sexta-feira, 29 de junho de 2012

Este já está


Hoje acabei este enquanto estava esparramada na minha vistosa toalhinha de praia, sob um sol delicioso e após uma bola de berlim docinha, docinha... O contexto adequou-se à obra, já que este romance de Érico Veríssimo é verdadeiramente uma ternura. É, no fundo, um romance sobre uma adolescente que é um sol na vida e na realidade dos que a rodeiam. Clarissa, a adolescente que dá nome ao livro, tem catorze anos e vive durante um ano na pensão da tia Zina. Veio para a cidade estudar, deixando pai, mãe e infância no campo, numa vida muito diferente da que será sua durante aquele ano de estudos. Ao longo das suas duzentas e dezoito páginas vamos voltando atrás no tempo, já que nos são apresentados os pensamentos da personagem tal como ela é: uma adolescente em fase de transição para uma outra vida, uma outra idade e, talvez infelizmente, um outro modo de ser. Clarissa é alegre, inocente, livre, e contrasta bastante com as personagens que interagem com ela, especialmente com Amaro, um pianista em potência que a admira secretamente, sempre de forma distante. Demasiado distante para o gosto da menina...

No final fiquei a pensar que ser bom escritor é conseguir fazer o que Érico Veríssimo aqui faz de forma irrepreensível: conseguiu, já homem adulto, recriar os pensamentos por vezes tão inocentemente tontos de uma menina de catorze anos e conseguiu apanhar-lhes tão bem o âmago que no final temos pena de a ver partir. Aliás, de a ver partir a ela e aos outros, mesmo aos moradores da pensão ou ao preguiçoso tio Couto.  Ficamos com saudades de todos, até do ruivo gato Micefufe (amei o nome do bichano).

Já tinha gostado do Olhai os Lírios do Campo e agora gostei muito deste romance (de que a Alice Vieira falou muito bem numa relativamente recente edição do programa Câmara Clara, da RTP2). Aconselho vivamente a sua leitura, especialmente aos que já se esqueceram do que é ter treze ou catorze anos e de como se pensa nessa altura. Vai saber bem recordar.

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