Adorei este cartoon de Alberto Montt. E porquê? Porque ilustra bem o engodo que os livros de auto-ajuda são.
Já aqui falei dessas preciosidades, escritas por gente supostamente muito dotada para a vida, já que se acha em boa posição para ensinar os outros a viver da melhor forma. Infelizmente, estes são textos que parecem estar na moda e que, pelo menos aparentemente, satisfazem algumas cabeças fáceis de contentar. Não consigo compreender em que é que o arrazoado de uma tipa sobre os caminhos para encontrar a felicidade (?) possa fazer alguém feliz, a não ser a própria que, pouco ou muito, factura com os direitos de autor. Também nunca percebi em que é que a história de uma moça que larga a vidinha boa que tinha para encetar três viagens (uma para encher a mula, outra para rezar e outra para dar umas pinocadas) ensina o que quer que seja a alguém. Ou melhor: em que é que a experiência profundíssima da dita senhora ilumina mais as nossas reles existências do que a leitura de um livro a sério, como Os Miseráveis ou o David Copperfield (já não falando do Quixote, para não dizerem que bato sempre na mesma tecla). A sério que é coisa que me custa a assimilar. Como é que alguém se lembra de meia dúzia de ideias que, alegadamente, podem melhorar a nossa vida e vai logo uma multidão que nunca entra em livrarias a correr para comprar o canhenho como se dali viesse a receita para fazer ouro a partir de peúgas sujas. Aliás, eu adoro mesmo é quando os autores prometem melhorar a nossa vida espiritual e as editoras pespegam essa convicção na capa do livrinho. Depois vão a entrevistas e muita gente acena a cabeça em jeito de concordância com todas as máximas que o autor tem para partilhar: «Eh pá, ele tem razão no que diz: se eu virar o sofá da sala em direcção ao poente, a minha vida espiritual melhorará significativamente!», ou «Nunca tinha pensado que o facto de trocar o canário por dois periquitos pudesse aliviar a minha vida espiritual.», ou ainda, «Soubesse eu que era o meu marido quem prejudicava a minha vida espiritual e já teria travado conhecimento com o "piqueno" que entrega a publicidade há mais tempo!». Pois sim, e como é que eles sabem? A vida espiritual pôs um «gosto» no Facebook após a mudança de posição do sofá? Viram-na a judiar o canário e a pedinchar um par de periquitos? Aperceberam-se de a vida espiritual andar a fazer olhinhos ao menino da publicidade? Não me parece...
O livro mais vendido no ano de 2011 conta a história de um miúdo minúsculo que durante uma operação ao apêndice foi ao céu, viu lá o que tinha a ver e voltou para contar ao pai. Ora este, sabendo que o pessoal adora uma boa fofoca, ainda para mais se for entre gente importante, transforma aquilo num livro que narra o que o filho viu no céu. As pessoas correm a comprar e, puf, passa a livro mais vendido do ano. E eu pergunto: para além de terem satisfeito a curiosidade que vos roía por não saberem o que um garoto enxarcado em anestesia vê quando está no bloco operatório, o que é que aprenderam mais? É que eu, por exemplo, em tempos de varicela, engolia um Atarax e um Doluron Forte ao mesmo tempo, acabava a falar com o Coelho da Páscoa e com a Sininho e isso nunca me ensinou grande coisa. Nem nunca me deu para escrever um livro sobre tais diálogos. Nem fiquei com qualquer impressão de que aquilo mudaria a vida de alguém. Mas se acharem que faz falta ao mercado dos livros de auto-ajuda o livro de uma tipa que junta dois medicamentos que deixam uma pessoa para lá de adormecida e que acaba a babar-se e a conversar com o pequeno Kalimero e um ou outro Estrumpfe, não seja por isso. Arranja-se já! Da maneira que as coisas andam, ainda alguém surgirá num programa da manhã lavado em lágrimas, afirmando que as sábias palavras trocadas entre o Estrumpfe Moralista e a miúda chalada lhe mudaram a vida. A espiritual, claro, que a outra só muda mesmo com o Euromilhões.
Não podia concordar mais... Digo apenas isto, que é para não começar a invectivar todos os livros de auto-ajuda que me passam pela frente.
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