segunda-feira, 25 de junho de 2018

A Menina Quer Isto CIX

Conheci na Feira do Livro de Lisboa a Fábula, a chancela responsável pela área infanto-juvenil da 20|20 Editora, e gostei muito do que vi. Fiquei com vários livros debaixo de olho e à espera de nova feira ou de outra oportunidade que me permita trazê-los para casa. Para não me esquecer do que quero, trouxe um catálogo da editora e guardo-o religiosamente de modo a poder encontrar tudo facilmente quando finalmente me puder chegar à frente.

Além do design, que considerei adorável, gostei muito de boa parte dos títulos deste catálogo. Tanto por recuperar clássicos da literatura infanto-juvenil que serão sempre inesquecíveis como por ter outros livros que também parecem muito promissores. Em jeito de apresentação, deixo-vos aqui aquilo que quero.

1. Tesouros da Literatura

Esta é uma colecção que publica clássicos de autores portugueses ou não. O público alvo destes textos é alargado (quem achar que um adulto não pode deliciar-se com literatura infanto-juvenil é um jumento) e, segundo o catálogo da editora, os livros «incluem prefácios que sublinham a importância dos autores e das obras». Há dois títulos que me fazem falta nas prateleiras. E só não há mais porque já os tenho noutras edições.




2. Judith Kerr

Não conhecia esta autora, mas tanto O Tigre Que Veio Para o Chá quanto os livros protagonizados pela patusca gatinha Mog entraram directamente para a minha lista de livros a ter. São livros lindíssimos, as ilustrações são deliciosas e, no caso do tigre que toma chá, a tradução também tem tudo para correr bem, já que é da Carla Maia de Almeida.




3. Obras Premiadas

Já que estamos numa de felinos, eis mais um: Há Um Tigre No Jardim. O livro é tão, mas tão bonito que já foi premiado relativamente às suas ilustrações. Ora, como a infância é a época em que no jardim da avó podem existir tigres e muitas outras coisas que só a imaginação pode ver, parece-me ser um livro maravilhoso para os nossos miúdos. E para nós.


4. E. B. White

São deste autor dois clássicos que já tivemos a oportunidade de ver no cinema: A Teia de Carlota e A História de Stuart Little. Ok, cinema é bom, mas ler os livrinhos que deram origem aos filmes é ainda melhor. A fábula disponibiliza-nos estes títulos em traduções de Carla Maia de Almeida. De caminho, refiro ainda um terceiro livro do autor que, segundo o catálogo da editora, procura recriar a vida de Louis Armstrong: O Cisne e o Seu Trompete.





5. José Mauro de Vasconcelos

Não haverá ninguém que nunca tenha ouvido falar em O Meu Pé de Laranja Lima. José Mauro de Vasconcelos é, talvez, o mais conhecido autor brasileiro de literatura infanto-juvenil. A Fábula apresenta-nos quatro propostas além da já referida: Vamos Aquecer o Sol, Rosinha Minha Canoa e O Veleiro de Cristal. Não tenho nenhum deles e até faço um mea culpa: nunca tive coragem de ler O Meu Pé de Laranja Lima. Uma grande falha, eu sei. Li alguns excertos e fiquei sempre com medo da dor que perpassa o livro. O pobre Zezé sofre tanto e eu não queria que ele fosse tão infeliz... Contudo, acho que chegou a altura de conhecer esta obra e as outras deste autor que é um nome incontornável da literatura lusófona.





E pronto: creio já ter uma boa lista para a «estragação» do próximo ano. Acho que por mais que cresça, estes livros supostamente para um público mais jovem vão sempre aquecer-me o coração, não há nada a fazer. Acho que torna a nossa existência mais bonita poder saltar de vez em quando para mundos onde é possível tomar chás com tigres ou encontrá-los no jardim. Faz-nos bem à cabeça, ajuda a que não levemos tudo tão a sério e a deixar viver por mais tempo a criança que sempre deveríamos manter cá dentro. Ler estes livros é alimentá-la, deixá-la permanecer e ela agradece impedindo-nos de sermos chatos e quadrados como alguns adultos passaram a ser. Agradeço à Fábula todas estas possibilidades de leitura e todas as muitas outras que possam estar para vir. Está, sem dúvida, a fazer um excelente trabalho.

Portanto, a menina quer isto tudo. Ai ai... Depois, quando os tiver e os ler, conto-vos como foi e faço o típico balanço.

Nota: Todas as imagens foram retiradas da página da Wook.

domingo, 24 de junho de 2018

Chora, Camões, chora... XXVII

Em Maio fui à Primeira Comunhão da minha afilhada que, sem que eu soubesse, coincidiu com o Dia da Santíssima Trindade. Por isso, à entrada da igreja, estava este pequeno cartaz. Era demasiado bom para não o fotografar:


Em consonância com o cartaz, o nome da minha afilhada vinha ortograficamente errado no diploma que lhe entregaram. Escreveram «Beatris»...

sábado, 23 de junho de 2018

Casos do Beco das Sardinheiras - o balancito


Mário de Carvalho é, actualmente, um dos autores que mais recorre ao humor nos seus livros. Não à piada fácil e despropositada, mas a um humor que atravessa a linguagem e as situações vividas pelas personagens. Além de criar enredos interessantes, além de saber imenso sobre a escrita de ficção e de termos muito que aprender com ele, dota boa parte dos seus livros de uma boa disposição que de vez em quando faz falta.

Estes Casos do Beco das Sardinheiras estão cheios de situações inusitadas, risíveis e marcadas por personagens que recorrem a uma linguagem popular reproduzida com enorme mestria. O Beco, é-nos dito no início, poderia ficar ali para os lados de Alfama. Ora, tratando-se de um beco, o espaço destes contos é relativamente pequeno e habitado por uma população que se conhece entre si desde há muito. As peculiaridades de cada um são muitas vezes apontadas nos próprios nomes das personagens (como o «Zé Metade», a quem falta uma parte do corpo). Mas o beco é tão especial que nele acontece de tudo: desde um marco do correio de onde saem pessoas que entraram num buraco no Cais do Sodré e aparecem ali, até ao surgimento de um instrumento musical que suga coisas como paredes de casas, passando por um padre inventor que faz nascer cornos de carneiro num grupo de beatas...

Enfim, o autor cria a anormalidade num espaço tão restrito, tão familiar que não se esperaria encontrar ali nada de estranho. Mas acontece e ainda bem porque as situações são tantas e tão divertidas que só podemos agradecer a existência de um beco lisboeta onde tudo parece ser possível. Até «confundir género humano com Manuel Germano»*, coisa que nunca está bem.

*Tal expressão perpassa todo o livro e faz parte da linguagem dos habitantes do beco. É uma brincadeira de sons semelhante às brincadeiras entre a realidade e a ficção feitas pelo autor.

domingo, 17 de junho de 2018

A Coisa Terrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket - O balanço



Há livros que são uma boa surpresa e este foi um deles. A Coisa Terrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket, de John Boyne, foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos. É, ao mesmo tempo, de uma doçura e de uma originalidade inegáveis. E, como se não bastasse, o texto é acompanhado por ilustrações que fazem deste livro uma pequena pérola.

Barnaby Brocket, o protagonista, nasce numa família que admira a normalidade. Aliás, admirar é pouco: os seus pais VENERAM a normalidade e não admitem nas suas vidas nada que contrarie aquilo que a sociedade encara como sendo normal. O seu terceiro filho, Barnaby, vem contrariar tudo e trazer às suas existências tudo aquilo que não aceitam. É que o pequeno rapaz, logo após o nascimento, começou a flutuar e não consegue deixar de fazê-lo à medida que cresce. Essa é a sua peculiaridade que, claro, não é bem aceite pelos pais (ainda que os dois irmãos mais velhos convivam lindamente com esta característica do Barnaby, mostrando que as crianças e os jovens são, muitas vezes, excelentes exemplos para os mais velhos). Enquando Barnaby é pequeno, é fácil mantê-lo afastado dos olhares dos outros, mas conforme vai crescendo torna-se inevitável fazê-lo sair de casa e, claro, a família acaba por ser alvo das atenções dos outros. E isso, como podem imaginar, é inaceitável para quem tem a normalidade como único objectivo de vida.

Certo dia, os pais chegam ao seu limite e Barnaby vê-se numa situação extraordinária para um rapazinho de oito anos: é que além de flutuar, vai encontrar-se sozinho e longe de casa. No entanto, a experiência permite-lhe viver várias aventuras e conhecer outras pessoas, também elas marcadas por aquilo que a sociedade entenderia como anormalidades. Conhecerá um casal de mulheres que as famílias desprezaram por gostarem uma da outra, conhecerá um homem com poucos meses de vida que recusa passar os seus últimos dias fechado entre quatro paredes como a família gostaria, conhecerá um rapaz com dois ganchos em vez de mãos que, por essa mesma particularidade, conseguirá salvar-lhe a vida, entre outras personagens extraordinárias.

Obviamente não vos contarei o final deste magnífico livro. No entanto, aconselho-vos vivamente a que o leiam. Fá-lo-ão num ápice, já que as aventuras do pequeno Barnaby Brocket são tão deliciosas que queremos sempre ver para onde flutuará a seguir. A escrita está, também, marcada por um sentido de humor discreto, mas evidente. Porém, o melhor que tudo é a mensagem importante que fica para todos os que lêem este livro, sejam pequenos ou graúdos: aquilo que é diferente não é necessariamente mau. Saber viver com as peculiaridades dos outros é muito bonito e é algo que devia acontecer sempre, sem serem necessárias palestras sobre o assunto. Aceitar quem não é como nós ou quem não é exactamente como a sociedade obriga a ser é um dever nosso. Este livro é bom para todos, mas sobretudo para quem ainda não percebeu isso.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Já só faltam três (ai ai...)

Um dente do siso já foi. Arrancá-lo foi coisa de quinze minutos. A caca foi depois, quando o efeito da anestesia começou a passar. Confesso que não choraminguei por vergonha. Felizmente, estava sozinha em casa e só os gatos é que assistiram à minha miséria. 

Já comi papa e gelados. Agora anseio por uma feijoada e um bife da Portugália. Isto promete. 

Ai ai essas datas...

No Expresso Diário de hoje está esta belíssima e espampanante troca de dígitos que leva a Batalha de Aljubarrota até ao século XIX:




quarta-feira, 13 de junho de 2018

A solução do dilema

Fui à Feira com a minha mãe, sobrevivemos a um mar de gente que quis visitar o espaço no último dia do evento, comemos um gelado à sombra, sentadas na relva, e trouxe o Oblomov comigo. 

Adeus, Feira! Até 2019!

Ps.: A Tinta-da-China redimiu-se da “forretice” do ano passado e deu-me um belo molhinho de marcadores. Alguns são estupidamente giros. A menina agradece!

Parece que a coisa encravou

Meus caros, além da falta de notificações a informar-me sobre novos comentários às quixotadas, a lentidão para conseguir abrir a janela de resposta aos vossos comentários leva-me a ainda não ter respondido a nada do que têm dito. Desculpem-me, mas de facto parece que isto anda a funcionar um bocadinho mal. A ver se a coisa melhora rapidamente, que assim não tem jeito nenhum. De qualquer modo, os comentários continuam a ser muitíssimo bem-vindos e terão resposta logo que isto «desencrave».

Dilemas, dilemas...

Estou para aqui a tentar decidir se vou à Feira do Livro buscar o Oblomov que é hoje livro do dia na Tinta-da-China ou se fico em casa a jiboiar e a babar-me com os livrinhos que já tenho. Dúvidas, dúvidas...


sábado, 9 de junho de 2018

Dicas para a Feira do Livro de Lisboa

Por alguma razão que a minha infoexclusão não alcança, deixei de receber notificações relativamente à chegada de comentários novos ao blogue. Por isso, alguns comentários vossos ficaram pendurados durante alguns dias. Peço-vos desculpa (o meu telemóvel já foi devidamente punido por tal falha).

Hoje de manhã fui novamente à Feira do Livro. A ideia era trazer o volume relativo à Ficção do Mário-Henrique Leiria, publicado pela E-Primatur. Depois de uma chuvada ao amanhecer, eis que o dia ficou soalheiro e quentinho. Resultado: ia só buscar um livro e saí com uns dez. Ao somar esse aos muitos outros que já comprei na Feira deste ano, só tenho um comentário a fazer: estou de volta com grande pompa e circunstância! Depois de um ano e meio complicado, eis-me de novo a viver perigosamente no reino das Feiras do Livro.

Tenho vergonha de mostrar-vos as pilhas de livros já adquiridas, mas deixo alguns conselhos para quem ainda vai aproveitar os últimos dias do evento.

1. A Hora H, mais cedo este ano, é uma loucura. Cruzamo-nos com oportunidades tão boas que é uma pena não as aproveitarmos. Contudo, uma hora passa num instante e alguns pavilhões ficam cheios de gente ansiosa por trazer os livros escolhidos. Assim, sugiro-vos que saibam bastante bem e com antecedência o que querem comprar durante aqueles fugazes sessenta minutos. É que se se põem a ver aqui e ali vai-se o tempo e não trazem nada. Foi com a Hora H que consegui trazer para casa a muito desejada antologia de poesia portuguesa da Porto Editora. É talvez o mais longo livro que já comprei até hoje.


2. Vejam as bancas laterais das editoras. Normalmente é aí que encontram as pechinchas, seja em fundos de catálogo, seja em livros manuseados. Foi assim que trouxe da Antígona um livro que queria, mas que, por estar manuseado, baixou para cinco euros (custava dezasseis):


3. Algumas editoras, como é o caso da E-Primatur ou da Individual, não fazem Hora H, mas fazem «packs de livros» que saem em conta. A primeira, por exemplo, tem um que inclui três obras de Dickens com um desconto simpático. Foi assim que me vi a trazer por 39€ estes três livros (cujo total original rondava os 52€):




4. Se aguentam esperar por um livro que ainda não está tão barato quanto gostariam, esperem pelo próximo ano. Demorei anos a aprender a sossegar-me e a guardar a carteira para o ano seguinte, mas vale a pena. Alguns livros acabarão por deixar de estar abrangidos pela Lei do Preço Fixo antes da Feira do Livro de 2019 e, mesmo que assim não seja, a verdade é que quanto mais tempo passar sobre a sua publicação, maior é a probabilidade de que o preço baixe. No ano passado, a Ficção do Mário-Henrique Leiria era uma novidade acabadinha de sair. Este ano já foi Livro do Dia. O mesmo aconteceu com As Histórias de Babar, da Relógio D’Água.


5. Alguns livros que chegam a Livro do Dia não entrarão em nenhuma Hora H ao longo da Feira. Por isso, nesse caso, aproveitem a oportunidade de os trazerem com o desconto do dia. Mas, se se aperceberem de que tal livro pode estar na Hora H, esperem e tragam-no à noite. Provavelmente o desconto será maior. Foi o que me aconteceu com este livro, que será livro do dia na terça-feira, mas que me ficou mais barato na Hora H:


6. Atenção aos preços praticados por alguns alfarrabistas. Podia jurar que alguns se abastecem nas banquinhas dos manuseados (já desconfio disso há alguns anos). Em todo o caso, há edições que não compensam nas bancas dos alfarrabistas. Ou por não serem boas, ou por estarem demasiado caras para a qualidade que têm. Não raras vezes, uma edição usada é mais cara lá do que nova na editora... Mesmo assim, não deixem de espreitar esses pavilhões, pois encontram-se sempre surpresas, alguns livros esgotados... Foi assim que resolvi uma das maiores falhas literárias cá de casa, escapando à inevitabilidade do livro de bolso (o único disponível actualmente):


E pronto, por hoje é isto. Espero ainda ir a tempo dos vossos passeios pela Feira do Livro. Aproveitem-na bem porque termina já na próxima quarta-feira e depois só mesmo em 2019 é que poderemos voltar a delirar com um dos melhores eventos anuais da cidade de Lisboa.