sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lições para toda a vida

Hoje estive nas reuniões de avaliação de final do período e admito que saí de lá com uma série de ensinamentos novos que espero guardar para a vida. Coisa estranha, não é? Uma professora vai à escola para dar notas e sai ela própria com mais conhecimentos no saco...

Hoje houve uma tremenda confusão com uma daquelas turmas financiadas pelo Estado e que estão cheias de gente que se interessa tanto pela escola quanto eu pela aquacultura dos bivalves. Foi combinada uma festinha de Natal durante uma das aulas e os alunos levaram comida e bebida. O problema é que, ao que parece, algumas alunas não se limitaram a beber refrigerantes e, antes da festa, beberam umas vodkas. Resultado? Meninas incapazes de se manterem direitas que só sabem gritar e fazer figura de parvas. Por ser um perigo, foram avisados os pais das meninas e a polícia, já que uma das meninas não aceitou bem o facto de à mãe ter sido dito por telefone que a filha estava bêbeda. Como não tolerou esta «calúnia», resolveu gritar, insultar a Directora de Turma, ameaçá-la e desejar a morte de todos os professores (inclusivamente a minha, que nem sou professora dela, graças a Deus!), entre outras preciosidades. Chegadas a avó e a mãe, assisto à defesa da menina por parte das duas senhoras. Ou seja: o erro foi unicamente da professora que não soube lidar com a situação e que devia ter acreditado na menina quando ela disse que não estava bêbeda (ainda que tresandasse a álcool por todos os poros). Lamento tanto que a polícia não possa fazer testes a estes meninos: seria um espectáculo ver as senhoras desmentirem o famoso «teste do balão». Mais: as responsáveis por aquele anjo estavam indignadíssimas por ter sido chamada a polícia, medida que consideraram exagerada porque, como elas afirmavam, «A gente somos todos civilizados!». Custa-me a crer que o sejam, depois de ver a criatura quase a bater na Directora de Turma e de a ouvir insultar todo o corpo docente da escola.

E que ensinamentos trago eu, afinal, de tudo isto? Bom, o primeiro é o de que tenho razão quando defendo que a escola não deve ser um circo: não faço lanchinhos, nem festinhas de lição cem, nem nada que se pareça, precisamente para não dar espaço a estes abusos. Chamem-me tirana que eu quero lá saber: quando se vê que os meninos não se sabem comportar, corta-se o mal pela raiz e eliminam-se as oportunidades de transformar a escola num circo. Por outro lado, aprendi que defender os filhos ou os netos tem de ter um limite. Quando a minha defesa chega ao ponto de me fazer fechar os olhos a todos os erros do meu descendente, importa parar e repensar a estratégia. Os pais ou avós que defendem os filhos até à exaustão, mesmo quando eles beberam vodkas antes da festa de Natal, não estão realmente a fazer bem aos seus educandos. Estão a motivá-los a persistir no mau comportamento, a dar-lhes luz verde para continuarem a serem uns idiotas sem rumo e sem futuro. No ano passado assisti, por acaso, a uma reunião daquela avó com a Directora de Turma da menina e ouvi a professora dar a conhecer o facto de a aluna ir para sítios pouco recomendados fazer coisas muito duvidosas com más companhias. Adivinham qual foi a resposta da avó? Nunca mais me esqueci de ouvir a senhora dizer qualquer coisa como «Eu não lhe admito que diga que a minha neta anda em más companhias e o que ela faz aqui ou além é lá com ela!». E pronto. Que pode um professor responder a isto? A preocupação tem limites e o esforço pelo bem-estar de um aluno também só chega até ao ponto em que os próprios familiares defendem o mau comportamento (já para não dizer que o premeiam).

Cada vez me convenço mais de que os professores têm de começar a demitir-se de certas funções. Somos, além de professores, educadores, mas no momento em que percebemos que esta segunda missão é considerada indesejável pelos pais e avós, talvez seja melhor tornarmo-nos maus, péssimos docentes e limitarmo-nos a ir à escola, despejar matéria, corrigir os testes e seguir para a frente. Eu agradeceria a um professor o facto de estar atento aos disparates do meu filho, mas pelos vistos há muita gente que prefere pensar que tem um Menino Jesus com piercings em casa.

2 comentários:

  1. Até tenho pena dessa canalha, porque realmente com uns pais assim, estranho era se saíssem pessoas normais!

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  2. Viva, Filha!

    Será que essa piquena, amorosa, não teria andado a beber antes uns Capri Sonne? Diz que é bubida muy preciosa. Acho que a sua colega é que não soube ver bem as coisas. Ai, ai! Veja lá se não tenho de chamar toda a família e mais um par de botas para a desancar!

    Cumprimentos alcoólatras,
    Filho

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