terça-feira, 19 de junho de 2012

Gente surda e endurecida

Durante o dia de hoje fui recebendo o feedback dos meus alunos do 12.º ano sobre o exame e já estive a pontos de proceder a espancamentos. De tantos avisos que fiz, alguns alunos resolveram prestar atenção a muito poucos e daí não se augura nada de bom. Querem exemplos? Ora lá vão:

- eu disse que a minha aposta ia para Pessoa ortónimo, Felizmente Há Luar! e Memorial do Convento, mas que apesar disso era obrigação deles estudar TODOS os autores do Programa. O que é que eles fizeram? Estudaram apenas Pessoa ortónimo e Felizmente Há Luar! (para os restantes textos e até para o romance de Saramago nem olharam!);

- eu disse para não se prenderem demasiado à folha de rascunho e para a usarem preferencialmente para a produção do rascunho dos textos a escrever na "pergunta B" do Grupo I e no Grupo III, uma vez que existe a tendência para se perder demasiado tempo com a folha de rascunho, faltando depois o tempo necessário para se escrever efectivamente na folha de respostas a avaliar. O que é que algumas meninas fizeram? Escreveram TUDO na folha de rascunho e depois entregaram a folha das respostas EM BRANCO porque não conseguiram passar nada para lá (nem me perguntem como é isto possível...).

- eu disse para NÃO despejarem matéria. Por exemplo na "pergunta B", se a ideia era falar sobre a epopeia da pedra no Memorial, era para falar sobre isso e não sobre o casamento do Saramago com a Pilar. O que é que uma menina fez? DESPEJOU tudo o que sabia sobre a época em que se passa a acção do romance, chegando até a falar do Palácio de Versalhes. Não me perguntem a lógica porque eu também não a entendo...

Eu disse tanta coisa que, afinal, parece que ficou pelo caminho... Fico triste porque sei que este era o exame ideal para brilharem. Não era, de modo nenhum, difícil. O português do século XVI era, no fundo, a maior dificuldade, mas aquilo que saiu (por exemplo a mitificação do herói nas palavras do poeta) foi uma das teclas em que mais bati ao longo do ano. Mas é como diz Camões perto do final de Os Lusíadas:


No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.

                                             (Canto X, est. 145)


Ando, decididamente, a pregar a gente surda. Chegou o final do ano lectivo: calo-me finalmente.

Sem comentários:

Enviar um comentário