segunda-feira, 28 de março de 2016

Olhando para livros XXV

41. Balanço do passatempo

Se olharmos bem à nossa volta, fala-se muito pouco de livros. Na televisão quase nunca, nos jornais cada vez menos, assim como nas revistas e na rádio. Os livros são, cada vez mais (ou assim parecem), um prazer proibido, mudo, raramente partilhado. Assim, todos os espaços em que ainda possamos falar deles são bem-vindos. Mesmo que o espaço seja um blogue pouco conhecido, com algumas visitas que provavelmente até se fartam de ver tantas vezes a palavra "livro" nos seus textos.

Este passatempo que agora chegou ao fim teve isso de bom: trouxe para o dia-a-dia de alguns blogues aquilo que é uma paixão não apenas minha, mas nossa. Pode até, em alguns momentos, ter pecado por ser repetitivo, mas acho que soubemos dar a volta ao assunto e, mesmo quando era inevitável repetir a referência a um autor ou a um título, acrescentar novos aspectos interessantes e novos pontos de vista.

Foram quarenta dias em que olhámos particular e profundamente para alguma coisa que faz parte da nossa vida de todos os dias. Confesso que tive de ir algumas vezes para junto das estantes para procurar uma resposta ao desafio do dia. Nem sempre me lembrei à primeira das personagens a referir ou do livro a seleccionar. Convenhamos que já lá vão muitas páginas, muitos títulos e, por isso, aqueles que não ficaram irremediavelmente na memória precisam de alguma ajuda para regressar. Mas até esse esforço extra (que só pecou por calhar em altura de muito trabalho) foi bom. Parar e pensar em livros nunca é mau e só faz bem. Dos passatempos literários em que participei, este foi, talvez, o mais completo. 

Agora termina, mas os livros terão aqui sempre lugar. Nem este blogue existiria sem eles.

sábado, 26 de março de 2016

"Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase"

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos

Manoel Barros



Tristezas online

Palavra que já vou ponderando em acabar com a minha conta no Facebook. Eu já não gosto muito de redes sociais, mas nos últimos tempos tenho ponderado mesmo eliminar a única a que até hoje aderi. Ou tenho o feed cheio de notícias tristes, ou de animais maltratados, ou de gente a pedir dinheiro para tudo e mais alguma coisa, ou com ofertas de empréstimos que cheiram pior que cocó de gato, ou frases e imagens idiotas supostamente inspiradoras, ou anúncios de venda disto e daquilo... Antes ia ao Facebook para me distrair um bocadinho, ler umas coisas e ocupar um bocadinho do meu tempo. Agora vou para ficar deprimida. 

Não lhe tiro importância. Sei que o Facebook dá voz e visibilidade a muitas pessoas e instituições que de outro modo não seriam ouvidas nem vistas. Sei, também, que chega tão longe que é inevitável que não tente mostrar os maus exemplos, comover-nos para que sejamos diferentes e melhores... Mas palavra de honra: nos últimos dias tem sido de mais. Bem sei que houve atentados e outras desgraças, mas o que aparece no Facebook vai muito além dessas grandes dores. Não sei, posso estar a ser curta de vistas, muito tacanha, mas num mundo onde tudo é já tão feio, de onde apetece fugir, devia haver um reduto, um cantinho onde os animais não aparecessem apenas para mostrar quão mal os tratamos, onde as notícias não fossem apenas as piores, onde as frases não fossem apenas pseudo-profundas e com referências a dores várias... É tudo demasiado mau para que as futilidades ainda sejam quase só isso.

Olhando para livros XXIV

40. Próximo livro a ler

Já aqui disse que quando tinha menos livros era fácil. Sabia sempre o que leria a seguir. Parecia que havia assim uma espécie de força que me puxava para o livro seguinte. Depois a avalancha foi tal que agora nunca sei o que ler depois de terminar um livro e passo muito tempo sentada a olhar para as estantes a ver se algo me ocorre. Enfim... Por hoje tenho duas hipóteses, mas provavelmente acabarei a escolher outra coisa qualquer.



Nota: As imagens das capas sairam da página da Wook.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Uma sexta-feira... Santa!

7:10 h - Felinos iniciam o seu coro diário, provavelmente fazendo uso de um megafone (ou assim me pareceu).

7:12 h - Coloco uma almofada sobre a cabeça para ver se o som de miados de protesto deixa de me ecoar no cérebro.

7:16 h - Vejo as horas. Praguejo.

7:20 h - Praguejo outra vez, levanto-me e abro a porta do quarto. Entram dois felinos que estavam coladinhos à porta à espera de poderem invadir os meus pequenos domínios.

7:21 h - Distribuo comida aos felinos, esperando que isso os cale.

7:27 h - Regresso à cama, mas já não consigo dormir. Dois idiotas peludos aninham-se nas minhas pernas e dão início a um árduo processo de lavagem do pelo com língua que faz mais barulho do que seria possível descrever.

7:35 h - Como sempre, param as lavagens individuais e um vai lamber o pelo do outro. Acaba, como sempre, em porrada e, como sempre, tenho de correr com eles do quarto. Fecho a porta.

7:38 h - Recomeça o coro felino. Abro a porta, praguejo e sinto-me dez anos mais velha.

7:40 h - Lady Gatinha aninha-se nas minhas pernas. Senhor Gato corre o quarto e procura fazer o máximo de barulho possível.

7:41 h - Começo a ver um episódio de Cuéntame, mas tenho de parar: Senhor Gato tenta abrir o roupeiro.

7:42 h - Carrego no "play" depois de tirar o gato da frente do roupeiro. Vejo aproximadamente trinta segundos do episódio e faço nova paragem.

7:43 h - Senhor Gato tenta arranhar uma peça de roupa que estava para passar a ferro. Corro para fazê-lo parar. Praguejo muito. Ele ignora-me.

7:50 h - Não sei do Senhor Gato, mas Lady Gatinha permanece encostada às minhas pernas. 

8:02 h - Lady Gatinha desencanta de não sei onde uma bola e anda a brincar com ela. Mais barulho. O sossego é impossível.

8:05 h - Rezo para poder pelo menos ver a maldita série sossegada, já que é impossível dormir.

9:30 h - Felinos dormem a sono solto na minha cama. Idiotas. Pondero miar-lhes aos ouvidos...

quinta-feira, 24 de março de 2016

Consegui!

Isto é ridículo, mas andava há muito tempo a tentar conseguir os três volumes de A Família Forsyte, de John Galsworthy, vencedor de um Prémio Nobel da Literatura. Estupida e curiosamente tinha Os Novos Forsyte, ou seja, a sequela, completíssimos, mas faltava-me o início da saga. Consegui hoje, no espaço Ulmeiro. Sim, aquele alfarrabista que tem aparecido na televisão por estar em risco de fechar. Por sete euros e meio lá vieram os três volumes e todo um novo problema de espaço nasceu...


Nota: A imagem saiu da página da Wook, como bem se vê.

A Menina Quer Isto LXVII







Estou EM PULGAS à espera da Feira do Livro de Lisboa. Em pulgas!!!

Mais uma praga

Lembram-se daqueles dias em que propus novas pragas para as bíblicas pragas do Egipto? Bom, tenho mais uma. Quando todas as pragas falhassem, os alvos delas deviam passar pela provação que experimentei hoje: tirar todos os vestígios de cola de dois pratinhos para gato que comprei. Sim, porque o idiota que etiquetou a m**** dos pratos pôs uma etiqueta com o código de barras e mais umas tretas no fundo de cada um deles. Obviamente não vou pôr os gatos a lamberem um autocolante, pelo que fui despreocupadamente retirar a porra das etiquetas. Qual quê??! Saiu o papel, mal e porcamente, mas ficou a cola. Espetei com aquilo na máquina da louça em programa bem quente e a cola não saiu. Esfreguei com álcool e nada. Só lá foi com esfregão de arame e mesmo assim dei ali bem ao braço. Mais um bocadinho e furava o diabo do prato. 

Por isso, pessoa que acha giro colocar um autocolante descendente de Satanás no fundo de um prato de onde um ser vivo comerá, espero que os teus sonhos sejam invadidos por milhares de gatos em fúria e pelos seus respectivos donos. Vemo-nos nos teus sonhos, portanto, ó idiota!

Olhando para livros XXIII

Ora vamos cá retomar o passatempo que tem estado parado.

37. Melhor local para ler

Cama, sofá e autocarro. A minha santíssima trindade da leitura. Hoje também consegui no cadeirão da varanda, com o gato no cadeirão do lado, mas adormecemos os dois e devemos ter dado um belo espectáculo aos vizinhos do prédio em frente.

38. Livros em papel ou em formato digital

Para responder a esta questão, remeto-vos para duas quixotadas antigas em que já dissertei longamente sobre o assunto, ainda sobre o Kindle mais antigo e sobre o que tenho agora, o Kindle Paperwhite.

39. Último Livro Lido


Assim que me lembre, foi este. Faltam-me duas ou três páginas do Robinson Crusoe (leitura de autocarro) e estou em grande na leitura de Um Homem de Partes.

Fim-de-semana longo


Até que enfim uma revista que percebeu que este ano se celebra o quarto centenário da morte de Cervantes, o pai do romance moderno. Habemus leitura de fim-de-semana. Obaaaa!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Eu, o encosto

Lady Gatinha tem uma fixação pelo ato de estar encostada a um humano. Se me deito, trepa para a cama e encosta-se às minhas pernas. Ela quer lá saber se me posso mexer bem ou não. Desde que ela possa encostar-se, o mundo seguirá nos eixos. Hoje de manhã, como aliás já aconteceu anteriormente, veio ter comigo à cama... Enquanto eu tomava o pequeno almoço. Ou seja: aproveitou aqueles dez minutos em que estou a comer para vir encostar-se a mim. E aos fins-de-semana fica louca com as pernas do dono e encosta-se a ele sem que ele possa mexer-se... Durante uma tarde inteira! É a loucura.

E o mais giro é que se nos mexermos muito enquanto ela está enroscada... Refila! Faz uma espécie de "grrrrrrr" zangado. É amorososa(mente tonta). Eis-me portanto reduzida a isto: ao encosto! Mas admito: agora no fresquinho até tem sabido bem...

segunda-feira, 21 de março de 2016

Olhando para livros XXII

36. Frases que ouves enquanto leitor

Ouço coisas como "Outro? Mas já leste os outros todos?!". Porém, tenho de confessar que tal frase vai sendo cada vez mais rara porque quem convive comigo sabe que já não há volta a dar: por muitos livros que tenha, vai faltar-me sempre mais um. O mercado editorial não pára e, embora eu não goste de tudo (e seja até bastante esquisita), há sempre qualquer coisa nova que gostaria de ter. Já tentei dedicar-me só aos livros que já tenho e pôr de lado a ideia de comprar mais, mas depois as pechinchas batem-me à porta...

Também costumo ouvir algo como "Deixa-me adivinhar: vais ler.". Normalmente adivinham mesmo porque tento aproveitar os meus quase inexistentes bocadinhos livres para ler. E, já aqui falei sobre isso, gostava mesmo muito de conseguir dedicar mais tempo a esta atividade que faz maravilhas pelo meu cérebro.

Falando nisso: vou ali ler um bocadinho. Um Homem de Partes, de David Lodge, está a ser bastante interessante e como já estou na caminha, um livrinho vem mesmo a calhar. Até amanhã!

domingo, 20 de março de 2016

Já??!

A sério que começou a primavera? Eu nem dei pela passagem do inverno. Esperei pelo frio e ele mal deu um ar da graça. Só tive chuva com fartura, mas isso não chega para fazer um inverno. Parte boa: na próxima semana já muda a hora, os dias ficarão mais longos e sempre renderão mais um bocadinho. E assim vai o ano correndo numa pressa que só nos envelhece. 

Memórias

Na faculdade, um dos cadeirões do curso, além de Teoria da Literatura, era Literatura Comparada. Foi provavelmente uma das disciplinas que mais me ensinou e de cujas aulas mais saudades sinto. Lembro-me de que uma parte do programa tinha que ver com a memória e que abordámos muitos textos literários, procurando a presença da memória mesmo quando ela não era propriamente óbvia.

Talvez por isso ou por outros motivos, a questão da memória fascina-me. E não falo apenas da nossa capacidade para reter a informação que vamos aprendendo: falo também daquilo que vai constituindo a nossa vida, dos acontecimentos pelos quais passamos e que ficam, mais ou menos guardados, dentro de nós. Fascina-me ainda mais que memórias aparentemente perdidas surjam através de um cheiro, de uma música, de uma voz. Enfim, de “gatilhos” que nos levam a viajar no tempo até memórias muito boas, assim assim ou péssimas.

E não deixo de pensar que é uma pena que, quando alguém termina a sua vida, leve consigo todas as suas memórias. A quantidade de lembranças interessantes que perdemos de cada vez que alguém desaparece é muito perturbadora. É verdade que podemos sempre escrever o que nos preenche e deixar cá testemunho das memórias que nos fizeram para que os nossos filhos, netos, bisnetos, saibam mais sobre nós e, em última análise, também sobre eles. Mas não é o mesmo. O livro que escrevemos nunca é o que nos esteve na cabeça. É uma imagem, mas imprecisa, daquilo que nos ocorreu contar. Na minha memória há cheiros, rostos e sons que nenhum papel do mundo, com as mais bem escolhidas palavras, poderá reproduzir. É essa a beleza das memórias: são absolutamente pessoais, completamente intransmissíveis. São únicas e nossas, apenas nossas. Mesmo que abramos a janela do que nos preenche e partilhemos estas experiências com o mundo, serei sempre eu a única a compreender em definitivo o que salvou determinado momento do inevitável esquecimento e o gravou inequivocamente em mim. Serei eu quem reconhecerá o perfume que evoca determinada memória e só eu saberei ao certo o que senti em determinada situação. Não há palavras que sejam exactas a esse ponto e, por isso, diariamente deixamos escapar milhares de memórias pessoais que não têm lugar em caderno nenhum do mundo.

sábado, 19 de março de 2016

Olhando para livros XXI

Mais uma vez a semana foi complicada. Aliás, a última semana de um período lectivo é sempre a pior e por isso não pude vir aqui cumprir com a minha participação no desafio literário a que aderi. Deixarei agora aqui as questões que estão em atraso.

31. Personagem secundária que merecia um livro só dela

Não sei muito bem o que responder a isto, mas creio que qualquer das personagens com quem a Alice  (de Alice no País das Maravilhas) se encontra dariam um excelente livro. 

32. Personagem literária para a qual escreverias um livro

Não escreveria para nenhuma, pois não tenho talento para tal coisa e as personagens não merecem tão mau tratamento.

33. Personagem literária que não quererias encontrar num beco

Fácil: Heathcliff, de O Monte dos Vendavais. Talvez a personagem mais cruel que já encontrei num livro.

34. A importância da capa de um livro

Para mim as capas são importantes, sobretudo quando falamos de livros novos, acabadinhos de sair. Se for com edições velhas, compradas em feiras de antiguidades, as capas não me importam tanto, já que muitas vezes revestem livros que já mal se encontram e, aí, a capa é aquilo com que menos me preocupo. Mas em livros que foram editados agora, uma má capa (assim como uma mau tamanho e tipo de letra) consegue demover-me da compra. É raro desistir de um livro por a capa ser tão má, mas por exemplo, nunca comprei este do Thomas Hardy por achar a capa medonha e por me recordar tanto os romances cor-de-rosa que ODEIO.



35. Pior hábito enquanto leitor

Acho que o meu pior hábito enquanto leitora é mesmo a lentidão. No fundo, leio como como: lentamente, saboreando. E o resultado é que acabo a não conseguir ler num ano tantos livros quanto gostaria. Há alturas em que consigo acelerar mais um bocadinho, mas de um modo geral sou assim: lenta. 

Tenho muito cuidado com os meus livros, mas às vezes acontece ficarem um bocadinho “imperfeitos” de tanto me acompanharem na mala para todo o lado. Se gostar muito do livro (se não for um dos que queira vender a seguir), pouco me importa, pois é sinal de que passei por ele e de que o livro passou por mim. Às vezes tendemos a adorar estes objetos e a usá-los quase com luvas, não nos atrevemos a tomar notas nas margens nem nada que se pareça. Mas eu acredito que os livros gostam dessas coisas porque assim são verdadeiramente vividos e desfrutados. Um dia morrerei e os meus livros ficarão todos cá. O que importa se ficam imaculadinhos, sem as frases de que gostei sublinhadas? Parecerão os livros de ninguém e... nada disso: são e serão os meus livros, por isso se tiverem “marcas de guerra”, são marcas de posse e de uso, o que não é necessariamente mau.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sons do inferno

As maternidades deste país deviam fornecer um par de fones por cada bebé que nasce. Para proteger os ouvidos dos pais quando o pequeno rebento chorasse? Não. É que vai que ali está a nascer um bebé que vá transformar-se num daqueles adolescentes ou adultos que desconhecem o que é colocar fones e fazer da sua música isso mesmo: a SUA música e não a de um autocarro inteiro. Hoje fui brindada com uma destas almas que ouvia Mariah Carey e kizombas ainda antes das oito da manhã. E num volume que upa upa: faria calar a boa da Mariah Carey. 

Fones, senhores, fones. Amanhã a Worten faz um Mega Descontão e a Fnac vai ter o fim-de-semana do aderente, por isso aproveitai, pois os meus ouvidinhos não carecem de musicas degradantes a horas tão impróprias.

domingo, 13 de março de 2016

E se fosse ao contrário?

Há pouco tinha a televisão ligada no noticiário da SIC e, como seria de esperar, falou-se do Congresso do CDS, no qual Assunção Cristas seria eleita secretária-geral do partido. Bom, até aí tudo bem, eles lá sabem da vida deles. Agora, o momento em que o jornalista (ou a jornalista, já nem me recordo bem) começa a falar sobre a vida agitada de um secretário-geral de um partido político, sobre o facto de os fins-de semana serem preenchidos com muitas deslocações pelo país e sobre a dificuldade que Assunção Cristas terá para assegurar a sua vida familiar e o tempo que terá para dedicar aos filhos... Foi demasiado. Se fosse um homem, comentariam o mesmo? Nunca vi terem esta preocupação com a família quando quem está em destaque é um homem. É absolutamente ridículo que o facto de ser uma mulher a assumir determinado cargo dentro de um partido levante estas questões que nunca vi serem colocadas quando se trata de um homem. Afinal, andaram a falar do Dia da Mulher na semana passada e no fim de contas até os canais de televisão procuram colar as mulheres aos bicos do fogão, às papas para bebés e aos almocinhos de domingo. Muito bonito, sim senhor.

É por isto que detesto o Dia da Mulher. Porque durante vinte e quatro horas fala-se de mulheres (e muitas vezes mais valia que estivessem calados, visto que se diz cada disparate...), mas depois voltamos à mesma coisa. Goste ou não da Assunção Cristas, a verdade é que foi ela quem desejou este rumo para a sua vida e se quis ser secretária-geral do seu partido só podemos ficar felizes pelo objectivo alcançado. Quanto ao resto... Caríssimos, já que falaram tanto sobre mulheres na semana passada, parem um bocadinho e pensem na estupidez do que já disseram hoje. Se fosse o marido da senhora, também se preocupariam tanto com a vida familiar? Pois, todos sabemos a resposta.

Electricidade estática... num gato

Alguma vez viram um gato com electricidade estática no pêlo? Bom, tenho ali um nesse estado e, por mais que lhe passe a escova, o bicho não deixa de parecer um porco-espinho, com tudo espetado para todo o lado. Até dá choquezinhos! Pobre bichano: nem ele escapa a problemas tão prosaicos como este.


Nota: A imagem saiu daqui.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Olhando para livros XX

30. Personagem literária que nunca devia ter sido criada

Enfim, a discussão sobre o que é literatura e o que não é, sobre os seus limites e as suas características é imensa. Existem cânones literários, listas e mais listas de livros que temos de ler enquanto por cá andamos, mas depois aparece sempre alguém a discordar, a dizer que falta tal ou tal livro e que um ou outro estão a mais nas listas de imperdíveis.

Esta introdução toda deve-se ao facto de eu nem conseguir perceber muito bem se as personagens de que vou falar fazem ou não parte da literatura ou se são apenas tentativas frustradas de fazer parte do mundo literário. O pessoal das Cinquenta Sombras, seja a menina pseudo-inocente ou o tipo que lhe dá uns valentes tau-taus no rabiosque, era escusado. Nunca li a trilogia e, acreditem, não o vou fazer. Mas depois de ouvir dizer tantas coisas sobre aquilo, um dia sentei-me no café da Fnac e li umas quantas páginas. Admito: ri. Mas ri MUITO. Como é que alguém, numa descrição, consegue pôr uma personagem a fazer cinco expressões faciais incompatíveis umas com as outras enquanto fala? E pior: como é que isto vende? Como é que o pessoal que compra e lê isto não percebe que aquelas descrições são paupérrimas? Que a qualidade estética da obra é... ou melhor, não é (se é que me entendem...). Vendeu por ter sexo? Bom, assim de repente ocorre-me Henry Miller, Anaïs Nin, Marquês de Sade, o bom do Casanova... Envolvem todos uma boa quantidade de gente nua e o facto de já não serem autores de hoje prova até à exaustão que tiveram qualidade suficiente para sobreviver ao tempo. Assim, para mim, as Anastácias desta vida e os seus mauzões iam dar uma voltinha até à época feliz em que não existiam e ficávamos com o que já temos. Ou então esperamos que apareça algum autor (provavelmente até já existe e eu é que não conheço) que tenha dedos para tocar esta guitarra.

Olhando para livros XIX

Vou outra vez com atraso, mas cá vai:

29. Personagem literária que adoras odiar

Há uma personagem literária que odeio e nem sei muito bem se adoro odiá-la. É muitíssimo importante para a acção da obra em que aparece, mas é como mosca na sopa: está lá sempre e nós, que só queremos o bem do protagonista, sentimos o sangue ferver sempre que ela aparece. Falo-vos de Mildred, do romance Servidão Humana, de Somerset Maugham. É a mulher por quem ele se apaixona e que lhe vira a vida do avesso vezes e vezes sem conta. Sempre que a personagem principal, Philip, parece escolher para si um rumo novo... eis que aparece a Mildred, que não o quer, mas que também não desaparece de vez. Mas este autor é perfeito na criação destas personagens que nos inquietam. Em Mrs. Craddock temos um marido que parece o ideal, maravilhoso, aquilo que se deseja para a vida, mas que afinal... Não parece querer uma mulher, mas sim um bibelô. O autor consegue, no entanto, construir a história de tal forma que a esposa vive até ao final sem saber se afinal o problema está nela ou nele. Nem ela nem nós. É que aos olhos de todos, aquele homem é fabuloso. Se ela é a única a ver o contrário, não estará nela o problema? Isto é Somerset Maugham: o semeador de dúvidas com a construção de personagens que nos inquietam.

No romance Para Além da Morte, de Galsworthy, vencedor do Prémio Nobel em 1932, há uma personagem masculina (penso que um violinista) por quem a protagonista se apaixona e que é execrável. A sua ignorância, soberba e a perseguição que move a Gyp, a personagem principal, transtornando a sua vida e a do seu pai doente é mais do que conseguimos aguentar sem entrar no livro e bater no malfadado músico. Com isto percebem que o romance vale bem a pena. Não ficamos indiferentes àquelas personagens.

Desporto com a bolacha Maria

Ah... Aquele momento em que vamos abrir um pack de quatro pacotes de bolacha Maria e em que percebemos que os quatro pacotes estão, de alguma forma, colados à embalagem exterior. De seguida vem o maior desafio do mundo: soltar os pacotes individualmente, sem abrir mais do que um (aquele que queremos mesmo abrir naquele momento). São momentos deliciosamente irritantes.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Olhando para livros XVIII

27. Personagem literária favorita

Bom... Ao vigésimo séptimo dia deste desafio, até seria estranho se precisasse de parar durante muito tempo para pensar na resposta a dar. A minha personagem literária favorita é Dom Quixote. Também gosto do Sanchito, mas o Cavaleiro da Triste Figura é A maior, melhor e mais ímpar personagem de todos os tempos. É um ‘louco’ do século XVI (quando Cervantes terá começado a escrever a obra), mas ao mesmo tempo é das personagens mais sensatas que já tive ocasião de conhecer nos livros. Diz coisas que em muitos casos ainda não ouço dizer no século XXI. Sabe o que é a liberdade e qual a sua importância, coloca o amor por um filho acima de todas as desilusões que ele nos possa dar, defende a liberdade das mulheres para decidirem o seu futuro, ainda que as suas escolhas possam fazer infelizes alguns homens. Ao mesmo tempo é a personagem que usa uma bacia de metal na cabeça, crendo ter na sua posse o famigerado elmo de Mambrino; é a personagem que põe na cabeça uma bacia cheia de requeijões e que depois pensa ter os miolos a derreter; é a personagem que entra dentro de uma jaula com um leão; é a personagem que combate contra moinhos de vento e leva uma tareia; é a personagem que solta uma série de condenados e que a seguir se vê espancado por aqueles a quem dera liberdade; é a personagem que ama uma lavradora mal amanhada e vê nela a mais bela das mulheres. Enfim, o que há para não amar nesta personagem? Nada. E amamo-la melhor lendo as suas aventuras.

28. Personagem literária que gostarias de conhecer

A personagem literária que eu mais gostaria de conhecer... Hum... Nunca tinha pensado nisso. Acho que não tendo a imaginar as personagens fora do papel e, por isso, nunca me tinha debruçado mesmo sobre o tema. Não sei, mas talvez fosse o João da Ega, de Os Maias. Parece-me um tipo porreiro e divertidíssimo. Fora esse, talvez gostasse de trocar umas palavrinhas com o Sr. José, de Todos os Nomes, e com o Bentinho de Dom Casmurro. A este último gostava de dizer-lhe que é um tonto e que a Capitú não o traiu coisíssima nenhuma. Pelo menos eu sou adepta desta posição. Contudo, nunca saberemos o que estaria na cabeça de Machado de Assis.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Olhando para livros XVII

26. Género literário favorito

Bom, sou pelo romance. Ou seja, o modo que mais me atrai é o narrativo e o género tem mesmo de ser o romance. Depois, dentro do romance gosto de ler várias coisas. Aquilo que não leio e que me recuso a ler são histórias de amor delico-doces, cor-de-rosa e enjoativas. Quem me der um Nicholas Sparks odeia-me. Quem me quiser a ler uma Danielle Steell também me detesta. Aqueles livrinhos que vêm dentro de saquinhos de tule dão-me engulhos...

sábado, 5 de março de 2016

Quando a FNAC faz descontos...

...nós estamos lá. O moço precisava de material para a tese, eu de canetas para corrigir testes e, além disso, ambos concordámos em levar mais a sério a vontade de completar a colecção dos álbuns de Astérix e de Tintim. Bom, acabámos por vir bem carregados e por constatar que se calhar precisamos de mais uma estante. Bonito serviço.


Além disso, consegui este do Germano Almeida a um preço fabuloso:


E ainda consegui, numa outra edição, o livro O Conde Americano, de Mark Twain. Foi um belo dia para as estantes, portanto.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Ana Moura é muita Ana Moura!

Agora que finalmente ouvi de uma ponta a outra os álbuns “Desfado” e o mais recente “Moura” só me ocorre uma frase que ouço muito na série espanhola "Cuéntame Como Pasó", mas desta vez aplicada à nossa fadista: "es que Moura es mucha Moura!”




Olhando para livros XVI

Devido a dias de muito trabalho, não consegui deixar aqui diariamente as quixotadas relativas ao desafio sobre livros em que estou a participar. Seguem agora todas as que estão em falta e ainda a do dia de hoje e ficamos de contas saldadas porque... a seguir o trabalho espera-me.

22. Melhor citação (descrição)

“Mas, em volta dessas mansões altaneiras o curioso descobre os arpões emblemáticos, em ferro, que esclarecem as últimas dúvidas. Sim, todas essas casas altaneiras, todos esses jardins floridos saíram do oceano, quer do Atlântico, quer do Pacífico, quer do Índico. Foram arpoadas e arrastadas, uma por uma, desde o fundo do mar.”

in Herman Melville, Moby Dick,  ed. Relógio D’Água, p. 59.

23. Considerando que o primeiro livro da tua estante é a letra A, o segundo a letra B e por aí adiante, tira o livro correspondente à primeira letra do teu nome. Depois abre na página correspondente à soma do mês e dia em que nasceste. Qual é o quarto parágrafo?

Pode parecer que fiz de propósito, mas não. O livro é O Príncipe e o Pobre, de Mark Twain, e no quarto parágrafo da página trinta e sete diz o seguinte:

“E sorriu interiormente pensando: ‘Não foi inutilmente que, graças às minhas leituras, vivi entre príncipes e aprendi a empregar a sua linguagem elegante e florida.’”

in, Mark Twain, O Príncipe e o Pobre, Relógio D’Água, p. 37.

24. Top 5 dos escritores favoritos

Hum... Esta não é fácil. Vamos lá:
1.º Miguel de Cervantes
2.º José Saramago
3.º Gabriel García Márquez
4.º Mario Vargas Llosa
5.º Somerset Maugham

24. Top 5 das escritoras favoritas

Hum, esta ainda é pior porque infelizmente o mundo dos livros ainda está um bocadinho desequilibrado quanto ao género dos autores... Vou tentar:

1.º Emily Brontë
2.º J. K. Rowling
3.º Jane Austen
4.º Ana María Matute
5.º Matilde Asensi 

Nota: Este desafio já serviu para perceber que a maioria dos meus livros (diria que a esmagadora maioria) foi escrita por homens...


E pronto, já estou em dia. Lamento não conseguir seguir o programa de festas na data e hora certa, mas é-me mesmo impossível. Cá ficam, no fim de contas, os meus gostos literários e isso, afinal, é que importa.