domingo, 29 de janeiro de 2012

Mais ignorância


Há pouco deparei-me com um daqueles quadradinhos com mensagens que algumas pessoas gostam de publicar no Facebook. Umas são pretensamente muito profundas, outras simplesmente parvas, a maioria o cúmulo da inutilidade e da imbecilidade. Ora, esta a que me refiro dizia (cito-a pontuada tal como estava, para que se veja que a ignorância está na forma e no conteúdo): «Uma pessoa esperta não é aquela que, depois de estudar bastante tira um 20, mas aquela que, depois de não estudar um c****** tira um 10.».

Devo dizer que conheço imensa gente que ao longo do curso fez disto máxima. Escusado será dizer que depois, no fim, a coisa não correu bem e que, na derradeira hora, ficaram pelo caminho. Mas enfim, foram felizes, certo? Enquanto não estudavam, enquanto se contentavam com a mais reles das notas, davam-se por satisfeitos e a vida corria. Bem, eram miúdos com vinte e pouquíssimos anos por isso consegue-se, com muito esforço, perdoar a estupidez da atitude. O que rala mais é que continuem orgulhosamente asnos quando já vão em caminho avançado para os trinta anos. Pergunto-me se estes génios da lâmpada manterão a máxima quando forem eles os responsáveis pelo pagamento das propinas a um filho que, à imagem dos progenitores, se contente com um dez e com uma média final de onze valores. Porque, note-se, ter onze valores não é vergonha nenhuma quando se suou muito para chegar lá. Vergonha é não parar para estudar e depois fazer-se uma festa porque mesmo assim se conseguiu um dez. Uooooooooooou... Pára tudo! A alminha tirou um dez sem estudar: talvez devêssemos analisar aquele cérebro ao pormenor porque certamente há ali qualidades quase equiparáveis às do Einstein! Uooooooooou, respeitinho: não marrou, foi para a borga, mas teve dez. Calma aí que isto não é para todos: é só mesmo para, como diz a genialmente estúpida frase, «gente esperta». É que é preciso uma espécie de qualidade especial para se conseguir tal feito.

Não sei o que é mais estúpido: se a frase mal escrita, se o facto de haver quem faça o que nela se diz, se o de ainda haver quem cole estas imbecilidades no mural do Facebook. Eu teria vergonha, como tenho de algumas partes do meu percurso académico, se fosse assim tão ignorante e, pior, se tivesse tanto orgulho na minha ignorância. Mas, enfim, olhando bem para a situação, uma alma que gosta de uma frase destas nunca poderia mesmo ter passado do dez.

Notinha da autora: Peço, desde já, desculpa ao burro da imagem por se ver associado a um tipo de atitude que provavelmente nem ele teria. Mas, enfim, como isto é sobre pessoas que têm orgulho em não terem estudado quando lhes deram oportunidade para isso, achei que teria de ser explícita na ilustração, sob pena de não ser compreendida.

3 comentários:

  1. Filha,

    Graçasadeusnossosenhorjesuscristo, burricalhos é coisa que por aí não falta... O que me enfastia não é o orgulho parvo desses seres. O que me nauseia é que, muitas vezes, essas antas safam-se muito bem safadinhas graças a algum golpe de sorte bem metido. Mas olhe: graçasadeusnossosenhorjesuscristo, conheci poucos assim e não sei o que é feito deles. Fazem tanta falta como a fome.

    E pronto! Despeço-me com amizade, qual saudoso Engenheiro Sousa Veloso, na esperança de que o seu Domingo continue proveitoso até que o doce sono povoe o seu espírito.

    Com cumprimentos academicamente aceitáveis (i.e., superiores a 14),
    Filho

    ResponderEliminar
  2. Tambem há o inverso infelizmente. Eu passo dias completos a estudar e não consigo tirar grandes notas a espanhol infelizmente. Mas tive muitos colegas que nem se esforçaram minimamente por tirarem notas mais razoaveis que o 10. Que se haverá de fazer.

    Tirando o espanhol, nunca tive grande problemas nas outras cadeiras. Mas é este mesmo espanhol que me obriga a estar mais um ano na univ.

    ResponderEliminar
  3. A mim o que me fere não é o estudar-se muito e, infelizmente, os resultados não corresponderem ao esforço que se fez, nem o exemplo que dás de que algumas pessoas não estudam e sacam boas notas (houve disciplinas em que também o fiz: sempre tive facilidade com o Inglês e por isso praticamente não estudava, mas tirava excelentes notas). O que me fere é a «chica-espertice» desta gente que se acha genial por se desenrascar com dez sem ter passado os olhos pelos livros. Dez, numa Universidade e nos dias que correm, é uma nota fraca e nós precisamos de tudo o que nos possa diferenciar dos outros. Há casos em que não se consegue mais, mas isso é muito diferente de não procurar mais. Parece-me ignorância pura, francamente aumentada pelo orgulho em ter tido a mais baixa das positivas sem esforço. Enfim... Mentalidadezinha que devia passar com a idade, mas que, pelos vistos, vai ficando a comprovar aquilo que já se esperava: pessoa que assim pensava, se ainda não mudou de paradigma, é porque efectivamente não é nada esperta.

    ResponderEliminar