segunda-feira, 29 de julho de 2019

A Menina Quer Isto CXXII


Ainda não está traduzido em português, mas já estou em ânsias. Sim, o próximo romance de Salman Rushdie é um Quixote dos tempos modernos e faz uma viagem pela américa num tempo em que «tudo pode acontecer». É, por isso, um texto pleno de peripécias picarescas que acabam por, tal como o clássico de Cervantes no início do século XVII, mostrar o que se passa num país onde os valores morais são constantemente postos em causa.

Sim, o espaço nas prateleiras já não existe; sim, preciso de estantes novas; sim, tenho muitos livros (mas não livros a mais, que isso não existe). E, SIM, este vai morar lá para casa logo que saia em português. 

sábado, 27 de julho de 2019

Livrinhos para as férias - a vida

Biografias, autobiografias, diários, memórias... Enfim, há muitos livros em que o próprio ou outro contam uma vida. E há algumas que são tão ou mais empolgantes e emocionantes que muitos romances. Há muitas pessoas que não gostam destes livros porque consideram, à partida, que serão aborrecidos. Não sabem o que perdem porque, se uns poderão efectivamente ser desinteressantes, há um sem-fim de livros muito bons que evocam a vida de um «eu» real e que vale a pena ler. E as férias também podem ser o tempo ideal para isso. Por isso, seguem algumas sugestões de bons livros deste género.


Wook.pt - Viver para Contá-la

Gabo teve uma vida extraordinária e um talento desmedido para contar histórias. Escreveu esta sua autobiografia que, com muita pena minha, não chegou a ter a tão anunciada continuação. Acredito que, se ela tivesse sido escrita, seria extraordinária, como tudo aquilo que escreveu. Mas este livro já acompanha uns bons anos da sua vida. Do nascimento aos primeiros anos da vida profissional, o leitor pode espreitar a infância do pequeno Gabo, perceber onde, como e com quem cresceu, quem foi fundamental na sua formação, como chegou ao jornalismo e, logo a seguir, à ficção. Como viveu anos conturbados na Colômbia, como sobreviveu quase sem dinheiro no bolso, que amigos teve e que importância tiveram na sua existência. E tudo isto com o estilo incomparável de um dos melhores escritores de todos os tempos. Eu li este livro durante umas férias de Verão, por isso é possível, minha gente.



Wook.pt - Agatha Christie

Falei deste livro aqui quando o li. Não vou repetir-me. Esta autobiografia de Agatha Christie é tão boa ou melhor do que os seus policiais. É que esta foi uma mulher de vida cheia numa época em que não se esperava assim tanto das mulheres. Deitou mãos à obra e aprendeu o que precisava de aprender para ajudar o seu país em guerra e esse conhecimento farmacêutico deu-lhe muito jeito quando precisou de envenenar personagens. Escreveu para sobreviver, mas não apenas por isso. O talento estava lá e a prova disso é que tantos anos depois continua a ser uma das nossas autoras preferidas no que respeita aos policiais. Este grande livro permite-nos conhecer os bastidores de uma vida que já sabíamos ter sido repleta de aventuras. Tem muitas páginas, mas lê-se de uma assentada.



Wook.pt - Cadernos de Lanzarote - Diário I

Eram cinco volumes, mas no ano passado chegaram a seis. Nestes cadernos, José Saramago foi escrevendo sobre os seus dias em Lanzarote ou noutras paragens, foi falando sobre livros e autores, sobre os seus cães... Em entradas maiores ou mais curtas, partilhou um pouco da sua vida com os leitores. Assim, fica o testemunho que quis deixar dos seus dias (sim, porque num diário que acaba publicado durante a vida do autor, claro que não podemos deixar de pensar que escreveu aquilo que quis que lêssemos). É uma parte importante da sua obra e é delicioso vê-lo chegar ao famoso dia em que sabe em pleno aeroporto de Frankfurt que ganhou o ansiado prémio Nobel.



Wook.pt - Diário - Volumes I a IV

Miguel Torga, um dos nossos maiores, foi escrevendo um diário ao longo da vida. Alguns dos seus poemas nasceram ali, embora estes fossem volumes que iriam acompanhar também os acontecimentos do seu país e as reflexões que sobre eles fazia. Quando foram publicados pela primeira vez, estes diários resultaram em dezasseis volumes. Há uns anos, a Dom Quixote compilou-os em quatro livros de tamanho simpático. Com as palavras de Torga, vamos assistindo às mudanças de um país que parecia estagnado e vamos vendo como um grande escritor pensa e muda à medida que os anos vão avançando. São livros de uma beleza extraordinária, como tudo o que saiu da pena de Torga.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

A Menina Quer Isto CXXI


A Dom Quixote publicará a 27 de Agosto aquela que está a ser apresentada como a mais completa biografia de Jorge Amado. Para a escrever, a autora teve acesso a documentos importantes como manuscritos inéditos e cartas escritas a outros autores, amigos e familiares. São cerca de 600 páginas que procuram acompanhar o percurso de um autor brasileiro que foi lido em todo o mundo.

Como fã de Jorge Amado, não posso perder esta oportunidade de conhecê-lo melhor. Por isso, a menina quer isto. Mas muito!

Nota: Sobre este livro, mais informações aqui.

Para as olimpíadas, já!

Vestir umas skinny jeans lavadas depois de tomar banho num dia de muito calor devia ser modalidade olímpica. Ou forma de tortura.

tight jeans

Nota: A imagem saiu daqui.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Livrinhos para as férias - a infância

Para muitos as férias já começaram, mas para outros (como eu), os dias de dolce fare niente ainda vêm longe. Claro que vamos fazendo planos, imaginando que faremos isto ou aquilo, que visitaremos aquele lugar de que nos falaram, que nos banharemos na praia X ou Y, que vamos jantar ao restaurante onde queremos ir há tanto tempo ou que vamos ler isto e aquilo. Aliás, o Verão é mesmo a estação do ano em que as pessoas (pelo que dizem...) procuram pôr as leituras em dia. É aquela velha história de que no resto do ano não dá para ler e de que só as férias de Verão trarão esse luxo que é... ter tempo para ler um livro.

Mas escolher o que ler não é fácil e, portanto, nesta altura do ano acumulam-se as sugestões, geralmente de livros recentes. Parece que se parte do princípio de que todos os outros já estão lidos. Ora, como o blogue As Minhas Quixotadas é uma «maria-vai-com-as-outras», resolvi também fazer algumas sugestões, embora com uma diferença: os livros sugeridos não são necessariamente recentes. Podem até ser bem antigos, que isso não me importa nada. Além disso, vou dividir as sugestões por temas. Hoje vamos à infância.

Há poucos temas que me deliciem mais na literatura do que o da infância. O romance de formação, ou bildungsroman, é aquele que se foca na educação, crescimento e processo de auto-conhecimento de uma personagem. Centra-se, sobretudo, na infância precisamente porque essa será a fase da vida em que formamos muito do que seremos no futuro. Ora, com tal importância, a literatura não poderia deixar de querer retratar esse período pelo qual todos passamos. Daí que muitas sejam as obras que se dedicam totalmente a esses anos ou que, pelo menos, decorrem em grande parte nessa fase da vida. O mundo e as experiências que ele nos proporciona serão responsáveis pelo carácter que desenvolveremos e é do eterno conflito entre o «eu» e o meio em que se move que nascerá um novo adulto. Mas antes passará, como todos passamos, pelos anos de aprendizagem e, se o destino for simpático, de brincadeira e ilusão. 

Além do bildungsroman, muitos outros livros retratam esta fase da vida. Alguns foram escritos a pensar precisamente num público leitor ainda muito jovem. Aí costumam destacar-se as aventuras, aquelas asneiradas em que todos nos metemos uma vez ou outra, ou ainda outras totalmente inventadas e impossíveis, mas que deleitam o leitor. Enfim, a infância permite tudo: desde o seu retrato aproximado até à viagem pela imaginação que tão bem combina com esses anos em que tudo é possível. 

Por isso, por ser tão delicioso ler sobre este período e observar o modo como ao longo dos tempos a infância seduziu escritores e os levou a procurar retratá-la, as minhas primeiras sugestões serão livros que, no todo ou em parte, evocarão os primeiros anos de uma personagem. São livros que eu li e que me ficaram na memória pelo modo mais ou menos alegre como o tema foi tratado. São infâncias de personagens mais ou menos sortudas, mas que em todo o caso cresceram e aprenderam. São livros que, na minha opinião, são boas leituras para a época preguiçosa do Verão.



Quem nunca se perguntou se determinada memória de infância não passa, de facto, de imaginação? Isso acontece com o narrador de O Mundo. Aqui encontramos a Espanha do pós-guerra, mas também uma infância diferente da que hoje vivem as nossas crianças. Brinca-se, imagina-se, contudo também se conhece a dor e a perda. Não é, por isso, uma efabulação que só se fica pelo que é bonito. Nada disso: é a infância como ela pode ser. 



Sim, todos nós conhecemos o Tom Sawyer. Sim, todos vimos a série e ainda cantarolamos que ele anda sempre descalço. Mas quantos lemos este livro e as aventuras deste malandro de fio a pavio? Poucos. Pois o fenómeno é este: eu vi a série, li o livro muitos anos depois e fiquei espantada pelo facto de o livro ser melhor, muito melhor, que a série que devorei em criança. As aventuras que Tom e os seus amigos vivem são tão possíveis e divertidas que esta é uma leitura compulsiva. Mas às vezes as coisas complicam-se e é aí que a infância é posta à prova. É um clássico e isso diz tudo.



Aos 32 anos regressei a estes livros e voltei a assistir ao crescimento do jovem Adrian Mole. Vá, já está mais para adolescente do que para criança, mas isso não importa. Nestes livros assistimos às vicissitudes da vida de um teenager com borbulhas, apaixonado, nascido numa família altamente disfuncional, que quer ser escritor e que é de uma ingenuidade desarmante. Mesmo tendo a sua acção nos anos 80 do século passado, é impossível não soltar uma sonora gargalhada com o pobre Adrian e todos os que fazem parte da sua desgraçada existência.



Quando penso neste livro, recordo sobretudo a beleza da escrita. É tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão triste. A protagonista, Adriana, cresce diante dos nossos olhos e vai, aos poucos, ingressando num mundo de crescidos. Mas a sua imaginação, as brincadeiras que inventa e a amizade que vai conhecer nunca nos deixarão esquecer que é no reino da infância que nos movemos. Todavia, este livro não se fica pelo idílio dos primeiros anos. Vai muito além disso, sempre com grande beleza. Este é um dos melhores livros que li sobre a infância e, sendo sincera, um dos mais fabulosos romances que tive a oportunidade de ler.



Agora alguém estará a reclamar que este é um calhamaço e que ninguém vai ler tal coisa numas férias. Bom, meus caros, eu li isto em meia-dúzia de dias. Um bom livro é um bom livro seja em que estação for e, que eu saiba, o cérebro não tira férias no Verão.

Ora bem, David Copperfield... É verdade que o protagonista cresce, que a infância passa e que os problemas dos adultos chegarão à sua vida. Mas também é verdade que os problemas dos adultos chegam à vida do pobre David quando ele é ainda muito pequeno. Talvez nunca tenham estado longe dele, na verdade. É um romance de Dickens, é óbvio que este miúdo vai comer o pão que o Diabo amassou. Contudo, também vai saber dar a volta às situações e seguir em frente. Construirá a sua vida sem que alguma vez se esqueça do que viveu em criança. É um livro extraordinário, uma obra-prima, uma verdadeira maravilha.



Li este livro no final do ano passado e falei dele aqui no blogue. O protagonista é um rapaz que perder a mãe num atentado terrorista e que guarda «dela» um objecto. Será, no fundo, um novo cordão umbilical que o ligará à mãe, mas que, a determinada altura, mais parece uma brasa quente que lhe queima a pele. Porém, é tarde de mais. Esse objecto acompanhá-lo-á enquanto anda para cá e para lá, como um boneco, à mercê das decisões de adultos que pouco querem saber da sua vontade real. O tal objecto torna-se um fardo para o próprio fardo que é esta criança para os outros. E quando no fim esperamos que a felicidade aconteça, recordamos que a arte imita a vida... com tudo o que ela é. Leitura longa, mas maravilhosa do início ao fim.



Também os nossos autores falaram sobre a infância. Por cá, o livro que mais rapidamente recordo é este Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira. O protagonista mudar-se-á da sua pequena aldeia para o seminário quando conta apenas doze anos. Por lá conhecerá o mundo, mesmo estando dentro de quatro paredes de pedra. A par da sua educação formal, o leitor assiste às vivências próprias da infância bem como à consciencialização de que o mundo é muito mais complexo do que aquilo que os tenros anos nos podem levar a crer. Este protagonista perceberá que existe pobreza, que existe dor, desigualdades várias, mas também amor, amizade e um sem-fim de experiências para viver.


domingo, 21 de julho de 2019

Chora, Camões, chora... XXX



"[...] esfaqueou a mãe com a namorada"... Hum... 

Noutros tempos, esfaqueava-se alguém com uma faca. Agora parece que as namoradas também servem. A menos que a moça seja um espadarte, não estou a ver como é que a coisa se deu... 

sábado, 20 de julho de 2019

Um enorme orgulho

Uma aluna que acompanhei como professora de Português do 5.º ao 9.º ano fez recentemente o exame nacional de Português e teve 19 valores. 

E assim, na mesma semana em que deitei fora tudo o que ainda tinha dos anos em que dei aulas, fecho a etapa com a sensação de que dei o meu melhor e de que marquei a vida de alguém. Fazer parte da alegria desta aluna é maravilhoso e o que de mais bonito os professores recebem. É um orgulho e a certeza de que, apesar de tudo o que aconteceu, era uma boa professora. 

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Retrocesso

Ouvir uma multidão gritar, num comício de Trump, qualquer coisa como «Mandem-na de volta!», referindo-se a um membro da Câmara dos Representantes natural da Somália, recorda outros comícios, num século que passou, mesmo antes de um acontecimento que jurámos não repetir. Aliás, todos os que nascemos depois da Segunda Guerra Mundial ouvimos, na escola, aquela máxima de que a História não deve ser esquecida para não ser repetida. Talvez as palavras tenham sido ditas tantas vezes que perderam o sentido, como quando repetimos o nosso nome e chegamos a um ponto em que já nem nos parece o nosso nome. 

Eis-nos chegados a 2019, mas voltados para a década de 30 do século passado. Deixamos morrer gente em botes no Mediterrâneo; assistimos à luta entre países para ver quem é que NÃO ajuda aqueles que fogem à guerra e à miséria; impávidos e serenos jantamos diante de uma televisão que mostra um suposto líder político escudado por uma multidão acéfala que repete palavras xenófobas com ecos de outros tempos; bocejamos perante actos óbvios de falta de empatia entre seres humanos; observamos o crescimento das nossas unhas quando sabemos que os mais básicos direitos humanos estão a ser pisados e repisados...

 Quando tudo devia soar a perigo, quando todos os nossos alarmes deviam estar a soar, não estão. E assim retrocedemos décadas e vamos voltando placidamente ao que jurámos não repetir.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Peculiaridades de um leitor XV

Estava a ler um artigo do El País sobre livros com temas difíceis que vale a pena ler e fiquei a pensar que, de facto, são muitas vezes esses livros duros, crus, terríveis que nos ficam na memória. Mais até do que o que é divertido ou leve, são as vivências duras das personagens que nos marcam. O sofrimento é intemporal (basta ver que a tragédia era considerada superior à comédia em tempos antigos) e ler a dor do outro é, de algum modo, marcante. Segundo este texto do El País, que inclusivamente faz uma lista de livros com temas difíceis que vale a pena ler, o próprio Nabokov considerava que a literatura que assim não fosse nem sequer era literatura. É, no fundo, a ideia de que os livros devem incomodar. Não sou assim tão radical, mas percebo a sua opinião.

E se pensar nisso, a verdade é que realmente são os livros mais duros aqueles que recordo mais depressa. E mesmo no Quixote, se a parte cómica é imensa e inesquecível, é a dureza com que o mundo trata aquele homem bom e os valores universais que ele defende contra a maldade com que se deparava aquilo que mais lembro. 

Não lemos essa literatura para sofrer. Acho que não temos, enquanto leitores, essa veia masoquista. Lemo-la porque vale a pena, porque essas dores são humanas e porque nos identificamos com elas. De algum modo, isso também nos prepara para as nossas próprias dores. Essa é a boa literatura, no fim de contas: a que fica cá dentro mesmo depois da última página.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Julho?

Hoje, antes de ir para o trabalho, olhava pela janela e vi duas meninas pequeninas pelas mãos dos pais arrastarem as suas toalhas de praia até ao carro. Usavam T-shirts de colónias de férias, pelo que deduzo que terão mais dias de praia pela frente. Curiosamente, quase a chegarem ao carro, veio uma rabanada de vento daquelas que parece que até o escalpe nos vai levar. Fabulosas condições meteorológicas para ir a banhos, portanto.

O problema é que realmente não era suposto isto. Não se esperavam dias sucessivos de tempo esquisito e nada estival. E, portanto, os pais, que não têm tanto tempo de férias quanto os filhos e que precisam de lhes ocupar os dias, fizeram o que podiam inscrevendo-os em colónias de férias que enchem a Costa de Caparica diariamente.

Fiquei a pensar que, de facto, já nada é tão fácil como antes. Nem o tempo, nem as férias dos miúdos, nem a vida dos pais. Eu também fui à praia em colónias e apanhava quase sempre dias de Sol. Nessa altura já avançávamos em passadas largas para a destruição do planeta com os nossos comportamentos selvagens (quem, da década de 90, não se recorda dos milhões de bastõezinhos coloridos de cotonetes no areal da Praia do Rei e da Praia da Rainha?). Mas não se falava disso como hoje e os dias iam correndo. No Verão fazia calor, no Inverno frio e o Outono e a Primavera eram o que tinham de ser. Quando a minha mãe me inscrevia na colónia de férias nunca pensaria que os meus quinze dias de praia fossem passados com o casaco vestido. Geralmente estava bom tempo e mesmo que houvesse um ou outro dia mais cinzento, era a excepção e não a regra.

Actualmente já não é assim. Os pais precisam mesmo de ter onde deixar os filhos e as colónias que fazem dias seguidos de praia são uma óptima solução: os miúdos divertem-se enquanto os pais trabalham e a praia faz-lhes bem. Rapidamente os pais parecerão lulas ao lado da pele bronzeada dos pequenitos. Mas depois há isto: chegar ao carro é já uma luta contra a tempestade. E os pais devem ir para o trabalho pouco sossegados ao imaginarem os miúdos em processo de congelação à beira-mar. 

Julho? Naaaaaa...

domingo, 14 de julho de 2019

Os meus dias

Duas tiras de Garfield que resumem a vida cá em casa. Com a diferença de que eu tenho DOIS gatos e um cão.




Semelhanças

Tenho andado desaparecida. Além de andar em constante sofrimento com o calor, consegui passar o fim-de-semana com uma constipação idiota e inevitável, já que o moço também esteve constipado na semana passada.

Bom, além de tudo o que ando a ler, achei bem começar a ler umas tirinhas do Garfield e estou a ficar extremamente preocupada com as semelhanças que encontro entre o mais famoso dos gatos e o meu Senhor Gato. Deverei ralar-me com o futuro das lasanhas cá de casa? Estará a Madame Pochita em sossego? É que o Garfield não tratava o Odie lá muito bem... 

Leiam este livro que reúne as tiras dos primeiros cinco anos da banda desenhada Garfield. Espero que a editora lance as restantes tiras porque, de facto, não há como não rir com o Garfield. E temer um pouco quando se tem uma espécie de seguidor em casa...


quarta-feira, 3 de julho de 2019

A lei, os animais e os miseráveis

Ontem levámos a Madame Pochita ao veterinário para fazer uma análise. Na sala de espera, a dona de uma gata falava sobre uma situação a que assistiu num bairro de Lisboa há uns anos. No Verão, de repente, começaram a aparecer muitos gatos e cães na mesma zona. Mesmo muitos. O suficiente para despertar a atenção de alguém que visitava o lugar com uma certa regularidade, como ela. Perguntou a uma conhecida por que motivo se viam ali tantos animais. Já devem estar a adivinhar a resposta, mas mesmo assim não deixa de chocar: aqueles bichos todos eram de idiotas que tinham ido de férias e que os tinham deixado na rua. Se ao regressarem eles ainda lá estivessem, muito bem. Se não, arranjavam outros (e no ano seguinte a história repetir-se-ia).

Um dos cães «perdidos» adoptou um trabalhador da construção civil e seguiu-o para todo o lado. O homem teve o cão consigo enquanto continuava a obra que vinha a fazer num apartamento da zona, mas ao final do dia não o podia levar para casa porque já tinha outros animais. Levou-o a uma clínica veterinária e verificou-se que o cão tinha chip. Contactou-se o dono, que vivia a vários quilómetros de distância, e ele foi buscar o animal, dizendo que tinha fugido, que andava à procura dele... Enfim, uma história que não se percebeu se seria verdade ou não. O que aconteceu é que ele levou o cão para casa e, eventualmente, pode ter repetido a mesma brincadeira uns tempos depois.

Actualmente existem leis para a protecção dos animais domésticos. E são leis conhecidas: os media referem-nas frequentemente. Mas ainda há, infelizmente, muita gente com uma mentalidade abjecta no que respeita aos animais e principalmente aos de companhia. Adoptam porque são pequeninos, porque um cachorrinho ou um gatinho são bolinhas de pêlo irresistíveis, porque os filhos andam a pedir um animal... Enfim, levam animais para casa sem pensarem que é um compromisso sério e para a vida. Provavelmente são criaturas sem consciência, já que eu nunca conseguiria estar de férias descansada sem saber onde e como estariam os meus peludos. É inacreditável estarmos em 2019 a falar do abandono de animais como falávamos na década de 90 e tão pouco ter mudado. Sim, há leis, é verdade. Mas preocupa-me ainda mais a mentalidade que se manteve e o pouco que as leis conseguem fazer pelos animais.

Eles não falam, não pedem para ser adoptados. A escolha é sempre nossa. Se são fonte de despesa? São. Se destroem coisas? Destroem. Se dão dores de cabeça? Dão. Mas amam-nos de uma maneira única e dão-nos mais alegrias dos que uns móveis imaculados. Levá-los para casa tem de ser uma decisão pensada e se depois quiserem ir de férias, assumam a decisão e deixem-nos protegidos e bem cuidados nos lugares apropriados. Não o fazer é de quem não presta, é de seres miseráveis. E esses deviam ser bem punidos pela lei, a bem dos animais.

animal cruelty,pets abandoned,SPCA

Nota: A imagem saiu daqui e é de Siddhant Jumde.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Um "eureka!" bastante atrasado

Acabei de ouvir o Nuno Júdice no seu espaço para comentário na SIC perplexo por muitos professores correctores dos Exames Nacionais serem docentes do ensino privado. Mais ainda: espantado por isso acontecer devido à avalanche de atestados apresentados pelos professores do público nesta fase do ano e que os retiram das listas para a correcção de exames.

É extraordinário assistir a isto e pensar: bolas, isto já acontece há tanto, mas tanto tempo e só agora é que olham para este problema como se fosse de agora? Como se fosse novo? Caros senhores, o problema é mais do que antigo, há anos que os professores dos privado - sempre entre a espada e a parede - são o recurso para uma tarefa a que não conseguem escapar e que é só mais um prego no caixão onde enterrarão o amor pela profissão (igual àquele em que eu arrumei o meu). Há muitos anos que reclamamos do mesmo, mas os docentes do privado não têm voz suficiente para se fazerem ouvir e sentem que lutam sozinhos. Falo porque o vivi. Porque nunca tive nenhum dos direitos concedidos a um professor que corrige exames nacionais. A administradora da chafarica onde ensinei durante vários anos achava que tínhamos de nos orgulhar por sermos chamados para a correção de exames. Quanto à dispensa de reuniões não urgentes por estar a corrigir exames... Não se aplica. Os dias extras de férias? Não se aplica. O reembolso das deslocações ao agrupamento de exames para ir buscar ou entregar provas? Não se aplica. Na hora H nada se aplica aos docentes do privado. E porquê? Porque as regras dependem da boa vontade de quem manda e, não raramente, quem manda é idiota.

Portanto, Sr. Nuno Júdice e quejandos, o problema referido é velho como o tempo. O que acontece é que nunca ninguém olha para os docentes do privado. Ninguém vai escutar o que eles têm para dizer. No dia em que o fizerem, terão o verdadeiro estado do ensino em Portugal. 

A Única História - o balanço

Wook.pt - A Única História

Uns tempos antes do início da Feira do Livro, chegou-me às mãos este novo romance de Julian Barnes. É a história de um amor e das marcas por ele deixadas; é a história de um amor que acontece uma vez na vida e que passa a servir de medida para todos os outros que acontecerão. E é, sobretudo, um ponto de partida para pensarmos nas palavras iniciais do narrador: «Preferiam amar mais e sofrer mais; ou amar menos e sofrer menos?». Se a resposta parece ser simples e ir ao encontro da óbvia ideia de que queremos sofrer o mínimo possível, a verdade é que não é assim tão linear. Queremos sofrer menos, mas também queremos uma vida intensa e cheia de amor. Portanto, coloque-se tudo na balança e veja-se o que se quer mais.

Julian Barnes é um autor daqueles de quem se espera sempre um novo livro melhor do que o anterior. É um autor que se supera e que traz para os seus textos temas intemporais, como o deste A Única História. Não se limita a escrever por escrever: os seus livros têm sempre algo que fica cá dentro, precisamente porque evoca aspectos que são nossos e que são eternos, como o passado, como a nossa finitude, como o amor. E alia aos temas uma escrita lindíssima, rica, mas clara e encantadora. 

Este A Única História é um romance que vale a pena ler. Inquieta pela intensidade da história, pelas  evidentes marcas que o amor deixa numa vida e porque, como leitores, encontraremos nele algo que também é nosso. O protagonista desenvolve uma relação de amor com uma mulher mais velha e essa é a «única história» que vale a pena contar. No fundo, todos temos uma história que queremos partilhar, uma que é aquela que lembramos todos os dias, que nos fica na pele e que se torna a única história, a tal que serve de medida a todas as outras. E é por isso, porque Julian Barnes soube retratar algo que é tão humano, que este é um livro a não perder. Boa leitura!