sexta-feira, 22 de junho de 2012

Uma tarde de passeio

Depois de cumprir o dever terrivelmente chato de passar no exame de condução, achei por bem oferecer-me a tarde. Como tinha de ir à Loja do Cidadão dos Restauradores, aproveitei para dar um pulo à Fundação José Saramago. Estive, finalmente, junto à oliveira sob a qual repousam as cinzas do nosso Nobel e pude fotografar o seu epitáfio. A frase que o compõe é, no fundo, aquela com que termina um dos seus maiores romances: o Memorial do Convento, de 1982. Devo, contudo, afirmar que tal tarefa fotográfica não foi isenta de perigos, já que sentada no banco que foi colocado ao pé da árvore estava uma moça que devia ter uma concentração de drogas no sangue bem maior do que a que eu agora tenho de gelado «Dulce de Leche» no meu próprio sangue. Fui brindada com uma série de impropérios, uma vez que a madame achava que eu a estava a fotografar a ela e que nem tinha pedido licença. Graças a Deus sou boa fotógrafa o suficiente para não a ter apanhado, mas a doutora não chegou a essa parte.

Enfim, lá entrei na famosíssima «Casa dos Bicos» e entrei ao mesmo tempo que a não menos famosa Pilar del Rio, esposa do Saramago. Até lhe disse boa tarde e tudo! Sou um primor de boa educação, sem dúvida. Vi a exposição que é, no fundo, uma versão bastante pequenina daquela que há uns anos se fez no Palácio da Ajuda e a que se deu o nome «José Saramago - A Consistência dos Sonhos». Claro que essa, realizada ainda em vida do autor, foi muito mais gira e interessante, mas também não podíamos esperar uma repetição à mesma escala. O que encontramos na Fundação José Saramago é interessante para nos levar a compreender o muitíssimo admirável percurso efectuado pelo seu patrono e para concebermos o trabalho que envolvia a escrita de cada livro, de cada texto, de cada história. Vemos os seus objectos pessoais, como as agendas, e observamos os originais de alguns dos livros, ainda com as suas correcções à margem. Vemos textos que não estão publicados (mas que não devem tardar a estar, parece-me...) e ficamos desejosos de conhecer a amplitude do baú de Saramago. Oxalá fosse tão grande quanto o de Pessoa!

Quanto ao resto do edifício, fica a sensação de que há muuuuuito por fazer. No segundo piso o visitante não percebe bem para onde há-de ir nem o que deve ver e, no último, apenas funciona a loja, onde só comprei um lápis para aumentar a colecção.

E foi isto. Ficam as fotos.



(O epitáfio à sombra dos ramos da oliveira que veio da Azinhaga do Ribatejo
para sob ela descansarem as cinzas do escritor.)


(A fachada da «Casa dos Bicos» onde agora funciona a Fundação.
A magra figura de camisa branca perto da entrada é a boa da Pilar del Rio,
 só que quando tirei a foto ainda não me tinha apercebido disso...)



(Dois pequenos espaços em duas paredes forradas com as diferentes edições das
 obras de José Saramago, incluindo as traduções que fez numa fase inicial
do seu percurso.)


(O belo do lápis da Fundação e um que se juntou a ele quando
 passei pela loja «Lisbon Lovers», onde havia umas canecas com sardinhas
 muito giras, mas para as quais o meu bolso não se quis abrir...)

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