sábado, 9 de junho de 2012

Tubo José e o Euro 2012

Diz que agora é moda ter animais que «prevêem» os resultados do EURO 2012. Há dois anos havia um singelo polvo, pacatinho como só ele, que se dava ao trabalho de seleccionar uma bandeira de cada vez que um doido se lembrava de lhe pôr duas diferentes dentro do aquário. Por mistérios da vida ia acertando, o que lhe valeu um estatuto invejável no seu país de origem.

Ora, acabei há pouco de ver uma peça de um noticiário sobre isso mesmo e por momentos senti que toda a lucidez se havia evaporado da face da terra e que tudo o que restava era uma boa quantidade de animais a gozarem com a nossa cara à grande e à francesa. E nós, quais tolinhos desprovidos de um dos hemisférios do cérebro, aplaudíamos a capacidade demonstrada pela vaca Ivonne ao escolher Portugal como a equipa que hoje sairá vencedora do jogo. Muito bem.

Não sei o que é que os campeonatos de futebol fazem às pessoas, mas é assustador ver como se perde a noção dos limites e do ridículo. Da primeira vez, com o Paul - o - polvo, era estúpido, mas teve alguma piada. Agora é apenas estúpido. Eu se for ali à gaiola do periquito Tubo José, lhe puser dois potes com comida, um com a bandeira lusitana e outro com a alemã, o mais certo é ele não tocar em nenhuma e borrar-se (literalmente) de medo por ver cores berrantes dentro da sua singela casa. E se usar com ele o mesmo método usado com a vaca Ivonne, em que lhe puseram ração portuguesa e ração alemã em dois comedouros diferentes e ela preferiu a nossa (a espertalhona), também não obterei grandes previsões futebolísticas: o Tubo prefere, nitidamente, comida espanhola. Não gosta da que lhe compram em casos de emergência na feira da Brandoa ou na das Galinheiras. Gosta da que se vende no Minipreço ou em Benfica, numa loja de animais. E isso, como devem imaginar, não me ajuda a saber se Portugal ganhará o jogo.

Portanto arrisco-me a ser, de acordo com o que vejo na televisão por estes dias, a única pessoa que tem em casa um animal imprestável em termos de vaticínios futebolísticos. O que fazer? Depená-lo e fazer pipis? Castigá-lo impiedosamente proibindo-o de se ver ao espelho nos próximos tempos (o pobre bicho é vaidosíssimo)? Ou retirar-lhe o sininho que lhe decora a casa, impossibilitando-o de comemorar com espalhafato os golos da selecção? Pois parece-me que não farei nada. Graças a Deus ainda possuo os dois hemisférios cerebrais aglutinadinhos um ao outro e isso permite-me perceber que os animais não são a Maya e que, portanto, não têm qualquer dom para prever resultados de Euros, Mundiais ou de apostas na bolsa de Tóquio. E assim, Tubo José, o periquito, prosseguirá sendo o mesmo gordo sacana que adora a adaptação que lhe fiz da música do anúncio da Mukambo e só saberá do resultado do jogo quando eu lho disser.

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