terça-feira, 30 de abril de 2013

Bizarro

Mas que porcaria de mania é esta agora de as mulheres pedirem prendas aos maridos pelo Dia da Mãe?! Mas esse dia não é aquele em que os filhos fazem um miminho à mãe, precisamente porque é mãe e porque foi um dia inventado a pensar nelas? Se assim é, que porra é esta de agora se deixar dicas aos maridos para presentes que as ditas queriam ter no Dia da Mãe? E depois, pelo que vou vendo, ninguém é meigo a pedir. Sugerem-se prendas bem caras. Deve ser moda e eu não sei, pobre de mim.

É que se eu descubro que isto funciona numa de "ah e tal, eu tive os teus filhos logo sou mãe, logo tens de me ofertar qualquer coisa sob pena de ires dormir com o cão", arranjo já uma meia dúzia de miúdos e exijo um anel de diamantes por cada par de pernas paridas. Embora, claro, prefira a coisa feita à moda antiga, envolvendo apenas miúdos acanhados por darem um postal pintado de forma tosca com uma quadra a rimar à força. Isso, minha gente, era bonito e, acredito, valiosíssimo para as mães que se derretiam todas.

Na minha opinião, o Dia da Mãe já não é o que era quando éramos pequeninos e tínhamos de fazer, com as nossas mãozinhas pequeninas, o presente que iríamos ofertar. Na verdade, acho que já vale tudo para dar nas vistas e, neste caso, é demasiado ridículo.

A Casa de Papel


A pechincha do passado Dia Mundial do Livro foi este pequeníssimo livro que chegou hoje a casa, vindo da FNAC. Parece-me ser daqueles bons para quem gosta de ler já que, pelo que ouvi dizer, mostra as consequências que um amor exacerbado aos livros pode trazer. Deixo-vos o texto da contracapa, para ver se ficam tão interessados como eu.
 
«Os livros mudam o destino das pessoas: Hemingway incutiu em muitos o seu famoso espírito aventureiro; os intrépidos mosqueteiros de Dumas abalaram as vidas emocionais de um sem-número de leitores; Demian, de Hermann Hesse, apresentou o hinduísmo a milhares de jovens; muitos outros foram arrancados às malhas do suicídio por um vulgar livro de cozinha. Bluma Lennon foi uma das vítimas da Literatura.
Na Primavera de 1998, Bluma, uma lindíssima professora de Cambridge, acaba de comprar um livro de poemas de Emily Dickinson quando é atropelada. Após a sua morte, um colega e ex-amante recebe um exemplar de A Linha da Sombra, de Joseph Conrad, em que Bluma escrevera uma misteriosa dedicatória. Intrigado, parte numa busca que o leva a Buenos Aires com o objectivo de procurar pistas sobre a identidade e o destino de um obscuro mas dedicado bibliófilo e a sua intrigante ligação com Bluma.
A Casa de Papel é um romance excepcional sobre o amor desmesurado pelas bibliotecas e pela literatura. Uma envolvente intriga policial e metafísica que envolve o leitor numa viagem de descoberta e deslumbramento perante os estranhos vínculos entre a realidade e a ficção.»

Um novo número

Uma pessoa vai trabalhar e quando volta já ultrapassou as trinta mil visualizações. Não são os trinta milhões da outra, mas deixam-me contente na mesma. Mais ainda porque este blogue já não é o que era e há quem ainda volte. Obrigada!

domingo, 28 de abril de 2013

Livros que devoram

Hoje de manhã, na ronha dominical, comecei e terminei um livro que A D O R E I! Aliás, foi o primeiro livro que li do Afonso Cruz, mas foi uma iniciação em beleza. Comprei o Os Livros que Devoraram o Meu Pai por saber que nesta obra existe um leitor apaixonado que acaba por ser engolido pelas histórias que lê. O que não sabia era que o autor tinha escrito uma prosa tão bonita para um livro que, inicialmente, podemos julgar muito simples.
 
O livro é breve: lê-se numa hora. Conta a história de um rapaz que procura dentro dos livros pelo pai que foi, precisamente, engolido por um romance de H. G. Wells. Este menino vai cruzar-se com algumas personagens literárias que vão ensinar-lhe coisas que, admito, até a mim me deixaram a pensar. Além disso, conhecemos um pouco da vivência da personagem, o seu amor por Beatriz e a amizade que mantém com um menino obeso que é dado à filosofia oriental. No final, verificamos que este protagonista acaba por aproximar-se perigosamente dos defeitos que algumas personagens literárias apresentam, sendo depois obrigado a conviver com os seus actos durante toda a vida.
 
É, portanto, um livro que aconselho a todos. Está nas listas do Plano Nacional de Leitura por isso está aconselhado a jovens leitores. Contudo, pela beleza da prosa e pela paradoxal riqueza na simplicidade da história, creio que pode deixar qualquer apreciador de livros e de leitura de medidas bem cheias. Para aguçar-vos o apetite, deixo-vos um parágrafo que considerei belíssimo.
 
«Li, numa das minhas tardes passadas no sótão, um conto de um escritor argentino chamado Borges, sobre um labirinto que é um deserto. Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum tão complexo como uma biblioteca. Mesmo um livro solitário é um lugar capaz de nos fazer errar, capaz de nos fazer perder. Era nisto que eu pensava enquanto me sentava no sótão entre tantos livros.»
 
 
Nota: A imagem foi retirada da página da Wook. Podem consultar a ficha deste livro aqui.

sábado, 27 de abril de 2013

Ogres

Já falei aqui dos meus vizinhos de cima. Creio que na altura os chamei de cavalos. Bom, essa quixotada merece uma correção para ser verdadeiramente justa. Os meus vizinhos não são equídeos: são ogres. E são dos mais «nharros», idiotas, apoucados, ignorantes e indelicados que este mundo já viu. Até o Shrek se encolheria de vergonha perante tamanhos imbecis a representar a espécie.
 
Estes reais atrasados mentais têm a delicadeza de um mamute numa loja de cristais. A verdade é que os mamutes estão extintos, o que diz muito sobre o que subjaz à minha comparação. Na realidade, um dos meus maiores desejos é a extinção daqui para fora da família de ogres que tenho o azar de ter a viver por cima de mim. E porquê? Por isto:
 
Quando vieram viver para o andar de cima, até eram pessoas pacatas. A família era numerosa, já se sabia, mas limitavam-se a fazer algum barulho com mobílias por volta das nove da noite. A coisa confundia um bocadinho uma vez que, durante as mudanças, pouco ou nada os vimos trazer para cima. Sempre acreditámos que, perto da hora de dormir, abriam sofás e camas desmontáveis. Ainda hoje mantenho essa suposição.
 
Com o tempo o barulho foi aumentando. Muito. Todo o prédio teve a oportunidade de perceber que esta gente não é mais do que uma cambada de ignorantes mal educados que para onde vai monta a tenda e os outros que se lixem. Na noite de quinta para sexta, um dos retardados que dorme por cima do meu quarto pôs, como vai sendo costume, o telemóvel no chão para o despertar. Então às 3:55 da madrugada EU acordei com um telemóvel a vibrar e a tocar mesmo por cima da minha cabeça. Virei-me para o lado, pensando que a pessoa se levantaria e que o barulho ficaria por ali. Pois sim. Dez minutos depois berra o alarme outra vez e o ogre lá se levantou. Andou, andou, andou, arrastou este mundo e o outro e eu, às seis da manhã, pude finalmente voltar a adormecer. O melhor é que por volta das cinco saiu alguém. Pensei «Bom, vai trabalhar e agora fica tudo em silêncio.». Uma porra é que ficou! Dez minutos depois a alma que saiu voltou. O que raio vai uma pessoa fazer à rua durante dez minutos às tantas da manhã??? Despejar o lixo???
 
Esta noite acordei às cinco da manhã e novamente dez minutos depois com o mesmo desgraçado telemóvel a despertar o vizinho. Ninguém merece isto. E o pior é que nem dá para chamar a polícia. Vou dizer o quê? «Ah e tal, o telemóvel do vizinho acordou-me»? Não me parece.
 
O que também consegui verificar com isto é que os meus desejos não têm poder nenhum. Se tivessem e com as coisas que desejo àquela gente durante a madrugada, enquanto estou acordada por causa deles, pelo menos metade deles já teria um corno num sítio muito desagradável e doloroso. Pelo modo pimpão como caminham de casa para o café e do café para casa, não me parece que tal apêndice já lhes tenha nascido. É uma pena.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nivelar por baixo

As selecções de livros que algumas livrarias estão a fazer por ocasião do Dia da Mãe levam-me a concluir que as mães ou só lêem porcaria ou só se interessam por culinária. Eu se fosse mãe ofendia-me com tais escolhas. Que se saiba ter filhos ainda não equivale a proceder à ablação de metade do cérebro. Porém, o que estas brilhantes selecções mostram não é mais do que uma visão muito reduzida e quadrada do que são os gostos e os interesses das mulheres mães de filhos.

Ao que parece ser mãe implica gostar de Nora Roberts e de Nicholas Sparks, bem como daquela tipa que escreve a granel e que tem um apelido impronunciável ("Modinhonhi", ou coisa que o valha). Ter filhos faz com que se passe a amar a Nigella ou o Jamie Oliver. E se assim não for, ou as mães são portadoras de um défice qualquer ou então as livrarias tomam as progenitoras deste país por totós incapazes de ler livros que vão mais além do romance piegas ou do muito remexido romance histórico. Felizmente tenho uma mãe que lê muitas coisinhas boas e que detesta todos os autores supracitados. Nesse caso, a selecção feita por algumas livrarias para o Dia da Mãe que se avizinha não me serve para mais do que para escrever a presente quixotada. Ao menos isso.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Da liberdade

Porque hoje comemoramos o dia que restituiu a liberdade a um país que já quase não sabia o que era tê-la, ficam as palavras de D. Quixote (seguindo a quixotada anterior) e que, tendo sido escritas nos primeiros anos do século XVII, servem ainda hoje de ensinamento a não perder de vista.

"A liberdade é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos mortais. Com ela não podem igualar-se os tesoiros que encerra a terra em seu seio nem que esconde o mar nos abismos. Pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve arriscar a vida; o cativeiro é, pelo contrário, o maior mal que pode ferir um homem."

Miguel de Cervantes, Dom Quixote de la Mancha, II, LVIII, Bertrand, 2010
(trad. de Aquilino Ribeiro)

Uma enorme paixão

Os grandes livros, os que nos mudam e nos falam mais intensamente acabam por chamar-nos mais do que uma vez. É a esses que voltamos, são esses que desejamos voltar a escutar. A vida é curta e são muitos os textos que queremos conhecer, porém nem por isso conseguimos afastar-nos das releituras que sentimos a obrigação de fazer.

Não sou, devo admiti-lo, a pessoa que mais relê. Para que o faça é preciso amar, amar de verdade um livro e isso, constato, tem sido raro. Foram, até hoje, poucos os livros a que regressei. Aliás, apenas me recordo de dois (ignorando as releituras juvenis que fiz de volumes de "Uma Aventura" e outros do género): Todos os Nomes, de Saramago, e Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes. Se o primeiro me colocou (coloca ainda) uma série de questões, o segundo mudou a minha vida. Li-o aos dezoito anos porque saiu de forma gratuita com um jornal. Tinha sobre ele uma porção de ideias pré-concebidas e achava que ia odiar aquele cavaleiro andante e as suas aventuras. Felizmente, aos dezoito anos e embrenhada num curso superior de Literatura, tinha a mente suficientemente aberta para começar a ler uma obra longuíssima de que julgava impossível vir a gostar. Felizmente, também, os dezoito anos permitem admitir certos enganos e apadrinham novas paixões. E eis que o Quixote se tornou o meu livro, a minha paixão literária. Tive muita sorte: há quem faça uma vida de leituras sem deixar tocar-se desta maneira por texto algum.

Depois de ler o Quixote percebi tudo muito melhor. Desde os outros livros às outras pessoas, tudo ficou mais claro para mim. Foi livro a que muitos, uma imensidão de autores, foram buscar inspiração, por isso conhecer o Quixote é condição sine qua non para se perceber efectivamente o que outros autores quiseram transmitir-nos. É um dos livros mais conhecidos no mundo e, mesmo para quem não o leu, há aspectos partilhados e conhecidos. A sua iconografia, o poder das imagens que sobre ele se fizeram ajudaram (ajudam ainda) a aumentar a sua fama. Sobre o Quixote há imagens lindíssimas feitas por nomes sonantes como Doré, Picasso, Dali, Pomar. Há bailados, óperas, filmes, bandas desenhadas e uma imensidão de outros produtos que só nasceram porque um dia Cervantes fez de um fidalgo cavaleiro e de um homem "com pouco sal na moleirinha" seu escudeiro.

Bem vistas as coisas, li o Quixote há quase dez anos e levei uma semana a fazê-lo. Depois disso reli-o duas vezes e já fui relendo alguns capítulos de forma isolada. Nestes nove anos, e porque a paixão foi imensa, comecei a coleccionar edições da obra e tudo o que com ela tenha que ver. Não tenho uma colecção valiosa do ponto de vista material, não tenho nenhuma edição rara (tomara eu tê-la), mas adoro cada livro que a compõe e adoro sabê-la minha. Talvez isto nem seja gosto ou passatempo próprio de alguém com vinte e sete anos, mas que se lixe. Aprendi mais com o Quixote do que com muitas pessoas e tive mais companhia por parte daquelas páginas do que com alguns ditos amigos.

Por tudo isto e porque sinto já há alguns dias uma enorme saudade das palavras de um homem bom que queria mudar o mundo, vou até às prateleiras para procurar o livro com o qual farei a próxima releitura.

 "Num lugar da Mancha de cujo nome não consigo lembrar-me..."



Evolução humana

Perante uma adolescente que empurrava um carrinho de bebé, o meu namorado comenta:
 
- Incrível... No meu tempo tinham telemóveis, agora têm filhos.
 
Posso tentar adivinhar que uma coisa acaba por levar à outra.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia Mundial do Livro: o resultado

No Dia Mundial do Livro, comemorado por ser hoje o aniversário da morte de Miguel de Cervantes, o meu cesto de compras privilegiou a literatura juvenil. Não é, infelizmente, coisa que leia muito principalmente porque os livros que vou vendo me parecem parvos e demasiado simples. Nem todos são assim, mas muitos são: é um facto.

Há uns tempos, durante uma promoção numa livraria, alguns livros infanto-juvenis despertaram-me o interesse. Era uma colecção de que se chamava "Os Detectives da Viela Voltaire", de Pierdomenico Baccalario. Além de terem um número de páginas admirável para este tipo de público, pareciam livros muitíssimo bem feitos e interessantes. Após uma pesquisa sobre este autor, verifiquei que já escreveu umas quantas coisas e resolvi investir em livros seus. Hoje comecei com dois e foi-me oferecido um terceiro (obrigada!). Vou começar com estes e depois passo aos outros, que já não são poucos, uma vez que o autor já produziu pelo menos três colecções (são capazes de já se terem cruzado com uma intitulada "Ulysses Moore"). Vamos lá ver se o conteúdo corresponde à boa impressão que o exterior deixa.

Nota: As fotos foram retiradas da página da Wook que, a propósito, hoje está com uma grande promoção.





sábado, 20 de abril de 2013

A alguém que não conheci

Contava o Saramago que a avó dele, uns tempos antes de falecer, dizia algo como "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer."

Soube agora da morte de uma rapariga que não conheci, mas de quem ouvi falar muito e bem. Especialmente nos últimos tempos, os da doença. Uma rapariga que deixa três meninas pequeninas, sendo que uma delas nunca chegará sequer a recordar-se do rosto da mãe já que esta soube da sua doença quando estava grávida. A menina nasceu há dois meses e a mãe morreu hoje.

Repito que nunca conheci esta senhora. Dela sabia que era filha única, que era professora, que tinha três filhas e que o pai falecera do mesmo tipo de cancro, anos antes. Quem me disse tudo isto foi a tia que, não tendo filhos, falava dela com um orgulho imenso. A Joaninha, como lhe chamava, era a sua menina. Era como uma filha e perdê-la seria, disse-mo várias vezes, a maior dor que poderia sentir na vida.

Mesmo sem ter conhecido esta pessoa, lamento muito a sua morte. Pelo sofrimento em que decorreu, pelas filhas e o marido que ficam, pela tia que perde a sobrinha que queria tanto, pela mãe que vê partir a única filha devido à mesma doença que lhe levou o marido. Não consigo sequer imaginar todas estas dores diferentes, mesmo tendo eu perdido a minha avó há três meses.

Hoje está um dia lindo. Cheio de sol e de calor. O mundo parece mais bonito num dia assim. Ao saber deste fim tão triste, lembrei-me das palavras da avó do Saramago. Ninguém devia morrer assim, ninguém devia poder partir e deixar para trás uma filha tão pequenina, ninguém devia sofrer tanto. O mundo é tão bonito e vai continuar sem a Joaninha, assim como continuou sem a minha avó. Quem hoje está a divertir-se continuará a fazê-lo sem ter noção de que mais uma tragédia aconteceu. Este será recordado como mais um maravilhoso dia de sol. Eu vou recordá-lo como um dia bonito que alguém não chegou a viver.

Descansa em paz, Joaninha.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Feira do Livro do Porto

E pronto: a Feira do Livro do Porto deste ano foi oficialmente suspensa. A APEL considerou os apoios da Câmara insuficientes e resolveu suspender a realização do evento. É uma pena e uma perda para a cultura. A Feira do Livro ainda vai sendo um momento em que as pessoas compram um ou outro livro. Além disso, para quem gosta de livros, é a ocasião ideal para conhecer as novidades e encontrar algumas pechinchas. É mesmo uma pena.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Estranhezas

Pois que o nosso presidente, Cavaco Silva, foi à Colômbia inaugurar a Feira Internacional do Livro de Bogotá onde Portugal será o país convidado. A presença de livros e de autores portugueses é, portanto, forte, servindo o evento para divulgar o que de melhor se faz nas nossas letras.
 
Após um discurso em que sobejamente se referiu o nome de José Saramago, Cavaco Silva não pronunciou o nome do nobel português durante a sua intervenção. Logo surgiram críticas: ir à América do Sul, onde a obra saramaguiana é adorada, e não mencionar o único escritor português distinguido com um nobel da literatura é estranho. A mim não me parece nada do outro mundo. Só se fala do que se conhece e o senhor Cavaco Silva conhece tanto da obra de Saramago como eu conheço as peças que compõem o motor de um navio. Se tivesse, aliás, conhecimentos literários para isso, nunca tinha permitido que durante um governo seu se desse aquela fantochada ao estilo inquisitorial por causa do Evangelho Segundo Jesus Cristo. A meu ver, mais estranho do que o nome de Saramago não ser dito por aquela suma sapiência é mesmo o facto de tal personagem abrir uma feira do livro. Mesmo sendo o nosso Presidente da República, não deixa de causar estranheza e incómodo a presença daquela pessoa a falar de livros e de autores. Ele, que ajudou a censurar um dos nossos maiores. É coisa que custa a perceber...

Assanhada

Conversa telefónica de uma senhora já de muita idade com uma amiga, ouvida enquanto ia no autocarro ao meu lado:
 
- Fernanda, já comprei os bilhetes para o Julio Iglesias!
 
- ... (fala da amiga)
 
- Ai, mas o homem quanto mais velho mais caro se cobra! Foi quarenta euros cada bilhete! Havia a trinta e cinco, mas não eram lugares marcados e eu não estou para estar em filas à espera.
 
- ...
 
- Sim, é nos mesmos lugares em que ficámos quando fomos ver o Carreras.
 
- ...
 
- Pois, é caro é... Mas uma pessoa sai de lá com a vista lavada! Sai de lá com a vista lavadinha mesmo que homens como aquele já não se fazem, Fernanda. O homem é lindo!
 
Assanhada.

Vozes de burro

Um aluno deparou-se hoje com a palavra «cicerone». Perguntou-me o que queria dizer. Expliquei que, como poderia perceber pelo contexto, «cicerone» seria uma espécie de guia túristico que mostraria e explicaria tudo o que a personagem do texto lido ia vendo pelo caminho. Responde-me:
 
- Ah... Então a professora é um cicerone mas dos livros porque nos conta as histórias e explica-nos tudo para percebermos melhor.
 
Até aqui é tudo lindo. Fiquei contente com o raciocínio do menino. Porém lembrei-me de que em boca calada não entra mosca já que logo a seguir ele acrescentou:
 
- Geek...

Sugestão para o currículo

Constato que há miúdos que no quinto ano ainda não sabem pegar num lápis. Consequência? A letra é um terror. Alguém devia acrescentar ao currículo uma disciplina denominada «Ciência de Pegar Num Lápis Como Um Ser Humano e Não Como Um Macaco». O material necessário seria um lápis e um chicote. Para o professor usar, claro.

terça-feira, 16 de abril de 2013

A Menina Quer Isto XXXVIII

Hoje recebi um email da Wook no qual era anunciada a pré-venda deste livro. Percebi que, nesse momento, dei início à lista de livros a trazer da Feira do Livro de Lisboa. Evento este, diga-se, que voltará este ano às datas do passado, ou seja, iniciar-se-á em Maio e terminará em Junho. Portanto, para todos os que reclamaram até à exaustão com a antecipação da Feira para Abril e Maio, fica satisfeito o pedido. Pela minha parte, sempre fui a favor da realização da Feira em Abril, mas não será por este "regresso às origens" que deixarei de passar lá uma meia dúzia de vezes. E ainda neste parênteses, continuo sem saber se se realizará a Feira do Livro do Porto ou não. A única data que vi foi a de cá e, a menos que tenham existido desenvolvimentos, parece-me um mau sinal ainda não haver informação sobre este tema. Mais: será uma pena se o norte do país ficar privado de um evento que tem lugar todos os anos e que será, para muitos, uma ocasião única para comprar alguns livros que no resto do ano não se encontram com facilidade. É uma pena mesmo.

Bom, mas quanto a este menino posso dizer que o resumo fez-me levantar a orelhita. Trata a história de um ex-presidiário que ganha a lotaria e que inicia uma vida de excentricidades, de gastos e de loucuras difíceis de imaginar. No fundo, este romance procura, parece-me, olhar para a busca pelo luxo e para a necessidade de visibilidade social que alguns sentem. Por oposição a esta personagem plena de exageros, encontraremos um familiar seu, mais jovem, mas muito mais ponderado e sensato, que pretende atingir o sucesso através do esforço e do trabalho. É a típica dupla de opostos: uma espécie de D. Quixote e Sancho Pança dos nossos dias. Com as devidas diferenças, claro.



sexta-feira, 12 de abril de 2013

Manequins

Li numa revista que uma blogger sueca está a fazer uma campanha para que os manequins que vemos nas lojas de roupa sejam substituídos por outros que exibam formas mais parecidas com o tamanho real dos corpos femininos. Segundo ela "É trágico que os manequins não se pareçam com pessoas reais."

Não posso concordar mais com a campanha desta senhora. Os manequins das lojas possuem, muito frequentemente, formas quase impossíveis num corpo humano e acredito plenamente que essa imagem distorcida seja causadora de muita ansiedade em jovens e outras mulheres que manifestem problemas com a sua imagem.

O meu primeiro trabalho foi arranjado muito por acaso numa loja de roupa de um centro comercial. Fui candidatar-me à faculdade e, quando vinha para casa, resolvi entrar numa loja onde se pedia empregada. Não precisei de currículo nem de nada. A gerente estava lá e aceitou-me logo. Trabalhei até ao início do meu primeiro ano de curso. No tempo em que estive atrás daquele balcão, aprendi algumas coisas e uma delas tem precisamente que ver com esta questão dos manequins e da roupa que lhes põem. Vi muitas camisas e muitos casacos ficarem com uma aparência espantosa naqueles modelos. Mas depois também os via ficarem muito mal num corpo humano. E porquê? Porque a roupa colocada nos manequins é ajustada a esse mesmo manequim. Da montra não se vê porque os acertos são todos feitos com alfinetes atrás (é ver aquilo parecer um boneco de vodu), mas a verdade é que aquelas cinturinhas tão ajustadinhas são resultado do trabalho do pessoal da loja. Portanto uma pessoa apaixona-se por um farrapito que parece cintado ou justo e, na realidade, o que ali está é alguma coisa que não é nada disso.

É possível que um corpo muito esguio seja mais fácil de vestir, que muito do que é feito (não tudo, atenção) lhe caia bem. Porém, a verdade que que esses corpos vão sendo uma minoria. Colocar nas montras manequins, não digo obesos, como é óbvio, mas com mais curvas não promove o excesso de peso nem nada que se lhe pareça. Talvez até ajude a vender mais um bocadinho, já que as pessoas com corpos que não os de 86-60-86 poderão, olhando para o modelo, idealizar a peça de roupa no seu corpo. E já agora, carregar o manequim e a roupa de alfinetes pode ajudar a embelezar as peças, contudo, após experimentá-las, facilmente se conclui que o que se viu não é o que está para venda. É uma questão de bom senso.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Por cinquenta cêntimos

E não é que comprei uma primeira edição do romance Vindima rubricada pelo autor, o brilhante Miguel Torga, por cinquenta cêntimos? Verdade. O único defeito que tem é de ter fita-cola e uma etiqueta na lombada por provavelmente ter pertencido a uma qualquer biblioteca. Fora isso, está bem jeitoso.

Viva a Feira da Ladra e as suas pechinchas!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

terça-feira, 9 de abril de 2013

A Menina Sugere Isto X

A menina sugere uns belos bolinhos de gema, de Viana do Castelo (se possível), acompanhados por um aconchegante chá verde com jasmim. Bolos de gema, minha gente... Ah, aquela cobertura branca por cima do bolinho... Dá dores de dentes, que dá, mas é castigo que chega a valer a pena perante o bons que são tais doces. Deixo-vos a foto dos da Pastelaria Zé Natário, em Viana, sobejamente conhecida pelas suas bolas de berlim.
 
Ai Agosto que nunca mais chegas...

A uma menina

Segundo uma aluna minha, os morcegos põem ovos. Ainda segundo essa aluna, uma das dúvidas que a apoquentam prende-se com o facto de não saber se as cabras já nascem com a etiqueta identificativa na orelha ou se a põem depois. Essa mesma menina já passeou a irmã mais nova com uma trela e acha que cabras e vacas são animais iguais, só mudando o padrão.
 
É das pessoas que mais me faz rir e ainda que não gostasse de mais nada nela, só isso já me chegava.

domingo, 7 de abril de 2013

Mais dois igual a vinte e quatro

Como se não bastassem os vinte e dois da quixotada anterior, hoje o meu moço ofereceu-me um livro de um autor português. À Espera de Moby Dick pareceu-me um texto muito bem pensado onde um homem se isola numa ilha a tentar avistar baleias. Paralelamente vai escrevendo cartas a um amigo mostrando que o isolamento não é só seu e que os outros habitantes da ilha também têm muito que contar.

Com o vale da Fnac que recebi por ter chegado aos duzentos pontos no cartão, comprei este O Último Livro. Já li outros do mesmo autor e gostei, portanto espero que este também tenha sido uma boa escolha.

Vinte e dois

Ontem foi o primeiro sábado do mês e, consequentemente, foi dia de visitar a Feira da Ladra. Este sistema de ir apenas uma vez por mês é muito jeitozinho e poupa-me grandemente a carteira. Contudo, tenho apenas um dia para comprar livros para apaparicar durante um mês, portanto... Desta vez trouxe para casa uns singelos... Vinte e dois livros. Pois é, minha gente, quando se vê à venda livros a cinquenta cêntimos e a um euro, não há bom senso que valha. Numa das bancas um senhor vendia várias obras de Somerset Maugham (que adoro) a dois euros e ainda me ofereceu uma. Tendo em conta que deste autor encontramos pouquíssimos livros nas livrarias, posso dizer que foi um achado. Assim sendo, o resultado foi a magnífica pilha que aqui vos deixo. Só espero ir tendo sempre tempo para ler tudo o que quero e que vale a pena.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

E para que conste...

E para que conste, a conjugação do verbo «estar» é diferente da do verbo «ter». Assim, frases como «Tive a ler a tarde toda» são dignas de apedrejamento porque o que ali está é o verbo «ter». Se na oralidade ainda se permite que papemos sílabas, na escrita, e vindo de quem tem a obrigação de saber escrever, é desgastantemente estúpido.
 
Pronto, já desabafei.

«Simplesmente» isto

Eu até acho que já aqui o disse, mas caso esteja enganada, cá vai: fico agoniada com frases começadas por «simplesmente». O que para aí vai de frases como «Simplesmente maravilhoso» ou «Simplesmente único» ou ainda a pérola «Simplesmente eu» como legenda em alguma foto escarrada no facebook! Ler um livro e descrevê-lo como «Simplesmente fantástico» não me diz nada sobre a obra, contudo diz-me bastante sobre quem escreveu a frase e olhem que não me diz coisas boas.
 
Porquê o «simplesmente»? O que para aí vai de fotos de meninas a olhar para o mar ou para o beco das traseiras de casa, é-me igual, com a lindíssima e muito esclarecedora  legenda «Simplesmente eu». Mas simplesmente o quê, pá???? E complicadamente, como é que serias, rapariga? Talvez menos parva, digo eu...
 
É coisa que não consigo compreender. É, talvez, um vício de língua ou a bengala de que se serve quem não sabe ou não consegue dizer mais nada sobre um assunto. Enerva-me pelo vazio da expressão e pela tentativa que sempre existe de a dotar de uma profundidade que, minha gente, não tem. Mas é que não tem mesmo. É, digamos, «simplesmente» estúpido.
 
 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Trabalhar para aquecer

Aqui vai uma historiazinha de que soube hoje. Alguém com um cargo profissional relativamente jeitoso, quando confrontada com a desmotivação de outros trabalhadores devido aos maus salários, horários indecentes e funções além do acordado e perante a recusa de alguns trabalhadores em embarcarem em mais um abuso precisamente por não lhes pagarem para isso, respondeu esta maravilhosa pérola:
 
- Mas as pessoas só pensam em dinheiro?!
 
Não minha senhora. Trabalham APENAS pelo prazer que dá. Dinheiro? Remuneração justa pelo trabalho feito? Não, isso é para meninos. A única razão para se trabalhar é o gozo e mais nada. Aliás, é coisa que estou mesmo a ver a acontecer: um chulo fica com todo o dinheiro da menina da vida e a seguir manda-a trabalhar só por prazer. É só o que falta, minha senhora.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Livro novo

 
Hoje aproveitei um vale de troca para trazer este livro, que quis mal ouvi falar dele. Podemos amar ou odiar a Enid Blyton e os seus livros, mas a verdade é que foi uma figura importantíssima no mundo da literatura infanto-juvenil. Ainda hoje se editam os seus livros e muitos são os miúdos que ainda os lêem e que os apreciam. Por isso estou curiosa com esta biografia escrita pela Alice Vieira, que se lançou nesta aventura.

O Dia das Mentiras

Palavra de honra... Mas quem foi o génio que inventou este estúpido dia? Deve haver pouca coisa mais parva do que o famigerado «Dia das Mentiras». Hoje uma colega minha não foi a uma reunião marcada em cima da hora por julgar tratar-se de peta própria desta data. Pois, não era.
 
E portanto é isto: uma vida inteira a explicar aos miúdos que mentir é feio, que não o devem fazer e que sofrerão consequências se mentirem. Porém depois andamos a pespegar mentiras na comunicação social e a pregá-las a uns e a outros só porque é dia 1 de Abril. 
 
Haja paciência.

A arca

Em Março foi o que foi e "em Abril águas mil" portanto podemos começar a construir uma arca e a meter uns animais lá para dentro...