Ontem, ao terminar de ler El Misterio Cervantes, verifiquei que ainda não tinha sono suficiente para adormecer no minuto seguinte como se tivesse levado uma valente mocada na cabeça. Assim sendo, resolvi vasculhar o Kindle a ver o que me podia entreter até à chegada do João Pestana. Topei com as Farpas, dos nossos Ramalho Ortigão e Eça de Queirós.
A primeira página deixou-me logo K.O., não porque fosse aborrecida, mas porque descrevia uma realidade que conheço bem e que adoro cada vez mais: Viana do Castelo. Fiquem com um excerto e deliciem-se não só com a perfeição do uso da língua portuguesa, mas também com a beleza da descrição que se faz da, para mim, cidade mais bonita do país. Dá vontade de dizer que «Havemos de ir a Viana»...
«Quem nunca veio a Viana, quem não atravessou a linda ponte de caminho-de-ferro, entre o aterro de S. Bento e a risonha aldeia de Darque, tão célebre outrora pelas suas faianças pombalinas; quem não percorreu a estrada litoral até Caminha, através das povoações de Âncora, da Areosa e de Afife; quem não transitou a pé pelos caminhos de uma e da outra margem do rio, por Meadela e Santa Maria, até o pontilhão do Portuzelo rodeado de casais, de moinhos de vento e de rochas em que escachoa a água, límpida e desnevada, através da qual se vêem trepidar e reluzir as trutas; quem não foi e não veio, pela direita e pela esquerda da ribeira, de Viana a Ponte de Lima e de Ponte de Lima a Viana; quem durante alguns dias não viveu e não passeou nesta ridente e amorável região privilegiada das éclogas e das pastorais, não conhece de Portugal a porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante.»
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