terça-feira, 30 de outubro de 2012

Viagem no tempo

De vez em quando gosto de voltar aos livros escritos a pensar nas crianças e nos jovens. Aliás, acho até que todos o devíamos fazer de vez em quando. A leitura das colecções que nos acompanharam enquanto crianças só pode fazer-nos bem. Os olhos com que lemos os textos já não são os mesmos e aquilo que retiramos ou que sentimos com cada livro é, também, diferente de tudo o que um livro nos pudesse dar na infância e adolescência.
 
Digo que vale a pena voltar a estes livros por várias razões. Por um lado são uma excelente forma de descansarmos os nossos cérebros assoberbados com informações vindas de todos os lugares. Por outro, é um exercício fascinante aquele que consiste em regressar às leituras que nos deliciaram noutros tempos, não só porque descobriremos que já não nos inquietamos como nos inquitávamos, mas também porque leremos de outra fora e, como tal, fruiremos o texto de modo muito diferente. Vale a pena, ainda, porque nunca somos demasiado crescidos para deixarmos de entender aquilo que em crianças percebíamos bem: se os livros da colecção «Uma Aventura» nos aqueciam o coração, não será a passagem dos anos que nos tornará imunes a tal reacção. Atrevo-me a arriscar que sentiremos sempre ternura pelos livros que nos acompanharam durante a nossa formação e que, portanto, relê-los só pode ser uma experiência positiva.
 
No sábado passado voltei à colecção «Viagens no Tempo», de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, e devo dizer que continuo a aplaudir tais textos. Li o volume Sabor a Liberdade, sobre a Restauração da Independência, em 1640, e aprendi coisas que não sabia. Os livros contêm sempre a história de uma viagem no tempo e, no final, umas páginas dedicadas a contar aspectos importantes sobre a época aludida. Se há informações básicas que ainda recordo dos tempos de escola ou de outras leituras, outras há que são novas e que se o são para mim, mais serão para as crianças e jovens que optarem por ler estes livros. Por exemplo, não fazia a menor ideia do que fosse um «barbeiro de espadas». Pois com este livro fiquei a saber, assim como fiquei a conhecer um pouco melhor o processo que conduziu os portugueses de volta ao trono de Portugal. Obviamente estes livros não são fonte suficiente para nos considerarmos efectivamente informados sobre alguma parte da nossa história, porém cumprem uma missão importante: a de mexer com a curiosidade. Com a nossa, já crescidos, e, esperemos, com a dos mais jovens.
 
Pelo que vou percebendo, existem hoje muitos miúdos que não têm esta colecção e a sua irmã «Uma Aventura» em grande consideração. Acham-nas aborrecidas e repetitivas, preferindo muito mais o Diário de um Banana. Todavia, parece-me que vale a pena apresentar ambas as colecções aos mais novos. Foram as colecções da minha meninice e ainda hoje gosto de ler os seus livros. Estão muito bem escritos e ensinaram, até hoje, muita gente a ler e a escrever. Por isso merecem que quem cresceu com eles torne a abri-los, a tirar-lhes o pó. Voltar à infância é possível através dos livros e essa é, parece-me, a melhor viagem no tempo que podemos fazer.


Nota: Imagem retirada da página da Wook.

É isso mesmo

Hoje li este texto e quase me levantei do sofá para aplaudir de pé. É que é exactamente o que penso sobre o que vou vendo aqui e ali. Hoje todos percebem de moda, todos têm um conselho para dar, todos usam um vocabulário muito hermético para falar de coisas que aposto que poderiam ser designadas em bom português. Boa parte dos textos que leio sobre esta ou aquela novidade no mundo do vestuário e acessórios são vazios e sem conteúdo que se aproveite. São apenas mais um a seguir a restante carneirada. No meio do muito que se escreve sobre o tema, aproveita-se muito pouco: é a chamada «muita parra e pouca uva».
 
Porém o pior, parece-me, tal como à autora do texto que li, a quantidade de blogues que se dedicam a isto e que acham que ainda têm uma palavra a dizer. Há os que sempre o fizeram e que já contam com uma história de longos anos e há os que agora seguem a tendência que consiste em tentar fazer o corpinho passar pela nesga que dá a entrada no mundo dos que podem, com propriedade, atirar a sua laracha sobre este tema. Existem blogues que já gostei de seguir e que lia atentamente, mas que acabei por abandonar por se terem tornado num enorme catálogo publicitário. Também existem blogues que continuo a seguir, embora com muito menos gosto do que antes precisamente por este exagero com o mesmo tema, esta moda sobre a moda que faz de muitos mortais uns génios do trapo e dos outros uns maltrapilhos sem espelho. Todos podemos falar de roupa uma vez por outra, todos podemos criticar uma moda que vemos repetir-se e que consideramos odiosa, mas resumir tudo a roupa torna-se cansativo.
 
Por outro lado tenho de afirmar que é isso que tem «audiências». Esta minha humilde casinha tem poucos visitantes diários. Os blogues de tendências, ou boa parte deles, têm centenas de seguidores e de leitores. Provavelmente sou eu que estou errada e a ver tudo de forma quadrada, mas para isso cá está o texto de que falei no início: se estou totalmente enganada, pelo menos não sou a única.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A bola

«Ordens de despejos de casas estão a levar espanhóis ao suicídio». Já é esta a mais frequente causa de morte violenta no país.
 
Só me ocorre dizer que este mundo, assim como está, é uma merda. Uma gigantesca e revoltante bola de merda.

Ponto final

- P., que moda é esta de agora não colocares um ponto final nas tuas frases?

- Na composição?

- Na composição e nas respostas: em todo o lado!

Olha para mim com um ar muito pensativo e diz:

- Mas nas respostas também é preciso??!

Devo, por fim, referir que esta conversa aconteceu com um aluno do 3.º ciclo, ou seja, com alguém que já tem em cima pelo menos seis anos completos de ensino. Chocante? Bom, se o é para vocês, imaginem para mim que tenho de corrigir estes testes e ver este desrespeito pelas regras básicas do Português...

domingo, 28 de outubro de 2012

Não é justo

O problema de termos muitos livros é que, de vez em quando, olhamos para a estante e sentimos uma certa angústia por pensarmos que dificilmente conseguiremos ler tudo quanto gostaríamos e que muito do que comprámos com tanta vontade ou que recebemos com tanto amor ficará para outros lerem. É um pensamento um bocadinho deprimente, mas que não deixa de me assaltar de vez em quando. Tanto para ler e tão pouco tempo para o fazer... Não é justo.

A Menina Quer Isto XXIV

Já cá faltava um «A Menina Quer Isto». Ora vamos lá ver: a menina faz anos daqui a duas semanas e importa dar uma ajudinha aos indecisos que não sabem o que oferecer. Assim sendo, cá vão os pedidos do ano:



 
 
 
E pronto, é isto. Como de costume muitos livros. Também ia pôr aqui um perfume, mas como não me lembro do nome dele, fica para o Natal. 

sábado, 27 de outubro de 2012

Em terra de cegos...

Muitas vezes, ao corrigir testes, vem-me à memória o provérbio que diz «Em terra de cegos quem tem um olho é rei»...

Querido sábado

Querido sábado,
 
Tenho a certeza de que quando te inventaram pensaram em dias soalheiros e cheios de horas para podermos fazer tudo o que durante os outros dias não podemos fazer. Provavelmente quem te engendrou imaginou manhãs entre lençóis, tardes na esplanada, noites no restaurante. Terá concebido um dia longo, ou pelo menos aparentemente longo, em que coubessem leituras, conversas, petiscos e outras dezenas de coisas boas que de segunda a sexta-feira não existem. Prometias ser uma excelente invenção e eu aplaudi-te muitas vezes.
 
Contudo, agora parece-me que os sábados são:
 
a. aquele dia em que acordo cedo porque, ao fazê-lo durante a semana, o belo do meu corpo não consegue contrariar o relógio e ficar na cama até tarde (dormi apenas mais uma hora e quinze minutos do que nos outros dias);
 
b. aquele dia em que me calha preparar o trabalho de boa parte da semana que vem (hoje calha-me corrigir três turmas de testes);
 
c. aquele dia que acaba num instante e que me leva ao depressivo domingo (véspera de aulas) a uma velocidade estonteante.
 
Concluo, portanto, que é o costume: todas as invenções são muito boas até revelarem o seu lado menos positivo. Continuo a gostar de ti, querido sábado, mas preferia que fosses meu e não do trabalho.
 
Cumprimentos,
 
As Minhas Quixotadas

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ligeiramente ao lado

Uma aluna perguntou-me hoje quem era Elsa de Queirós. Informei-a de que era um escritor, homem, e que se chamava Eça, não Elsa...

Desaparecida em combate

Ando desaparecida, mas também ando muito cansada. A minha energia dura até à quarta-feira ao meio da tarde. Daí para a frente não ando: arrasto-me e creio até que deixo pelo caminho um rasto de gosma. Entro em piloto automático e já não sou eu: sou uma espécie de ser dormente que onde se encosta lá fica. Até dores nas cruzes tenho! Acredito que se o fim-de-semana não chega dá-me uma coisinha. Preciso de dormir até acordar por mim própria e não por causa de um despertador nazi. E também quero não ter de passar um dia a gritar, a puxar pela voz até já a sentir esgotada. Preciso de sábado e domingo para dar cabo desta dor de cabeça maluca que durou toda a semana: preciso de a atacar com Doluron Forte e de dormir até ficar enjoada.
 
Ah, precisava de tanta coisa...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pelo meio do fumo

Não sei se sou só eu que reparo nisto, mas ultimamente até tenho ficado chocada com a quantidade de miúdos em idade escolar que vejo de cigarro na mão. Logo de manhã, quando ainda mal consegui abrir os olhos, cruzo-me com imensos rapazes e raparigas entre os doze e os dezoito anos que se dirigem para as suas escolas. Se àquela hora até o pequeno almoço me custou a engolir, não consigo mesmo compreender como conseguem eles fumar alegremente. Mais: preocupam-me as idades cada vez mais jovens com que o fazem.
 
Fumar, para os alunos das escolas básicas e secundárias, sempre foi uma maneira de se afirmarem, de se mostrarem rebeldes e mais velhos do que são na realidade. Quando eu andava na escola também havia meninas e meninos que traziam o seu maço de tabaco, tal como eu trazia dinheiro para comer na escola. No intervalo lá iam para o portão servir de chaminés, todos encostados ao gradeamento, como gente crescida (pensavam eles). As raparigas que fumavam eram as mais interessantes para os rapazes, parece-me. Julgo que seria por parecerem mais velhas (ah, o sonho da mulher mais velha...). Contudo, naquela época (e a crer pela quantidade de gente ao portão), não eram assim tantos os que fumavam.
 
Agora são imensos. Miúdos e miúdas que nem do sexto ano devem ter passado seguem para a escola às oito horas com o cigarro aceso entre os dedos. Procuram assumir uma postura de adultos, porém são traídos pelas conversas, pela voz, pelo aspecto. Têm doze, treze, catorze, quinze, dezasseis anos e são perfeitos pirralhos. Porém acham que a encher os pulmões com todo o tipo de porcarias são mais «fixes» e aceitáveis pelos seus pares. A mim parecem-me apenas parvos na figura e ignorantes pela atitude suicida que tomam ao acender um cigarro: aquele corpinho ainda a crescer deve precisar de tudo menos dos malefícios do tabaco, mais ainda logo de manhã (e em muitos casos, provavelmente, em jejum).
 
Além disto, surge-me sempre uma questão: em época de crise, quando o dinheiro é o assunto do dia, quem paga este vício precoce? Sim, porque um menino de treze anos não tem rendimentos que lhe paguem o tabaco. O dinheiro tem de vir de algum lado. Da semanada? Bem sei que ainda há quem receba disso, mas quem é o pai que dá uma semanada ao filho, sabendo que ele a gastará em cigarros? Haverá alguém?... Provavelmente sim, que neste mundo há sempre gente para tudo. E, se assim for, ainda fico mais chocada. Nunca tal coisa devia suceder. Alguém tem de pagar aquela porcaria, já que nenhum miúdo mantém o vício só com cigarros «cravados» aos colegas. Além disso, às oito horas da manhã e ainda antes de começarem as aulas duvido que aqueles meninos tenham «cravado» o que quer que seja. Portanto, só posso deduzir que o dinheiro, em forma de semanada ou não, vem dos pais ou dos avós. Santo Deus!
 
Torno a dizer: não sei se sou só eu a reparar nisto, mas não deixa de me chocar o quão ineficazes têm sido as campanhas contra o tabaco. Já no meu tempo de estudante se faziam inúmeros trabalhos escolares sobre os malefícios que dele advinham. Muitos perceberam a ideia e muitos fizeram ouvidos de mercador. Mas a julgar pela quantidade de jovens abaixo dos dezoito anos que vejo de cigarro em riste, hoje em dia são mesmo em maior número os ouvidos que não querem ouvir do que os outros.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

As pipocas e as bolhas

E o bonito e romântico que é pensar que hoje, em que comemoro mais um mês de namoro com o meu moço, comemoro também um ano do dia em que, comendo uns raviolis de cogumelos selvagens começo a sentir-me muito em baixo. Desconfio de estar a ser envenenada pelos cogumelos, deixo metade no prato, nem a sobremesa consigo comer. Venho para casa num belo Sábado à noite, parecendo que me passava um camião por cima do corpo, o que era estranho já que umas horas antes saíra de casa de perfeita saúde. No dia seguinte descubro uma bolha cheia de líquido no peito. Pronto: vou finar-me, pensei eu. Desde intoxicação alimentar devido aos malfadados cogumelos, passando por doenças piores, pensei em tudo enquanto destilava de febre debaixo dos cobertores. No dia seguinte estava na mesma: podrezinha de todo, enrolada como um gato. Já tinha estourado com a bolha (ideia peregrina) e arrastava-me em dia de almoço de família. Vim a saber, um dia depois, que tinha varicela. Aos vinte e seis anos. Varicela. Resultado: mais de uma dezena de dias sem trabalhar (note-se que estava a recibos verdes). E mais: ainda tive tempo de, no tal almoço de família, a pegar à minha irmã. Que coisa linda!
 
Bom, uma coisa é certa: este blogue nasceu por causa da minha varicela. Apesar de ainda me irritar quando penso na razão estúpida pela qual a apanhei (criança em fase de contágio num casamento a que também fui), pelo menos retiro dali três coisas boas: o muito descanso que tive, o nascimento do blogue e o balde take away de pipocas que o meu moço me trouxe naquele célebre dia em que me perguntou que comboio me tinha passado por cima (a varicela apanhou-me em força: era cada bolha que até doía).

E boas que estavam as pipocas, já vos tinha dito?

O bafo, a Sininho e os roncos

Depois de um fim-de-semana muito frio, hoje às sete da manhã abri a janela para ver se o dia justificava o uso de umas botas impermeáveis e até fiquei indisposta: entrou pelo meu quarto um bafo muito quente e muito impróprio desta altura do ano. Fiquei a acreditar que haveria uma brutal trovoada durante o dia, mas até ver nada. Lá mudei os meus planos de vestimenta, deixando, contudo, as tais botas impermeáveis. No entanto, por medo de me constipar, levei um casaco quentinho sobre uma camisola de algodão. Asneira a minha: uma hora depois e escorria. A imagem não é bonita, porém é verdadeira: num autocarro fechado e cheio (as pessoas são alérgicas a abrir as janelas, principalmente no Outono e Inverno: mesmo que estejam quarenta graus lá dentro, têm medo de serem levadas a dar um espirro) é impossível acontecer outra coisa. Amaldiçoei o casaco, as botas, o autocarro, o caminho e a triste ideia de não ir trabalhar de biquíni.
 
O resultado desta odisseia foi uma dor de cabeça como não sentia há muito tempo. Começou ainda antes de começar as aula (começou, portanto, no belo do autocarro) e persiste até agora (se bem que vou já já dar-lhe com um Doluron Forte que até treme). Foi horrível dar aulas com uma enxaqueca do tamanho do mundo (que eu quando tenho dores de cabeça é em grande). Então a hora de almoço no refeitório foi quase de levar às lágrimas, mas enfim... Sobrevivi e estou cá para contar a história. Daqui a dez minutos já não devo estar que quando o comprimido faz efeito eu transformo-me na fada Sininho e vou por aí em voo a largar pó de fadas e roncos.

Pôr os pontos nos «i»

Nova moda: não pôr os traços nos «t» e os acentos nos «i». Santo Deus, mas de onde desencantam estas manias??? Vou começar a descontar isto nos testes, embora eles não percebam porquê. Às vezes sinto mesmo que dou aulas a meninos de três anos...
 
 
Notinha: A imagem foi retirada daqui.

domingo, 21 de outubro de 2012

Falar para paredes

Há um problema com que todos os professores que pedem trabalhos escritos acabam por deparar-se: o plágio. No meu tempo de estudante era mais difícil apanhar um aluno que copiasse o trabalho porque a internet ainda era luxo de poucos e aquilo que consultávamos estava em papel. Enciclopédias, manuais escolares e outros livros eram, no fundo, as nossas fontes e tornava-se complicado para um docente descobrir o rasto aos nossos trabalhos. Não quer dizer que nunca descobrissem, mas também nessa altura se falava menos de plágio do que hoje (o que não significa que já nessa altura não fosse uma atitude reprovável).
 
Ora, hoje é um problema enorme. Sempre que peço um trabalho sobre um tema qualquer sei que me vou chatear com os plágios que vou encontrar. É tão certinho como eu estar com frio agora: aparecem-me sempre textos integralmente retirados da internet (ah, a Wikipedia...), sem alterações e, não raras vezes, completamente desajustados em relação ao que era pedido. Quando peço um trabalho, explico que não podemos retirar informação da internet e colá-la simplesmente numa página em branco como se fosse nossa. Devemos informar-nos, ler sobre os temas, escrever com as nossas próprias palavras, fazendo citações sempre que julgarmos necessário (embora sem cair em exageros) e, no final, incluir uma bibliografia que indique as fontes consultadas. Explico eu e explicam os outros professores todos. Resultado? Trabalhos plagiados e alunos com ares inocentes de quem não percebe a reprimenda e a nota negativa. É esgotante!
 
Já tentei a analogia da carteira roubada: explico à turma que assim como não admitem que alguém chegue às suas mochilas e lhes roube a carteira, também não podem roubar as palavras dos outros. Podem aprender com elas e, depois, produzir os seus próprios textos. Plagiar é que não. Explico, também, que hoje é realmente fácil descobrir um plágio e que não leva mais do que o tempo de abrir a página do Google. Ainda assim, aparecem-me sempre trabalhos compostos com frases demasiado pomposas para terem sido escritas por miúdos de doze anos ou treze anos. Já ensinei a fazer citações, já ensinei a fazer referências bibliográficas, já mandei trabalhos para trás para serem reformulados e mesmo assim voltam plagiados. Já não sei que solução dar a este problema e mais ainda quando sei que outros docentes batem na mesma tecla. Não estou a pregar sozinha, mas neste caso nem para peixes o faço. É mais para paredes.

sábado, 20 de outubro de 2012

Rato de biblioteca com auriculares

E fazer o enunciado de um teste enquanto ouço o audiobook de uma adaptação do Dom Quixote de la Mancha? Esta até para mim é nova, mas está a ter piada...
 
 

«A Estouvaca»

Uma professora de Português deve ler muito, porém ainda não leu tudo e nunca o fará. O que se escreve é imenso, é infinito e é impossível chegar a todo o lado. Contudo, quando uma professora de Português corre os materiais que tem em casa à procura de textos bons para colocar em testes de avaliação, acaba por conhecer coisas pelas quais nunca tinha passado os olhos e constata que há um mundo infinito de letras que lhe passa e passará ao lado, mas também um outro mundo a que chegará apenas porque é professora. Procurar textos é motivo para lermos ainda mais e descobrirmos verdadeiras pérolas escritas nesta nossa língua que permite trocadilhos e jogos de palavras extraordinários.
 
Acabei mesmo agora de descobrir um poema do Alexandre O'Neill que desconhecia e que tem uma piada enorme. Não fosse o teste sobre o texto não literário e talvez este poema fosse lá parar. Deixo-vo-lo aqui.

A Estouvaca
 
Deitada
No meio da estrada
A Malhada
Vai ser atropelada
Foi!
 
                                         Alexandre O'Neill

19 000

Hoje o blogue «As Minhas Quixotadas» orgulha-se de anunciar que atingiu as dezanove mil visitas. Caminhemos até às vinte mil, que é um número mais redondinho. Ainda assim, obrigada e voltem sempre!
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Amanda Todd

Ouvi agora a notícia de uma adolescente canadiana que se suicidou depois de ter sido vítima de bullying durante três anos. Pôs fim à vida devido a abusos com fotos suas na internet e depois de ser maltratada pelos seus pares durante um tempo demasiado longo para ser suportável. Enoja-me isto, enoja-me este mundo, enojam-me estes miúdos maus que só se sentem bem quando os outros se sentem mal. Enoja-me que não caia um raio nas cabeças destes retardados e que sejam sempre os outros a terem de tentar escapar à dor.
 
Além de se cortar, a menina bebeu lixívia para tentar matar-se. Viciou-se em álcool e drogas para tentar adormecer a angústia. Enquanto isso, os outros retardados prosseguiam airosamente com as suas vidas. Agora uns pais perderam uma filha e os outros por aqui andarão sempre, cairão de velhos (porque podres já estão). Foi-se uma jovem que não aguentou mais e ficaram os que são lixo, escumalha, merda. E será sempre assim porque não existe quem consiga mudar isto e mostrar a estes anormais que torturam colegas que eles é que estão cá a mais.
 
Um mês antes do suicídio, a menina fez o vídeo que aqui deixo. Acabei de o ver e estou sem palavras. Custa ver que passam os anos e o mundo é sempre a mesma coisa, não muda nada. Era uma menina. Chamava-se Amanda Todd e não tinha ninguém.
 
 

A 19 de Outubro de 2000

Existe uma rapariga que em tempos foi uma amiga e que participou num momento que mudou toda a minha vida. E quando? A 19 de Outubro de 2000. Não a via há anos e por vezes lembrava-me dela, pensando que talvez tudo tivesse sido diferente se nunca nos houvéssemos conhecido. É impossível saber, mas quando até respirar dói são estas idiotices que nos correm à memória.
 
Hoje, dia 19 de Outubro de 2012, doze longos anos volvidos, voltei a cruzar-me com esta rapariga. Ela não me viu, mas eu tive tempo para olhar para ela e recordar um pedaço de uma folha de papel que lhe pus na mão neste mesmo dia do ano 2000. Nele estava o meu número de telemóvel para entregar a alguém que o tinha pedido. A alguém que ela me havia apresentado dois dias antes.
 
Se ela nunca tivesse existido, se eu nunca tivesse escrito aquele número no papel, teria sido tudo diferente? Sei lá... O que sei é que, apesar de tudo, não mudaria uma vírgula à história. Por maior que tenha sido a dor, foi isso que me fez e acredito que só tenho o que tenho hoje porque um dia dei aquele número. Foi a 19 de Outubro do ano 2000 e esta tarde, ao ver essa antiga amiga, foi como se tivesse sido hoje. Depois ela seguiu viagem e a sensação do passado no presente foi com ela. Agora só aqui estou eu.
 

O marciano que ri

Hoje soube que uma mãe se queixou do volume de trabalhos de casa mandados ao filho. Disse que eram muitos e até podia alegar que a criança não tinha tempo para brincar ou que tinha de se deitar tarde para conseguir fazer os trabalhos todos: tudo isso lhe seria lícito. Mas não. O que disse ela? Isto:
 
- O meu filho anda no judo, no ténis e no futebol. Ele quer ter outra atividade e eu não o consigo inscrever em nada porque ele passa o tempo a fazer trabalhos de casa!
 
A sério? Mas a sério que alguém, nesta galáxia, conseguiu dizer este disparate? Aposto que, algures em Marte, está um homenzinho verde agarrado à barriga de tanto que se ri da estupidez do pessoal deste planeta. E aposto que se ri enquanto o seu filhinho verde faz uma ficha de Matemática ainda com a farda do judo vestida e dando-lhe calduços sempre que ele se distrai.
 
Não percebo como pode uma mãe reclamar dos trabalhos de casa porque o filho não consegue, por causa deles, ter mais uma actividade extracurricular. Eu não tenho filhos, mas se os tivesse e visse que os trabalhos de casa lhe ocupavam algum tempo, cortava-lhe uma das actividades e deixava os bons e velhos «TPC's» como estavam. Mas não. A questão acaba por ser sempre a mesma: falamos de príncipes cheios de vontades que mandam em tudo, até nos trabalhos de casa que, no meu tempo, comíamos e calávamos. Se o menino quer mais uma actividade e não tem tempo para ela, talvez não sejam os trabalhos de casa o que está a mais na vida dele. Talvez esta fosse uma excelente hipótese para ensinar ao menino que não podemos fazer tudo o que queremos e que primeiro vem a obrigação e só depois a diversão. Contudo, aos olhos de hoje, dizer isto a uma criança deve ser considerado uma tirania. Quando eu andava na escola era a regra, mas nessa altura ainda se educavam as crianças para serem homens e mulheres: agora é para serem príncipes e princesas.

Nota: Quanto apostam que em breve virá uma mãe queixar-se de que mandamos poucos trabalhos de casa?...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Menina Quer Isto XXIII


A menina está quase a fazer anos e por isso aqui fica a dica. Este livro, pelo que li na revista Ler, foi construído a partir de uma ocupação do autor: a de coleccionar postais extravagantes que retratassem aquele tipo de imagens que nos deixa com um certo susto, com alguma inquietação. Olhando para eles, o autor percebeu que poderia criar uma história que ligasse as várias imagens e assim nasceu este O Lar da Senhora Peregrine Para Crianças Peculiares. Já o folheei e realmente as fotos são inquietantes, embora também tornem o livro num objecto misterioso que apetece desvendar. E é isso mesmo que estou disposta a fazer quando o tiver. Portanto, a menina quer isto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Facto

Tenho a impressão de que existem por aí jardins de infância ou creches frequentadas por gente mais adulta do que a cambada que se mudou para a «Casa dos Segredos». Credo, mas o que é aquilo??!

Outra constatação

Doze anos é muito tempo e é incrível perceber que nem isso atenua as memórias.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Constatação

E não é que faço anos de hoje a um mês e que dentro de pouco mais de quinze dias este bloguito comemora o seu primeiro aniversário? O tempo passa verdadeiramente a correr.

Uma coisa má nunca vem só

Pronto. A julgar pela newsletter que acabei de receber da Wook, esta história das trilogias eróticas virou moda. Lá vem mais um volume de capa escura e com um stiletto a ilustrá-la. Desta feita, a autora chama-se Sylvia Day e o livro intitula-se Rendida.
 
E portanto, tal como eu previa, depois de códigos secretos, de feiticeiros e de vampiros, chegou a onda da literatura erótica. Na página que a livraria dedica a este lançamento, é-nos apresentada uma crítica retirada de uma fonte conhecida como «Romance Novel News» que diz que esta história tem «muito em comum com As Cinquenta Sombras de Grey», embora esteja mais completa e mais bem escrita. Isto, apesar de tudo e, principalmente, da minha renitência perante mais esta moda, alegra-me: pelo menos alguém já percebeu que As Cinquenta Sombras não corresponde de forma alguma ao que se pode chamar um romance bem escrito.

Notinha: Pergunto-me como nascem estas modas que põem gente diferente a escrever sobre o mesmo tema quase em simultâneo. Das duas uma: ou é inspiração em massa ou, perante o sucesso (merecido ou não) de uma determinada obra, outros se aventuram a aproveitar a maré e a ganhar uns trocos janotas. Inclino-me mais para esta última hipótese e lamento-a.

Ronronando literariamente

A par de O Menino Nicolau e do Cien Años de Soledad (que estou a adorar, mas que não consigo ler depressa), comecei a ler nos transportes A Bela Adormecida Vai à Escola, de Gonzalo Torrente Ballester e estou a adorar. A mistura de realidade com histórias de encantar tem resultado numa leitura muitíssimo empolgante e com algum humor. A história é a de um rei, Canuto, numa monarquia constitucional e que, coitado, não tem qualquer margem de manobra no reino onde é senhor. É vítima de um protocolo apertado no qual não é mais do que um mero fantoche às mãos dos seus supostos servos, que ainda que o sejam, são quem realmente manda. Fantástico, não?
 
Antes de dormir leio umas páginas de O Menino Nicolau e mais umas quantas deste romance de Ballester. A junção destes dois textos resulta num soninho muito agradável cheio de meninos malandros à porrada com colegas (cortesia do Nicolauzito) e de reis que mandam tanto quanto eu a amancebarem-se com princesas de contos infantis. Tenho a impressão que até tenho ronronado.
 
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Descoberta científica

As nossas contas (água, luz, gás, transportes, telecomunicações e mais as que se lembrem) não conhecem o conceito de «Lei da Gravidade» e por isso só sobem. Tenho para mim que se o Newton tentasse a experiência da maçã com uma conta da electricidade, provavelmente vê-la-ia ganhar asas e voar, desprendidamente, rumo ao infinito.
 
 
Notinha: Acho que só por isto já merecia o Nobel. Sempre calhava melhor do que o da Paz e também já vou sendo mais conhecida do que o senhor chinês que ganhou o da Literatura: tenho uns espantosos catorze seguidores!

Batendo na mesma tecla

Sim, porque o vermelho nos testes e fichas é que é "violento": o sangue todo dos jogos de computador e dos filmes que os miúdos devoram diariamente não choca nem fere a visão. Se calhar nessas coisas o sangue é cor-de-rosinha ou amarelito às bolinhas.
 
É oficial: a minha caneta vermelha é uma má.

domingo, 14 de outubro de 2012

Alhadas literárias

De vez em quando baixa uma criança em mim e lá vou eu à secção infanto-juvenil das livrarias. Ontem trouxe O Menino Nicolau e já o estou a ler. Estou a gostar tanto que já me vejo metida em trabalhos: a colecção tem mais oito volumes, entenda-se...
 
Hoje, na parte dos livros não traduzidos da Bertrand, vi uma colecção que desconhecia e que me pareceu gira. The Mysterious Benedict Society vai dar um pezinho ao Harry Potter, parece-me, assim como boa parte dos livros escritos após o sucesso infanto-juvenil de J. K. Rowling. Também há uma escola, uma espécie de «irmandade» e muitos mistérios para resolver. Importa dizer, ainda, que as ilustrações são uma delícia, como bem se pode ver pelo sítio da colecção na internet. O livro enquanto objecto atraiu-me na livraria e, como o inglês também precisa de ser desenferrujado, acabou por vir comigo. Mais uma sarna para me coçar: a colecção leva já cinco volumes e eu só tenho um...
 
É oficial: a criança que há em mim só se mete em alhadas.
 
 

«Bestiário»: o balanço

Acabei agora de ler o Bestiário, de Julio Cortázar. Gostei de ler estes contos, embora ache que não os li com a atenção que mereciam. Talvez volte a eles um dia e acredito que os venha a compreender de maneira diferente. Nestes contos encontramos várias realidades muito fora daquilo a que estamos habituados e que nos levam a assistir a situações dificeis de imaginar. Desde um casal de irmãos que se vê expulso da própria casa devido à ocupação de algo ou de alguém que não é nomeado, até à personagem que vomita coelhinhos e passando pela família que passa os dias a fugir de um jaguar que se passeia pelas suas divisões, temos de tudo. No fundo, são criadas situações extraordinárias que, depois, pretendem evocar problemas perfeitamente comuns. Por exemplo, no caso dos dois irmãos do primeiro conto, o modo como continuamente se viam empurrados para uma área cada vez menor da sua residência é símbolo do modo como frequentemente desistimos de lutar, como nos deixamos dominar pelos outros, como preferimos cortar nos nossos direitos do que fazê-los valer.
 
Conforme ia lendo surgia-me à ideia a expressão «desfile de bestas», partindo do nome da própria obra. É que o que ali nos surge é um conjunto de figuras que, de algum modo, poderia fazer parte de um qualquer bestiário. Temos as personagens que sofrem fisicamente de incómodos extravagantes (como vomitar coelhinhos) e temos as que têm prazer em torturar os outros (como nos contos «Circe» e «Bestiário»). O que ali encontramos é gente colocada em situações muito anormais, mas que as encara como sendo as mais comuns do mundo. Nós, leitores, é que percebemos o enorme caminho que vai da nossa realidade até aquelas, tão estranhas. É esta estranheza que tenta passar por normal o que cativa no livro e o que nos leva a perceber que por trás de tantos monstros e de tantas situações extravagantes há problemas vulgares e que todos nós conhecemos. Além de extremamente bem construídos, estes contos colocam-nos perante as nossas próprias limitações e desconfortos. É por isso que vos aconselho a sua leitura. Entre outras coisas, verão que passarão a olhar os coelhinhos com outros olhos...

Asnos

Acho que só mesmo uma enorme fé e uma gigantesca dose de alienação explicam que o Governo ainda acredite que nós temos dinheiro para mais impostos. Mais: só mesmo uma gigantesca dose de ingenuidade explica mais esta carteira cheia de medidas enlouquecidas e que mais não são do que um assalto. Mas estes parvalhões ainda não perceberam que já não conseguimos pagar mais? E a vergonha na cara ainda não chegou para entenderem que levar quase metade do vencimento de um trabalhador é ROUBO, nada mais do que isso?
 
Acho, ainda, que o facto de fazerem e decidirem tudo isto querendo demonstrar que o fazem para o nosso bem é o que ainda torna a trágica situação em qualquer coisa de caricato. No meio de tanta porcaria, o facto de nos acharem suficientemente idiotas para tentarem fazer-nos crer que pagando esta enormidade de impostos vamos resolver o problema é quase hilariante. Contudo é trágico. Que alguém, neste momento, ainda pense que aguentamos mais é assustador. Especialmente quando quem nos exige mais este «enorme» esforço já nos impôs tantos outros que comemos e calámos. Todos nós enxergamos isto menos o nosso Governo. Por isso das duas uma: ou nós ficámos todos, de repente, muito visionários, ou quem ainda exige um sacrifício impossível de concretizar, tentando fazer crer que é perfeitamente realizável, é completamente asno.

sábado, 13 de outubro de 2012

O Menino Nicolau

Ontem li este texto e hoje dei por mim cheia de vontade de ler livros destinados aos mais novos. Segurei-me para não trazer uma versão inglesa dos contos de Anderson (cá virão parar mais tarde), mas acabei por comprar o primeiro volume de uma colecção de livros para os mais pequenos, no qual começamos a conhecer as aventuras de um menino na escola. Hoje trouxe para casa o menino Nicolau (salvo seja).

Desejos


Hoje passei em frente à Loja do Gato Preto no Colombo e vi que a montra já está cheia de iluminações e decorações de Natal. Desde que este centro comercial existe que recordo esta loja como sendo todos os anos a primeira que tenta imbuir-nos do espírito natalício. Para mim, ver a sua montra decorada com bolas e bonecos de neve ainda durante o mês de Outubro já é uma espécie de tradição. É verdade que de ano para ano noto que as decorações natalícias aparecem cada vez mais cedo e, normalmente, até criticava essa pressa. Porém, hoje, fiquei mesmo feliz com aquele Pai Natal sentado na prateleira. Talvez estas iluminações e esta dimensão acolhedora própria da quadra natalícia sejam aquilo de que precisamos para esquecer um pouco a realidade que temos. Bem sei que não é assim tão fácil, principalmente quando falta o dinheiro para tudo e ainda mais para o Natal, mas esta é a quadra em que tais desejos fazem sentido, mesmo sendo irrealizáveis. Preciso mesmo da alegria que esta festa traz.
 
Notinha da autora: A montra da Loja do Gato Preto já está. Agora falta-me a Popota para dar como oficialmente aberta a época natalícia.
 
Outra notinha da autora: A imagem saiu da página online da Loja do Gato Preto.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O erro da aia

No conto «A Aia», de Eça de Queirós, uma mulher salva o príncipe, sacrificando o próprio filho. No fim e em recompensa pode escolher quantas riquezas queira do tesouro real. Apenas agarra um punhal, dizendo que já salvara o seu príncipe e que agora iria dar de mamar ao seu filho. Concluídas estas palavras, crava o punhal no coração. Este final transforma este conto numa história que não deixa ninguém indiferente. Todos os que o lêem sentem-se tocados pelo sacrifício daquela mulher e, mais ainda, pelo modo como depois conseguiu mostrar que a sua dor era muito maior do que qualquer desejo de riqueza. Não conheço alma alguma que não tenha admirado este texto. Ou melhor, não conhecia.
 
Hoje um aluno achou a aia a personagem mais estúpida do mundo já que, perante inúmeros tesouros que a fariam para lá de rica, escolheu suicidar-se. Como era possível não escolher ouro e pedras preciosas e apenas seleccionar um punhal? Tentei explicar à criança que o sofrimento da personagem justificava o acto de escolher juntar-se ao filho na morte. Em resposta recebi isto: «Mas ela podia escolher as jóias e o dinheiro todo que lhe ofereciam e depois fazia outro filho!»
 
Gentes, há uma linha que separa aquilo por que sentimos valer a pena lutar e aquilo que parece ser uma causa perdida. Perante esta resposta (vinda de um aluno que afirma que se um dia encontrar uma carteira com identificação, tirará o dinheiro e não a devolverá ao dono), e depois de uma semana longuíssima, não me senti capaz de explicar ao rapaz que os filhos não se substituem. Também não o fiz por saber que alguns alunos têm situações familiares delicadas e por não os querer melindrar. Mas senti, sobretudo, um enorme cansaço e um desânimo igualmente grande. Quando um jovem não consegue perceber aquilo que de mais básico temos em nós, como os sentimentos e a impossibilidade de substituirmos aqueles que amamos, o que poderá ele entender? Mas pior: ele não era o único a pensar deste modo, o que me leva a perguntar o que raio se anda a fazer a estes miúdos.
 
Resta-me, portanto, esperar que o tempo o ensine e lhe mostre que as Playstations e o dinheiro que as compra não são nada perto do que são as dores do amor. E resta-me desejar que um dia ele perceba que ninguém o pode substituir a ele e que nunca conseguirá substituir um filho seu. Parece-me é que, infelizmente, ainda falta muito para que essa sabedoria chegue e eu não posso fazer o trabalho todo. Não me cabe a mim.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Revolta

Depois de ouvir as notícias sobre os novos escalões do IRS só me apetece gritar. A minha mãe disse «dá graças a Deus por não teres uma renda para pagar». Respondi que não dou graças nenhumas porque deste modo nunca conseguirei pagar renda nenhuma, já que nem conseguirei deixar a casa dela. O que acontece é que eu e muitos como eu estamos encalhados e impossibilitados de dar um rumo à nossa vida. Levar um terço do ordenado de alguém é uma sacanice tão grande que só apetece gritar. Afinal trabalhamos para quê? Apenas para pagar a merda que fizeram uns idiotas de fato e gravata com a mania que percebem de contas? Pois é mesmo isto.
 
Bem sei que dizem que um professor trabalha por amor à camisola e que recebe muito carinho dos seus alunos, o que é muito gratificante, e mimimimimi. Bom, não tarda um fósforo e o único ordenado mensal que terei a receber serão mesmo os beijinhos que os alunos, de vez em quando, resolvem dar-me. Ah, e em mês de subsídio pode ser que me façam um desenhito para acrescentar à remuneração em ósculos. Filho da p*** de mundo.

Ele há coisas...

Ando a ler um conto em que um tipo escreve uma carta a outro contando-lhe (e repetindo-o várias vezes)... que vomita coelhinhos felpudos. Há coisas espantosas, não há?
 
A quem interesse um conto que envolve o regurgitamento de orelhudos fofinhos, este que estou a ler chama-se «Carta a uma rapariga em Paris» e é de Julio Cortázar.
 
 

Questões importantes II

Alguém sabe dizer-me quem é este escritor chinês que ganhou o Nobel da Literatura e, de caminho, explica-me por que razão nunca conheço os autores a quem é entregue este prémio (mentira: conhecia o Vargas Llosa e o Saramago, menos mal)?
 
 

Questões importantes I

Alguém me diz que moda é esta de usar um lenço na cabeça, enrolado e com o nó para cima, à moda das mulheres de limpeza do século passado? Alguém acredita que isto confere um ar porreiro?...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Escrita divina

Houve, até hoje, pouco mais de um par de livros que me deixaram boquiaberta pela fenomenal qualidade da escrita e da história. Já gostei de muitos textos que li, já conheci livros que me ficaram no coração, já li histórias que me enredaram ao ponto de não conseguir deixar de as aconselhar a meio mundo, contudo foram poucos, muito poucos, os livros que fechei com a sensação de que tinha estado a ler qualquer coisa que, de tão perfeita, não podia ser deste mundo.
 
Um desses livros foi o Memorial do Convento (e, do mesmo autor, o Todos os Nomes). Pela beleza da escrita, pelo domínio da linguagem, pelas histórias que se cruzam, pela crítica, pelo uso da palavra certa no momento certo, fechei o romance de José Saramago incapaz de fechar a boca pelo espanto que me provocou a perfeição de tal obra.
 
Quando li o Quixote, que concluí em sete dias, também o terminei acreditando que nenhumas mãos humanas poderiam ser capazes de algo assim. Naquele livro tudo faz sentido, tudo é necessário e tudo é bom. Mais: quando o terminei e pensei que fora escrito no início do século XVII fiquei absolutamente abismada. Como conseguiu alguém, sem os meios que hoje temos e consideramos tão indispensáveis, escrever um texto em que cada palavra conta, que não podia ser de outra maneira, que está tão perfeitamente cheio de tudo o que nos faz falta? É e será sempre um mistério para mim.
 
Ao ler A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende, tive uma sensação parecida. Não tão forte como com os outros que já referi, mas parecida. Aquela «magia» tão própria da literatura latino-americana e o modo como impregnava uma família era encantador. A forma como as peças encaixavam umas nas outras transformava o livro num daqueles doces que queremos saborear, prolongando a sensação agradável que ele nos provoca. Infelizmente os livros têm sempre uma última página e esta acaba inevitavelmente por chegar.
 
Mas, afinal, por que razão me lembrei eu disto? Por esta: ainda não acabei de ler o Cem Anos de Solidão e ando a lê-lo antes de ir dormir. Já o comecei há uns meses, mas sempre disse que seria livro para durar. Não me enganei. Contudo percebi ontem (devia estar mais desperta do que nos outros dias) que é um dos tais que não podiam ser melhores. Gabriel García Márquez escreveu naquele livro tudo o que de mais maravilhoso podemos encontrar num texto. Além de bem escrito, a história é de uma riqueza e de uma profundidade inigualáveis. Espanta-me que uma única cabeça tenha engendrado uma obra tão grandiosa como aquela. Ainda me faltam algumas páginas para terminar, mas até aqui posso dizer que o livro só me surpreendeu e que o que o autor ali fez tem sido, para mim, uma descoberta constante de perfeição. Fico arrepiada com aquela construção, com as inúmeras referências que ali se encontram, mas que não impedem o texto de ser diferente de tudo o que já foi feito.
 
Os livros, que já vou conhecendo bem, ainda me surpreendem e existem alguns que ultrapassam tudo o que já vi. Arrepiam-me, espantam-me e deixam-me a pensar que isto das letras tem muito de divino. Há textos que não parecem ser deste mundo, que não devem ter nascido de cabeças normais, mas de seres extraordinários e capazes de coisas que a minha imaginação está muito longe de conseguir conceber. Chamo a isto a "escrita divina" e encontrá-la num livro é das melhores surpresas que um leitor pode ter. E são surpresas raras, o que só aumenta o seu valor.
 
Nota: E amanhã ficamos a conhecer o Prémio Nobel da Literatura. Será que é desta que o Philip Roth leva a medalha?...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Torre de Babel

Acabei de ler no rodapé do noticiário que a Cinemateca não tem dinheiro para a legendagem dos filmes e que, portanto, irá passá-los nas suas línguas originais. Segundo a página da Cinemateca, os filmes de Outubro só poderão ser legendados se for dada autorização por parte do Ministério das Finanças para a contratação desse serviço. Note-se que esta alteração se deve a um despacho de 12 de Setembro que incluiria (para variar) medidas de controlo orçamental.
 
E é este um bom exemplo do que se passa na cultura em Portugal: já não vai sendo mais do que uma «torre de babel» em que todos falam sem se entenderem e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por colapsar totalmente.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Clássicos incompletos

Eu já desconfiava que o Ulisses era osso duro de roer, mas depois de ler isto percebi que não há dúvidas: é mesmo tramado. Um dia hei-de experimentar, mas cheira-me que será clássico que ficará ao pendurão.
 
E eu, que clássico já deixei incompleto? O que iniciei na semana passada, o 1984. Embora estivesse a gostar daquela realidade tão castradora e sufocante, percebi que não é livro para se ler no autocarro. No Verão volto a pegar-lhe.

A monstra

Ainda nem eram oito e meia da manhã e já eu ouvia, no autocarro, as enormidades que uma mãe dizia ao filho e às colegas do filho. Falava dos professores do miúdo e digamos que os «malhou» bem a todos. Aliás, fê-lo ao ponto de haver algumas pessoas que, ouvindo o que ela tão sonoramente dizia, abanavam as cabeças em sinal de desacordo. Dizia, por exemplo, que os professores pediam material para uma aula que depois acabavam por não utilizar nessa mesma aula, fazendo, assim, os meninos andarem carregados em vão. Lá ia eu cheia de ganas de explicar à senhora que na maioria das vezes não chegamos a cumprir tudo o que planeámos para uma lição porque o ritmo de trabalho dos meninos não o permite. Provavelmente o professor pediu que levassem o material porque contava utilizá-lo e tal não terá sido possível porque não se concluiu a tarefa anterior a tempo. Embirrava, também, com o que o filho lhe contava: que um dos professores vinha de Torres Vedras e outro vinha de Beja. Respondia-lhe que isso não era bem assim e que eles se sujeitavam porque queriam (neste ponto agarrei-me bem ao banco para não me atirar a ela). Reclamou dos trabalhos de casa que passavam aos miúdos, reclamou de uma professora que teve um AVC e que não voltou a aparecer (sem comentários), entre outras pérolas.
 
Pelo meio disse que as coisas (as muitas que enumerou, provavelmente) não iam ficar assim e que faria e aconteceria para as resolver. Uuuuuuh, medo. O bicho papão vai à escola pôr tudo em sentido. Lá vão os professores pensar «olha, mais uma maluca com a mania das reclamações». Sim, porque se nisto das escolas há muitas queixas pertinentes e com sentido, também existem outras tantas (se não mais) que não têm lógica nenhuma e que aparecem simplesmente de cabeças desocupadas e com a mania que sabem daquilo que, na realidade, desconhecem. Já o disse muitas vezes e não me canso: pais nas escolas, tudo bem. Os filhos merecem essa preocupação e esse cuidado próprios de quem quer o melhor para os seus. O que ultrapassa toda a realidade são os exageros em que alguns encarregados de educação caem ao quererem «dominar» todos e mais alguns aspectos da vida escolar dos filhos. Há coisas, como a questão do material, que fazem esta mãe cair no ridículo. Percebesse ela um bocadinho que fosse do que se passa dentro de uma sala de aula e calar-se-ia. Mas pior do que isso foi o modo como falou com os miúdos (que até conseguiram mostrar-se mais sensatos do que ela). São atitudes como a que teve que fazem com que depois alguns meninos cheguem às salas de aulas deste país com as costas muito quentes e a convicção de que podem tudo, já que a mãe descredibilizou a escola e os professores, demonstrando bem que as crianças são umas desgraçadinhas às mãos de monstros profissionalizados nas mais variadas áreas disciplinares.
 
Pois hoje, minha senhora, esta monstra que também já fez muitos meninos carregarem livros que acabaram por não ser abertos nesse dia, mandou três recados nas cadernetas, pregou muito responso e saiu da escola com um abraço e um beijinho de uma aluna que todos os dias me pergunta se me verá no dia seguinte. Caso esteja a ler isto, não veja gigantes onde só existem moinhos porque tanto há maus professores como há maus pais. Felizmente, uns e outros são excepções, mas a julgar pelo que vi hoje, serei eu melhor professora do que você é educadora.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A avalanche nos exames

Acabei de ouvir na SIC que este ano os exames nacionais do 12.º ano incluirão matéria dos três anos do ensino secundário. O que me ocorreu foi: do ponto de vista do Português e da Matemática, o problema é grande, mas não é enorme. Terão de estudar mais umas obras literárias, porém a gramática acaba por andar sempre a repetir-se, o que faz com que o que é Sujeito e Predicado no 10.º ano o seja também no 12.º. Com a Matemática, e sem querer meter a minha foice em seara alheia, é capaz de se passar o mesmo, embora quase já consiga avistar um número recorde de reprovações devido à avalanche de matéria que será necessário estudar só para o Português e a Matemática. Já a História é outra conversa. Se considerarmos que, por ano, boa parte das editoras faz um manual com dois volumes, que a matéria vai desde a Grécia antiga até à época contemporânea, sendo necessário conhecer bem todos os momentos históricos de que entretanto se fala teremos uma ideia do exagero que aí vem.
 
Não acho mal que sejamos exigentes, bem pelo contrário. No que à minha disciplina diz respeito, a inclusão de conteúdos do 10.º e do 11.º ano não me faz qualquer diferença. Aliás, sempre avisei os meninos de que não deviam descurar a matéria que ficava para trás quando estudavam para o exame, já que, ainda que não lhes perguntassem nada sobre Os Maias, provavelmente pediriam para produzirem um tipo de texto que se estuda antes do 12.º ano ou exigiriam conhecimentos gramaticais anteriores ao ano do exame. Mas juro que em História, por me lembrar bem do muito que tive de estudar para o meu exame, a coisa me faz alguma confusão. Mais: considero que a antecedência com que os alunos estão a ser avisados é pouca. Porém, já no ano passado houve surpresas a poucos meses antes das provas, por isso nem sei porque me espanto...
 
O que sei é que a ser verdade esta notícia e tendo em consideração a antecedência do aviso e a nenhuma adaptação das planificações anuais a esta alteração (já para não mencionar o indispensável alargamento da carga horária destas disciplinas de modo a que esta realidade tivesse condições para ser implementada) prevejo um colossal aumento das notas negativas. Posso estar errada, e oxalá que sim, mas há medidas que não podem ser sonhadas de um dia para o outro. É necessária preparação e alguma adaptação às novas realidades. Contudo isso é frequentemente esquecido.

Kobo

 
Ontem tive na mão o novo leitor de ebooks da Fnac. É pequeno e tem um ecrã táctil. Folheei um livro do Saramago e outro do Lobo Antunes e, relativamente, a este último, achei que o volume de texto por página era manifestamente pouco. Procurei opções para alterar esta definição e não encontrei, por isso não percebi se somos obrigados e ter tão poucas palavras por página ou se realmente há uma forma de alterar isto.
 
No que respeita ao tamanho, o aparelho é interessante. Pequenino, fininho, perfeitamente transportável. Quanto ao preço (119.90€ para quem não tem o cartão Fnac), devo dizer que o considero um bocadinho caro. Tendo em conta os preços dos Kindles e de outros leitores de ebooks conhecidos, parece-me que o Kobo só ganha pela possibilidade de ser comprado numa loja que está ali ao virar da esquina, evitando-se o tempo de espera de uma compra pela internet.
 
A favor deste Kobo está, também, o facto de ter o menú em Português. Em jeito de conclusão: se não tivesse um Kindle, talvez até apostasse nesta nova opção. Porém, como tenho, o Kobo não me apaixonou o suficiente para levar-me a uma traição ao leitor da Amazon.

80's e 90's

Enquanto escrevo esta quixotada, noto que o canal de música VH1 está a fazer um programa intitulado «90's Vs 80's». Gosto! E agora, se me permitem, vou preparar as aulas da próxima semana. Comportem-se!
 
 
Nota: A imagem foi retirada daqui.

Para a prateleira e para o saco

Para a prateleira (qual é que ainda não sei porque estão todas cheias até ao topo) vieram ontem estes dois romances. O Espanhol é para ser desenferrujado de vez em quando, por isso convém dar uma ajudinha com boas histórias. A síntese do do Javier Marías é muito promissora. Já do La Casa de los Amores Imposibles estou um pouco desconfiada. A sinopse também tem ali aspectos que têm potencial, mas tenho receio de que a história resvale para a náusea típica de boa parte dos romances ditos de amor. Porém, na contracapa lêem-se algumas opiniões que aproximam a escrita deste livro à de outros escritores de que gosto, como Isabel Allende e Gabriel Garcia Márquez. Vamos lá ver o que dali sai...


E para o saco que me acompanha todos os dias, cheio de planos de aula e de manuais, veio mais esta gramática. Tinha a versão antiga, mas com a mudança da TLEBS para o Dicionário Terminológico os professores ficaram com uma série de gramáticas ultrapassadas em casa. Ora, a mim aconteceu-me isso, portanto tive de comprar a versão «actualizada» desta gramática e arrumar a velhinha na gaveta (nunca se sabe se não volta a mudar tudo outra vez...). Aqui entre nós, esta gramática da Areal para o 3.º ciclo e ensino secundário é muito, muito, muito boa. É a minha preferida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ovelhas como opção

Bruno Vieira Amaral assina um dos textos mais engraçados que já li na revista Ler. Nele fala da aparente moda que tem levado muitos autores a incluírem a palavra «pássaro» nos títulos das suas obras. Temos para todos os gostos: desde os estrangeiros Pássaros Feridos e O Pássaro de Peito Vermelho até aos portugueses O Segredo dos  Pássaros, Explicação dos Pássaros ou No Meu Peito Não Cabem Pássaros. Importa não esquecer o livro de Agualusa intitulado A Educação Sentimental dos Pássaros e o de Margarida Rebelo Pinto de nome Alma de Pássaro.
 
Perante esta exuberante quantidade de pássaros, o autor do texto expressa um pedido. E admito que este fez-me desatar a rir em pleno autocarro enquanto lia a coluna. Diz o seguinte «É portanto em nome da preservação das espécies que pedimos aos editores que controlem a vocação ornitológica dos autores e explorem as potencialidades dos peixes e de alguns mamíferos, como as ovelhas, normalmente desprezados na hora de escolher títulos poéticos.»
 
Ai, adoro! Já estou a imaginar títulos como «Alma de ovelha» ou «Abismos dos bodes». Com títulos assim até eu me sinto tentada a escrever.

Sobre o mais recente assalto

Gentes, estou apaixonada pela capa da edição de hoje do Jornal I. Que coisa mais fofinha (e verdadeira). Reparem que até a vogal que dá nome ao jornal está amarrada, coitadinha. Uma doçura!


Nota: Isto de se dizer que o aumento de impostos é enorme não cheira a qualquer coisa como «tivessem ficado com a TSU, cambada de burros»? Vou só ali comprar umas cartolinas para as próximas manifestações e já volto...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Vermelho

Teoria pedagógica que me rebenta com a paciência: corrigir testes e trabalhos com caneta vermelha é negativo e desmoraliza os meninos. Ficam, portanto, traumatizados e, por isso, é melhor corrigir a outra cor.
 
Eu sou muito má professora. É que de vez em quando esqueço-me de que os meninos são de porcelana e que se partem pelo simples facto de verem uns riscos a vermelho numa folha. Se for a verde pode ser. A roxo também. A rosa e com canetas de cheirinho upa upa! Mas a vermelho não. Eu pensava que só os touros tinham problemas com esta cor, mas enganei-me. Lá está: sou uma péssima professora. Aliás, agora que penso nisso, todos os meus professores, nos largos anos que andei pelo ensino, eram do piorio: não houve um que corrigisse a outra cor que não o vermelho. Talvez esse péssimo exemplo faça agora de mim a pior das docentes. Que horror! E eu que achava aquele vermelhinho uma cor tão profissional no contraste com o branco da folha de papel e com o azul das BIC's dos alunos. E agora, Deus meu? Que saída para este meu imbróglio cromático?!...
 
A meu ver, esta: vermelho. Mais: vermelho, vermelho, vermelho e vermelho. E mais vermelho. Tanto vermelho quanto for necessário. Nunca vi ninguém chorar por ver tinta vermelha numa folha a corrigir um erro. Os alunos sabem que erram e percebem as correcções. Nunca nenhum me disse que o vermelho era uma cor muito violenta. Curiosamente a teoria veio de professores. De gente que lida com crianças todos os dias e que reclama quando eles se mostram mais «bebés» do que aquilo que a idade pressuporia, mas que, depois, apregoa o vermelho como sendo violento nos seus trabalhos escolares. Estas teorias de que tudo o que nós fazemos à moda antiga traumatiza os meninos põe-me doente. Apesar disso, minha gente, julgo que ainda não há no ensino nenhum lápis azul que me corte a caneta vermelha e por isso ela continuará o seu reinado de terror junto dos alunos. Eles não se queixam e eu também não.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Incompetência

O carteiro que vem entregar as encomendas (e que não é o mesmo que entrega as cartas) passou-se. Então não deu em achar que o pormenor de o andar em que moro vir escrito no destinatário da encomenda é meramente decorativo? Sim, porque só isso justifica que tenha deixado uma caixa com livros em casa de um vizinho que eu nunca vi mais gordo. Este, por sua vez, passou a encomenda ao que mora por baixo que, educadamente, resolveu vir entregar-ma. Mas está tudo doido?! A parte em que temos de assinar o papel que atesta a entrega da encomenda na casa a que se dirigia não dá a entender que não se entregam caixas do que quer que seja onde mais apetece?
 
Nunca tive nada a dizer dos carteiros que já por aqui passaram. Pelo contrário: ainda há pouco tempo fiz uma quixotada sobre a simpatia da senhora que, no Verão, nos entregava a correspondência. Porém, hoje, tenho de dizer que considerei a atitude deste senhor como sendo muito incompetente. Se ninguém abriu a porta, deixava uma nota na caixa do correio que eu acabaria por ir lá levantar a encomenda. Deixá-la em qualquer lado não me dá garantias de que ela venha a aparecer. Ou melhor: só aparecerá se os vizinhos que não conheço de lado nenhum cooperarem. E eu não pago encomendas para depois a decisão de as receber (ou não) ficar nas mãos dos vizinhos.

Modas

Eu não percebo nada de moda e admito-o. A minha vida é arranjar uma camisola que combine com o casaco que quero vestir, já que da cintura para baixo uso sempre calças de ganga (e, uma vez por outra, uma saia). Depois de montar este difícil puzzle cromático, é só enfiar uns sapatos que isso tenho com fartura.
 
Contudo, mesmo não percebendo nada de moda, consigo perceber quando alguém teve uma ideia pouco luminosa na hora de comprar alguma peça ou de a vestir. Ora, hoje vi um desses casos. Cruzei-me com uma senhora jovem que vestia um fato de casaco e calças, sendo que estas eram vincadinhas e tudo. Vai daí e o que faz ela? Enfia as botas por cima. Ora, como as calças dos fatos não são propriamente conhecidas por serem estreitas, o resultado foi uma boa quantidade de tecido enrolado acima do fecho das botas. Era uma coisa semelhante ao agricultor que enrola a parte de baixo das calças ao enfiar as galochas. O resultado, no caso do trabalhador agrário, é perfeitamente compreensível e perdoável. No caso do fato custa a entender.
 
Já que estou numa de tratamentos da indumentária que me custam a perceber, aqui vão mais alguns:
 
- Mas o que é isto de agora ser moda os calções serem tão curtos que se vê o forro dos bolsos? Isso é bonito em algum dos planetas desta galáxia? É a coisa mais foleirona que o mundo já viu, no entanto a moda anda a pôr as meninas em polvorosa. Felizmente os dias de chuva da última semana amainaram um pouco a mania de aliar a roupa excessivamente curta à exibição do forro da mesma. Já custava a aguentar ver meninas a caminharem para as escolas naqueles preparos.
 
- Alguém me diz em que mundo fica bonito vestir leggings a fazer de calças e com a camisola dentro das mesmas? É coisa que fica mal em meninas mais cheias e nas meninas mais magras também não cai nada bem. Que ideia é aquela?
 
- Em 1989 a minha mãe aplicava golinhas de algodão aos meus fatinhos de lã e eu gostava. Dizia que ficava mais bonita. Agora, mais de vinte anos depois, existem colares com o formato de golas e palavra de honra que não entendo de que forma pode isso ser uma tendência a seguir. Colares mais largos até admito, mas colares com o formato de gola, santo Deus!
 
- Sapatos com um formato tipicamente usado por homens que gostam de ter matacões nos pés a serem usados por meninas. Depois, para disfarçar, as marcas acrescentam umas pedrinhas e afins. Consegui tolerar os modelos oxford do ano passado, mas as invenções deste ano metem medo! É cada tijolo que assusta. Ora vejam lá este parzinho da Zara...
 
 
Caso eu esteja terrivelmente enganada digam. Gostos não se discutem, bem sei, mas podemos sempre trocar dois dedinhos de prosa e podem também tentar convencer-me de que eu é que padeço de um terrível mau gosto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

1984

 
Hoje comecei este e topei logo com a minha monumental ignorância. É que há uns dias passei num muro onde alguém escrevera as frases:

 
GUERRA É PAZ
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO
IGNORÂNCIA É FORÇA
 
Na altura, ao ler aquilo, pensei que quem o escrevera tinha surtado. «Ignorância é força»??? Mas que raio? Bom, hoje nas primeiras páginas do 1984 do George Orwell percebo que estas frases saíram de lá e que a surtada e ignorante sou eu. Mea culpa!

A mariconça

Chamem-me mariconça, mas para mim a maioria das versões que os tipos da série Glee fazem das músicas são melhores que os originais.
 
Eu já gostava da música que deixo aqui, mas fico absolutamente encantada a ouvir e ver esta versão. Caramba: quem diria que a Gwyneth Paltrow, além de ser gira até meter nojo e boa actriz até não aguentar mais, ainda conseguia cantar?... Ai Deus, tanto talento para uns e tão pouco para mim.