terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fotografias

Por causa de toda esta azáfama arrumadora que me deu nos últimos dias (e que hoje, apesar de as estantes já estarem compostas, continuou), deparei-me com álbuns de fotografias tiradas quando eu era uma teenager maluca e não pude deixar de sentir um sabor muito agridoce (mais "agri" do que doce) ao folheá-los.

Para quem segue o blogue e me conhece, reencontrei fotos da visita de estudo que eu e os meus colegas do secundário fizemos, no ano 2000, à Herdade das Parchanas, em Alcácer do Sal (se não me engano), da visita de estudo às ruínas romanas em Santiago do Cacém, da visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra, da visita de estudo à zona mais antiga de Lisboa (Panteão Nacional, Mosteiro de São Vicente de Fora, Sé e Castelo de São Jorge) e do jantar no final do 12.º ano, onde também estiveram algumas professoras. Revi fotos de idas à praia com companhias de outros tempos. Vi-me escarranchada em cima de motas que já quase esqueci.

Reencontrei fotos das férias em Lagos com um grupo de amigas que se foi separando até não restar muito mais do que uma, dos passeios que demos juntas ainda durante os tempos do curso, dos almoços e jantares de aniversário... Enfim: imensas memórias guardadas em caixas e para ali esquecidas até que três estantes as fizeram aparecer e ser olhadas.

Ali estavam tantas caras que nunca mais vi, outras que se fazem lembrar pelas piores razões, muitas de que gostava de saber o rumo, algumas que me fizeram feliz, umas quantas que me desapontaram, tantas de quem tenho saudades. Naqueles tempos, não tinha a noção de que viria a ter vinte e seis anos, de que já não iria ser aquela miúda estouvada com talento para dizer coisas bonitas, mas com muito pouco jeito para se libertar do que a prendia. Não imaginava que um dia fosse ser adulta e que já não me fosse permitido andar pela rua a berrar o «I'll survive» com as minhas amigas. Não fazia a menor ideia de que deixaria de ter aquele corpo franzino e de que o trocaria por outras curvas. Não podia supor que aqueles amigos que aparecem ao meu lado nas fotos iriam às suas vidas, esquecendo o meu nome, o meu rosto e tudo o que me dissesse respeito. Não acreditava que tantas dessas pessoas, apanhadas por um flash em momentos divertidos, me diriam coisas tão feias, como veio a acontecer. Na realidade, achando que já sabia tudo, aquela miúda loira das fotos não sabia nada. Era uma tonta meio perdida, de mão dada com muitas coisas e pessoas que não valiam a pena.

Percebi que aquela que está nas fotos não sou eu. Se hoje aquela rapariga voltasse, não me conheceria e muito menos gostaria de mim. Sou tudo o que ela não queria de ser, porque ela queria divertir-se sempre, ela não pensava nas consequências, ela ria-se até lhe doer o rosto, ela chorava até desidratar, ela vivia tudo muito intensamente (e tinha motivos de sobra para isso), ela queria o que e quem não podia ter, ela estava condenada. Eu sou, no fundo, o que ela pôde ser. Sou os cacos colados depois de tudo se ter partido.

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