quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma questão de medida

Todos nós nos recordamos da época em que os nossos pais se dirigiam às escolas que frequentávamos para ver a lista dos manuais adoptados no ano seguinte e o material escolar necessário para o funcionamento das aulas. Todos nós nos recordamos de ver a nossa mãezinha a revirar a mala à procura de uma caneta com que anotasse tudo isto para depois tratar da questão na papelaria da zona. Aliás, todos nós que andámos numa escola pública, daquelas que afixavam tudo numa parede (há uns quinze anos funcionava assim, agora não sei como é), esperando que todos os pais vissem o que tinham de adquirir, conhecem esta realidade.

Em muitas escolas privadas as coisas funcionam, hoje, de forma diferente. Há toda uma equipa de marketing a trabalhar para produzir os cartazes e os folhetos mais apelativos que depois são entregues aos encarregados de educação em mãos ou por correio. Muito mais cómodo, admita-se.

Contudo, não é do saudosismo das listas que aqui venho falar porque, para ser sincera, aquilo de copiar os títulos de uns sete manuais, mais as suas editoras e a listinha de material escolar, muitas vezes à torreira do sol, não lembrava ao menino. Faço esta quixotada porque, há pouco, procurando uma informação relativa a um determinado colégio onde nunca andei nem dei aulas, topei com a lista de material pedido aos vários ciclos de ensino e só consegui concluir que aquela enumeração de itens é melhor do que a pílula e o preservativo juntos: perante uma lista daquelas ninguém ousa botar crianças no mundo.

Gentes, a lista do material individual a adquirir por cada aluno do segundo ciclo é composta por uns meros trinta e dois artigos. E, note-se, os manuais escolares estão FORA dela! Chega-se ao cúmulo de se pedir uma régua de trinta centímetros e outra de cinquenta, como se esta última não servisse para medir as malfadadas três dezenas de centímetros! Só lápis pedem-se cinco, cada um de um tipo diferente. Até o número de canetas de feltro está estipulado: dezoito. Que se lixe se a embalagem de doze que sobrou do ano anterior ainda está boa. Têm de ser dezoito. Pede-se cola em stick, mas também cola em tubo. A cola em tubo cola quase tudo, até me colou os dedos muitas vezes. Não poderia, por isso, pedir-se apenas essa, em vez de vir atrelado o excomungado batonzinho de cola em stick? Até a largura da lombada dos dossiês é prevista na lista dos manuais, assim como o número de argolas que o dito deve ter!

Bem sei que me refiro a um colégio privado para o qual só vai quem quer e pode. Mas mesmo assim não deixa de me chocar o exagero, a falta de contenção na hora de pedir. Será mesmo preciso tudo isto? Se em vez de dezoito canetas e dezoito lápis de cor tivermos apenas doze de cada não poderemos vir a tornar-nos uns excelentes artistas na mesma? E se a nossa borracha em vez de ser branca (como manda a lista) for daquelas verdes que todos nós tivemos em alguma altura da vida, não ficarão os nossos erros bem apagados? Com um quarto do que aquela lista pede fiz a minha escolaridade toda e ainda cá ando.

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