sexta-feira, 29 de março de 2019

Em busca de lugar na estante XXI

Esta banda desenhada sobre um unicórnio fêmea e a menina que a encontra e que passa a ser a sua melhor amiga vem jubtar-se aos anteriores três volumes da colecção. Já conhecia esta banda desenhada há vários anos. Cheguei a ela através de uma App de comics. Tem estado a ser traduzida e publicada por cá desde o ano passado e continuo fã. Os livros lêem-se num instante, a diversão é garantida e o humor não é, normalmente, o mais óbvio. Vale a pena. 

quarta-feira, 27 de março de 2019

Eu sou velha o suficiente para... VI

Eu sou velha o suficiente para me lembrar dos tempos em que ninguém telefonava depois de uma certa hora, que, em algumas casas, poderiam ser as dez da noite, mas noutras seria ainda mais cedo. Era quase como se o telefone fechasse, como fecham as lojas e os serviços. Respeitava-se o direito ao descanso. Tinha-se um grande receio de acordar os outros, de lhes perturbar o sossego nocturno. E se por algum motivo o telefone tocava depois dessa hora, todos saltavam de medo: era quase certo que viriam de lá más notícias.

Agora estamos sempre contactáveis. O telefone fixo ou não existe ou nem se usa, mas os telemóveis dormem na nossa mesa de cabeceira, recebendo notificações várias, mensagens e todo o tipo de contactos possíveis e imaginários. Hoje já é quase banal receber mensagens depois da meia-noite ou telefonemas quando julgamos que todo o mundo dorme. Nunca desligamos completamente precisamente porque também não desligamos os telemóveis. Não raramente, acordamos com um e-mail que chega, com a vibração causada por uma conversa entre um grupo de WhatsApp.

Eu ainda sou um bocadinho como eram os meus pais. A partir das dez horas da noite não telefono a ninguém. Evito enviar SMS's e, na loucura, envio um e-mail. Mas nem toda a gente é assim e há uns dias fui acordada com uma mensagem no WhatsApp que podia perfeitamente ter sido enviada no dia seguinte porque não dizia nada de extrema importância. Fiquei louca, possessa mesmo, uma vez que depois me vi em grandes apuros para conseguir voltar a adormecer.

Comentei isto com uma amiga que me disse «Desliga o Wi-Fi à noite.» Senti-me tão jumenta. Era óbvio e eu nunca tinha pensado nisso: desligar a porcaria da internet durante a noite. Não há cá e-mails nem Messenger, nem WhatsApp. Tudo o que me for enviado é recebido no dia seguinte, ao ligar outra vez o Wi-Fi. Claro que me sobra a possibilidade de receber chamadas e SMS's, mas, por razões óbvias, não posso abdicar dessa possibilidade de ser contactada. Afinal, no meio de tanto disparate, ainda acontecem emergências e podemos sempre precisar de ser contactados. Todavia, por agora, tudo o que seja enviado pela internet só chegará de manhã. Não há fotografia ou disparate que seja mais importante que as horas de sono. Já lá vai o tempo em que os e-mails do colégio chegavam a qualquer hora com a exigência de resposta rápida. E pensar que nessa altura teria sido tão bom desligar o Wi-Fi e nem sequer me ocorreu. É já tão banal estarmos conectados ao mundo através da internet que nem percebemos que podemos desligar-nos e recuperar o sossego perdido. Como nos tempos em que os telefones só tocavam até uma certa hora e éramos todos tão felizes.

sexta-feira, 22 de março de 2019

A Menina Sugere Isto XXXVIII

O jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, também escritor, lançou-se num novo projecto, desta vez na música. Xave é o seu nome e o primeiro disco foi hoje posto à venda. Todavia, duas das músicas estão já no YouTube e podemos ouvi-las. É um doce para depois querermos conhecer as outras. 

Fiquei curiosa com esta ideia desde que foi apresentada na televisão. Os excertos de canções do álbum pareceram-me interessantes. Agora aproveitei para ir ouvir as duas músicas disponibilizadas no YouTube e, honestamente, parece-me que as composições e letras do Rodrigo Guedes de Carvalho e a voz da Isabelinha estão de parabéns. Convido-vos a conhecerem estas canções e depois, quem sabe, a comprarem o álbum. Se for tão bom como esta pequena amostra, já estamos muito bem. Parece-me que a música portuguesa sai hoje a ganhar.



terça-feira, 19 de março de 2019

segunda-feira, 18 de março de 2019

Autobiografia de Agatha Christie - o balanço

Wook.pt - Agatha Christie


Quando um escritor tem uma obra tão vasta e reconhecida como Agatha Christie, é fácil esquecermo-nos de que houve uma vida além da escrita. Ora, a existência desta escritora é riquíssima e dava um (ou muitos) livro(s). 

Nasceu no seio de uma família endinheirada, sendo a filha mais nova e, portanto, ao mesmo tempo, a «bonequinha» e a mais esquecida da família. Os irmãos eram consideravelmente mais velhos do que ela e, por isso, desde cedo Agatha Christie começou a criar mundos de fantasia e a fazer parte deles como forma de brincadeira. Estaria longe de imaginar, nesse tempo da infância, que essas efabulações seriam um excelente treino para o futuro que a esperava. Imaginava amigos que não existiam, histórias com múltiplas personagens e traçava minuciosamente o carácter de cada uma delas. Mais: criava enredos para os diferentes núcleos de figuras inventadas.

Anos mais tarde, viu-se desafiada pela irmã a escrever um romance policial. Aquela sugestão ficou dentro de si e, numa fase em que a necessidade imperou, o primeiro livro viu a luz do dia. Porém, antes disso foram muitas as rejeições. O primeiro contrato que assinou com uma editora era draconiano. Ganharia meia dúzia de tostões. Claro que a editora tentou segurá-la ao perceber que ali estava uma autora promissora, mas Agatha Christie deu outros passos e acabou por lucrar com a escrita, vivendo dela mesmo em tempos difíceis. Note-se que a autora viveu as duas guerras mundiais e em ambas trabalhou em hospitais e farmácias, convivendo de perto com substâncias químicas. Esta aprendizagem foi fundamental para as suas histórias, para os famosos casos de envenenamento que imaginou e para o modo como os descreveu tão bem e de forma tão verosímil.

Este é um livro longo, mas o leitor nem nota que está a ler centenas de páginas. É uma vida tão cheia de aventuras e de momentos extraordinários que a leitura flui, as páginas viram-se e o livro termina com a sensação de que podíamos continuar a lê-lo durante muito mais tempo. Agatha Christie faz nesta Autobiografia o mesmo que nos seus outros livros: é directa, ainda que aqui e ali divague um pouco mais sobre alguns temas. Vai contando os factos que moldaram a sua vida e avançando, de modo a que, no fim, somos capazes de perceber em que medida isto ou aquilo, esta ou aquela pessoa tiveram influência sobre ela para que se tornasse na autora que conhecemos. 

Acho sempre muito interessante ler sobre a infância. É uma fase da vida extraordinariamente importante. É sobretudo nela que aprendemos a viver com os outros, que definimos certos gostos e aversões, que experimentamos coisas pela primeira vez, que começamos a idealizar o futuro... Por isso, aquilo a que somos expostos nesses tempos iniciais tem repercussões futuras. No caso dos escritores, a infância dá muitas vezes o mote para muitas histórias, para personagens. Gosto muito de ler biografias e autobiografias, mas a fase sobre a qual gosto mais de ler é mesmo a infância. Com este livro da Agatha Christie, tal voltou a acontecer. Se toda a sua vida é uma catadupa de acontecimentos interessantes, a verdade e que a infância e aquilo que ela construiu durante esses anos serviu de base para o que veio depois. E o que veio depois é uma aventura. Se algumas das suas ideias sobre o mundo podem parecer-nos ultrapassadas (importa ter em conta que eram comuns na época em que viveu), é, por outro lado, inequívoco o espírito aventureiro que nasceu na meninice e que continuou pela vida fora. A viagem no Expresso do Oriente, as visitas a países tão exóticos e diferentes como o Iraque ou a Síria, a África do Sul ou a Rússia fazem parte do seu espírito eternamente curioso e ávido de experiências novas. A maternidade não a fez parar, pelo contrário: Agatha Christie continuou a viajar, a conhecer diferentes hábitos, culturas e histórias e tudo isso entrou nos seus livros. Quando Poirot vive uma aventura no Expresso do Oriente, fá-lo porque a sua criadora fez essa viagem, conheceu-a bem. Se há policiais cujo enredo decorre no Egipto, é porque Agatha Christie esteve lá, viu, ouviu e sentiu o que por lá se vivia. Se encontramos escavações arqueológicas em alguns dos seus livros, tal deve-se ao facto de ter conhecido de perto essa realidade com o segundo marido. Já para não repetir que conviveu de perto com substâncias químicas que conheceu bem e que figuraram nos seus livros. São célebres os homicídios por envenenamento nos livros de Agatha Christie.

É por tudo isto uma leitura que aconselho. São muitas páginas de uma vida real que daria um romance. O tom alegre, optimista da autora falando da sua vida, mesmo quando refere momentos nada doces, enriquece o livro. E ainda que não concordemos com ela relativamente a algumas maneiras de ver o mundo (como quando fala da dependência das mulheres em relação aos maridos), a verdade é que também esses momentos nos permitem ver como o pensamento mudou e, portanto, acabam por ser interessantes. Falta-me apenas referir que o livro inclui fotografias da autora e de familiares seus e só pecam por serem poucas. Ao ter vivido tanto em tantos locais diferentes, apetecia ter quase uma imagem por episódio aludido, o que seria claramente impossível. Ainda assim, seria interessante ver mais fotografias de Agatha Christie nas viagens que fez, uma fotografia de um texto escrito por ela, por exemplo, com correcções (algo que os leitores costumam gostar de ver). Tirando isso e alguns lapsos gramaticais nesta edição portuguesa, o livro é uma delícia. Se conseguirem, deitem-lhe a mão e dediquem-lhe tempo. Não vão dá-lo como perdido.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Divulgações de livros no blogue As Minhas Quixotadas

Nas últimas semanas, o e-mail deste blogue tem sido invadido por comunicações de lançamentos de livros de diferentes editoras. Nunca antes tinha acontecido isso. De vez em quando lá vinha um ou outro e-mail a solicitar divulgação no blogue, mas este boom aconteceu agora pela primeira vez.

Gosto muito de conhecer as novidades que outras editoras vão lançar. É bom estar a par do que vai saindo. No entanto, não vou divulgar nada disso no blogue enquanto não me fizerem chegar um exemplar que seja. E porquê? Bom, em tempos, a propósito de um leque de quixotadas sobre as peculiaridades dos leitores, pedi a uma das editoras que agora envia informações para o e-mail do blogue um exemplar de um livro que conhecia para falar dele aqui. O tema vinha a propósito e, caramba, acabaria por fazer-lhe alguma publicidade. Mais: eu compro TANTOS livros que não estaria de forma alguma a aproveitar-me para ler sem pagar. Provavelmente, receberia um livro de oferta, mas acabaria a comprar outros três ou quatro. Sou assim, nada a fazer.

A pessoa que contactei na editora em questão disse que mo enviaria e até hoje aguardo. Já lá devem ir uns dois anos. 

Este blogue nunca recebeu nada. Vejo outros blogues publicarem textos sobre livros, indicando a parceria com a editora X ou Y. Acho bem. Alguns são tão pequenos e modestos como o meu, mas aparentemente tiveram mais sorte. O blogue As Minhas Quixotadas parece que só foi encontrado para receber informações sobre novos lançamentos, sobre concursos literários, sobre sessões de autógrafos, provavelmente com o intuito de vir a divulgá-los. Mas como posso falar do que não conheço? Não vou sugerir como boa escolha um livro que não sei se está bem escrito ou não; que não sei se vai ao encontro do tipo de público que segue este blogue (e que lê muito e com qualidade, pelo que já percebi).

E caso ocorra a alguém pensar que o que quero é ter livros «à borla» e me salte de lá a maldisposta de serviço a insultar-me, informo: tenho tantos livros para ler que mesmo não comprando mais nenhum até ao fim dos meus dias, teria sempre leituras novas para fazer. E, felizmente, agora também tenho acesso a outros livros que não tinha. De qualquer forma, o que me entristece é ver que este blogue passou ao lado de tantas coisas, mas foi encontrado para outras. Nunca quis encher o As Minhas Quixotadas de publicidade e, portanto, quando falo de alguma coisa, é porque efectivamente gosto dela e acho que merece ser divulgada. Ah, e paguei-a do meu bolso.

Assim, manterei essa linha orientadora: se alguma das editoras que tem enviado informações para o blogue quiser ver algum livro divulgado por ele, terá de manifestar a vontade de o enviar e, depois de lido, terei todo o gosto em fazer o balanço da leitura. Sem isso, não falarei de nada que não conheça só por falar. Espero que entendam.

terça-feira, 5 de março de 2019

Com o samba no pé!

Hoje está um dia magnífico para ficar em casa a ler. Sim, é mesmo esse o plano para hoje. Acho que vou adiar o samba por mais um ano.



Notita: A ilustração é de Geneviève Godbout. E é bem gira.