segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Ena, quase me sinto uma Pipoca!

Tenho andado pouco por aqui. Até tenho umas ideias para escrever, mas tenho estado cansada e acabo por não ligar o computador. Mas hoje... Hoje tive mesmo de vir. É que hoje senti-me uma blogger importante. Dei um pulo ao blogue no telemóvel e eis que me deparo com dois comentários anónimos a aguardar moderação que são uma pérola. Não os vou publicar nos comentários e responder-lhes por essa via porque achei melhor dar-lhes a glória de uma quixotada, de bons que são. Ora aí vai um print screen da coisa (carreguem na imagem para verem melhor, por favor):


Ora, esta criatura corajosa o suficiente para comentar o blogue de forma anónima quis deixar sua opinião relativamente à quixotada em que falei das leituras que fiz no ano passado e que ela não aprova. No primeiro comentário, começa por achar extraordinário que eu tenha dado aulas de português. Isto porque, na sua opinião, sou «poucochinha» e «baixinha». Bom, caro leitor-meio-enraivecido, acertou num ponto: sou baixinha. Tenho pena de não ter sido abençoada com mais uns centímetros, mas infelizmente a genética falou mais alto e, com um pai e uma mãe pouco altos, não poderia esperar crescer muito. Mas nada que uns belos saltos não resolvam. Quanto ao «poucochinha», fico a aguardar um novo comentário seu a explicar o que quer dizer com isso. Presumindo que seja qualquer coisa como «és limitadita, filha», a minha questão é: e parou a ler o blogue porque...? Por favor, substitua as reticências com a explicação que desejar. É que eu, quando vejo que o blogue não me acrescenta nada e que a escrita do autor mostra que ele não é lá muito dotado, prefiro optar por um livro. O mesmo acontece quando tenho o azar de me cruzar com um livro que não me aquece o coração: volta direitinho para a estante. Podia chamar-lhe nomes e assim, mas era perda de tempo. Também perdeu pelo menos treze minutos da sua vida a comentar este blogue. Aliás, explique-me lá: como é que conseguiu demorar tanto tempo a escrever dois comentários tão curtos ao mesmo texto, tão básicos e mal pontuados? 

Ah, mas parece que o que a espanta é a má qualidade dos livros que li em 2018. Pois, lamento não ter lido Os Miseráveis, o Crime e Castigo e o Quixote pela quinta vez. De vez em quando importa variar. E às vezes ler outras coisas. Li O Pintassilgo e achei uma excelente história. Se um dia for capaz de ler um livro extenso (quando passar a fase das vogais) e der uma oportunidade àquele romance, talvez tenha uma surpresa. Palavra de professora de português especializada em literatura! Mas se só quiser ler clássicos, também está à vontade. Nunca se perde tempo a ler um grande livro que o tempo consagrou. Perde-se tempo a destilar rancor nos blogues alheios, mas a ler boas histórias não. Também se perde tempo a responder a gente malcriada, mas, oh well, tinha aqui um bocadinho livre e resolvi retribuir-lhe a atenção que me dedicou.

Lamento, mas atirar ao ar o possível nome da editora em que trabalho não me fará abrir a boca e dizer «acertou, é mesmo essa» ou «errou, tente lá outra vez». Mas apreciei a tentativa de se mostrar esperta. Às vezes isso faz bem ao nosso ego e, quando a realidade em que nos movemos é suficientemente má para sentirmos a necessidade de ir destilar veneno para os blogues dos outros, qualquer tentativa de elevação do ego é importante. Deixe-me dizer-lhe, caro-leitor-altamente-erudito-que-só-lê-o-cânone-validado-pela-tríade-Eco-Steiner-e-Bloom, eu permito-lhe que venha aqui, a esta humilde casa, escrever comentários venenosos. Por duas razões: a primeira é porque considero que farei algo por si ao permitir que «bote» cá para fora o fel que têm aí dentro a consumi-la; a segunda é porque esse veneno dá jeito para quixotadas destas em que mostro que não tenho só gente muito porreira a ler o que escrevo e a comentar com educação. Não: a caríssima leitora-danada-com-a-vida-e-com-um-ligeiro-problema-com-aquilo-que-sou-e-que-faço é a prova de que, além dos quatro leitores habituais, também tenho os que vêm camuflados visitar a página. Só que alguns dos anónimos são pessoas normais. E depois há a caríssima. 

Bom, para abreviar a coisa: agradeço-lhe o palavrão. Foi uma inovação nesta casa! Acho que nunca o tinha escrito no blogue sem ser em referência a livros que utilizam tal vocábulo. Talvez por ter a tal veia de professora (bem sei que lhe custa a crer que já tenha dado aulas porque sou «baixinha» e «poucochinha», mas é verdade e era bem boa no que fazia), evito esse tipo de linguagem. Porém, não posso esperar o mesmo dos eruditos-brejeiros-revoltados que por aqui passam. Ainda assim, vá lá, desta vez passa, mas da próxima mando-a de castigo voltada para a parede ou lavar a língua com sabão azul e branco. Ai a menina!

Por fim, uma correcção: não é «a Kepler». Quando muito são «os Kepler». Os autores são um casal. Escrevem excelentes livros para entreter. Sabe, aquela coisa que os seres humanos de vez em quando precisam de fazer? Não deve estar a ver... Olhe, vamos ver se me explico assim (eu, que fui tão boa a explicar coisas aos meus alunos): está a ver aquilo que faz quando vem aqui entreter-se a ler coisas que a irritam? Isso é entretenimento. No seu caso é entretenimento masoquista. No meu, quando quero ocupar as horas mortas, leio livros. Às vezes leio autores intocáveis, como Dickens,  Eça de Queirós, Camilo, Twain, Vargas Llosa ou outros, mas por vezes, como criatura mortal e imperfeita que sou, leio coisas como os Kepler. E o folheto do LIDL. E o frasco do champô. Coisas inócuas, que me enervem pouco. Vá, aprenda comigo. Afinal, sou professora (piscadela de olho).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Os livros do ano passado


Não alcancei o objectivo que tinha proposto a mim mesma: ler 45 livros em 2018. Faltaram cinco para chegar à meta. Posso dizer sem sombra de dúvida que comprei muuuuuitos mais livros do que os que consegui ler. Foi um ano do caraças, por isso não me custa muito perceber que o número tenha sido fraquinho. Também não acho que tenha sido o ano em que li melhores livros. No ano anterior tinha lido pelo menos dois livros absolutamente extraordinários (Anna Karenina e Eu Confesso, de Jaume Cabré). A fasquia estava elevada. Creio que o livro que em 2018 mais me encheu as medidas foi mesmo O Pintassilgo, de Donna Tartt, um grande livro em tamanho e na história fabulosa que conta.

Descobri, em 2018, que Haruki Murakami não é a minha praia. Achei fraquinho, muito fraquinho. Sou incapaz de o ver como o «eterno candidato ao Nobel», como muitos o apelidam. 

Todavia, também no ano passado, li o brilhante A Família Golovliov, no qual encontramos uma das personagens mais irritantes que já conheci num livro. Aliás, é mesmo a mais irritante. Se fosse uma pessoa a sério, seria daquelas que só teria nariz para poder ser esmurrado mesmo no centro da cara de tão estúpido que é. Ainda assim, mesmo com esta besta, é um livro inesquecível porque a história que conta não é tão inverosímil assim. Há pessoas mesquinhas e gananciosas que fazem mais ou menos o que aquela personagem faz. Simplesmente, não acabaram nas páginas de um romance.

Dos autores portugueses, li Vinte Horas de Liteira, do Camilo, e adorei. É um livro de contos que têm uma ligação entre eles: todos são narrados durante uma viagem feita por dois amigos. Pelo meio, vão conversando sobre as histórias. O humor de Camilo é um dos maiores tesouros da nossa literatura. Cada página escrita por ele é uma riqueza cultural que podemos orgulhar-nos de ter. Este nosso autor foi uma redescoberta que tenho vindo a fazer nos últimos anos porque quando li o Amor de Perdição na escola detestei aquilo. Consequentemente, passei a achar o escritor o autor mais aborrecido do mundo. Merecia duas lambadas, eu sei. Perdoem-me.

A Coisa Terrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket foi o melhor livro que, em 2018, li na área da literatura infanto-juvenil. É a história de um menino que é diferente porque flutua e que procura ser aceite com essa sua característica que tanto desgosta os pais. Está muito bem escrita e muitíssimo bem ilustrada. É um livro que todos os jovens (e adultos) deveriam ler, pois além de ser muito bom, leva-nos a pensar sobre as diferenças e sobre o que devemos fazer perante pessoas que têm características diferentes daquelas que esperaríamos encontrar. Nos dias de hoje, entender o outro, mesmo estando nos antípodas do que somos, é para lá de fundamental e, portanto, este livro é importantíssimo.

Por fim, foi no ano passado que dei oportunidade a um policial. Foi um dos livros do casal Kepler o  volume escolhido e a coisa correu tão bem que já tenho na prateleira todos os outros livros dos autores. Não costumo sentir-me cativada por este tipo de histórias, mas gostei deste. Li o Stalker e, confesso, andei ali uns dias a olhar por cima do ombro. Sinal de que a história foi suficientemente envolvente.

Em 2019 já li três livros. Propus-me a um objectivo inferior ao de 2018, até porque o meu trabalho agora também implica ler muito. Vamos ver se o cumpro. Para já, a ver se acabo o Bomarzo porque tem ficado para trás em relação a outros livros e muitas revistas.

Nem tudo é composto de mudança, ó Camões!

Depois de um 2018 tão atribulado, fiz hoje, finalmente, uma rápida passeata pelos blogues que costumava seguir com frequência. Cheguei a uma conclusão que me preocupa um bocadinho: fui a única que não mudou o layout do blogue, que já exibe o mesmo aspecto há sete anos (basicamente desde o dia em que foi criado). Conclusão: ou sou avessa à mudança ou sou uma grande preguiçosa. Voto por um mix das duas hipóteses. Acho que só de imaginar-me a pôr isto num virote para ficar com um ar mais modernito sobem-se-me os nervos e começo a hiperventilar. Por agora fica assim. Talvez daqui a mais sete anos me dê para uma mudançazita. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Em busca de lugar na estante XIX


Apertem-se, livros meus! Deixai passar o Gógol, que o tipo é bom! Namorei-o na Feira do Livro, mas na altura outros acabaram por tomar-lhe o lugar. Chegou agora, finalmente, e vai directamente para ao pé do Almas Mortas e dos Contos de São Petersburgo, do mesmo autor. 

Começo seriamente a precisar de mais uma estante...

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Dúvidas que me assolam VII

Tem estado frio, sim, mas ainda há margem para a coisa piorar. Que quero eu dizer com isto? Que noutros anos tivemos temperaturas mais baixas no mesmo período do ano. E sobrevivemos. Ora, eu vejo pessoal em Lisboa vestido para ter calor no Polo Norte! A minha dúvida é: se botam em cima do pelo cerca de 327 camadas de roupa, um gorro de lã, collants de lã, botas peludas, luvas e protectores de orelhas, o que raio vestiriam para andar na rua na Islândia? Na Sibéria? Chegavam o fogo a elas mesmas?

Bem sei que o meu termostato corporal tem um funcionamento esquisito (tiróides de um raio!!!), mas mesmo assim pergunto-me como é que essas pessoas conseguem mexer-se com tanta roupa vestida. E aposto que à noite vestem um pijama polar, deitam-se em lençóis polares, cobrem-se com edredões de grau térmico máximo e mesmo assim levantam-se de manhã e dizem “Porra, que esta noite esteve um gelo!”. Depois falecem um bocadinho quando entram para o banho, falecem mais um bocado quando têm de se vestir e só começam a ter pulso outra vez quando empilham sobre si a quinta camada de roupa. O auge do dia destes friorentos é chegar ao trabalho, ligar o aquecimento (porque aí o chefe é que paga a factura energética) e tirar o casaco. O cachecol fica, não vá a garganta andar ao léu e apanhar uma bicheza das que dão direito a um dia ou dois na cama. À hora do café, os friorentos reunem-se, aquecem as mãos já despidas de luvas na chávena quentinha e conversam uns com os outros sobre o frio. Invariavelmente, acabam a contar as camadas de roupa que cada um tem, enumerando e exibindo as pontas de cada manga para ninguém pensar que estão a mentir e, no fim, o detentor do maior número de camisolas ganha o tórrido rubor da vitória. Sempre aquece qualquer coisita. 

A verdade é que se isto fosse filmado e transmitido em Vinhais, aquelas pessoas escaqueiravam-se a rir e com razão. Está frio, sim, mas calma. Usar todo o guarda-roupa em simultâneo é capaz de não ser bonito nem confortável. Apenas vos transforma num chouriço e, convenhamos, essa não é a tendência para 2019. 

A casa amaldiçoada

Lembram-se da saga “Roberto e a namorada furiosa”? Eu até deixava aqui os links para essas quixotadas, mas são 4:15 da madrugada e estou a escrever no telemóvel por isso não consigo. Em curtas palavras, numa das casas do prédio ao lado, mais ou menos ao nível da minha, uma jovem gritava frequentemente ao telefone com o seu Roberto pela noite dentro. E gritava coisas como “Roberto, eu não sou uma das tuas p****!” ou “Roberto, ouve-me, c******!” e, invariavelmente, a coisa acabava com ela a ter um ataque de nervos tal que o que se ouvia era um pungente grito de raiva capaz de se fazer ouvir em Cacilhas e, quem sabe, em Oliveira do Hospital. 

Bom, a “Saga Roberto”, como ficou conhecida por aqui, terminou. Ou a menina foi avisada de que aquilo era inadmissível e parou, ou mudou-se, ou está por aí amarrada numa árvore como o bardo do Asterix (se assim for, deixem-na estar). Porém, hoje fiquei a pensar que a casa poderia estar amaldiçoada. Reparem, como disse, passa pouco das quatro da manhã e eu estou acordada. Não é coisa muito normal. Ou não seria, se não fosse o facto de, da mesma casa, surgir agora um latido e uns uivos constantes. É a primeira vez que acordo com este cãozinho zangado e, das duas uma, ou a namorada do Roberto se transformou num cão e continua a reclamar com ele, agora de forma codificada para outros humanos não terem de ouvir tantas barbaridades, ou há por ali um cãozito a precisar de qualquer coisa. Se a hipótese correcta for esta última, a solução é eu partir a parede e ir lá, porque o dono deve ser surdo ou então não está em casa. É que estamos nisto há mais de trinta minutos e ainda não dei por ninguém a ir sossegar o bicho. 

De caminho, Lady Gatica também foi acordada do seu sono de beleza e, apanhando-me de barriga para cima, entendeu que eu era o melhor colchão que poderia arranjar para dormir mais umas horas e para recuperar da violência que foi ser acordada por um cão. Portanto, neste momento, o canito não se cala e eu não posso mexer-me da cintura para baixo. Ao menos tem a decência de ronronar muito, o que funciona quase como uma massagem de relaxamento, e isso até é bom. 

E pronto, é isto a minha vida. Acho que aquela casa está amaldiçoada. Ou então sou eu que tenho uma sorte do catano. O pior é que, agora, o meu estômago começou a roncar: está pronto para o pequeno-almoço. Mas são 4:28 da manhã... E há uma Gatica que não me deixa mexer. Ai, problemas, problemas!

Notinha: E o problema que vai ser levantar-me às sete?! Cãozinho lindo... Grrrrrrrr!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Dúvidas que me assolam VI

Tenho uma dúvida que só não me tira o sono porque Lady Gatica se encarrega de perturbar as minhas noites. Ora, a minha questão é simples: haverá alguma relação entre o cheiro do interior de um carro e a necessidade de o seu condutor escarafunchar o nariz até o deixar devidamente rapadinho de toda e qualquer impureza presente nas cavidades nasais? Leia-se: o facto de se estar num carro provoca a súbita necessidade de «tirar macacos» do nariz? É que a quantidade de almas que se vêem ao volante a coçar o cérebro é de tal modo significativa que só pode haver uma ligação entre a condução de automóveis e a urgência da higiene nasal.

Num destes dias, enquanto passava a Madame Pochita, vi uma alma ao volante de um pomposo BMW limpar o nariz com tal convicção que cheguei a pensar que aquele dedo indicador iria vomitar de tanto que rodopiou pelas cavidades nasais. Aliás, se limpar a penca a fizesse crescer, o senhor teria um verdadeiro poste no meio da cara. E se o crescimento fosse repentino, levava-me o cão e tudo. Pois ali estava aquela criatura, bem sentada num carrão de sonho a fazer algo tão nojento quanto procurar tesouros peganhentos no interior da narigueta. É que tanta veemência só se pode justificar com o desejo de encontrar algo valioso. Aquele tipo aplicou-se o suficiente para encontrar petróleo dentro de si mesmo. 

Agora, as minhas dúvidas não ficam por aqui e a nojice vai continuar, pelo que aviso os mais sensíveis de que devem parar de ler agora (se não pararam até agora, são os meus heróis porque até eu, a escrever esta caca, estou com o estômago embrulhado). A minha dúvida maior é: onde põem eles o produto da sua caça ao tesouro? Nos estofos? Bom, se forem em pele se calhar a coisa nem cola. No volante? Bom, isso deve ser o equivalente javardo à lei do eterno retorno: colas agora, mais tarde colar-se-á a ti. Atiram pela janela? É possível, embora o tipo que vi tenha estado sempre de vidros fechados enquanto eu passeava o cão. E, provavelmente, estes queridos acham que estando dentro dos carros passam a ser invisíveis porque só isso explica o à-vontade com que procedem a tal actividade, como se fosse a coisa mais sociavelmente aceite do mundo e arredores. Aliás, como se fosse coisa que todos fizessemos diante uns dos outros. Qualquer semelhança com primatas no habitat natural não é, repito NÃO É, pura coincidência. Há ali qualquer coisa de macaco, com o perdão destes últimos. Pois, senhores, a menos que os vidros sejam fumados, uma pessoa não fica invisível quando bota o dedo no nariz. Diria até que se torna mais passível de ser observada, pelas razões óbvias e que passam pelo facto de se estar a fazer em público uma coisa javarda o suficiente para chamar a atenção de quem passa. A propósito, senhor do BMW, eu e o meu cão não estávamos a admirar o seu carro de alta cilindrada: estávamos a ver o nível do óleo do seu nariz e até onde chegava a «vareta» que é o seu dedo. Se houvesse um pódio, acredito que estivesse lá, com uma medalha de ouro bem luzidia e coroado com a devida coroa de moncos. Um verdadeiro príncipe da ranhoca! Já vi ficar-se conhecido por menos. Qualquer dia vai ao Goucha contar a proeza.

Mais: estas almas lavarão as mãos no fim do acto? Não, a menos que tragam consigo uma garrafinha de água e um sabonete ou algo equivalente. O que quer dizer que andam a espalhar gosma pelo mundo até aquelas patas verem água. Quando penso nisto, a germofóbica que há em mim (e que ocupa cada vez mais espaço do meu ser) não deixa de constatar que o melhor é não tocar noutros seres humanos porque, de facto, nunca se sabe. Além disso, a mesma germofóbia congratula-se por trazer sempre consigo toalhitas humedecidas e desinfectante de mãos igual ao que havia na unidade de cuidados intensivos onde o meu pai esteve internado.

Bom, a verdade é que todas estas dúvidas me consomem os nervos e eu preciso de saber. Desculpem a quixotada nojenta, mas certamente todos vocês já viram alguém tentar, à maneira faraónica, catar o cérebro pelo nariz enquanto se encontra dans la voiture. Se conseguirem explicar-me a relação entre a acção de conduzir e a reacção de tirar macacos, fico-vos agradecida. É que eu não percebo. Só sei que tenho um nojo do caraças.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Bem, o que conta é a intenção, certo?!

Reparei agora que um dos presentes que recebi no Natal é um kit de cremes para mulheres a partir dos 50 anos. Eu tenho 33. 

Ou estou muito estragada ou alguém não leu nada do que estava escrito na caixa...

Em busca de lugar na estante XVIII


O meu coração ainda está aos pulos pela casa! Consegui encontrar esta edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa em excelente estado  e a custar 2.50€ por volume, num total de quinze euros. Já andava a namorar um Houaiss, mas dar quase cento e oitenta euros pelos seis volumes era coisa que não me apetecia. Pode não ser a edição mais recente (é de 2003), mas serve muito bem o objectivo de ter à mão milhares de vocábulos da língua portuguesa falada em Portugal, no Brasil e noutros territórios ainda onde se falou ou fala o português, mais os seus significados, sinónimos, antónimos, étimos e data do aparecimento da palavra pela primeira vez. É um trabalho de grande fôlego sobre a nossa língua que é muito mais rica do que podemos imaginar. 

Gosto de gramáticas e de dicionários. Gosto de saber mais sobre aquela ferramenta que usamos todos os dias e que, infelizmente, se valoriza tão pouco: a língua portuguesa. Gosto de ter à mão toda a informação possível para conhecê-la bem e tenho pena de não saber ainda mais sobre ela. Tenho pena de que o nosso vocabulário pareça ser cada vez mais reduzido, especialmente quando falamos uma língua com tantas oportunidades, com tantas palavras e com tantas variantes. Lamento que o vocabulário dos nossos miúdos tenha hoje tantos empréstimos de outras línguas e que não se usem mais as palavras portuguesas quando elas existem. Mas, enfim, a língua está em constante mudança e de outra forma não poderia ser, considerando que a realidade dos seus falantes também está sempre a mudar. Assim, conhecê-la é importante (especialmente para depois não deixarmos o Camões a chorar com disparates) e acompanhá-la nas muitas voltas que dá (concordemos ou não com elas) é também fundamental. E não há conhecimento da língua sem leitura, sem bons livros, sem curiosidade pela mesma, sem gosto pelo que a constrói e pelo que ela nos permite. É uma curiosidade que todos devíamos ter, até porque somos falantes de uma língua lindíssima e muito falada no mundo.

Coisas que não entendo V

Desde que Madame Pochita assentou a devida bagagem, o uso de lixívia e de detergentes para o chão aumentou consideravelmente. Em consequência, pus-me a reparar nos cheirinhos que existem e foi aí que me surgiu uma enorme e devastadora dúvida: a que raio cheira o detergente «Marinho»?

Bom, se me falarem no adjectivo «marinho», eu penso em coisas relacionadas com o mar. E se me pedirem para descrever o que será um odor «marinho», provavelmente ocorrer-me-á o cheiro da maresia, o cheiro da praia... Nunca, mas NUNCA me passaria pela cabeça considerar «marinho» o perfume dos detergentes assim descritos. Mais: nas embalagens costumam vir imagens de  estrelas-do-mar, búzios, areia e outras coisas relacionadas com o mar. Faz sentido. O que não percebo é que depois, ao abrir a embalagem, não seja vigorosamente esbofeteada com o cheiro do mar, com o cheiro dos búzios, nem com nada que se lhe pareça.

Estes detergentes azuis (sempre azuis, porque a essa cor associamos o mar), para fazerem jus ao nome, deviam, sei lá, cheirar a carapau ou a conquilhas. Deviam ter um perfume marinho capaz de deixar os gatos em busca de atum escondido pela casa depois de lavar o chão. Se é para ser marinho, então que seja marinho! Agora, «marinho» que não cheira a peixe ou às ondas do mar é que não. Sinto-me enganada e incapaz de perceber. E, convenhamos, não entender o detergente do chão é coisa para danar uma pessoa.

Estou a pontos de criar um movimento nas redes sociais que exija um «marinho» como deve ser. Que seja representativo do que quer dizer e que evoque as sardinhas que nadam por esse mar fora, que cheire a algas e a coisas que lembram sem dúvida o mar. Não quero mais ser enganada por perfumes que têm um nome, mas que não lhe fazem justiça. Se compro detergente «marinho», a casa há-de cheirar a bacalhau ou a camarão durante uma semana. Não a flores! E ser azul não chega! Merecemos o pacote completo: cor e cheiro a cenas do mar. Quem está comigo nesta luta tão, mas tão nobre?!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Tantos livros

Se eu ficar em casa, consigo ver muitos livros nas prateleiras. Mas agora, quando vou trabalhar, vejo muitos mais. Intocados, mesmo bonitinhos ali nas prateleiras, em filinhas coloridas das quais é difícil despegar o olhar. E além dos que já saíram e ali se deixam ficar, ainda há as provas daqueles livros que só estão agora a nascer. 

Agora é que posso dizer que vivo mesmo no meio de livros e é delicioso. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O primeiro dia

Hoje foi o meu primeiro dia de trabalho na editora. E... foram sete horas de leitura. Estou a rever um policial que sairá daqui a poucos meses. Estou, como podem imaginar, no paraíso. 

Correu muito bem, fui bem recebida e percebi que, ao contrário do que imaginava, neste interregno não me esqueci das regras da gramática. Por isso, Camões, filho, para já não precisas de chorar.