo. Uma decoração minimalista está sempre na moda e o Gato é que sabe. Alguma vez viu um gato fora de moda? Ora aí está.

15.ª Regra - Se vir o Gato em posição de ataque, barrique-se e ligue para um dos seus contactos de emergência: pode estar em perigo de vida. Se ele estiver em posição de ataque e o rabinho abanar de um lado para o outro, saiba que será imediatamente atacado sem qualquer misericórdia. Nesse momento, já não estando a tempo de fugir, limite-se a encomendar a sua alma ao criador, pois o Gato fá-lo-á em fanicos.

16.ª Regra - Se gosta de uma cama limpinha, de um chão imaculado, de um sofá sem cocós, limpe cuidadosa e diariamente a caixa de areia do Gato. Se não o fizer, estará implicitamente a conferir-lhe o direito de se aliviar na sua camisola favorita, na sua almofada, nos seus ténis ou na sua cara se o apanhar a dormir. Se não limpar a caixa de areia, evite dormir de boca aberta.

17.ª Regra - Não assuste o Gato. Além das pontas aguçadas, existem outras armas letais escondidas no Gato. Saiba que na parte traseira da entidade felina existem umas glândulas que expelem um pivete nauseabundo quando, por exemplo, o Gato é vítima de um susto. Se não quer ir trabalhar fedendo a bacalhau podre (o cheiro não sai facilmente), evite os sustos. Lembre-se de que ninguém acreditará quando disser «A culpa é do Gato.», pois todos sabem que ele é um ser superior e muito asseado.

18.ª Regra - Se não queria o sofá arranhado, não comprasse um. É do conhecimento geral que os sofás são arqui-inimigos do Gato e séculos de História têm mostrado batalhas infindas em que o Gato domina o sofá com o poder das suas unhas. Se o seu Gato descobriu o sofá, em vez de o trancar fora da sala, agradeça aos céus ele não ter descoberto as suas costas.

19.ª Regra - Certifique-se sempre de que o seu relógio não está a fazer reflexos na parede. Caso isso aconteça, tire o relógio ou ampute já a mão. Mais tarde ou mais cedo o Gato arrancar-lha-á.

20.ª Regra - Respeite o espaço do Gato. Se ele está a dormir, deixe-o dormir. Se ele está na caixa de areia, deixe-o estar. Faça-lhe festas quando ele pedir e apenas nos sítios certos. Brinque com ele e proporcione-lhe exercício que o deixe cansado, mas não prestes a cair para o lado. Dê-lhe água fresca todos os dias e comida, porque caso não tenha notado, ele não tem mãos para ir servir-se sozinho. E já que você mora em casa dele, então que sirva para alguma coisa e que trate daquela divindade peluda.

Cumpra escrupulosamente estas regras e ambos viverão em paz. Ou talvez não porque com o Gato nunca se sabe.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Prendas de casamento

Estive num autocarro onde duas senhoras com idades a rondar os sessenta anos conversavam sobre como a vida estava difícil. Uma delas, pelo que percebi, tinha inclusivamente o marido desempregado e queixava-se de que este mês estava a ser muito difícil porque apareceram despesas extraordinárias que a obrigaram a mexer nas poupanças que fizeram quando o marido ainda trabalhava. 

Ora, ambas as senhoras afirmaram que, ainda por cima, teriam dois casamentos este mês e que, embora não fossem gastar em roupa porque tinham de outros casamentos, precisariam de dar a prenda (dinheiro) aos noivos. A senhora que parecia passar mais dificuldades começou a dizer que não sabia quanto havia de dar, mas que menos de setenta ou oitenta euros por pessoa não podia ser, já que os noivos deveriam pagar em torno disso por cada convidado e se dessem menos, imagine-se o despautério, acabariam os noivos por estarem a pagar para os convidados irem ao casamento! Isto, para a senhora, não podia ser de modo algum e, portanto, chegou à conclusão de que menos de duzentos e cinquenta euros não poderia dar (por ela, pelo marido e pela filha, já emancipada e a viver com o namorado...). Terminou esta conversa dizendo que duzentos e cinquenta euros é muito dinheiro e que nesta altura da vida lhe fazem muita falta. 

O que eu vou dizer pode ir contra o que muitos pensam sobre presentes de casamento, mas é a minha opinião desde sempre e, por isso, a que tenho  aplicado ao longo do tempo (independentemente do que pensem de mim). Quando me convidam para um casamento, deduzo que seja por quererem ver-me lá. Muitas vezes vamos a festas a que nem apetece muito ir, porém vamos porque gostamos das pessoas que nos convidam. Ora, todos temos certamente outras coisas em que preferiríamos gastar o dinheiro: belas almoçaradas, viagens, roupas de que gostamos... Ou podemos, simplesmente, querer poupar o nosso dinheiro. 

Se um casal nos convida para um casamento e tem por intuito que cada um pague o seu lugar, isso pode levar a que acabemos a pagar umas centenas de euros, pois nós só pagamos, não vamos com os noivos aos restaurantes e quintas para escolher o que é mais barato. Portanto, é o sistema "eu-gosto-de-ti-e-quero-que-vás-ao-meu-casamento-mas-paga-o-que-o-restaurante-pede-e-não-bufes". Não concordo com isto e, portanto, não dou mais do que aquilo que quero e posso dar no momento, sendo que nunca chega sequer perto da centena de euros. Às vezes nem a metade. 

A meu ver e como disse, se me convidam é porque me querem ver lá e não é à espera de que lhes pague a festa e muito menos os devaneios que possam levá-los a optar por almoços de cem euros por pessoa. Porque se assim for, então prefiro pegar no dinheiro, no grupo das pessoas que me são mais próximas, e ir almoçar ou jantar onde mais quisermos. Não concordo que os convidados tenham implicitamente de pagar o que consomem. São convidados e os valores não são lá muito razoáveis. Principalmente quando se trata de uma família de três ou quatro pessoas. Os ordenados não são assim tão altos para que tenhamos vontade de entregar metade (ou mais) do salário de um mês aos noivos que nos convidaram para o seu casamento. Por isso, não dou mesmo aquilo que outros costumam oferecer, fazendo tantas vezes sacrifícios inaceitáveis. Prefiro nem ir do que fazer isso. Há muitos projectos que fazemos para o nosso dinheiro e por vezes até os vamos adiando, adiando porque não queremos gastá-lo. Ora, parece-me
injusto que não façamos aquilo que gostaríamos de fazer para depois pagar o nosso lugar quando fomos convidados para estar lá. 

Podem até dizer-me "Ah e tal, mas nas festas de aniversário acontece o mesmo."  Pois, mas geralmente um jantar de aniversário não chega nem ultrapassa os oitenta euros por pessoa, como a maior parte dos casamentos. Se der na cabeça dos noivos de fazerem a festa num local que peça duzentos euros por pessoa (baseando-se na ideia de que os convidados pagam) tenho de pagar e calar? Não. Prefiro pegar nos duzentos euros e fazer outra coisa com eles, então. Algo comigo ou com os que me são mais próximos. 

Bem sei que a minha opinião vai contra o que é costume, mas não me importa. O dinheiro custa a ganhar e pagar as festas de outros não me parece forma de gastá-lo. Dar alguma coisa, tudo bem. Pagar integralmente o que consumo numa festa para a qual fui convidada e sobre a qual não tive voto na matéria é coisa com a qual não concordo. E muita gente também não aprecia por aí além este sistema, mas não vai contra ele porque parece mal dar menos do que aquilo que os noivos vão pagar. Não me levem a mal, mas se não há dinheiro para casar, não casem. Não acho bem é que o façam a contar que os convidados paguem a boda. Então as pessoas andam a evitar tantas despesas para depois acabarem a entregar centenas de euros para pagar um almoço em que nem a ementa puderam escolher? Parece-me que essa forma de pensar implica contar com o ovo naquela parte da galinha. Tantas vezes que já me perguntaram quando casaria e me disseram que o que os convidados dão paga o casamento e ainda sobra dinheiro! Como não concordo com isso, não caso, a menos que tenha dinheiro para pagar tudo e que os convidados não se sintam obrigados a pagar o que consomem. 

Portanto, não há casamento no horizonte. 

terça-feira, 18 de abril de 2017

Destruidores implacáveis

À tarde passei na loja da clínica veterinária onde levo os meus miaus para comprar o desparasitante, pois amanhã é dia de correr esta gente a pipetas (e em Julho é a nossa vez, coisa que TODA A GENTE DEVIA FAZER, já que não são só os animais que precisam de desparasitar-se). Ora, a veterinária, sabendo que a minha gatica tinha feito dois anitos, resolveu dar-lhe um presente e ofereceu-lhe um brinquedo daqueles que consiste numa cana com um boneco e um guizo na ponta. Trouxe o brinquedo para casa, desembalei-o e... Cinco minutos depois estava assim:


Cana e fio para um lado, rato para o outro, guizo completamente solto. Quando eu digo que estes tipos peludos são dois bulldozers destruidores, as pessoas riem-se. É que quem olha para eles vê poços  de fofura sem fim. Pois, mas também são duas bestas. Nada lhes sobrevive. Admira-me ainda ter paredes, portas e tecto! São dois gatos que me parecem doze e cada vez mais acho que um dia me darão uma sova de chinelo. Dali já espero tudo.

Bom, agradecemos muito à veterinária. Amanhã pego em agulha e linha e tento solucionar esta morte prematura de um peixinho recheado de catnip.

Outra questão muito séria

E uma pessoa ir à mercearia, comprar uma viçosa alface toda verdinha e mesmo a pedir para transformar-se em saladas, ir utilizá-la no dia seguinte e perceber que tem mais piolhos do que seria desejável? É ou não um problema bastante sério no mundo?! Para mim é, pois estive ali mais tempo do que aquele que esperava perder a lavar meia dúzia de folhas com maior densidade populacional do que a Amadora. Desalojei uma vasta família de piolhos e temo uma revolta dos que ainda sobraram no resto da alface. 

Amigos, se alguém me fizer mal, sabem onde procurar os culpados: no meu frigorífico. Temo o pior. 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um novo nível de estupidez

Esta quixotada podia transformar-se em três ou quatro diferentes, nas quais destilaria sobre cada um dos elementos que aqui vou enfiar no mesmo saco: o merecidíssimo saco da estupidez. É um presidente americano que deseja tanto criar uma guerra que até está a ver se a inicia em três frentes distintas (depois estou para ver como se desenrasca. Faz-me lembrar a Espanha dos Reis Católicos, com tantas frentes de guerra em aberto que depois nem sabiam como manter-se, como manter as guerras, e como manter o seu povo sem uma revolta); são claques de futebol que demonstram que o desporto não é o que os move, mas sim a vontade de ferir a claque rival numa falta de respeito e de humanidade que transtorna até o mais pacífico dos seres; são os idiotas dos pais que se recusam a vacinar os filhos porque meteram na cabeça que as vacinas são prejudiciais e blá blá blá e depois põem os filhos deles e os dos outros em risco; é o doido americano que mata um homem e publica o vídeo no Facebook (entretanto retirado pela empresa, mas visualizado por muitos antes disso) e que aproveita para dizer que afinal já matou mais treze pessoas e que o fez por sentir-se frustrado; é um responsável pela Casa Branca que se esquece de uma das mais conhecidas técnicas de homicídio em massa durante o holocausto e que tenta fazer o Hitler parecer um santo ao lado da outra besta da Síria; são pais que acham que o facto de um hotel não ter cumprido com os serviços contratados desculpabiliza os actos de vandalismo supostamente realizados pelos filhos e o seu grupo... Parece uma competição de estupidez!

Juro-vos: ligar a televisão e ver notícias, ler jornais, percorrer o mural do Facebook, enfim, viver num mundo onde a informação quase arromba a porta para nos entrar em casa está a tornar-se doloroso. A vontade que tenho é de desligar tudo e viver só a ler ficção porque é, certamente, menos assustadora do que a realidade. Eu, desde que faço uso dos meus dois neurónios, sempre disse que vivíamos na pior das épocas, na mais desinteressante (sim, para mim o ritmo da vida de hoje e todas as possibilidades que temos acabam por desgastar-nos e tornar-nos apáticos para coisas que exigiriam muito mais do que apatia), na mais perigosa de todas. Nem imaginava que as coisas ainda piorariam ao ponto de estarmos no século XXI a cair nos mesmos erros (mas com dimensões provavelmente maiores) em que já nos espalhámos no passado. E tudo porque somos terrivelmente, vergonhosamente, monstruosamente estúpidos. Estúpidos e esquecidos. Estúpidos, mas com a mania de que sabemos (os pais que se recusam a vacinar os filhos fazem-no porque supostamente sabem que as vacinas lhes farão mal... e agora assistimos ao regresso da filha da mãe de uma doença que ainda há um ou dois anos se considerava erradicada, até se considerou retirar a vacina do plano nacional de vacinação!). Estúpidos, estúpidos, estúpidos! É impossível não pensar isso quando vemos e ouvimos aquilo que tem sido notícia nos últimos tempos. Como é que aquele tipo nos Estados Unidos, desejoso de ter o seu nome nos anais da História Militar norte-americana, desata a bombardear à esquerda e à direita, a provocar até ao limite um país que ele sabe bem que tem poder (e loucura suficiente) para carregar num botãozinho e varrer uma vasta região da face da terra??? Como é que claques rivais não percebem que há coisas que não se dizem nem ao rival? Como é que gozam com mortes, com o sofrimento dos outros? Eu, benfiquista, tive vergonha de ouvir a porcaria de cântico sobre a morte de um adepto sportinguista com um very light em 1996. E não me venham dizer que eles também gozaram com a morte de um benfiquista num acidente há muitos anos. Ninguém tem desculpa! Há limites no que se diz e torcer por uma equipa não é isto. É absolutamente nojento e vergonhoso. É baixo, é reles, é cruel, é desumano. 

Mas desumanidade é mesmo o que mais abunda. Infelizmente, até aquilo que nos torna diferentes dos animais - a razão - vai desaparecendo ao ponto de lamentarmos não sermos, pelo menos, inocentes como eles, que não ameaçam com forças nucleares, que não decidem contribuir para a propagação de doenças para as quais a ciência têm há muito solução, que não partem hotéis porque o bar fechou mais cedo, que não se esquecem das câmaras de gás nazis, que não se filmam a matar alguém para depois porem o vídeo no Facebook... Desumanos e estúpidos: até aqui chegámos.

Os gatos e a iCloud

Definitivamente, o espaço disponível na iCloud devia ser maior para pessoas que têm gatos. É que é impossível não encher a memória dos telemóveis e do iPad com fotos dos peludos e das graçolas que fazem ao longo do dia. Parece que fazem de propósito para criarem momentos dignos de registo para memória futura. Então hoje a minha gatica está TÃO inspirada que até me faz confusão. Rainha do disparate, é o que é. Mas, enfim, as fotografias no meu telemóvel são tal e qual como no cartoon de Cat Versus Human que aqui vos deixo. Com a única (grande) diferença de que se passa o mesmo no telemóvel do moço...


domingo, 16 de abril de 2017

Boa Páscoa!

Ainda nem tive oportunidade de pintar as unhitas, mas o calor não dá trégua e chegou a altura de render os pés às sandálias. Estou a estrear as que o moço me deu e juro que chego a ter medo de partir uma perna se despencar daqui de cima. Uma pessoa ganhar assim uns dez centímetros de uma vez é actividade de grande risco, sobretudo para quem passou o inverno em botas rasteiras e ténis. Mas é Páscoa e o dia merece este perigo iminente. Boa Páscoa, queridos quixoteiros!


sábado, 15 de abril de 2017

A Menina Quer Isto LXXXVI

A menina acha que tem poucos livros para ler e então quer mais uns quantos. O do João Tordo é novo e ainda nem chegou às livrarias, mas encerra uma trilogia e como tenho os outros dois preciso mesmo de ter este à mão. Os restantes também são fofinhos, porém talvez esperem pela Feira do Livro, ainda que este ano tenha de ser mais comedida nos dinheiros gastos na feira. Bom, em todo o caso, a menina quer isto:




sexta-feira, 14 de abril de 2017

Pára tudo!!!

PÁRA TUDO!!!

Parece que ontem este cantinho pequerrucho da blogosfera atingiu as cem mil visitas. Oh, coisinha mais fofa de sua autora! Aos poucos, aos poucos lá chegaste. Umas vezes quase parado (como no último mês), noutras acelerando perigosamente, lá conseguiste granjear uns fiéis visitantes e outros que aparecem quando se lembram, sendo todos sempre bem-vindos.

Há blogues que recebem este número (e até mais) de visitantes num só dia, mas eu sei bem a casinha que aqui tenho e sei que o que por aqui se passa não é o tipo de coisa que mobilize multidões. Nem quero, pois acredito que pelo meio do gozo que isso dá, também deve garantir muitas dores de cabeça e as visitas e comentários de gente que apenas sabe vir falar mal. Gosto deste cantinho como está e, acreditem, está como nasceu. Tem o mesmíssimo aspecto que tinha no dia em que foi criado em dois mil e onze. Nunca lhe alterei a imagem e não tenho planos para fazê-lo. O aspecto é importante, mas mais importantes são as palavras: as minhas e as vossas que vão deixando as vossas pegadas em forma de comentários que são sempre muito apreciados. Tenho demorado a publicá-los e a responder-lhes porque a inspiração tem sido pouca e mal tenho passado por cá, mas não deixo de agradecer-vos cada minuto dispendido numa visita a este blogue.

Por isso esta quixotada pretende agradecer todas as já mais de cem mil visitas recebidas. Quem sabe se chegaremos a duplicar este número? Não importa. Interessa, sim, que até aqui chegámos e que cada passo foi muito saboroso. Assim sendo, voltem sempre e obrigada pela confiança.


Para a pilha

Hoje o moço ofereceu-me umas sandálias liiiiiiindas e bastante perigosas: se caio de cima de tais andas, mato-me provavelmente. Mas são maravilhosas e já sobejamente namoradas. Devo ter, portanto, atingido agora os setecentos e oitenta e sete pares de sandálias (e depois passo o verão de sabrinas...).

E hoje, também, juntam-se à minha enorme pilha de livros por ler estes três fofinhos. O do Gabo vem, na realidade, numa edição mais antiga, mas não encontrei imagem da capa e não me apeteceu fotografá-la. A propósito deste fantástico autor, esta semana (penso que na quarta-feira, mas não tenho a certeza), a RTP2 transmitiu pelas onze horas da noite um documentário sobre ele e o seu realismo mágico. Ainda que já soubesse muito do que lá é dito sobre o autor (quem já leu a sua fabulosa autobiografia lembra-se da vida rica e atribulada de Gabriel García Márquez), aprendi mais algumas coisas sobre as suas vivências e algumas histórias picarescas que fizeram parte dos seus dias. Gabo é, para mim, um daqueles escritores tão magníficos que não parecem deste mundo. Por isso, cada livro seu que se soma à minha modesta biblioteca é mais uma possibilidade de boas leituras e uma garantia de horas bem passadas.




Nota: As primeiras duas capas foram retiradas da página da Wook.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

[A terrível falta da] Memória

No mesmo dia em que um representante da Casa Branca esqueceu que Hitler matou milhões de seres humanos em câmaras de gás e usou esse terrível termo de comparação para mostrar que Assad, na Síria, é um monstro, ficamos também a saber que na Líbia, por exemplo, migrantes estão a ser aprisionados e vendidos como escravos para trabalhos forçados ou para escravatura sexual. 

Nunca a frase batida que cedo nos davam para digerir na escola e que dizia que "não devemos esquecer as atrocidades cometidas ao longo da História para que jamais se repitam", nunca, repito, fez tanto sentido como agora. Gente que morre novamente com armas químicas (e gente que esquece que isso já sucedeu em grande escala no passado) e ainda gente que se aproveita da miséria dos outros para "reabrir" os mercados de escravos... Quem queremos enganar? Já está tudo esquecido e a História já se repete. O tempo, afinal, só curou algumas feridas. A memória continua sem uso. 

Chora, Camões, chora... VIII

Ora apreciem lá a publicação da Sic Notícias no Facebook e façam a caça ao erro. Mas levem muitas munições. 




terça-feira, 11 de abril de 2017

Ya ya quê?

O Mickael Carreira tem um novo single, intitulado "Yayaya" (não sei se tudo junto ou não). Estou sem palavras, mas não faz mal: ele também. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Destruidores implacáveis lusos

Já ando há tanto tempo sem escrever uma quixotada composta que vamos lá ver se ainda sou capaz de o fazer. Perdoem-me qualquer coisinha, está bem?

Ora, nos últimos dias tem-se falado muito da expulsão de uma pomposa quantidade de estudantes portugueses que estavam em viagem de finalistas (há tanto a dizer sobre isto) em Espanha. Segundo é dito pela comunicação social e pelo comunicado do hotel onde estavam alojados os fofinhos, eles saíram e deixaram um rasto de destruição no hotel, que inclui - imagine-se! - uma televisão dentro da banheira. Claro que depois de se saber disto, começou a sessão de esgrima: ora são os pais que contam outra versão, ora é o hotel que diz que nem o seguro da empresa que organizou a viagem chega para pagar os estragos, ora são os alunos que dizem que havia falta de higiene e que a alimentação era racionada (ainda há pouco vi um menino na televisão dizer que havia muita fruta, mas pouco variada... Atrevo-me a achar que estava toda nas sangrias.). E a esgrima vai além dos envolvidos: a opinião pública também se divide entre os que vão passando a mão pelo pêlo dos jovens e entre os que querem as suas cabeças servidas numa bandeja e que anseiam por ver os pais que os (des)educam lapidados em praça pública. Pelo caminho ainda ouvi, embora com perplexidade, alguém de uma associação de pais dizer que tem de se repensar o sistema educativo. Já cá faltava dizer que a culpa é da escola. De facto existem disciplinas que ensinam a pôr aparelhos eléctricos em banheiras: chamam-se Introdução ao Suicídio I ou Estupidez Aplicada.

E agora o que eu acho. Com isto tudo, dei por mim a fazer o mesmo que muitos outros: a pensar na minha própria adolescência. Era estúpida, mas estúpida todos os dias. Não tive viagem de finalistas no secundário. Aliás, continuo a achar as viagens de finalistas a coisa mais estúpida deste mundo. Então quando vejo viagens de finalistas para TODOS OS CICLOS DO ENSINO, BÁSICO E SECUNDÁRIO até me benzo (sim, meus caros, há escolas em que os alunos do 4.º, 6.º, 9.º e 12.º partem em viagens de finalistas... E se houver poucos inscritos, alarga-se a viagem a outros anos, dando-lhe outro nome qualquer porque o de «finalistas» já não serve). Mas mesmo sem viagem, era uma adolescente bastante idiota. Ainda assim, nunca me deu para destruir nada que não fosse meu. Como dizia uma amiga minha que considera ter sido também uma jovem profundamente idiota, havia um limite que não se pisava. As asneiras eram nossas e não deviam lixar nada que não fosse nosso. Contudo, como bem sabem, convivi com muitos adolescentes até ao final do ano lectivo passado e digo-vos que o desrespeito pelo que era de outros era uma constante. Partir, queimar, inutilizar objectos de colegas ou mesmo do estabelecimento de ensino era o prato do dia. Fosse caro ou barato, desde que dar cabo dele significasse diversão, destruia-se. Acreditem quando vos digo que houve uma fase (o que ajuda a explicar também o meu cansaço e descontentamento profissional) em que coisas dessas eram diárias. 

E o que acontecia, perguntam vocês. Nada. Não havia punições, ninguém se responsabilizava por nada, os acontecimentos abafavam-se o melhor possível. 

Ouvindo o que alguns pais dizem sobre o que supostamente aconteceu em Espanha com os nossos jovens finalistas, concluo que afinal o problema não estava apenas naquele colégio que eu tão bem conhecia. Está tristemente disseminado por aí. Aliás, qualquer dia podemos criar a modalidade olímpica de «passar a mão pelo pêlo dos meninos» e seremos medalha de ouro todos os anos. 

«Ah e tal, nós partimos porque estávamos descontentes com o hotel, mas não foi assim tão grave.», «Ah, eles são jovens e precisavam de divertir-se, mas o hotel não teve o bar aberto como contratado.» são frases criadas por mim, mas que se assemelham a muitas das que tenho ouvido. É a boa da cultura do «mas», muito enraizada também nos nossos meninos. Fazem porcaria, MAS há sempre uma razão para isso. Meus caros, a ser verdade aquilo dos azulejos e da televisão na banheira «não há mas, nem meio mas». Se estavam descontentes com o hotel, manifestavam-se junto dos responsáveis pela organização da viagem. Olhem se todos desatássemos a partir os quartos de hotel por onde já passámos e que não nos agradaram muito... Não haveria hotéis.

Gerir a frustração não é o forte destes miúdos que por agora vivem as suas adolescências. Mais uma vez, falo do que sei e não apenas do que me parece estar por trás desta viagem de finalistas. E não é só a frustração: tendem a perder noção dos limites durante a diversão. Mas também, voltando a este caso, o que esperar quando os pais pagam viagens que incluem bar aberto para miúdos do décimo segundo ano? Não tenho filhos, mas cheira-me que não teriam muita sorte nisto de gastar quase seiscentos euros para estarem uma semana a matarem neurónios. Tal como os meus pais não o fariam se a questão lhes tivesse sido colocada em dois mil e três, quando concluí o secundário. 

Enfim, a apurar-se que aqueles estragos foram realmente feitos pelos estudantes portugueses, acho bem que os pais sejam responsabilizados e que os meninos também sintam na pele que fizeram porcaria. Como disse Daniel Sampaio, os pais devem responsabilizar os meninos, embora o especialista duvide da autoridade que eles ainda tenham para isso. Eu também tenho algumas dúvidas porque já vi tantos, mas tantos pais encolherem-se diante da (fraca) argumentação dos filhos ou de um tom de voz mais elevado que sou pouco crente nesse caso. Agora, mesmo achando que há uma crescente desresponsabilização dos jovens, que cada vez se lhes desculpabilizam mais os disparates e até mais tarde (daqui a pouco é-se adolescente até aos trinta...), também acho que não foram todos os mil alunos que partiram e estragaram. Generalizar também não é bom. Há miúdos parvos que não têm qualquer travão, mas há muitos miúdos que têm noção das coisas e, felizmente, também têm pais que estão lá para ensinar, para educar e para castigar se preciso for. Podem não ser a maioria, mas existem e isso é bom. Por isso, dizer «tenho vergonha dos alunos portugueses», como já ouvi, parece-me um erro. Não concordo com as viagens de finalistas do básico e do secundário, como já afirmei, mas calculo que pelos pecadores tenham pago muitos justos. E que metidos no mesmo saco de gatos estão miúdos com juízo que até estavam apenas a divertir-se e que não destruíram nada a ninguém. Viram, contudo, esta viagem destruída. 

No fim de contas, gostaria que isto servisse para pensarmos todos na educação que por agora se dá aos jovens, mas também nas experiências que lhes proporcionamos e que são, tantas vezes, desapropriadas. Muitos pais não deixam os filhos sairem de casa sozinhos para irem ao café do fundo da rua, mas pagam e permitem estas viagens. Muitos miúdos são extremamente imaturos e irresponsáveis no final do décimo segundo ano e estas viagens com pouca supervisão e muito álcool não ajudam em nada. Quem convive diariamente com adolescentes como eu convivi sabe que os dezassete de hoje são os catorze de há uns dez anos e a tendência é para piorar. Há, como disse, honrosas excepções, mas para quê facilitar? Depois acontecem coisas destas e acabamos a ter tudo no mesmo saco, bons e maus, comportados e mal comportados. Há um desequilíbrio entre a hiperprotecção e a permissividade em que os pais oscilam, entre o que lhes ensinam e a desresponsabilização que demonstram ao tentarem desculpar tudo, mesmo o que não é desculpável. E para ilustrar isto, antes de ir, deixo-vos com uma situação que mostra os pontos absurdos de desculpabilização em que os pais caem na procura de proteger (acham eles) as suas crias, mostrando ser incapazes de ver que eles também têm defeitos e provando que não sabem o que fazer quando é preciso disciplinar. Há poucos anos um jovem do oitavo ano partiu uma câmera de vigilância. Após visualização das imagens, verificou-se perfeitamente quem a tinha arrancado do sítio (junto ao telhado) e partido. Quando a mãe foi chamada para se falar no sucedido e quando lhe foi dito que estava gravada a imagem do filho a tirar a câmera do sítio, a resposta foi um espantoso «Não foi ele.». Perante isto, como podemos esperar que os miúdos não partam tudo à sua passagem?

Mais depressa veremos unicórnios.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

terça-feira, 4 de abril de 2017

Chora, Camões, chora... VI

É notícia de última hora a explosão numa fábrica de pirotécnia de Lamego. Por agora fala-se em três vítimas mortais, mas o número pode aumentar uma vez que há funcionários que não responderam a nenhuma das tentativas de contacto que já foram efectuadas. É grave, é de lamentar e sempre que isto acontece não evito pensar que para termos diversões como fogos de artifício, muitos acabam por perder a vida em acidentes como este. Por isso, o blogue As Minhas Quixotadas está com todos os familiares e amigos que vivem neste momento horas de dor e de incerteza. 

Jornais e canais de televisão vão fazendo chegar cada vez mais informação, embora alguns, como é o caso do Público, sejam dedicados ao paradoxo, matando quem já morreu. Ora leiam lá o seguinte parágrafo, retirado de uma notícia de última hora que apareceu no meu mural do Facebook. 



segunda-feira, 3 de abril de 2017

Missão Soninho

No sábado tivemos uma festa cá em casa e a sua preparação foi tão trabalhosa que eu, pessoa pouco dada ao sono e que acorda geralmente bastante cedo, dormi dezoito horas e meia entre a meia-noite e as nove da noite de domingo. Basicamente só acordei para ajudar a dar cabo dos restos que nos povoam o frigorífico. 

Isto foi o mais perto da hibernação que já estive. Compreendi melhor os ursos e desenvolvi até um sentimento fofinho de solidariedade por aqueles peludos gigantes que se retiram do mundo para passarem o tempo a dormir. Eu fiz o mesmo este domingo e soube-me pela vida. Mais ainda se considerarmos que não sou muito dada ao sono; que raramente o sinto; que chego a acordar às cinco da manhã prontinha para começar o dia (o problema é que a meio da manhã acaba-se-me a pilha); que tenho um sono muito perturbado por sonhos e por pesadelos, lembrando-me sempre daquilo com que sonhei; que não "desligo" verdadeiramente durante o sono, chegando a dar por mim a pensar e a ter ideias enquanto durmo. Nunca fui dorminhoca, nem em pequenina. Sempre me levantei cedo sem dramas. Mas também sempre achei que perdíamos demasiado tempo a dormir e que esse tempo seria óptimo se fosse passado a fazer outras coisas. Mesmo pensando assim, dormia. Sonhando sempre, lembrando sempre na manhã seguinte aquilo com que sonhara, acordando cansada por nunca ter "desligado" verdadeiramente. Mas dormia. O problema maior surgiu talvez uns dois anos antes de despedir-me. A pressão era tanta, o volume de trabalho tão insano que a qualidade do meu sono veio por aí abaixo até me deixar à beira das lágrimas quase todos os dias. Eu deitava-me cedíssimo para aproveitar a noite, já que acordava pouco depois das seis, mas acordava de madrugada e não conseguia dormir mais porque inevitavelmente começava a pensar em trabalho e no que tinha para fazer, nos prazos para isto e para aquilo... Até que chegavam as seis da manhã e, se fosse preciso, a minha cabeça já estava a trabalhar havia quase duas horas. Pior: teria de continuar a trabalhar até ao final do dia e, se fosse dia de reuniões ou de eventos idiotas marcados em cima do joelho pela instituição, esse final do dia poderia ser às oito da noite. Imaginem isto durante dois anos, sensivelmente. Não mata, mas mói. E os fins de semana não serviam para recuperar porque havia sempre muito para fazer, inclusivamente coisas relacionadas com o trabalho. O sono foi ficando cada vez mais para trás. Cheguei a um ponto em que o via como um luxo a que achava que não tinha direito. Por isso, estes últimos meses também têm sido de aprendizagem nessa área. Continuo a achar que o tempo que passamos a dormir dava jeito para fazer tantas outras coisas... Mas claro que estes anos de inferno me ensinaram que sem dormir (e bem) nada se faz. Assim, dias como este em que a ocupação foi dormir, coisa rara na minha vida, são fundamentais. Tenho anos de sono em atraso. Preciso de recuperá-los. Hoje dei um avanço de quase dezanove horas a essa "Missão Soninho". Boa!