quarta-feira, 29 de julho de 2015

Corridas felinas

Além de ter arranjado uma companhia ao Sr. Gato arranjei-lhe um brinquedo novo. Ele já não quer saber de perseguir bolas, nem de correr atrás de penas presas em canas. Nada disso: agora ele quer correr atrás da gatinha. Por vezes parece que tenho uma corrida de velocidade felina a decorrer cá em casa e é espectacular porque fazem barulho e tudo. Ando à espera do dia em que a vizinha mouca do andar de baixo venha dizer-me que faço muito barulho a correr de uma divisão para a outra. Mas de facto é engraçado ver que o que antes era diversão pura para o gatarrão, agora já não interessa para quase nada. Valores mais altos se levantam, ou melhor, valores mais pequeninos correm mais depressa e persegui-los é uma tentação.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Um retrato que não houve

Em dois mil e dez defendi a minha tese de Mestrado. O dia foi inesquecível mas, passada toda a euforia, caiu-me que nem uma bomba a noção de que ninguém, NINGUÉM, se lembrou de tirar-me uma fotografia que fosse. Nem à saída da defesa, nem durante o almoço, nada. Consumi-me um bocado ao pensar que de um dia tão feliz não restaria sequer um retrato para memória futura. Ainda hoje sei o que tinha vestido, sei quem lá estava comigo, sei o que foi o almoço e que flores a minha irmã me ofereceu. Só não tenho uma fotografia e lamento-o ainda mais porque a minha avó, que veio de propósito da sua casa na aldeia para ver-me falar de um assunto que não dominava, esteve lá e não há uma imagem dessa que foi a sua última vinda a Lisboa e, em última análise, a casa dos meus pais.

Tenho pena de não ter um registo fotográfico desse dia, mas esta semana li na revista Sábado qualquer coisa que fez com que me sentisse menos mal: numa coluna da página quinze, o escritor Nuno Costa Santos, de quem nada conheço, diz qualquer coisa que, ainda que não elimine o meu lamento, pelo menos deixa bem claro o motivo pelo qual ninguém se lembrou de fotografar um dos muitos momentos daquele dia. Diz ele que "Há pouco não fotografei o meu filho de 11 meses a molhar pela primeira vez os pés nas ondas. Limitei-me a viver o momento. Peço desculpa.".

Pois foi isso. Todos os que verdadeiramente estavam lá comigo e por mim viveram comigo aquele momento e, coisa impensável em tempos nos quais até braços extensíveis para tirar selfies andam nas malas femininas, não ocorreu a ninguém parar para o habitual retrato. Teria sido bom tê-lo, mas não vale a pena massacrar-me com isso: lembro-me das pessoas, do ambiente, da roupa, dos vários momentos do dia e isso é o mais importante. O resto seria apenas acréscimo.

sábado, 25 de julho de 2015

"Eles só nos têm a nós"

Tenho a Senhora Gatinha cá em casa há pouco mais de um mês. Ora, contas feitas, um mês depois já lá vão mais de duzentos e vinte euros em veterinário. Entre vacinas, desparasitações e testes de Fiv e Felv, e hoje com uma consulta extraordinária devido a uma diarreia lixada que me estava a consumir a miúda (e da qual acabei a trazer dois medicamentos, um saco pequeno de ração e uma latinha de comida), já lá vai essa bela quantia. 

Digamos que se a isso somar tudo aquilo que já gastei com ela nos sacos de ração para bebé, nos comedouros e bebedouros e nas saquetas com molho para gatinhos, já lá vai uma conta espectacular.

Arrependo-me? Claro que não. Assim como nunca me arrependi de um tostão gasto com o Senhor Gato que, antes da chegada desta menina, passou exactamente um ano e meio a consumir-nos também uma parte simpática do orçamento. Acho que quando queremos de facto ter connosco animais saudáveis e felizes, aceitamos que tudo isto faz parte. E a verdade é que estes tipos peludos tornam-se amigos a sério, pelos quais fazemos tudo (até figura de parvos como quando, por exemplo, alteramos o tom de voz para falar com eles...). Para mim, ter animais em casa só faz sentido assim: assumindo o compromisso de tudo fazer para garantir-lhes bem estar e felicidade. Assumindo que uma vez nossos, serão sempre nossos. Assumindo que se por eles tivermos de fazer alguns sacrifícios, seja. Cá em casa, por exemplo, desde que o Senhor Gato chegou, deixámos de escancarar janelas. No máximo abrimos um ou dois centímetros de cada janela, mas nunca mais nos demos ao luxo de arejar a casa com tudo aberto. O medo de que ele se empoleire no parapeito e desapareça é demasiado e faz-me pensar que o preço de uma janela aberta e de mais um pouquinho de ar fresco pode ser um dos maiores sustos e desilusões da minha vida. Para mim, o Senhor Gato vale o sacrifício: gosto demasiado dele para fazer o que seja que o ponha em perigo. 

Há uns meses, ao tirar-lhe um nó do pelo, magoei-o e ele precisou de ser tratado. Chorei este mundo e o outro de tanta culpa que senti. Paguei sem pestanejar uma choruda conta no veterinário e não me arrependi de ter gasto aquele dinheiro com ele. Devido a essa despesa inesperada, deixei de comprar umas coisas, porém com eles é assim: vê-los bem é uma necessidade nossa, pois mesmo sendo bichos de quatro patas, fazem parte da família e tratam-se como tal.

Cá em casa o lema é "Eles só nos têm a nós." e com essa frase vamos justificando tudo o que fazemos por eles. De facto, cada animal doméstico só pode contar com o dono que tem. É, por isso, lamentável ver certos donos que por aí existem e que adoptam animais sem consciência de que "ter" um animal não é levá-lo para casa e pronto. Ter um cão, um gato, um coelho, pássaros, répteis, o que seja, implica uma boa dose de trabalho, de empenho e de responsabilidade. É também, parece-me, óptimo para incutir em crianças precisamente as noções de respeito, de cuidado e de responsabilidade em relação a outros seres vivos. O que os animais nos dão em troca de um lar (na verdadeira acepção da palavra) é muito maior do que os euros que se gastam com eles. De facto, estes euros podem tornar-se uma parte importante do orçamento (principalmente quando adoecem) e há meses em que custa a pagá-los porque há outras despesas às quais é necessário dar resposta, mas isso tem de ser pensado antes de arranjarmos o animal. Assim como a questão das férias, quando existem animais domésticos, também tem de ser cogitada antes de trazer o peludo para casa. Isto para que depois não acabe a imperar a cobardia da atitude desprezível de abandonar um animal na beira da estrada. Ou ir largá-lo a outro sítio qualquer sem garantias de que se consiga safar, depois de um tempo em que viveu numa casa onde lhe aparecia comida e água fresca sem que tivesse de a procurar sozinho. Conheço casos assim e desprezo as pessoas que o fizeram ou que o fazem. Não tenho qualquer respeito por elas e julgo que quem o faz a um animal também o faz a um ser humano. 

Por isso, em época de férias, importa dizer que os pequenotes que escolhemos para partilharem uma parte da nossa vida connosco merecem tudo, tudo, tudo de bom que lhes possamos dar. Se não os podem levar convosco para férias, peçam a alguém que vos cuide deles. Em último caso, façam o sacrifício que fiz no ano passado: não fui de férias. Em parte por causa do bichano, que era ainda muito pequeno para ficar sozinho em casa, e em parte por outras razões. Fazer sacrifícios faz parte, principalmente quando a causa pela qual os fazemos vale tanto a pena quanto a companhia e o amor que um animal nos dá. Acredito que quem visita este blogue seja gente boa que respeita os animais, mas não custa passar a palavra sobre este assunto. Vemos tanta crueldade, tanto desprezo pela vida animal que falar nisto não é exagero, mas necessidade. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

MacBook Air - primeiro balanço

Bom, de tanto que esperei pelo MacBook (já o queria há muitos meses e já havia jurado a mim própria que não compraria outro computador que não este) agora estou embevecida com ele. Realmente, a Apple é outro campeonato. Julgava que ia passar horrores para aprender a mexer nisto, que ia ser tão diferente daquilo a que estava habituada e afinal não é assim tão difícil. É verdade que consultei o manual do computador na página da marca, mas foi sobretudo para ficar a conhecer os atalhos para determinadas acções. De resto, tem sido tudo muito intuitivo, assim meio às apalpadelas. Como já conhecia o iPad, alguns aspectos sairam facilitados, como este mundo imenso das aplicações. Também o browser Safari, por ser o que está no iPad, não me era desconhecido e, nesse campo, foi tudo mais fácil. Até ver estou a adorar o computador. Só o facto de não ter aquele Windows horroroso que parece engolir todo o ecrã a toda a hora já me deixa à beira das lágrimas de alegria. Mas depois a rapidez do MacBook Air, a forma como tudo está pensado para a nossa comodidade (está tudo ali à mão: uma aplicação, um documento, um download...) e o modo como, intuitivamente, chegamos a saber o que fazer são, de facto, fascinantes. Na secretária (parte inferior do ecrã) está aquilo de que mais precisamos. Depois o resto vamos arrumando conforme dá jeito.

E, minha gente, o aspecto do MacBook Air é qualquer coisa... Tem um ar tão distinto, tão bonitinho e é tão leve! Em suma: o primeiro balanço é muito positivo, estou muito satisfeita com o computador e sem saudades nenhumas do Windows. Vou continuar a explorá-lo porque creio que há aqui um mundo sem fim de coisas para descobrir, no entanto, do que vi até agora, acho que foi uma excelente opção.



Nota: A imagem saiu da página da Apple.

Ela é fresca, fresquíssima...

Depois de me ter apercebido, no outro dia, de que a Senhora Gatinha tinha arranjado uma maneira de andar por cima dos livros de uma prateleira, eis que chego a casa e deparo com o conteúdo dessa mesma prateleira no chão. A queridinha deixa já a sua marca. E nos livros. Besta.


Adenda: Adoro o pormenor do pompom cor-de-rosa junto ao local do crime. Ela é fresca...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Desabafo

Eu já não estou cansada. Eu já ultrapassei esse estado ali por alturas do Carnaval. Faltam poucos dias para as férias e, honestamente, até me custa pensar que, mesmo assim, me faltam esses dias todos. Estou esgotada: dei aulas até há bem pouco tempo, corrigi este mundo e o outro, não tive férias nenhumas ao longo do ano... Estou, por isso, no limite e a precisar de férias daquelas que parecem durar séculos. 

Se há coisa que me deixa doente, é essa ideia idiota de que os professores têm muitas férias por ano, de que vão para casa dormir sempre que os alunos entram em férias. Não é assim. Quando os alunos entram em pausas lectivas, os professores trabalham e muito. É que há a tendência para esquecer que os docentes não limitam o seu trabalho às salas de aula. Pelo contrário, trazem muito trabalho para casa e tiram tempo particular, que devia ser dedicado a muitas outras tarefas que não o trabalho. Isso não é visto por muitas pessoas, mas a minha família poderia falar sobre isso e sobre todas as vezes em que não pude estar com ela porque havia testes para corrigir ou aulas para preparar. 

Portanto, estou cansada e a precisar mesmo de férias. Mas também estou farta dos estereótipos que caem sobre os professores, vindos de gente que não sabe nada do que é a profissão ou que pelo menos não sabe mais do que o pouco que viu enquanto aluno. E, acreditem, aquilo que se vê das carteiras dos alunos não chega, de modo algum, para conhecer uma profissão em toda a sua extensão. 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Em experiências

Estarei, a partir de agora, em perpétua experiência informática. Como já desejava há algum tempo, troquei finalmente o meu HP por um macbook. É toda uma aventura isto de ter de habituar-me a uma máquina c-o-m-p-l-e-t-a-m-e-n-t-e diferente. Felizmente, já não sou completamente naba em produtos da apple, o que ajuda bastante agora. Ainda assim, ando para aqui às apalpadelas a ver onde está cada coisa e como raio chego àquilo de que preciso. Portanto, se se aperceberem de enormes disparates nos próximos dias, já sabem: fui eu que fiz asneira que isto, como dizem as gentes, quem não sabe é como quem não vê.

Poema aos meus felinos

Formas felinas que cedo me acordais,
Agora dormis, aproveitais a manhã:
Cutucar-vos-ei, não dormireis mais.
Essa é a minha vingança vã.

Formas felinas que cedo miais,
Pedindo comida e festas no pelo:
Agora que estou acordada descansais
E eu cheia de dor de cotovelo!

Formas felinas que diariamente me despertais
Mal vedes os quentinhos raios do sol,
Agora dormis de boca aberta e ronronais
E eu estou para aqui toda mole!

Formas felinas que comigo gozais
Fazendo dos miados um despertador,
Acreditai que só dormireis mais
Porque gosto de vos ver: sois um amor.

Formas felinas que quereis brincar,
Cedo, cedinho, ainda antes da aurora,
Agora estais para aí a ressonar
E eu a trabalhar que nem uma moura!

Formas felinas que sobre mim saltais
Para que da cama saia e vos dê atenção,
Sois chatos, mas ainda sois mais
Dignos de muito mimo e dedicação.

Ainda assim, formas felinas barulhentas,
De vez em quando, deixai-me preguiçar:
A dona não vai para nova, está quase nos trintas,
Precisa do seu soninho para se aguentar!


22-Julho-2015, por uma dona com olheiras

domingo, 19 de julho de 2015

A Menina Quer Isto LV

Este blogue já nasceu aí pelos idos de 2011, se não estou em erro, e já escrevi cinquenta e quatro "A Menina Quer Isto". Julgo que sou oficialmente uma pedinchona. Ora, para a eterna insatisfeita, agora podiam sair estes:





(Espero ansiosamente pela tradução deste último do Reverte!)

Notita: Todas as capas saíram da página da Wook.




Emma, o balanço

De Jane Austen havia lido há alguns anos o seu famoso Orgulho e Preconceito. Embora tenha, na altura, ficado um pouco aborrecida devido ao facto de a acção parecer andar sempre em torno de casamentos e de jovenzinhas que não descansavam enquanto não arranjassem um moço à altura, os anos passaram, as sinapses cerebrais passaram a funcionar melhor e a minha ignorância também se atenuou ligeiramente. Isto porque percebi que... o livro não podia ser de outra maneira. Primeiro, a autora abordava o tema do casamento e do importantíssimo lugar que ele desempenhava na sociedade inglesa da época porque, de facto, era algo que fazia sentido naquele tempo. Em segundo lugar, não podia ficar presa apenas ao tema. Havia na obra muito mais para ver e apreciar e eu estava estupidamente a reduzir o texto a apenas uma das suas componentes. E o estilo da autora? E o modo como a narrativa estava construída? E as personagens, umas tão modeladas e outras tão planas? Mais: estava a esquecer-me de aplaudir o facto de ser aquele um livro escrito por uma mulher em tempo de homens e de aquele mesmo romance ser, ainda hoje, sobejamente lido e adorado. Um clássico, portanto. Em minha defesa, li o Orgulho e Preconceito enquanto curava uma amigdalite ali nos inícios dos meus vinte anos. A febre e a burrice da altura não davam para mais.

Agora, em contagem decrescente para as três décadas de vida, li outro romance de Jane Austen: Emma. A edição não é das melhores, mas ainda nenhuma editora fez uma recente deste romance. Parece que agora estão a reeditar-se vários livros de Austen, pode ser que este esteja previsto para a próxima fornada. Mas vamos lá então ao livro Emma.

O título do livro é o nome da personagem principal. Trata-se de uma jovem rica, que frequenta a boa sociedade lá do sítio, que não tem de preocupar-se com dinheiro e, consequentemente, com o casamento. Aliás, durante boa parte da narrativa ela apregoa que não pretende casar-se. Contudo, não deixa de pensar em casamento. Paradoxal? Não. Como Emma não está apaixonada por ninguém e como a sua situação económica não a empurra obrigatoriamente para um casamento, a sua maior diversão é servir de casamenteira para aqueles com quem convive e que estão em idade para isso. O livro começa precisamente com a referência a um matrimónio arranjado pela protagonista e que uniu a sua preceptora a um cavalheiro local, viúvo de longa data. O sucesso deste enlace veio a imprimir em Emma a ideia de que tinha de facto um significativo talento para unir casais e levar a matrimónios felizes. Assim, procurará continuar a interferir na vida de quem se puser a jeito para isso. A principal vítima será a pobre Harriet Smith, uma jovem sem posição social que Emma procurará moldar à sua imagem e para a qual tentará arranjar um par digno. 

O que Emma não sabe é que isto de fazer dos outros marionetas, de tentar mexer nas vidas alheias até elas se tornarem naquilo que nós desejamos pode ter um lado mais obscuro e perigoso. A protagonista depara-se, em determinado momento, com essa mesma realidade: a manipulação da vida de outro acaba por interferir na dela e, porque é uma moça bafejada pela sorte, acaba por sair-se bem da enorme asneirada que criou. Mas podia ter corrido mal.

Aquilo de que gostei mais neste romance, tendo em conta aquilo de que me lembro de Orgulho e Preconceito, foi do facto de ser uma comédia de costumes na qual certos traços das personagens surgem acentuados. A Mrs. Elton é tão irritante, mas tão irritante que chega a ter graça. O próprio modo como são combinados os encontros, os bailes, como para tudo existe um protocolo imenso é digno de um sorriso por parte do leitor. A espontaneidade parece ser coisa de hoje. Naquele tempo, e pelo que o livro retrata, tudo era fruto de grande reflexão, desde o que se ia vestir até um simples convívio para o chá. Noto ainda os apontamentos de humor que o narrador vai largando ao longo do texto e que, em conjunto com o resto, servem para construir uma história bem disposta com uma protagonista mimada que tem a mania de que é esperta, mas que não é, ainda assim, a personagem mais irritante do romance.

Quando sair uma nova edição deste livro, aconselho-vos a lê-lo. É uma óptima leitura para o Verão porque o estilo da autora não é, de todo, cansativo ou pesado. Pelo contrário: a narrativa é clara, o narrador fornece-nos todas as informações de que precisamos para inferir o que virá de seguida e acabamos por ir percebendo tudo o que se passa, ao contrário da espertalhona da Emma que de tão sabichona que parece ser, acaba por não enxergar nada do que acontece à sua volta. Por tudo isso (e porque, afinal, falamos de Jane Austen) é um romance que merece se lido. Balanço positivo, portanto.

A performance felina

Começa a parecer-me um mistério insolúvel aquele que aqui descreverei.

Sempre ouvi dizer que os gatos dormem muito. Enroladinhos sobre eles próprios, em qualquer lugar que lhes pareça confortável, adormecem e assim ficam durante muitas horas. E assim corre a fama de dorminhocos que estes felinos têm e que nos leva a invejá-los como provavelmente não faremos com nenhum outro animal.

Bom, os dois felinitos cá de casa devem ser a excepção. Talvez até durmam muito durante a semana, mas ao sábado e ao domingo não dormem assim tanto. E levam a coisa ao extremo de, mal nasce o sol, iniciarem uma performance que acaba com um deles (geralmente mais pesado) a passar por cima de mim de forma a fazer-me levantar da cama, dando assim início oficial a mais um dia no calendário. A partir das seis e picos da manhã, creio que até ópera eles cantam. Rosnam (sim, são gatos), miam, derrubam coisas, fazem todo o barulho que conseguem julgar capaz de me fazer sair da cama.

Fome, dirão vocês. Pois, até podia ser se não lhes deixasse os pratinhos cheios e se não os encontrasse ainda bem abastecidos pela manhã. Precisam de mim a olhar para eles para poderem tomar o pequeno-almoço?! Parece que sim.

Portanto aqui estou eu, num domingo, em véspera de mais um dia de trabalho no qual terei de acordar obrigatoriamente cedo, deitada no sofá do escritório enquanto eles, já caladitos, se limitam a estar em cima de um tapete. Bastou eu sair da minha cama para acabar a arte performativa de dois gatos que visavam apenas fazer levantar a dona. A minha saída da cama deve funcionar como uma espécie de autorização oficial para dar início a um novo dia. Sou o equivalente aos morteiros de alvorada na Romaria da Senhora da Agonia.

Alguém consegue explicar-me isto? Terão os meus gatos algum botão que não ando a pressionar convenientemente de modo a fazê-los dormir mais umas horitas? Serei eu detentora de dois torturadores peludos de sono, enviados por alguma agência secreta? Poderão os meus felinos gostar tanto do sol que não se aguentam sem partilhar o momento do seu nascimento comigo? Pertencerão a alguma seita de gatos chalados que fazem apostas para ver quão cedo conseguem acordar os seus humanos?...

Ps.: Não vale a pena dizerem para baixar os estores todos e deixar a casa bem escurinha. Já utilizei essa estratégia (não resultou: tentaram arranhar os estores) e cada vez me convenço mais de que eles conseguem cheirar o sol (para não dizer que julgo que usam relógio).

sábado, 18 de julho de 2015

Ensacado

A dona foi às compras e eu aproveitei o que de melhor ela trouxe: o saco de papel. Está-se aqui espectacularmente. Parece-me até que... purr purr purr purr purr purrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Não! Não! NÃO!

Na paragem do autocarro, acabo de ouvir a seguinte conversa:

- O meu filho está mais calmo. O que não pode é ver um passarinho que quer logo matá-lo. 

(Psicopata, pensei eu.)

- Ah, arranja-lhe um gatinho pequenino. Assim ele habitua-se aos animais. 

(Não arranjes gatinho nenhum, pá!!! Espeta mas é com o puto no psiquiatra antes que ele faça guisado de mãe! Olha agora, um gatinho... Era o que mais faltava! Que raio de conselho.)

sábado, 11 de julho de 2015

Um auto-de-fé

Na falta de topping de chocolate para umas panquecas que tinha feito, eis que nos lembrámos de um grande Pai Natal de chocolate que havia sobrado do Natal e, bom, que fazer? Submetêmo-lo ao que se vê na foto de modo a derretê-lo. As panquecas ficaram uma delícia, mas agora tememos as retaliações ali em Dezembro...



Mais e mais e mais

E a biblioteca aumenta, aumenta, aumenta. Desta vez com sete livros que são resultado da promoçãozorra que a Presença fez no final do mês passado. Fazem todos parte da colecção "A Biblioteca de Babel", aquela que imita a coleção original em que Borges fez uma óptima selecção de contos fantásticos. Depois de uma grande confusão, a Presença lá conseguiu fazer-me chegar os sete livrinhos.

Depois o novo de Donna Tartt, autora de O Pintassilgo. Já ouvi dizer maravilhas sobre ele. Vamos lá ver. Quem não costuma desiludir é V. S. Naipaul e O Enigma da Chegada parece  promissor.

E porque nunca é de mais "ouvir" o que Saramago tinha para dizer-nos, chegou-me às mãos estes Diálogos com José Saramago, que resulta de conversas ou entrevistas com o Professor Carlos Reis. Não o adoro, na realidade, e embora lhe reconheça a competência, não concordo com muito daquilo que diz (sobre o Acordo Ortográfico, por exemplo), mas para saber o que dizia José Saramago sobre vários temas, ultrapasso esses pormenores.

De Salman Rushdie, chegou-me o romance O Chão que ela Pisa. Confesso que depois de ter lido as suas memórias, fiquei muitíssimo curiosa sobre a sua obra literária e, portanto, tenho procurado garantir um lugar para os seus livros na biblioteca cá de casa.

Por fim uma História da Filosofia em catorze volumes que me parece acessível o suficiente para conseguir aprender sobre qualquer coisa que sempre me fascinou, mas da qual sei muito pouco.

E é isto. Já disse que os livros nunca são de mais, embora vos possa parecer que compro demasiados. Ler, para mim, é mais do que uma maneira de ocupar o tempo: é uma forma de viver e é, sem querer cair na frase batida, quase tão necessário como comer ou beber água. Não sei quantos anos andarei por este mundo, mas sei que quero sair dele tendo lido tudo aquilo que valia a pena ler.





quinta-feira, 2 de julho de 2015

O disco aspirador

Admito: enquanto dona de casa não valho um caracol (e também não me importo muito com isso, que nunca foi ambição minha ser uma fada do lar). No entanto, não me apetece muito viver no meio de uma estrebaria ou andar toda desarranjada por desmazelo ou preguiça de fazer aquilo que, para mal dos nossos pecados, tem de ser feito. Assim, a máquina de lavar a louça tornou-se a minha melhor amiga, o processador de alimentos causa-se lágrimas de felicidade (e não de cortar cebola porque é ela que a estraçalha), a menina que me engoma a roupa deixa-me louca de alegria de cada vez que me traz um cestinho cheio de peças passadinhas. Enfim, lá fui arranjando maneira de o tempo dedicado às limpezas ser cada vez menos.

Na semana passada resolvemos melhorar ainda mais essa realidade. Comprámos o robô Vileda Relax que, precisamente por trabalhar sozinho sem precisar da minha colaboração, permite a manutenção da limpeza do chão cá de casa sem consumir uma ou duas horas da minha vida. Mais: tendo dois gatos, como tenho agora, qualquer coisa que vá fazendo o pelo morto e caído desaparecer é bem-vinda. No domingo experimentámos, então, o robô e até gostei. Primeiro parecia uma tonta a olhar para ele a andar sozinha, a chocar contra as paredes, mas a virar-se logo para continuar o serviço, a entrar para debaixo dos sofás para sair logo de seguida. Olhem, parecia hipnotizada com aquilo. Depois comecei a perceber que a insistência dele nos tapetes estava a resultar e tapetes que usualmente dizem, sem palavras, que moram gatos cá em casa ficaram limpinhos, tanto como quando os massacro com o aspirador «normal».

A caixa dizia «Ideal para animais», o que me convenceu logo. Até agora vai correndo bem. De vez em quando temos de parar para limpar as escovas e limpar o depósito de sujidade, mas também é normal que uma coisa tão pequena precise desses cuidados mais amiúde que o aspirador grandalhão. De resto falta-me apenas dizer-vos que ainda nenhum dos felinos cá de casa apanhou boleia em cima do «disco aspirador» vermelho que por aqui vai andando. Aliás, deitam-se ao lado dele e só dão um pulo quando o disquinho embate neles, pedindo «amigavelmente» que eles se ponham a andar dali para fora porque há trabalhinho a fazer. Porcos peludos.

Portanto, a quem, como eu, tenha pelinho a mais espalhado em casa e tempo a menos para tratar do problema, este aparelho dá uma ajuda. Não invalida que de tempos a tempos peguem no aspirador maior e façam uma limpeza mais profunda, mas para mim, para manutenção diária, é perfeito. A bateria tem uma autonomia de oitenta minutos e leva entre quatro a cinco horas a carregar. Só têm de preparar o chão antes de ligarem o aspirador, e por «preparar o chão» entende-se tirar de lá tudo o que possa servir de obstáculo ao robô (sapatos, cabos eléctricos, brinquedos, comida de animais...). De resto, é só ligar e vê-lo andar. É muito porreiro.

Nota: A imagem saiu daqui.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Menina Quer Isto LIV

Mais um desejo, embora já tenha ouvido falar menos bem deste livro:


Viajar na prateleira


Infelizmente viajo muitíssimo menos do que gostaria. Porque o tempo é muito curto (embora muitos ainda achem que os professores passam a vida em férias, a verdade é que só paro para descansar durante o mês de Agosto) e porque o dinheiro também não abunda propriamente. Enfim, a verdade é que mesmo dentro do país tenho viajado pouco, coisa que me parece lastimável precisamente porque acho que viajar, conhecer novos lugares e realidades é importante e ensina muito, mais do que vários dias de aulas seguidos.

Não sendo de modo algum a mesma coisa, adoro livros com relatos de viagens e tenho uma prateleira inteiramente dedicada a esses textos. Desde Luís Sepúlveda até Michael Pallin, passando por Paul Theroux e Bruce Chatwin, são vários os autores e vários os lugares que cabem na minha singela prateleira. Patagónia, África, pólos, Brasil, Europa, Coreia... São tantos os lugares descritos e tão encantadores os relatos que os diferentes autores fazem do que viram e ouviram que apetece mesmo seguir-lhes os passos e partir. Provavelmente nem chegarei a fazer mais de metade daquelas viagens, mas enquanto leio o livro conheço mais sobre aquele lugar e aquelas gentes. Ainda que por poucos dias, a curiosidade sente-se ao mesmo tempo que se sente que a mesma está a ser alimentada. Nesta altura do ano esses livros saltam ainda mais da prateleira. Parece que o Verão aumenta a vontade de viajar, assim como também aumenta a vontade de ler (até porque é mesmo quando estou mais disponível). Por isso cheira-me que mal acabe o romance Ema, de Jane Austen, me atirarei a um destes livros e sofrerei as ânsias de querer estar onde não estou, de só querer ir onde não vou, mas também sentirei o gosto de viajar pela minha prateleira, conseguindo abranger todo o planeta só por passar o dedo nas lombadas destes livros.