domingo, 31 de março de 2013

Boa Páscoa

A todos os que vão passando por aqui desejo uma boa Páscoa. Por aqui o almoço está no forno e promete ser saboroso.

terça-feira, 26 de março de 2013

Para reflexão

Há uns anos a moda eram uns powerpoints cheios de imagens profundas de casas de campo e de crianças a brincar com animais, pomposamente decorados com frases profundíssimas sobre a amizade e a vida. Muitos foram os flagelados por estas lindas e virais declarações de amor/amizade/necessidade de reflexão. Também eu abri alguns destes powerpoints, principalmente no início da moda, quando ainda me deixava enganar. Depois, quando via que o email tinha anexo e percebia que o mesmo era um powerpoint, apagava-o e nem tinha problemas de consciência com isso. Recebi tanto email com «Amizade» escrito no assunto, enviada por gente que, fora essas mensagens ranhosas, não me ligava um caracol ao longo do ano... Por isso não passava cartão nenhum a estas coisas. Aliás, até ligava um bocadinho, já que achava aquelas coisas pseudoprofundas muito ridículas. E às vezes vinham de pessoas que eu até tinha como inteligentes e com muito mais de meia dúzia de neurónios funcionais.
 
Depois desta moda, vieram as fotografias com mensagens igualmente cheias de sentido publicadas nos murais do Facebook deste mundo. E é ver desde o mais totó ao mais sabido «citar» Carl Jung, Freud, Einstein, Pessoa, Shakespeare entre outras sumidades do pensamento europeu e do mundo. Uma coisa linda! Depois vêm os «gostos» às carradas. «Ao enxergar os defeitos dos que me são próximos, conheço-me melhor.», imaginemos como possibilidade de frase profunda publicada no fêbê. Gosto, gosto, gosto, gosto, gosto. A pessoa fica contente porque o «seu» pensamento profundo devidamente ilustrado tocou os outros habitantes da rede social. Yeeeeeeeey! E assim vai girando o mundo.
 
Camões nos bancos da escola? Não! Pessoa no décimo segundo ano? Um terror. Clássicos da literatura? Deus me livre e guarde disso. Livros que não incluam sombras e um gajo com nome de cor triste? Não gasto disso. Mas imagens com coelhinhos onde constem frases boas para uma pessoa meditar enquanto bate um bolo de iogurte, ai isso sim, isso gosto. Venham elas! Powerpoints enviados em cadeia com histórias tocantes, quantos mais melhor. Publicações no mural do Facebook que começam por «Às vezes» ou «A vida», gosto muito! Enfim, é isto. Detesto essas porras e a quem se lembrar de mas enviar, sirva esta quixotada de aviso para que tal não aconteça. Agradecida.
 
Notinha: Termino com o refrão de uma conhecida canção, cujo autor não cito porque aparecem-me cinco nomes diferentes e não sei de quem é realmente a letra, mas que copiei daqui. É isto que farei a quem me mandar powerpoints e coisas fofinhas. Apreciem lá:
 
«Eu vou-te deletar-te,
E excluir do meu orkut,
Eu vou-te bloquear no MSN,
Não me mandes mais,
Scraps, nem e-mails,
Power points,
Me exclui também,
E adiciona ele...»

domingo, 24 de março de 2013

Gabriela, Cravo e Canela: o balanço

Acabei há pouco de ler Gabriela, Cravo e Canela e ADOREI! Já não é de modo algum o primeiro livro que leio de Jorge Amado, creio que terá sido o quinto ou o sexto, mas foi um dos que de mais gostei. Aliás, continuo a afirmar o que há muitos meses disse neste mesmo blogue: a literatura brasileira é riquíssima e conta com verdadeiros génios, entre os quais incluo o inigualável Jorge Amado.
 
De tudo o que já li deste autor, Gabriela terá sido o livro que li com mais rapidez, sem o deixar pousado durante muito tempo. A história dos amores entre o árabe Nacid e a mulata Gabriela, mas principalmente toda a vida da cidade são elementos tão cativantes que transformam uma história numa companhia da qual não nos desligamos. É este romance, simultaneamente, uma ode à mulher e o relato cru de uma sociedade patriarcal na qual a mulher, ou melhor, a esposa era bibelô posto em sossego para que parisse e cuidasse da casa. Na rua existiriam as outras, as raparigas troféu de casa montada, reservadas para as vontades de homens endinheirados, totalmente votadas ao ostracismo e à solidão, ou, ainda, as mulheres-damas, pagas para satisfazer os desejos a que as esposas não podiam atender.
 
Ilhéus era cidade em desenvolvimento, onde já não imperava a lei do cangaço e dos jagunços, mas onde certas mentalidades permaneciam agarradas a hábitos enraizados que ditavam os nomes de família como leis inultrapassáveis. Mundinho e os que o apoiam, Malvina e a própria protagonista são, pois, boa parte do vento de mudança que do início ao fim do texto se movem no sentido de fazer valer a liberdade e a alteração das mentalidades: Mundinho Falcão pelo lado da política e do desenvolvimento, Malvina e Gabriela pela liberdade das mulheres e contra a sociedade que as empurrava inevitavelmente para os braços dos homens, cortando toda as outras possibilidades de vida que não passassem pela aliança no dedo e pelo baixar a cabeça em sinal de obediência.
 
O modo como o autor retratou a mulata que dá nome à obra transforma-a numa personagem como nunca tínhamos visto. Numa leitura mais rápida, Gabriela pode passar por mulher «oferecida» e com falta de dois ou três parafusos. Porém, o que me parece que Jorge Amado quis que Gabriela fosse é um espírito livre, um ser de vontade indomável, uma criança que, tendo de crescer prematuramente, nunca deixou de o ser e não compreende as exigências que aquela sociedade lhe faz e que envolve tantos grilhões (como seja a aliança no dedo ou o uso de sapatos em pés que se queriam descalços). Gabriela é, como disse João Fulgêncio, flor que, quando posta em jarra, murcha. Não encaixa nas regras de uma sociedade pensada e feita para homens. Gabriela é muito mais do que isso: é o cheiro de cravo e de canela que fica no ar por onde passa e que a todos endoidece. É flor rubra e perfumada sobre a orelha. Gabriela é dança, pele, alegria, prazer pelo prazer, é vida. É mulher que não se prende, mas que prende: até pelas páginas de um livro.
 

sábado, 23 de março de 2013

Vaca

Olá a todos. Apresento-vos a minha vaca favorita. Vaca, cumprimenta as pessoas.

Óscar Lopes

De vez em quando acordamos a ao passar os olhos pelas capas dos jornais fica-se a saber que o país ficou ainda mais pobre. Foi ao fazê-lo que soube da morte de Óscar Lopes, um dos maiores estudiosos da literatura portuguesa que Portugal já teve. Quem estudou em Letras, fosse na Clássica de Lisboa, no Porto, em Coimbra ou em qualquer outra universidade de qualidade, não fez certamente o curso sem que alguma vez se tenha cruzado com o nome deste homem de letras e de palavras. Era dele e do António José Saraiva a conhecidíssima e grande edição azul da História da Literatura Portuguesa pela qual ainda hoje nos guiamos. São dele tantos textos bons de crítica literária que, na biblioteca da Faculdade de Letras, quando começava a estudar um autor novo e precisava de bibliografia sobre ele, ia direita à prateleira onde sabia estarem os livros que recuperavam os textos deste crítico. Lá encontrava sempre qualquer coisa de grande ajuda.

Enfim, é uma morte que dirá pouco aos que não passaram anos de vida a ler literatura nos bancos da faculdade e a complementar as suas leituras com os textos críticos que rabiscávamos com canetas e marcadores de cores garridas antes dos testes. Mas para quem, como eu, passou tantos anos nesta vida e tem dela umas saudades imensas, esta perda é como se de um colega se tratasse. As nossas letras ficaram sem um dos seus maiores sábios. Por cá fica a obra que continuará a acompanhar para sempre os alunos de Letras.

Impõe-se o agradecimento: obrigada, professor Óscar Lopes.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Alô alô

Sim, ainda estou viva. A ver se amanhã venho a este blogue largar umas postas de pescada.

Durmam bem que eu cá estou a cair para o lado. Já não tenho vinte anos.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Será?

Reparei há uns dias que num anúncio do Continente participa a menina que, na manifestação de 15 de Setembro, abraçou um polícia e ficou famosa. Se não é ela é alguém muuuuuito parecido. Se for ela, passamos a perceber para que servem as manifestações para o Belmirito.

terça-feira, 19 de março de 2013

A coisa mais engraçada que já vi

Deixo-vos aqui um sketch dos Monty Python que me fez borrar o rímel todo de tanto que chorei pelo muito que me ri. É maravilhoso e recorda-me uma relação laboral que cá sei... Ora vejam lá se não é maravilhoso.

Os cavalos

A minha sina é ter cavalos a morar no andar de cima. Juro: ali não vive uma família de seres humanos, mas sim uma pequena sociedade de gente com patas a mais e cascos. Muitos cascos. Só isso explica toda a barulheira que vem de cima, as cavalgadas que fazem abanar o meu tecto e o candeeiro, mais as galopadas pela escada abaixo a cada meia hora, como se o mundo fosse acabar e dependesse da velocidade e ímpeto dos seus cascos. Tem sido uma experiência e pêras viver por baixo de gente que teria melhor lugar num picadeiro, de gente que se deita cedo de sábado para domingo, mas que faz sempre uma valente algazarra na madrugada de domingo para segunda. É lindo.
 
De cima vêm uivos, berros, insultos, asneiras, ameaças, cantorias, correrias, latidos, tudo! Já ouvi esta gente maltratar-se de maneiras que acho difícil alguém em Castelo de Neiva não ter ouvido, dada a dimensão que a pega assumiu. Já quase se mataram, mas com os meus equídeos vizinhos de cima tudo se resolve com uma ida à bica "para acalmar". De pochete encavada no sovaco, aí vai a matriarca, raquítica como só ela, mas com a voz mais potente que se possa imaginar. Geralmente os filhos acompanham-na, principalmente a menina de uns seis, sete anitos que vai com a mãe para o café... depois das dez da noite. É uma coisa linda.
 
Ouvi dizer que estão de saída. O problema é que ouvi isto em Janeiro e, a brincar a brincar, já passámos os meados de Março e nada de lhes enxergar as malas à porta. Não vejo a hora de ter todos estes cascos pelas costas, que estou fartinha de querer dormir e de não poder porque resolvem rir, madrugada dentro, como se tivessem apenas um quarto do cérebro e três ratos cegos no lugar da restante massa encefálica. Ah, se ouço estes cascos a afastarem-se de vez, até digo que é mentira...

Pergunto-me...

Belmirinho, filho, se é isso o que tens para dizer no «Clube dos Pensadores», pergunto-me o que diria nos clube dos que não pensam nadinha...

domingo, 17 de março de 2013

Monty Python

 
 
Encontrei estes conjuntos de dvd's dos Monty Python na Fnac, a propósito do Dia do Pai. O meu pai não vai ver isto, que não é bem o género dele, por isso a prenda que lhe calhará será outra, mas eu vejo. Tanto vejo que vi A Vida de Brian e alguns episódios de Flying Circus durante o fim-de-semana. Ri que me fartei. É humor antigo, mas não passou do prazo. Tem graça hoje e tinha graça quando foi feito. Os nossos melhores humoristas foram lá beber muitas coisas. É impossível ver alguns sketches sem recordar outros tantos dos Gato Fedorento em tempos de Sic Radical. Para quem gosta vale a pena. É coisa para se guardar uma vida inteira e à qual vale a pena regressar de tempos a tempos.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Encontrei!


É em espanhol, mas encontrei. Gosto desta editora: faz livros impecáveis, com boas introduções e muitas notas explicativas. Gostava de ter a edição portuguesa da Cavalo de Ferro, mas está esgotada na editora e não me parece que tão cedo deixe de estar. Assim, quando vi esta aproveitei logo, não fosse passar mais uns anos sem ser a feliz possuidora de uma Rayuela. É um livro muito maluco, mas sobretudo, e pelo que sei, é um exercício de escrita fenomenal. Saber escrever é um dom, mas saber fazê-lo ao ponto de se brincar com as «regras» da literatura e fazendo dela um jogo é muito mais do que isso. Parece-me que Cortázar fê-lo aqui. Estou bastante curiosa...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Gabriela

Ontem, enquanto os vizinhos se entregavam a mais um dos seus serões de berreiros e maus fígados, comecei a ler o romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado. Não vi a novela porque queria ler o livro (e porque não me apetecia deitar-me tarde só por causa daquilo quando no dia seguinte tinha de madrugar). Ainda não li muitas páginas, mas já li algumas outras obras de Jorge Amado e gosto bastante do que ele escreve. É um autor bem-disposto, criador de personagens únicas e inesquecíveis (recorde-se a boa da Tieta ou a Dona Flor...), capaz de manobrar a língua portuguesa e de misturá-la com termos próprios da sua realidade baiana. É um escritor de que gosto bastante e ao qual sinto necessidade de voltar de tempos a tempos. Jorge Amado tem o dom de deixar as pessoas alegres e, nos dias de hoje, é mesmo isso o que se quer.

terça-feira, 12 de março de 2013

Conselho

Para quem quer ler um livro bom e não sabe o que deve escolher, o romance As Boas Intenções, de Max Aub, é estupidamente bom. Acabei-o há pouco e, caramba, que livro! Tem de tudo: desde a diversão causada por uma série de disparares feitos sempre com a melhor das intenções, até às consequências dessas boas acções (nada divertidas). O final deixa um frio no estômago, muito diferente da gargalhada que o início provoca. Pequenos enganos geram enormes emaranhados de confusões que não se desatam nem numa vida inteira (ou em metade dela, o que pode ser o mesmo que a vida toda...). No final riem os que agiram mal, pelo que terminamos a perguntar onde levam as boas intenções? Até que ponto poupar alguém a um desgosto que não fomos nós a causar pode ser a melhor opção? Quantos fardos de outros podemos carregar nas nossas costas? Por que motivo deve a nossa consciência chegar onde a de outros não toca?...
 
É, portanto, um livro fantástico que se lê num instante. É da Ulisseia e custa vinte e um euros. A Feira do Livro está quase aí: aproveitem que vale a pena!
 
 

Poluição abençoada

Aí está o Vaticano a contribuir à grande e à francesa para o aumento desregrado do buraco na camada do ozono... Tanto fumo, credo!

domingo, 10 de março de 2013

É um livro

Folheei este livro na Fnac (bem, na realidade li-o todo...) e achei muita graça. Temos um macaco que gosta de livros e um burro dado às tecnologias. Este último vê o primeiro a ler e fica curioso sobre o objecto que o macaco tem nas mãos. E por isso vai colocando questões às quais o pobre macaco leitor vai respondendo até se impacientar. O burro só conhece computadores e coisas afins, por isso tem imensas questões para colocar. Até que acaba por perceber, e muito bem, o que é um livro e para o que serve. Para quem quer dar um livro giro a uma criança e não sabe qual escolher, este é uma boa opção.

O luxo

Há pouco ouvi na televisão um senhor dizer que este Governo está a matar a cultura já que as pessoas não têm dinheiro para nada, quanto mais para comprar livros. E é tão verdade que dói. Quando os trocos estão contados para a renda, para a água, para a luz, para tudo, como se poderá pensar em dar vinte ou trinta euros por livros? Passam a ser um luxo para o qual não há disponibilidade e todos sabemos que isto está errado. Os livros fazem falta, assim como o teatro, o cinema, a música, os museus, em suma, a cultura. Podemos fazer o esforço de passar sem tudo isto, mas seremos incomparavelmente mais vazios, mais tristes e mais fracos. É muito triste que se trabalhe unicamente para as necessidades básicas e que, infelizmente, a cultura, não seja vista como tal. Podemos passar sem ler, mas não podemos passar sem comer e, portanto, nesta batalha previamente ganha, os vencidos são sempre os livros que ficam nas prateleiras das livrarias. Os escritores e as editoras não ganham, mas os leitores também não. Deve ser muito triste a sensação de que se gostava de ler isto ou aquilo mas de que esses euros que o livro custa fazem falta para se chegar até ao final do mês. Irrita ver isto acontecer e saber que os portugueses, pelo menos os que sentem a falta da cultura e, concretamente, dos livros, estão a ser obrigados a privar-se de alguma coisa que não é um luxo: é uma necessidade. Por causa da crise, ainda corremos o risco de ficar com esponjas no lugar de cérebros. E os idiotas esponjosos que nos governam não se ralam. Pudera: sempre foi mais fácil governar asnos. Onde é que já assistimos a isto?...

quarta-feira, 6 de março de 2013

A infoexcluída feliz

Considero-me uma enorme cabeça de burro no que diz respeito à tecnologia. Só comecei a mexer em computadores depois dos dezoito anos e ainda hoje sei fazer o básico sem me aventurar muito.

Quando resolvi comprar um iPad, pensei que havia de ser lindo: se já não me entendia particularmente bem com computadores, não seria com este novo brinquedo que me iria entender. Por outro lado, também pensei que não podia ser assim tão estúpida. Tendo computador, perguntei-me para o que me serviria efectivamente o iPad e a conclusão a que cheguei foi que me permitiria carregar menos peso e poder aceder, por exemplo, ao email mais facilmente. Não sabia muito bem se estes objectivos compensariam o preço, mas agora já sei dizer.

Eu, infoexcluída-assumida, confirmo que isto dos iPads tem muita graça e dá muito jeito. E digo-vos isto precisamente hoje porque, pela segunda vez, deixei de comprar a revista LER em papel para comprá-la na versão ebook. Com a última, a de Fevereiro, já havia feito o mesmo e li a revista de uma ponta a outra sem o menor aborrecimento. O preço é o mesmo e o download é imediato. Um conforto! Mais: com o iPad tenho tudo à mão rapidamente, sem tempo de espera para ligar (coisa que sucede com o computador).

Obviamente, o computador continua a ser precioso para muitas coisas, tais como preparar materiais para as aulas ou escrever textos longos. Porém, o iPad desenrasca-nos que é uma maravilha. Até agora ainda não senti que me desse cabo dos olhos e tenho lido bastante nele. Também vi alguns episódios do "Conta-me História", da RTP, bem refasteladinha na cama e tenho adorado. Já fiz encomendas utilizando o iPad, já descobri ibooks bem jeitosos na Apple Store... Enfim, tem valido o investimento. Continuo infoexcluída, mas com o iPad debaixo do braço até parece que percebo muito disto.

terça-feira, 5 de março de 2013

Só isso

Hoje venho de coração partido. É muito triste quando um menino pode ter tudo, menos a atenção dos pais que passam a vida envolvidos em mil e uma coisas, deixando para trás a que mais lhes devia importar. Há quem acredite que isso não faz mal, que faz com que os miúdos cresçam com mais autonomia. Não é verdade: o que acontece é que crescem mais tristes. É só isso.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Poriço

Hoje, ao ver o caderno de um aluno, verifiquei que, em vez de escrever «por isso», escreveu «poriço». Perante tal enormidade, benzi-me.

What goes around...

A quantidade de patrões que se anda a aproveitar da crise para fazer o que quer dos trabalhadores é absolutamente assustadora. Sabem que há pouco trabalho e que quem tem um fará tudo para o manter e, assim, por serem mal formados, idiotas, pequenos tiranos com um neurónio só, tratam mal os funcionários, agem como querem, decidem disto e daquilo porque sim e sem justificação lógica. São gente que não merece o chão que pisa, o ar que respira e o respeito dos outros. São gente de merda que, para mim, não tem qualquer valor e a quem eu espero que a vida dê em triplo o mau tratamento que dão aos outros. Gostava de ver os castelos desta gente ruirem, mas gostava ainda mais de ver os muitos bons profissionais que hoje estão nas mãos desses déspotas ranhosos terem a sorte de encontrar lugares onde lhes dêem valor e onde valha a pena estar. Mete-me nojo que se brinque com o desespero das pessoas; agonia-me que exista quem, por se saber em vantagem financeira, se sirva disso para manipular quem quer e para pôr quem lhes apetece a fazer o impensável. Tenho nos últimos tempos visto muito disto. Espero, muito sinceramente, que a vida dê duas lambadas a esses idiotas e que acabe por levar os outros a olharem-nos de cima, com o desprezo que fizeram por merecer.

domingo, 3 de março de 2013

Ontem

Ontem li O Escritor-Fantasma, de Zoran Zivkovic, de uma ponta à outra. O livro lê-se rapidamente, até porque a história nos envolve de tal forma que queremos mesmo ver como é que a personagem principal vai sair daquele novelo em que está metido. No fundo, o romance consiste numa manhã em que o escritor troca emails com quatro amigos/conhecidos e com um admirador secreto que lhe faz uma proposta. No fim de contas, e com o avançar das conversas, vemos que todos querem que ele faça alguma coisa e, curiosamente, são sempre coisas com as quais se sente pouco à vontade. Colocado entre a espada e a parede, tem de, por fim, adivinhar quem é o seu admirador. Nesta altura já o leitor tem uma leve desconfiança de quem possa ser (convenhamos que já lemos muitos livros: já não somos muito fáceis de enganar e há coisas que sabemos que, a acontecerem, transformam um bom livro num mau livro em um instantinho e, portanto, são logo descartadas). Ainda assim, não deixamos de nos sentir tolinhos pela armadilha em que caímos durante quase todo o livro.
 
No final desta edição da Cavalo de Ferro, vem ainda uma pequena análise deste romance. Explica alguns aspectos que desconhecemos porque não lemos toda a obra do autor e, curiosamente, este livro faz muitas referências a outros textos de Zoran Zivkovic. Porém, quem não os leu, não percebe essas referências, embora goste deste O Escritor-Fantasma na mesma.
 
É, portanto, um belo livro para passar uma tarde. Quanto mais não seja pelo gato que dele faz parte e que tem grande importância na história. O modo como é descrito faz dele uma personagem tão real (ou mais ainda) quanto a do escritor. Curiosamente, muito gira em torno do nome dele. Bem, não digo mais. Leiam que vão gostar.


Depois deste, comecei um outro livro que já berrava por mim da prateleira há muito tempo.


Nota: A imagem da capa de O Escritor-Fantasma saiu da página da Wook. A de As Boas Intenções saiu daqui.

A culpa é deles

Juro, minha gente: a culpa é deles. Deles, dos livros. Eles é que vêm ter comigo. A sério! Querem ver como? Vão dar-me razão.
 
Hoje queria porque queria um café moka branco do Starbucks. Lá fomos até Belém e finalmente tinha na mão o copo quentinho cheio de uma bebida hipercalórica que, provavelmente, me vai deixar sem dormir até quarta-feira. Sabia que era dia de feira de antiguidades naquela zona e, bem, mais um livro de dois euros e meio, menos um livro de dois euros e meio, também ninguém morria. Lá vamos, então, dar uma voltinha pelo sítio. Somos clientes tão habituais do senhor que por lá pára no primeiro domingo do mês que ele até já nos cumprimenta e oferece uns livritos. Bem, volta à banca, volta número dois à banca, volta número três à banca e eis que de um livro já tinha passado a sete. Espectáculo: eu merecia um prémio. Mas perante os cinco volumes de Jean Christophe, de Romain Rolland, a dois euros e meio cada um, uma pessoa não é de ferro. O senhor da banca ainda me deixou trazer mais um sem pagar mais. Maravilha.
 
Entretanto, precisava de comprar pão (só para verem a inocência da coisa e a dimensão da minha falta de culpa) e como o Continente ficava no caminho para casa, parámos lá para isso. Ora, num dos espaços que precedem o hipermercado em si estava uma pequena feira do livro que os anunciava a um euro. Acho que até praguejei. No entanto, mantive a esperança de que fosse uma daquelas feiras de livros manhosos que ninguém conhece, de editoras malucas que só vendem dessa maneira. O moço encolheu os ombros e lá fomos.
 
Livros manhosos... Uma feira da Leya! Livros de várias editoras, incluindo muitos da Leya a preços baixíssimos. Os livros mais perto da entrada eram mauzitos. Mas em cima de uma bancada... Santo Deus! Livros bem bons, em excelente estado e a preços bem apetecíveis. Excomunguei o mundo, mas principalmente a minha inexistente capacidade de resistência. Concluí, depois, que já não sou só eu que vou ter com os livros: ELES também já vêm descaradamente ter comigo (eu só ia comprar pão, lembram-se?). Isto porque há um livro de crítica literária que namoro há meses. Acabo sempre por decidir não o trazer comigo, ainda que custe menos de cinco euros. No outro dia vinha de oferta na Wook com outro livro que eu também queria. Mesmo aí resisti. Já agarrei nele tantas vezes que até a mim já me enervava este «chove e não molha». Ora hoje, sem esperar, lá estava ele outra vez, a menos de cinco euros e desta vez pensei «Possa, o universo deve querer que eu leia isto. Venha ele, então.». Comprei-o, finalmente.
 
Agarradinho a esse veio a História da Destruição dos Livros, também a preço de amigo. Bom, um de crítica e um livro que conta as maiores atrocidades feitas aos livros ao longo da História. Muito bem: é muita erudição.
 
Errado. Há uns anos li uma coisa chamada Cordeiro: o evangelho segundo Biff e ri-me tanto, mas tanto que decidi ler outras coisas do mesmo autor (Christopher Moore). Já li O Anjo Mais Estúpido, tenho outros dois em lista de espera. E hoje, a três euros e meio, encontrei mais um dele. E pronto: outro para o cestinho. Sim, eu também leio coisas destas, não leio só clássicos.  
 
 
 
 

sábado, 2 de março de 2013

A pechincha do dia foi...

...este Carlota Joaquina. Estou curiosíssima.

Somerset Maugham

Gosto da escrita deste senhor, que escreveu que se fartou, mas não é fácil encontrar os livros dele. Há três títulos que as livrarias até vão tendo, porém os restantes só mesmo assim: usados. Hoje consegui mais três livros dele na Feira da Ladra. Custaram-me pouco mais de três euros. Tanto três!

Um Homem de Partes

Do Continente veio este, com desconto, claro.



sexta-feira, 1 de março de 2013

A aversão

Tenho um aluno do segundo ciclo que tem uma aversão tão grande à minha disciplina que até já chora na hora de ir para as aulas. Hoje teve de ser levado por um braço pela directora de turma até à sala de aula. Chegado lá, deitou a cabeça em cima da mesa, enquanto chorava e resmungava "Eu não gosto disto!" 

Aquele miúdo tem problemas muito maiores do que o Português. Passou já, por exemplo, por uma situação que nem posso imaginar como tenha sido. É um miúdo que precisa tanto de ajuda que nem sei medir quanta falta lhe faz. Não é disléxico, nem tem nada que faça com que o Português seja um bicho de sete cabeças. Mas não está bem. No outro dia completou uma frase de um exercício do manual com um "vamos morrer todos juntos". Aparentemente já está a ser seguido por um psicólogo. Aparentemente também, isso já não chega.