terça-feira, 31 de maio de 2016

Feira do Livro de Lisboa 2016 - Parte II

1. Devo funcionar ao contrário das outras pessoas porque para mim os primeiros pavilhões que visito (calha serem sempre os da Babel) nunca vêem dinheiro meu. É que estou acabadinha de chegar à Feira e ainda com muito para ver e muitas decisões para tomar. Por isso depois penso "Já cá volto quando estiver para ir embora."  Acho que nunca voltei. Normalmente só me sinto a acordar quando chego ali à Antígona. Antes disso fico parola e não abro os cordões à bolsa.

2. Para ter 20% de desconto em livros, espero pelas promoções das livrarias e não pela Feira do Livro. Mas a maioria das editoras está com descontos deste tipo, o que chateia um bocadinho porque parece que nem muda nada. É um facto que as editoras não são a Santa Casa da Misericórdia e que o papel delas é publicar e vender para eu comprar. Ainda assim há livros estupidamente caros que, honestamente, poucos devem comprar sem descontos ou com descontos mínimos. E se alguns até justificam mais ou menos o preço, outros nem por isso... Mas seria outra conversa que não teremos agora. 

3. As sessões de autógrafos... Ah, as sessões de autógrafos! As únicas vezes que me prantei numa fila para ter livros autografados foi por causa do José Saramago. E acho que só mesmo um grande autor me fará voltar a fazer isso. Ir autografar um livro de receitas sobre massas parece-me muito desinteressante. No entanto há quem o faça. Lá saberão. 

4. Ainda sobre sessões de autógrafos: hoje estava na Feira a cartomante da Sic. Meus caros, meia hora depois do horário previsto para a sessão, passei perto do pavilhão da editora que publica os livros dela e não a vi sentadinha na cadeira. Mas a fila... Senhores, a fila era brutal! Nos altifalantes anunciava-se uma sessão de autógrafos exotérica e eu pensava "Que disparate tão grande." Pois olhem, aquela senhora hoje vendeu que se fartou e deu bem à mão. Gostos não se discutem, mas são bastante questionáveis, diga-se. 

5. Todos os anos deliro com o pavilhão do El Corte Inglés. Este ano a simpatia não abunda e, como já fui duas vezes, já fiz a prova e a contra-prova. Noutros anos a simpatia era tanta que aquela gente vendia-me o que quisesse. Este ano nem sequer me impingiram um Quixote! É grave. 

6. As bifanas da roulote que está acima da Praça Leya são para lá de boas.

7. Como alguém comentou neste blogue, os livros da Tinta-da-China são um deleite para as vistas. Mas são caros como tudo. Ando embeiçada por um livro pequenino que custa, sem desconto, mais de dezoito euros. Explicava-me hoje a senhora do pavilhão que aquele tipo de edições tem um custo de produção muito grande. Acredito. Não se consegue a qualidade gráfica que tais livros têm sem se abrir os cordões à bolsa. Ainda assim pergunto-me se não seria possível tornar a coisa mais acessível. Não sei até que ponto isto dos preços altos não é já uma espécie de imagem de marca da editora.

8. O pavilhão da Aletheia, um daqueles que noutras alturas me aqueceu muito o coração, está desarrumadíssimo. Aquilo está muito pouco apetitoso e é pena. Mas cada um sabe que estratégia adopta e eu sei a que pavilhões devo ir.

9. Não fotografei as compras de hoje, mas vieram comigo:






Dá raiva II

As nossas malas (carteiras para alguns) enchem-me de nervos. Andam sempre cheias, vamos enfiando para lá tudo e mais alguma coisa e, claro, depois nunca encontramos o que queremos. Mas além dessa desgraça, que seria suficiente, sãi raras (ou eu tenho muito azar) as malas com fecho que conseguimos fechar apenas com uma mão. Se abrirmos um pouco do fecho é fácil, mas se o abrirmos todo... Pronto, pára tudo!!! Larga tudo o que tens na mão e concentra todos os teus esforços em fechar a mala. Ainda agora fui ao multibanco e, entre cartões e talões, fechar a mala parecia tarefa hercúlea, até porque trago sempre uma outra pasta comigo e portanto tenho sempre as mãos ocupadas. 

Que raiva!

Dá raiva

A raiva que dá ver-se ser livro do dia um livro que se quer há uns seis anos, precisamente numa data em que não se consegue passar pela Feira do Livro. Grrrrrrrr...

domingo, 29 de maio de 2016

Assim dá (quase) gosto!

Ontem compramos uma mesinha pequenina e duas cadeiras de madeira, daquelas que podem estar em jardins, e colocámo-las na varanda, junto às janelas. Portanto, agora posso corrigir testes com vista para a rua e podemos fazer refeições a levar com a brisa na cara, o que é bem bom. Já tomei o pequeno-almoço aqui e agora vou atirar-me à correção de testes. Não posso dizer que assim dê mesmo gosto porque corrigir testes (ainda para mais de Português) é o HORROR, mas vá, ficou ligeiramente mais agradável.

Potencialidades de um ovo Kinder

Ora bem, neste momento muitos lamberão gulosamente os beiços e pensarão que a única possibilidade de um ovo Kinder é mesmo a de devorar aquele chocolate espectacular. Porém, meus caros, para quem tem felinos em casa, existe uma possibilidade que é para lá de fabulosa. Estão a ver o ovinho amarelo de plástico onde vem a surpresa? Pois bem, depois de vocês se regalarem com aquele chocolate de leite que veio dos céus (e só vocês porque os gatos não podem comer chocolate), retirem a surpresa e ofereçam a bolita aos gatos. Até podem pôr dois ou três feijões lá dentro para aquilo fazer barulho e terão gatos entretidos durante horas. Diria mesmo que loucos. A Lady Gatinha perdeu toda a compostura e entregou-se à loucura do ovo Kinder. Depois de eu me ter chegado primeiro ao chocolate, claro...

sábado, 28 de maio de 2016

Feira do Livro de Lisboa 2016 - Parte I

Ontem lá fui eu à Feira. Normalmente faça primeira visita sozinha para ver como param as modas, mas o moço lá foi comigo e pronto: foi um belo serão. Viémos carregados (ainda assim um pouco menos do que no ano passado, parece-me), mas carregados. Claro que tenciono voltar para ver melhor duas ou três coisas que não vi como gostaria. Entretanto ficam com as fotos do que eu trouxe e com a informação de que se tencionam ir à Feira comprar algum tipo de novidade, preparem-se para pagá-la como pagariam em qualquer livraria com dez porcento de desconto. Nas novidades nem vale a pena tocar na Feira. No entanto há outras boas oportunidades, como os livros manuseados da Antígona, o leve 4 e pague 3 da Tinta-da-China, os livros do dia da Bizâncio e as suas BD's, as oportunidades na Relógio D'Água... Procurando bem encontra-se sempre algo que valha a pena. Eu encontrei isto:






E pronto, foi isto. Na próxima semana devo dar lá outro pulinho para espreitar com atenção dois ou três livros que me ficaram entaladitos na vontade.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Caixas e fitas

A melhor parte de receber os novos manuais escolares das diferente editoras (num total que este ano já vai a roçar as duas dezenas...) é que os gatos podem brincar com as caixas e com as fitas que fecham as encomendas. Hoje, quando acordei, tinha o Senhor Gato enrolado a dormir dentro de uma caixa da Areal. Ontem brincou com a da Porto Editora. Quanto às tais fitas de plástico que mantêm as caixas fechadas, é diversão imparável! Roça a loucura mesmo.

Por isso, obrigada editoras por fazerem os meus gatos felizes. Isso também é importante.

domingo, 22 de maio de 2016

Patinhos

Eu podia fazer uma quixotada gigante com uma enorme reflexão sobre o amor, cheia de frases bonitas e que, no fundo, só interessariam a duas pessoas. Mas não vale a pena. Hoje, dia em que cumprimos onze anos juntos, esta quixotada é pequenina e é para ti. 

Foram onze anos. Aproximadamente quatro mil e dezassete dias. Foram noventa e seis mil quatrocentas e oito horas. Foram inúmeros lugares, encontros, jantares, sms's... É uma casa em comum, dois gatos, private jokes, contas para dois, almofadas lado a lado e riso, muito riso. Ninguém dava nada por isto, eu era demasiado estouvada para a coisa funcionar. Bom, a verdade é que durou e dura. E tenho a certeza de que durará porque mesmo quando a vida parece tão estranhamente difícil, somos capazes de fazer dias como o de hoje. Quem faz isto, quem constrói o que construímos, calmamente, em onze anos, merece tudo. E eu quero ficar velhinha contigo, ao teu lado, com a tua mão na minha. E com os gatinhos aos pés, claro. Venha o que vier, que isto seja sempre assim. 

"Para ti, meu amor, é cada sonho
De todas as palavras que escrever,
Cada imagem de luz e de futuro,
Cada dia dos dias que viver."

                                In "Carta a Ângela", de Carlos de Oliveira

sábado, 21 de maio de 2016

"Não existe má publicidade [...]"


Lembro-me de, há uns anos, ter ouvido o Herman José na televisão a dizer que "Não existe má publicidade: apenas publicidade." A coisa ficou-me na cabeça e lembro-me dela sempre que me parece que alguém quer destacar-se pelos piores motivos. 

Nunca li um livro do jornalista que aparece na capa do Jornal I e não tenciono fazê-lo porque aquilo que leio sobre eles indica-me que são livros que não me encherão as medidas. Sei que há muita gente que compra o que ele põe à venda e que, por isso, alguma coisa faz pelo mercado editorial e pela leitura no nosso país. A mim, nem ele nem Dan Brown me dizem grande coisa. 

Agora a razão pela qual me lembrei da frase sobre publicidade. A frase que surge citada na capa é polémica e deixa as pessoas em polvorosa. E isso é bom para quem quer vender livros. Uma frase como esta pode irritar e chocar muita gente, mas não deixa nenhum leitor indiferente. 

Há milhares de milhões de livros no mundo. Já se escreveu tudo e, paradoxalmente, ainda falta escrever-se tanto. Há, nisto dos livros, pelo menos um chinelo para cada pé. Num mundo que teve um Cervantes, um William Shakespeare, um Victor Hugo, um Mark Twain, um Borges, e milhares de outros escritores absolutamente formidáveis, dizer que não existem os livros que se gostaria de ler e que, assim, é preciso que o próprio os escreva é frase que causa estranheza e que, por isso mesmo, se lê duas vezes. Até que se percebe o objectivo e o efeito perde-se. Frases polémicas pedem atenção. Se não a dermos, serão apenas palavras agrupadas. 

Enquanto leitora, talvez mais modesta do que o jornalista que proferiu a frase, afirmo que no mundo há muitos mais livros que gostaria de ler do que tempo para conseguir lê-los a todos. E o país ou o mundo não precisam do meu contributo literário para nada. Se eu fosse escrever aquilo que gosto de ler, seria um génio! E isso, meus caros, nem que nascesse e morresse mil vezes. Existem livros absolutamente maravilhosos saídos de mãos talentosas; livros que sobreviveram a séculos e séculos, permanecendo fresquinhos como eram no dia em que primeiramente viram a luz do sol. Mas além desses que passaram o teste do tempo, há outros, escritos há pouco tempo ou agora mesmo que são muito, muito bons. Não encontrar nesta panóplia toda nada que interesse demonstra, talvez, um gosto demasiado eclético ou então, por outro lado, a vontade de produzir uma asserção que choque. Quanto aos livros, não sei e mantenho a distância. Quanto ao poder para criar frases polémicas, é um sucesso. 



sexta-feira, 20 de maio de 2016

A ditadura do atum

Cá em casa a coisa funciona assim: eu abro uma lata de atum ao natural e dois desgraçados peludos aparecem, vindos sabe Deus de onde, põem-se ao meu lado e miam. Miam, miam, miam, miam... Até que eu divida meia lata de atum por dois pratinhos, um para cada um. A outra metade será o meu almoço. Vivo, portanto, numa espécie de ditadura do atum e ninguém vê isto. Aliás, temo que o amor pelo diabo do atum seja tanto que os gatos considerem violência não lhes dar o seu quinhão. Qualquer dia, se me esqueço de partilhar o atum, tenho a Comissão de Protecção de Gatinhos aqui à porta a pedir-me contas. E atum.

O Mundo de Enid Blyton - o balanço

Talvez alguns tenham reparado que andei a ler uma biografia de Enid Blyton, O Mundo de Enid Blyton, escrita pela Alice Vieira. A capa do livro esteve ali al lado na "leitura do momento". 

Embora tenha achado que o livro poderia ter aprofundado mais a vida da autora de Os Cinco, nomeadamente no que às suas relações humanas diz respeito, a verdade é que não fui capaz de largar esta biografia. Fiquei muito surpreendida com o facto de alguém tão adorado pelas crianças ser, na vida privada, muito desligada dos seus, bastante fria com eles até. A relação com o primeiro marido chega a provocar a maior das penas pelo senhor e a amargura que a filha mais nova sente pelo desprezo a que a mãe a votou é muito triste. Enid Blyton parece, segundo este livro, ter querido agradar a todas as crianças inglesas, menos às que tinha na sua própria casa e que deixava ao cuidado de amas, com a exigência de que nunca perturbassem o seu trabalho.

Depois há os testemunhos de adultos de hoje que cresceram com estes livros e que, de um modo geral, falam deles com uma ternura imensa. Alguns sabem hoje que, na vida privada, Enid Blyton parecia uma máquina: sempre a trabalhar, delegando o cuidado das filhas noutras pessoas, expulsando o pai das meninas da sua vida, expulsando a própria mãe da sua vida, escrevendo livros a granel e quase em formato "livros pedidos" (as crianças pediam e ela escrevia). Ainda assim, sabem separar as águas e olhar para a autora e não para a mulher. De facto, muitos escritores foram umas bestas que nos deixaram obras formidáveis. Enid Blyton, usando sempre (ou quase) a mesma receita, atingiu o sucesso e pôs os miúdos a lerem e a quererem mais. Fazendo a comparação possível, é assim como os livros da colecção "Uma Aventura", da qual hoje há quem diga que é uma porcaria, mas que formou muitos leitores, que foi responsável pelas primeiras horas de leitura a sério de muita gente da minha idade e até mais velha. Ainda hoje leio livros dessa colecção e não lhes encontro os mil e muitos defeitos que outros já apontaram. Sim, o modelo (tal como com Os Cinco) é sempre o mesmo; sim, as situações são inverosímeis (em muitos momentos), mas e depois? São livros e para muito verdadeira já cá está a vida!

Por isso, ainda que não seja uma biografia muito profunda, esta que Alice Vieira fez de Enid Blyton dá perfeitamente a ideia de que o que transparece nos livros não é, de todo, o mesmo que está do outro lado da capa, do lado da autora. Vale a pena ler.


domingo, 15 de maio de 2016

35

O futebol não me enlouquece nem me tira o sono. Mas sou benfiquista e gosto de ver a equipa conseguir ser campeã. E hoje em dose dupla: que o futebol não ofusque completamente o facto de o Benfica ter-se sagrado campeão europeu em hóquei em patins. Todavia, este campeonato de futebol teve um gostinho especial em relação aos outros... 


sábado, 14 de maio de 2016

Sursum corda

Quando muitas pessoas, alunos incluídos, nos dão a mesma sugestão e ideia, não será bom parar e ponderar sobre ela? Há a probabilidade de os outros verem muito bem aquilo que nós andamos a ver bastante mal. 

Ora ponderemos, então, e sursum corda... 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A Menina Sugere Isto XX

Sou criatura que detesta cremes, por isso fujo-lhes tanto quanto posso. Por razões médicas fui levada a comprar um leite hidratante desta marca que é muuuuuuuuito bom. A paciência para untar-me nele é que é pouca. No entanto, há uns meses, houve uma promoção na farmácia onde costumo ir e vários produtos da La Roche Posay estiveram com descontos ou traziam ofertas. Foi assim que fiquei a conhecer este óleo lavante para usar no duche ou no banho. A minha farmacêutica favorita explicou-me que é óptimo para peles secas (confere!) e que basicamente já ajuda a reduzir a necessidade de me untar em creme (já disse que odeio cremes?). Como é um óleo, hidrata a pele, deixa-a macia. Ao ser usado no banho, faz o seu trabalhinho sem chatear. É óleo, mas não nos deixa peganhentos. Nada disso. Basicamente, é como se fosse um gel de banho, só que com outra textura. 

A verdade é que na primeira vez que o usei, quase senti a pele ronronar depois do banho. Faz, de facto, a diferença para quem, como eu, tem a pele muito seca. Gostei tanto que, apesar do preço (julgo que a embalagem maior ronda os dezassete euros), já voltei à farmácia para abastecer-me novamente. Também não precisamos de quantidades industriais para um banho, por isso a coisa ainda dura algum tempo. Nos conselhos de aplicação até indicam a utilização de algumas gotas apenas de cada vez, pelo que é isso que faço. 

Não tem um cheiro forte, nem nada que se pareça. É até bastante neutro, o que é bom para quem depois vai usar perfume. Ficamos lavadinhos e com a pele calminha. A sensação é mesmo muito boa.

Note-se que a La Roche Posay não me pagou para vir dizer-vos estas coisas. Nem sabe que eu existo. Por isso, tudo o que disse vem mesmo do facto de ter experimentado e gostado, de ter percebido que é mesmo um bom produto para quem tem peles estranhas como a minha. Infelizmente, fiquei a conhecer a marca pela mão de um médico porque tenho mesmo uma pele maluca. Mas fiquei agradavelmente surpreendida. E, assim, a menina sugere isto. Experimentem que vale a pena.

O prémio mais estúpido de sempre

Almocei à frente da televisão e fiz um zappingzito. Cheguei àquele inenarrável canal que dá por nome de TLC. Estava a dar aquele programa que mostra uma espécie selvagem altamente perigosa e intrigante: a espécie das mães que inscrevem filhas minúsculas em concursos de beleza e que as põem a parecer pequenas porquinhas e tudo em nome de uma tiara. Mas, enfim, cada um sabe de si e se há quem goste de dar a uma filha o aspecto de uma senhora que se pode encontrar em algumas rectas do país, bem, é lá consigo. Agora, o que conseguiu ainda mais revolver-me o estômago foi o facto de numa das provas, aquela (pelo que percebi) que premiava a beleza facial (de crianças, recorde-se), o prémio serem... cachorrinhos.

Dar animais como prémio para qualquer coisa é capaz de ser das ideias mais idiotas que o ser humano já teve. E atenção que o Homem é prodigioso a ter más ideias! Portanto, colocam-se animais inocentes nas mãos de famílias que querem ter crianças a correr concursos de beleza, sem se saber antes se a família pode ou não ter um animal, se quer ter um cão, se tem condições e tempo para ele. O que interessa é ter prémios para dar às criancinhas maquilhadas e de pestanas falsas. O resto é dano colateral. BRILHANTE!

Quando penso que já batemos no fundo, eis que sacamos da picareta e da pá e lá vamos nós cada vez mais para baixo. Chega a ser surpreendente e digno de prémio (venha de lá o cachorrito)! 

E agora que já contei isto, vou só ali pôr o meu Euromilhões. Sabe-se lá se não terão já substituído os milhões por gatinhos e eu gostava de ter mais um ou dois. Ou vinte, vá.

O nome

Hoje fui a casa dos meus pais e vi o correio. Havia uma conta da luz em nome da minha avó, que morreu há três anos.

Não consegui deixar de pensar no modo estúpido como as coisas funcionam: o mundo livra-se mais depressa das pessoas do que as pessoas conseguem livrar-se das coisas do mundo. É apenas um nome para a empresa que fornece a luz. Mas é um nome importante para quem vai ter de abrir a carta e, provavelmente, pagar a conta. Afinal, o que fica de nós quando nos vamos? Um nome esquecido numa conta, um número de telefone perdido na agenda de um telemóvel, uma memória que durará enquanto alguém, que não a empresa da luz, recordar aquele nome e quem o usou uma vida inteira.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Mar de desgraças

Cada vez que vejo o top de livros de uma grande livraria dá-me uma coisinha má. Aquilo é o mais vendido?! A sério que de tudo o que é possível comprar, é mesmo aquilo que mais se vende?! Bestsellers "delico-doces" e estupidamente cor-de-rosa, livros e mais livros de dietas, auto-ajuda ("o excremento", como diria Eça) e coisinhas afins. Não se vê um clássico, um autor de inequívoca qualidade literária. Nada. É doloroso.

Num país onde praticamente não se vendem livros, o que se vende não é o que é bom, mas o resto. E pelo caminho ficam frases maravilhosas, histórias bem contadas, talento diluído num mar de desgraças.

sábado, 7 de maio de 2016

A brilhante precisão dos números

Acabei de ouvir uma jornalista dizer em directo a bela expressão "foram cerca de vinte e tal". Bom, "vinte e tal" já não é quantificador muito preciso, pois o "tal" pode ser qualquer número do um ao nove. Mas com o "cerca" antes a coisa ainda fica melhor. A imprecisão do "tal" é brindada com um pouco concreto "cerca" e, portanto, se mal estávamos, pior ficámos. Extraordinário.

Bem sei que a oralidade espontânea é tramada. Acabamos a dizer coisas que depois não podemos apagar nem retirar. Porém há situações e situações. Quando o objectivo é informar, parece-me que, se calhar, um pouco mais de cuidado só pode ser benéfico. Mas isso sou eu que acho. Possivel ente "cerca de muita gente" não concordará nada comigo.

E quem seria eu?

“Às vezes pergunto-me quem raio seria eu se, em vez de ter lido os livros que li, tivesse antes lido os que não li. Provavelmente cruzar-me-ia comigo na rua e não me reconheceria.”

Manuel António Pina, in Crónica, Saudade da Literatura,  Assírio & Alvim (2013), p. 556. 

A Menina Quer Isto LXIX

Continuando a pensar na Feira do Livro de Lisboa que terá início já no final deste mês, a menina quer isto, sendo que o primeiro, da Cotovia, já é desejado há cerca de uns nove anos. Grande falha.





Silêncio e pena

Um "adolescente" de dezanove anos fotografou-se a ele próprio enquanto pendurava um cachorrinho do lado de fora da janela. Um jovem de vinte e quatro anos escavacou uma estátua de D. Sebastião, no Rossio, porque queria tirar uma selfie com o rei português. Foi uma semana cheia de idiotice, portanto.

Vamos lá ver: idiotas sempre houve. Contudo, a idiotice tendia a ir passando com a idade. Chama-se a isso crescer e crescer traz consigo uma coisa que, se até pode tirar alguma da pimenta da vida, dá, pelo menos, muito jeito: a capacidade de distinguir o que está certo do que está errado. Ah, e a capacidade de prever consequências para os actos praticados. Aparentemente, estes dois moços, aos dezanove e aos vinte e quatro anos, não desenvolveram nenhuma das capacidades.

Mas também como? Como se pode crescer num mundo onde a imprensa se refere ao tipo que tira uma selfie a segurar um cachorrinho fora de uma janela num andar alto como sendo "adolescente" aos dezanove anos? Aos dezanove?! A sério que ainda está na adolescência? Então quando é que acaba essa fase da vida? Mas tu queres ver que eu aos trinta ainda sou adolescente? Ah, então se calha vou só ali pôr o gato no forno, tirar uma fotografia e já volto. 

Aos dezanove anos o meu pai já levava vários anos de trabalho na sua vida. Aos dezanove anos eu já estava na faculdade. Quando terminei o meu terceiro ano de curso tinha precisamente essa idade e, embora me divertisse muito, nunca me deu para pendurar nenhum animal numa janela só porque é giro (não é) e capaz de dar uma foto com muitos likes (também não, é apenas estúpido e cruel).

Aos vinte e quatro anos estava quase a terminar o mestrado. E não era a arrastar-me: fazia-o com boas notas e com gosto. Divertia-me, mas sem incomodar ninguém. Trabalhava ao mesmo tempo. Tinha consciência de que os actos levam a consequências. Aparentemente também, o homem que partiu a estátua no Rossio, ainda que não fosse essa a sua intenção, não percebeu ainda essa parte. Tirar a selfie é que era importante. Depois pensaria no resto.

Em comum nas duas histórias além da idiotice está a maldita necessidade de se mostrarem ao mundo. Está a ridícula cultura da selfie e, pior, a competição pela aprovação (em forma de likes) dos outros. Num mundo de imagens, já não chega sorrir para a câmera, agora é preciso arriscar mais, tentar ser diferente, mesmo que diferente passe a ser o sinónimo de estúpido. O pior é ver estes comportamentos em gente em quem a idade já não serve como justificação. Como é possível que aos dezanove e aos vinte e quatro anos alguém faça coisas destas? Como é possível alguém achar que a crueldade com um animal seria coisa gira de se ver e não levantaria enorme celeuma e revolta? Como é possível alguém ter tão poucos valores que em nome de uma foto trepe a um monumento nacional? Por azar dele, a estátua, que vista cá de baixo parecia tão segura, afinal não estava. Por azar nosso, foi mais um pedacinho do nosso património que ficou em pedaços.

Odeio a cultura da selfie. Atenção: não odeio selfies (quando viajo sozinha com o moço tiramos imensas, pois não temos quem nos tire fotos). Mas odeio esta necessidade infantil de aparecer, de exibir, de mostrar aos outros na expectativa do like. Odeio que se tratem homens feitos como adolescentes, quase desculpabilizando a insensatez da atitude. Odeio estes tempos onde impera a idiotice e a desresponsabilização. Odeio esta cultura da imagem na qual já poucas valem mais do que mil palavras: a grande maioria não vale palavra nenhuma. Só silêncio e pena.