Hoje estive nas reuniões de avaliação de final do período e admito que saí de lá com uma série de ensinamentos novos que espero guardar para a vida. Coisa estranha, não é? Uma professora vai à escola para dar notas e sai ela própria com mais conhecimentos no saco...
Hoje houve uma tremenda confusão com uma daquelas turmas financiadas pelo Estado e que estão cheias de gente que se interessa tanto pela escola quanto eu pela aquacultura dos bivalves. Foi combinada uma festinha de Natal durante uma das aulas e os alunos levaram comida e bebida. O problema é que, ao que parece, algumas alunas não se limitaram a beber refrigerantes e, antes da festa, beberam umas vodkas. Resultado? Meninas incapazes de se manterem direitas que só sabem gritar e fazer figura de parvas. Por ser um perigo, foram avisados os pais das meninas e a polícia, já que uma das meninas não aceitou bem o facto de à mãe ter sido dito por telefone que a filha estava bêbeda. Como não tolerou esta «calúnia», resolveu gritar, insultar a Directora de Turma, ameaçá-la e desejar a morte de todos os professores (inclusivamente a minha, que nem sou professora dela, graças a Deus!), entre outras preciosidades. Chegadas a avó e a mãe, assisto à defesa da menina por parte das duas senhoras. Ou seja: o erro foi unicamente da professora que não soube lidar com a situação e que devia ter acreditado na menina quando ela disse que não estava bêbeda (ainda que tresandasse a álcool por todos os poros). Lamento tanto que a polícia não possa fazer testes a estes meninos: seria um espectáculo ver as senhoras desmentirem o famoso «teste do balão». Mais: as responsáveis por aquele anjo estavam indignadíssimas por ter sido chamada a polícia, medida que consideraram exagerada porque, como elas afirmavam, «A gente somos todos civilizados!». Custa-me a crer que o sejam, depois de ver a criatura quase a bater na Directora de Turma e de a ouvir insultar todo o corpo docente da escola.
E que ensinamentos trago eu, afinal, de tudo isto? Bom, o primeiro é o de que tenho razão quando defendo que a escola não deve ser um circo: não faço lanchinhos, nem festinhas de lição cem, nem nada que se pareça, precisamente para não dar espaço a estes abusos. Chamem-me tirana que eu quero lá saber: quando se vê que os meninos não se sabem comportar, corta-se o mal pela raiz e eliminam-se as oportunidades de transformar a escola num circo. Por outro lado, aprendi que defender os filhos ou os netos tem de ter um limite. Quando a minha defesa chega ao ponto de me fazer fechar os olhos a todos os erros do meu descendente, importa parar e repensar a estratégia. Os pais ou avós que defendem os filhos até à exaustão, mesmo quando eles beberam vodkas antes da festa de Natal, não estão realmente a fazer bem aos seus educandos. Estão a motivá-los a persistir no mau comportamento, a dar-lhes luz verde para continuarem a serem uns idiotas sem rumo e sem futuro. No ano passado assisti, por acaso, a uma reunião daquela avó com a Directora de Turma da menina e ouvi a professora dar a conhecer o facto de a aluna ir para sítios pouco recomendados fazer coisas muito duvidosas com más companhias. Adivinham qual foi a resposta da avó? Nunca mais me esqueci de ouvir a senhora dizer qualquer coisa como «Eu não lhe admito que diga que a minha neta anda em más companhias e o que ela faz aqui ou além é lá com ela!». E pronto. Que pode um professor responder a isto? A preocupação tem limites e o esforço pelo bem-estar de um aluno também só chega até ao ponto em que os próprios familiares defendem o mau comportamento (já para não dizer que o premeiam).
Cada vez me convenço mais de que os professores têm de começar a demitir-se de certas funções. Somos, além de professores, educadores, mas no momento em que percebemos que esta segunda missão é considerada indesejável pelos pais e avós, talvez seja melhor tornarmo-nos maus, péssimos docentes e limitarmo-nos a ir à escola, despejar matéria, corrigir os testes e seguir para a frente. Eu agradeceria a um professor o facto de estar atento aos disparates do meu filho, mas pelos vistos há muita gente que prefere pensar que tem um Menino Jesus com piercings em casa.
Até tenho pena dessa canalha, porque realmente com uns pais assim, estranho era se saíssem pessoas normais!
ResponderEliminarViva, Filha!
ResponderEliminarSerá que essa piquena, amorosa, não teria andado a beber antes uns Capri Sonne? Diz que é bubida muy preciosa. Acho que a sua colega é que não soube ver bem as coisas. Ai, ai! Veja lá se não tenho de chamar toda a família e mais um par de botas para a desancar!
Cumprimentos alcoólatras,
Filho