segunda-feira, 30 de março de 2015

85.ª Feira do Livro de Lisboa


Aleluia! Chegou a altura em que os tarados por livros como eu podem começar a riscar os dias no calendário, pois já existem datas para a Feira do Livro de Lisboa deste ano! A partir de 28 de Maio e até 14 de Junho, poderemos fazer o gosto ao vício e o mal à carteira, já que muitos e muitos livros estarão à nossa espera. 

A Feira pode nem sempre ter as melhores pechinchas, aliás, por vezes é mesmo precisa uma lupa para encontrar livros bons e baratos, mas aquele ambiente, aquela festa do livro não se vive noutro lugar. Esperemos até Maio, então, e comecemos a rabiscar as listas de desejos...

terça-feira, 24 de março de 2015

Ó Santo Antoninho, ajuda aqui, por favor!

Se o Santo António for mesmo o responsável por encontrar coisas perdidas, então preciso urgentemente de arranjar uma imagem dele para ter cá em casa. É que desde que me mudei que passo a vida à procura de papéis perdidos. Se antes sabia sempre onde parava tudo, agora nunca sei de nada porque, em boa verdade, na altura da mudança valeu tudo menos arrancar olhos. Chegavam as caixas e os sacos e era um despachar de tralha para aqui e para ali como se nunca mais fosse precisar verdadeiramente daquelas coisas.

Mas precisei. Em Fevereiro do ano passado desesperei à procura de um papel com a marcação de uma consulta. Virei tudo do avesso e nada. Bom, apareceu hoje enquanto eu me dedicava a procurar mais um papel perdido, desta vez um mais importante. E melhor: apareceu numa caixa de madeira que tenho em cima de uma cómoda. Era para aí o lugar mais óbvio de todos... 

Relativamente ao papel que procurava hoje, nada. Sei muito bem qual o aspecto dele e sempre achei que sabia perfeitamente onde estava. Esqueci-me foi de contar com o facto de que sou um calhau que, no fim de contas, perde o norte a tudo o que seja papel. E porquê? Porque a minha vida é papel e papel e mais papel e vivo assoberbada sob uma infindável pilha de papéis. Ora são declarações disto e daquilo, ora papéis relacionados com a minha profissão, ora são os milhentos papéis e papelitos que as editoras (e não só) me fazem chegar. É tanta tralha que apetece fugir. E quando não preciso de nada em particular, tudo me aparece, todavia se precisar... Ou recorro ao Santo António e ele dá uma ajuda ou não sei. 

Portanto agora é isto: há uma ranhosa de uma carta que recebi há uns dois anos que tem de aparecer e não aparece. Estou bem arranjada! Ó Santo Antoninho, dá aqui uma ajuda que isto sem um empurrãozinho divino não vai lá.

domingo, 22 de março de 2015

Tom Sawyer do século XXI

Eis uma coisa de que me lembrei ao ler o seguinte excerto de As Aventuras de Tom Sawyer, que comecei ontem:

"Ao fim de uma hora tinha apenas uma vaga ideia geral da lição porque o seu espírito atravessava todo o campo do pensamento humano, enquanto brincava com as mãos. Mary pegou no livro para o ouvir recitar e Tom tentou desembrulhar aquela meada.
- Bem-aventurados os... os... os...
- Pobres.
- Sim pobres. Bem-aventurados os pobres... hum... hum...
- De espírito.
- De espírito. Bem-aventurados os pobres de espírito porque eles... eles...
- Se...
- Porque eles se...
- Se...
- Porque eles se... Não sei, não sei o que é.
- Serão!
- Sim, serão! Porque eles serão... porque eles serão... Bem-aventurados aqueles que serão... aqueles que... aqueles que choram porque eles serão... Serão o quê? Por que não me dizes, Mary? Por que hás de ser assim má?
- Oh, Tom, meu cabeçudo, não é para te arreliar. Não seria capaz de o fazer. Tens de ir estudar isto outra vez e não percas a coragem. Hás-de conseguir, verás, e se assim for, dou-te uma coisa bonita. Vamos, sê bom rapaz!"

Bom, aquilo de que me lembrei é que hoje esta cena não seria possível. Tom seria diagnosticado com hiperactividade e défice de atenção, passando rapidamente a tomar o famoso medicamento começado com "R" e receitado a qualquer Tom Sawyer desta vida. A seguir os testes dele passariam a ser adaptados e em vez de decorar a lição, apenas teria de responder a uma escolha múltipla sobre o tema.

Sinais dos tempos...

sábado, 21 de março de 2015

Gatos, revoltem-se!

 
Comprei a Sábado desta semana por causa da capa. Sendo a feliz proprietária de um gato alucinado, mas tendo-me considerado uma «dog person» durante vinte e oito anos da minha existência, fiquei curiosa por saber o que era, afinal, melhor para mim (como diz na capa). E tirando os interessantes testemunhos de pessoas que partilham as vidas com muitos gatos e cães que as fazem felizes, terminei a leitura com a sensação de que quem escreveu este texto não tem muita noção do que é ter um gato.
 
Na página quarenta e quatro da revista, aparece uma tabela que sintetiza as características de gatos e cães no sentido de o leitor perceber qual é, afinal, o melhor para si. Na parte dos cães é dito «Têm necessidade de afecto: precisam do contacto com as pessoas.». E na parte dos gatos diz «Não precisam de atenção: dispensam cuidado constante, são independentes e selectivos.». Bom, até consigo perceber a ideia de não precisarem de cuidados tão constantes quanto os cães, até porque não costumamos precisar de levar os gatos a passear e, só por aí, verifica-se boa parte da tal independência de que se fala. Agora, nunca na minha vida concordarei com a expressão «Não precisam de atenção» aplicada aos gatos. Precisam sim e se for para não a terem, mais vale que não se arranje gato nenhum.
 
Já percebi que o Sr. Gato desobedece ao protótipo do gato independente, que passa horas e horas do dia a dormir e que não liga nenhuma aos donos. Se o contrário de tudo o que disse for um cão, então o meu gato é, na realidade, um canídeo. Mas se acredito que muitos gatos passam de facto o dia a dormir, a verdade é que mais tarde ou mais cedo aparecerão junto dos donos porque precisarão de atenção. Pensar que os gatos, por serem mais independentes, não precisam que paremos para lhes prestar os devidos miminhos e cuidados é errado. No meu caso, nunca pensei que um gato pudesse ser tão dependente quanto o meu é. Se não lhe der atenção (a acreditar no «Não precisam de atenção»), ele far-me-á perceber que estou em falta e nem que seja a partir-me metade da casa, mostrará que não está satisfeito. Hoje, ainda antes das dez e meia da manhã, o Sr. Gato já tinha ido para cima de mim três vezes para pedir festas e ronronar enquanto as recebia. Ele vem receber-nos à porta de casa todos os dias e ontem, enquanto trabalhava no computador, veio ter comigo com um ratinho de brincar e deixou-o cair aos meus pés para que eu o atirasse e ele fosse a correr buscá-lo (como os cães costumam fazer). Eu atirava-o, ele ia buscá-lo e voltava a trazer-mo. Se me atrasasse a atirá-lo, ele vinha para ao pé da minha cadeira e miava até eu continuar a brincadeira. Portanto: sim, os gatos precisam de atenção. Uns mais do que outros, mas precisam e merecem tanta atenção quanto os cães. Podem precisar de cuidados diferentes, mas precisam de nós na mesma, precisam que lhes demos aquilo de que necessitam para viverem bem e felizes.
 
Agora, relativamente ao tema da reportagem, se pedissem o meu testemunho eu diria que a vida sem animais de estimação não tem gracinha nenhuma e que não compreendo as pessoas que se recusam a ter animais de companhia nas suas casas. O que fazem por nós e o que nos dão é tanto que a vida só pode sair enriquecida pela presença de um gato ou de um cão. Podemos passar horas de vida a mudar a areia, a pôr água e comida aos bichos ou a escová-los; podemos gastar uma parte do orçamento em ração, desparasitantes, idas ao veterinário ou em brinquedos, mas isso acaba por ser pouco perante a companhia e a amizade destes peludos. E segundo os testemunhos de alguns médicos, em crianças, a convivência com gatos ou cães até tem a capacidade de reduzir as alergias devido ao facto de constantemente estarem em contacto com os elementos que podem causá-las. Criam, assim, resistências a esse problema de saúde. Enfim, no meu caso, e mesmo tento o gato mais sedento de atenção que deve existir no planeta (e que hoje me acordou às três e meia da manhã a pedir comida e depois às sete a pedir festas), admito que adoro este bichano e que aguardo ansiosamente a chegada de um companheiro para ele por duas razões: porque melhor do que um gato só mesmo dois e porque eles precisam mesmo de atenção e a nossa vida não está feita para lha darmos vinte e quatro horas por dia. Assim, terá um amiguito igual a si para brincar. E desfazer-me a casa toda.

domingo, 15 de março de 2015

Paddington

Isto mal aparece um filme, aparecem logo os livros que com ele se relacionam. Por isso já nem estranhei encontrar ontem à venda os livros que contam a história do ursinho Paddington: é que o filme não tarda está nos cinemas e é uma excelente oportunidade para levar as pessoas a ler e a conhecerem as aventuras em que se mete este doce e tosco ursinho que veio do Peru. Trouxe comigo os dois volume e até tenho pena de só agora os ter, já que este peludo faz parte das minhas memórias de infância (como o Pooh e o Rupert, lembram-se do Rupert?).
 
Portanto, se o filme servir para divulgar este clássico infantil, tanto melhor.  É importante que as boas histórias não desapareçam, nem das prateleiras nem das memórias colectivas. O Paddington faz falta e felizmente o cinema fá-lo-á renascer e estar na moda durante uns tempos. Posso nem vir a ver o filme, mas este já cumpriu a sua missão para comigo: lerei os livros com todo o gosto.

 

Nota: As imagens das capas saíram da página da Wook.
 

Tentação

Bom, eu ia comprar uma prenda para a minha mãe, juro que ia! E até comprei uma mala bem gira e que era mesmo o que ela queria. Mas antes passei na Oysho e não resisti... Que posso eu fazer perante estas coisinhas mais lindas? Nada: é puxar o cartão e pagar. Aliás, a Oysho está a tornar-se cada vez mais numa tentação a que é muito difícil resistir.

Nota: A fotografia saiu daqui, da página da própria marca.

Dois contra quarenta

Quando arranjei o Sr. Gato, sabendo que o bicho ia ser bastante peludo, comprei logo uma escova para tentar habituá-lo a gostar de ser escovado com regularidade. Bom, ele gostar até gostava, o problema é que a escova nem para pentear o cabelo de um bebé serviria. Resultado: penteava, penteava, mas não saía pelo morto nenhum e não evitava propriamente os nós.
 
Falei nesta questão à veterinária e, claro, lá veio ela com a última coca-cola do deserto: o Furminator. Aquela espécie de pente dos tempos modernos retiraria quantidades industriais de pelo morto que assim evitariam acabar pelo chão cá de casa. Os novelos conseguidos através de umas passagens com aquela coisa são admiráveis. Mas aquela coisa custou mais de quarenta euros e o Sr. Gato sempre odiou (e mostra-o com todos os dentes que tem) ser escovado com aquilo. Mas pior: não evita os nós e, depois de existirem, não os tira.
 
Ontem, já farta de nós no pelo do bicho, principalmente depois de sentir que tinha gasto uma fortuna no Furminator que, sendo bom, não resolve os meu problemas, entrei na loja do chinês para comprar saquinhos pequeninos para as cacas do bicho. Ao lado estavam umas escovas para animais. A particularidade da escova em questão é que tem duas faces: uma de cerdas macias (como as da primeira escova que comprei ao Sr. Gato ainda ele era um bebé) e uma de cerdas de metal que acabam com uma bolinha na ponta (iguais, diga-se, à escova que eu própria uso). Custou dois módicos euros e, admito, não fazia fé nenhuma naquilo.
 
Já percebi que com gatos a coisa funciona assim: se achamos que vão gostar de alguma coisa, eles não gostam; se achamos que vão odiá-la, adoram-na. É assim e não há volta a dar. Portanto, não tinha grande esperança de que a nova escova caísse nas boas graças do Sr. Gato. Todavia, ao passar-lha pela primeira vez comecei a ouvir um ligeiro ronronar... Um tímido ronron que mostrava o poder de dois euros contra mais de quarenta. A parte das cerdas de metal entra bem no pelo e já quase dei cabo dos nós todos que o desgraçado tinha. Parece que tenho outro gato agora, de tão penteadinho que está.
 
E o Furminator? Bom, esse cá fica para as alturas de mudança de pelo (deve estar para começar) e para quando me apetecer ganhar novas marcas de dentadas nos braços. Na verdade nunca me apetece muito, mas enfim...

terça-feira, 10 de março de 2015

Pausa gripal

Ando meio desaparecida. É que pensava que havia escapado da gripe neste Inverno, mas mal veio um dia quente e, com um pouco mais de sol na moleirinha, pumba: caí enferma. Ora, como o trabalho não pode parar, tenho de gerir a gripe e o trabalho o que às vezes me deixa à beira de um ataque de nervos. Mas, enfim, alguma coisa vai ficando para trás e acabam por ser os blogues. Ao Moinho de Vento - Livros Usados até tenho ido, mas ao Quixotadas... Quando acordo tenho mil ideias para escrever, mas ao longo do dia vou ficando tão cansada que à noite, ainda antes das dez (de preferência) enfio-me na cama e rezo para que a noite pareça longa, tão longa como parecem os dias.  

Enfim, quando a gripe passar e quando os meninos entrarem em férias, voltarei certamente com mais tempo e mais ânimo. É que parecendo que não, as quixotadas já fazem parte da minha vida e não se podem deixar matar por uma reles gripe. 

domingo, 8 de março de 2015

Epifania doméstica

Acho que percebi por que motivo se insiste tanto para que as crianças façam puzzles e atividades parecidas. É que uns anos mais tarde, essa capacidade de encaixar todas vai ser fundamental para colocar a louça na maquina de lavar.

sábado, 7 de março de 2015

Estudar Português? Para quê?!

Quando me lembro de que eu e as minhas colegas recebíamos reacções de espanto de cada vez que dizíamos que estudávamos Português na Universidade, não deixo de achar alguma graça. É que depois acabo por ver escrito por alguém "deszencachou", em vez de "desencaixou"...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Joseph Anton: o balanço e as consequências

Ler as memórias de Salman Rushdie (ou melhor, do tempo em que viveu escondido e sob o nome "Joseph Anton") foi uma experiência daquelas... A sensação de claustrofobia que fica daqueles anos em que viveu escondido e tendo sobre ele a ameaça da fatwa iraniana é avassaladora. Há muitas coisas naquele livro de que não gostei, contudo não deixa de ser um testemunho impressionante de alguém que amargou muito pela liberdade de expressão e, particularmente, pela liberdade de expressão na literatura. Também é revoltante a forma como primeiramente se permitiu que tudo acontecesse e como muitos (inclusivamente escritores) encheram a boca para dizer que, ao escrever blasfémias em Os Versículos Satânicos, o escritor procurara esse castigo e, portanto, merecia-o. Como pôde ser possível? E o pouco que se fez para corrigir este disparate todo... Enfim, é um livro que, infelizmente, ao tratar de uma situação que terminou há menos de vinte anos, acaba por ser muitíssimo actual devido a tudo o que vivemos de momento com os cartoons do Charlie Hebdo e não só.

Mas adiante. Nunca tinha lido nada de Salman Rushdie e comecei precisamente pelas suas memórias. Ora, ao longo delas, vai falando do processo de escrita dos livros que produziu quando vivia escondido e sob protecção policial, mas também dos livros que escreveu antes da fatwa e mesmo daquele que levou a que alguns entendessem que devia ser assassinado pelo que havia escrito. Não sendo, então, um autor que conhecesse particularmente, fiquei com uma séria vontade de ler os seus romances e contos. Em casa tinha Os Filhos da Meia-Noite, o seu primeiro sucesso, Fúria e Shalimar, o Palhaço. Aproveitei uma promoção da Wook e comprei O Último Suspiro do Mouro e o volume de contos Ocidente, Oriente. Aparentemente comprei os últimos exemplares, uma vez que ambos surgem agora como esgotados na Wook. Portanto, em breve, lançar-me-ei nos domínios romanescos de Salman Rushdie. Por agora, continuo a ler O Sino da Islândia e a tentar perceber se gosto ou não...




segunda-feira, 2 de março de 2015

Da fidelidade a uma marca

Geralmente, quando gosto de uma coisa, gosto a sério e as marcas não são excepção. Para tecnologias, adoro a Apple; para serviços de telecomunicações, sou a maior fã da Vodafone; para gelados, sempre a Haagen Daaz; para óleo, sempre Fula; para farinha, sempre Branca de Neve e por aí fora. Nos ténis também não era excepção e na hora de comprar uns novos era ver-me junto aos modelos da Nike. Ou via algum de que gostava, ou nem sequer comprava nada. 

Mas, descobri no último fim de semana, isto das fidelidades tem o que se lhe diga. Desde os treze ou catorze anos que os meus ténis eram sempre da Nike. Sempre. Nem punha outra hipótese. Por vezes lá procuravam que olhasse para modelos de outras marcas, mas nada. Em equipa que ganha não se mexe e, por isso, não mexia e ficava tudo como estava. Tive uns ténis da Nike que, de tão confortáveis que eram, usei até chegarem ao ponto de se desfazerem. Duraram quase dez anos, foi uma loucura. 

E assim andei, acreditando sempre que nunca mais compraria ténis que não fossem da Nike. Fui fidelíssima a esta marca durante metade da minha vida. Parece-me significativo. 

Todavia, na semana passada, passei diante da loja da Merrel em Alfragide e vi uns ténis bastante bonitos que ficaram entalados na minha memória até ao fim-de-semana seguinte. Mais ainda porque estavam a metade do preço e eles não costumam ser nada (mas mesmo nada) baratos. Bom, no Sábado, último dia de saldos, teve de ser e os ditos ténis vieram comigo para casa. Estava quebrado o encanto: havia trocado uma marca que sempre adorara por outra de que, perdoem a ignorância, apenas ouvira falar no ano passado. 

Saí da loja a pensar nisto. O que leva uma pessoa a passar metade da vida "fidelizada" a uma marca ou a um produto e a acabar por trocá-lo num determinado momento? Bom, muitas coisas. Em primeiro lugar, importa esclarecer que o facto de comprar uns Merrel não invalida que regresse à Nike. Aliás, continuo a manter dois pares de ténis desta marca desportiva e posso jurar que um destes pares é tão indestrutível que durará uns valentes cinquenta anos. Contudo, no segundo par reside parte da explicação para esta mudança que não acreditava que viesse a acontecer. 

Em dois mil e quatro comprei o tal par que usei até desfazer-se. Eram o cúmulo do conforto e, se já antes era fã da marca, depois deles tornei-me fanática. E assim, quando eles - coitaditos - começavam a não aguentar mais, comprei outro par. Impermeável, bonito, parecia o ideal para aguentar uma vida nos meus pés. E, na altura, andava bastante de ténis, por isso era porreiro. No entanto, rapidamente percebi que não eram tão confortáveis como os anteriores. Num dos natais seguintes ofereceram-me outros, daqueles a que só falta terem asas. São muito confortáveis e posso jurar que durarão anos. 

Mas depois comprei outros que, por alguma razão, não são confortáveis. E o caldo entornou. Adoro a marca, continuarei a procurar produtos Nike, mas a minha fidelidade extrema diminuiu quando passei por dois modelos que não me encheram nada o coração. Ficavam lindos nos pés, contudo, não eram tão confortáveis como outros. 

Por isso, isto das marcas é tramado. Somos muito fiéis até ao dia em que... Vem qualquer coisa que muda tudo, que nos alarga os horizontes e nos faz arriscar. No meu caso, quinze anos depois dos primeiros ténis da Nike, foram duas desilusões depois de muitos casos de sucesso. E por isso imagino o que custe às marcas trabalhar para manter os clientes. Mas, de facto, não deixa de ser curiosa a forma como seguimos quase cegamente algumas marcas e o quanto é necessário para que acabemos por olhar para outras coisas. Se no ano passado uma amiga não me tivesse dito maravilhas sobre os ténis da Merrell, provavelmente não olharia sequer para a loja e jamais ponderaria comprar um par em vez de correr à Nike mais próxima. Neste caso, uma simples conversa e uns ténis menos confortáveis foram o cocktail explosivo para a quebra de uma fidelidade que já era longa. E também convém não esquecer que, afinal, "mudam-se os temos, mudam-se as vontades".