segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Que venha 2019!


E cá chegamos ao final de 2018, o ano mais «montanha-russa» da minha vida. Mas também, provavelmente, aquele que mais me marcou e o ano que mais lições me deu.

Em 2018 arranjei trabalho, assisti ao milagre que permitiu ao meu pai ter uma vida nova, passei um mês e meio a correr para o Curry Cabral para o visitar, vivi momentos em que não via solução para os problemas, mas felizmente vivi outros em que tudo começou a encaixar e a resolver-se.

Em Novembro a sorte bateu-me à porta e vou contar-vo-lo agora. Numa daquelas coincidências raras, cruzei-me com uma editora, levando na mão um livro de um autor publicado por ela. Conversa puxa conversa e acabei numa entrevista. Começo em breve a trabalhar na divisão literária de uma conhecida casa editorial, a fazer aquilo que já era um sonho antigo: trabalhar no mundo do livro, participar na sua realização. É um desafio, mas o facto de poder ter esta oportunidade já confirma que a melhor coisa que fiz foi deixar uma profissão que estava a consumir-me para tentar fazer outras coisas. 

Foi, acreditem, um longo caminho para chegar até aqui. Contudo, acho que tudo aconteceu no momento certo e foi preciso dar cada passo para poder atingir esta meta. O desemprego, desesperante por vezes, permitiu-me acompanhar os meus pais nos momentos mais complicados; o trabalho, inicialmente em part-time, possibilitou-me algum rendimento, mas também o tempo preciso para ver o meu pai no hospital durante aquele mês e meio em que esteve internado; também me permitiu conhecer outras pessoas, algumas que espero manter na minha vida; e, claro, abriu-me portas que agora, no novo ano, transporei com a esperança de que não mais se tornem a fechar.

Apesar de tudo, chego a ter pena de que o ano termine. Bem sei que é só um número no calendário, mas 2018 foi um ano único, foi um ano de emoções à flor da pele. Se tivesse de escolher uma palavra que definisse o que estes 365 dias foram para mim, optaria por «esperança» porque foi ela que me manteve até ao fim. Mesmo quando já esperava muito pouco, houve sempre um restinho de esperança que ficou e que me ajudou a seguir em frente. 

Também foi um ano de sorte. Não porque me tenha saído o Euromilhões, que não saiu (também sem jogar é difícil...), mas porque houve momentos em que os acasos geraram oportunidades. Às vezes na mesma semana ou com poucos dias de diferença. Em 2018 tive daqueles segundos em que a cabeça fica confusa devido à rapidez com que tudo sucede. Pereceu, em alguns momentos, que os acontecimentos foram mais velozes do que aquilo que me era possível processar. Disse algumas vezes que me sentia a entrar na máquina da roupa para a centrifugação e a sair de lá depois de umas dezenas de voltas, tonta, cambaleante, bêbeda de pasmo.

Por isso chego a 31 de Dezembro de 2018 com pena porque termina este ano tão marcante, mas expectante relativamente ao que está para vir. Talvez não venha a ser um turbilhão de emoções como foi este ano, mas será, certamente, desafiante. Por isso, de coração aberto e preparado, digo: venha ele que cá o espero. Ao ano velho arrumá-lo-ei na memória e no coração como o ano mais emocionante da minha vida até agora.

A todos vocês que mais uma vez, ao longo de um ano, seguiram as minhas quixotadas, quero agradecer a companhia neste percurso. O blogue foi ficando de lado nos momentos mais duros, mas sei que posso sempre voltar a ele: encontrarei alguém desse lado. Quero também lamentar não ter sido mais original no que escrevi, não vos ter proporcionado gargalhadas como noutros tempos. Se não o fiz, foi porque não consegui. Mas oxalá possa tornar a fazê-lo! E, por fim, quero desejar-vos o melhor dos anos. Que 2019 traga saúde (hoje já percebo por que motivo as pessoas sempre desejaram saúde antes de qualquer outra coisa), felicidade, amor, bons livros (claro!) e muitos risos. Que seja o ano em que os sonhos se cumpram e em que novos e bons desafios vos sejam propostos. E que no fim, de hoje a 365 dias, possamos voltar aqui a fazer um balanço positivo, de grande saudade por um bom ano que passou. Desejo-vos o melhor: desejem-me também sorte para a mudança profissional que aí vem.

FELIZ ANO NOVO!


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Menina QUERIA Isto, Mas Já Tem X


Ora bem, isto é uma vergonha, mas cá vai: é o meu primeiro dicionário GRANDE de língua portuguesa. Tenho um de Espanhol que é gigantesco, mas de Português só tinha o Dicionário Moderno da Porto Editora, que era bom e que deu um jeitão nos tempos da tese. Mas este é outro campeonato. É tão completo que dá vontade de lê-lo em vez de consultá-lo. Faz uma coisa que adoro: apresenta frases que utilizam em contexto a palavra procurada. Também indica o grau de abertura de uma determinada palavra naquelas em que a pronúncia pode não ser óbvia. Mostra ainda os casos verbais mais complicados nos tempos que costumam dar trabalho. E, como se não bastasse, apresenta no final um prontuário com os principais aspectos linguísticos que habitualmente precisamos de saber. É um dicionário fenomenal para professores e alunos porque introduz muitas entradas directamente relacionadas com os Programas Curriculares e com a nomenclatura que eles incluem. Parece-me um excelente investimento para quem tem de trabalhar com a língua portuguesa, mas, de modo geral, para todos os falantes que queiram ter por perto um repositório das palavras que utilizamos.

Soube deste Dicionário da Língua Portuguesa através de um e-mail da editora. Nele vinha um vídeo com personalidades que utilizam diariamente o dicionário. Deixo-vo-lo aqui para que possam vê-lo e, quem sabe, entusiasmarem-se com este belíssimo volume. Já agora, uma informação importante: custa 42 euros.


Agora sim: o Natal foi...

Não consegui vir desejar-vos, como fiz todos os anos, um feliz Natal. Ainda assim, acho que todos os seguidores/leitores deste blogue sabem que lhes desejo o melhor e, portanto, acreditem que me lembrei muito de vocês e tive pena de não vos deixar umas palavras antes da noite mais bonita do ano.

Tive dezasseis pessoas a passarem o Natal cá em casa. Esfalfei-me que nem uma louca. No dia 24 só consegui sentar-me durante o jantar. Foi uma trabalheira, mas foi talvez o melhor Natal da minha vida. Teve um significado diferente. Depois de um ano muito mau, o de 2017, em que tudo foi incerteza, 2018 foi o ano da mudança e da esperança. Ver o meu pai bem e contente, saber que parte dos problemas está a tornar-se passado é uma alegria enorme. 

Por tudo isto, porque valia a pena viver cada segundo com estas pessoas da minha vida (algumas vieram de longe para celebrar o Natal connosco), porque tudo tinha de ser bom e perfeito, acabei por não conseguir passar pelo blogue. Espero, contudo, que tenham tido um Natal tão bom como o meu. Com poucos presentes, mas com muitas pessoas presentes e muita alegria. E agora venha a passagem de ano e um 2019 em grande. Com novidades para breve...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A Menina Quer Isto CXII

Se ainda for a tempo de pedinchar alguma coisa nova para o Natal, então a Menina quer este dicionário. Ainda está quentinho, acabadinho de sair. A Menina portou-se bem e queeeeeeeeeer! Além disso, 2019 está mesmo a pedir um dicionário novo...


domingo, 16 de dezembro de 2018

Madame Pochita - actualização


Embora a foto seja anterior à esterilização e não mostre a fatiota que ela anseia arrancar de cima do pelo, eis Madame Pochita na sua fotografia para a carta de condução. 

Ora, no sábado foi à veterinária ver como iam as coisas e, minha gente, eu quero ter a pele desta cachorra! Tem uma cicatriz tão maravilhosamente cicatrizada que nem parece que aconteceu ali alguma coisa. Nem vermelhita estava! Mudou-se o penso e no sábado regressa para, espero eu, ser despida. É o que ela mais quer. E eu também, que estou farta de andar a coçar-lhe as costas. Sim, falo a sério. Vejo-a tão aflita que meto a mão dentro da fatiota e dou uma ajudita. Se ela ronronasse, fá-lo-ia, tamanho o alívio. Mas pronto, corre tudo bem e isso é um alívio.

PS.: Ela não lê o blogue, por isso posso contar: hoje fomos comprar o presente de Natal de Madame Pochita. Mandámos gravar uma chapinha cor-de-rosa em forma de osso com o nome dela e os nossos contactos telefónicos. Ficou tão, mas tão querida. Vai ficar a matar naquela coleira cor-de-rosa! Acho que de todos os presentes que já embrulhei é o mais fofo de todos. E além de giro que dói, é muito, muito útil. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

No tempo da Pedra

Queridos quixoteiros, com a "morte" do meu telemóvel, tornou-se ainda mais difícil responder com prontidão aos vossos comentários. Publicá-los é fácil, mas responder-lhes precisa mesmo de um computador, coisa que só costumo ligar no fim-de-semana. Por isso peço-voz desculpa. Espero em breve, passada a loucura consumista é responsável por aumentos bárbaros nos preços, poder substituir o falecido telemóveis e retomar a actividade "blogueira" com a devida normalidade. Até lá, se não vos responder atempadamente, perdoem-me, mas a minha tecnologia retrocedeu ao tempo da Pedra. Ou pior.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Quase desconectada

Que altura do ano o meu telemóvel haveria de escolher para falecer? Esta, claro. Quando tuuuuudo está mais caro ou esgotado. Resultado: voltei temporariamente ao meu velhinho iPhone 4 (imaginem) e, no fundo, a coisa serve só para fazer e receber chamadas. Já não tem novas actualizações, de antigo que é. Portanto, vir ao blogue e publicar nele, se era difícil, pior ficou. Baaaaaaaaaaaaah!

Bom, lá deixarei de pegar no telemóvel por isto ou aquilo. Pode ser que assim me despache mais a terminar os livros que ando a ler.

sábado, 8 de dezembro de 2018

O feriado de Madame Pochita

Para muitos, hoje foi dia de enfeitar a árvore de Natal. Para outros, foi dia de passeio e de aproveitar o belo dia de sol que esteve. Para alguns, foi dia de compras em centros comerciais a abarrotar de gente. Já para a Madame Pochita foi o dia de ser esterilizada (e conseguiu sê-lo antes do primeiro cio!). Correu bem. Está ali tombadinha na sua caminha, mas está bem. Esperamos que rapidamente volte a ser a cabrita saltitona do costume. Por agora, triplicámos a dose de miminhos. Não falta muito para lhe saírem arco-íris pelas orelhas.


(Madame Pochita a regressar a casa depois do período de recobro.)

Canção Doce - o balanço


Canção Doce é um daqueles livros que nos faz pensar. Não fechamos o livro como se nada se tivesse passado durante a sua leitura. Pelo contrário: todo o livro é uma revelação sobre um modelo de sociedade que, infelizmente, conhecemos bem e no qual nos servimos dos outros sem querermos realmente saber o que eles querem, pensam ou vivem depois de saírem de junto de nós.

A acção decorre em Paris, num apartamento pequeno de uma família de classe média. Paul e Myriam têm dois filhos e, inicialmente, a mãe opta por ficar em casa com os pequenos, abdicando da sua carreira no Direito. Porém, à medida que o tempo passa, começa a sentir-se sufocada entre as paredes da pequena casa e vem ao cimo a inveja pela vida profissional do marido. Aos poucos vai-se desenhando na sua cabeça o desejo de regressar ao trabalho, mas deixar os filhos entregues ao cuidado de uma estranha gera nela uma ambiguidade de sentimentos difícil de suportar. Inevitavelmente, acabará por surgir a oportunidade profissional e a consequente necessidade de arranjar uma ama para os filhos. Inicia-se a busca e eis que surge Louise, aquela que é vista como a Mary Poppins dos tempos modernos de tão perfeita que é. 

O livro começa a sua história pelo fim. É-nos contado nas primeiras páginas o final da relação entre a ama e esta família francesa. O resto da história é uma analepse, ou seja, é o voltar atrás para se perceber que caminho foi percorrido até àquele momento fatídico em que Louise mata as crianças de quem cuida. Não estou a desvendar nada que estrague a leitura: é mesmo assim que o livro começa e, acreditem, essas primeiras páginas são sufocantes. São páginas dolorosas, de uma dor inimaginável. Contudo, o resto do livro é uma revelação. É um retrato cru de como tendemos a ser ilhas, de como estamos sozinhos mesmo no meio de uma multidão.

Paul e Myriam querem uma ama e têm-na. E rapidamente ela será mais do que uma ama. Será praticamente uma empregada de limpeza, uma cozinheira, uma costureira, uma palhaça... Enfim, será tudo aquilo que lhes fizer falta. E eles aceitam e agradecem que ela faça sempre mais e mais e mais. Aceitam e agradecem a sua presença constante porque isso lhes liberta o tempo. Aceitam que ela lhes mude a casa, que lhes mude os hábitos, que tome decisões que eles até nem tomariam. Tudo porque isso lhes facilita os dias e porque lhes dá a sensação de que a vida é perfeita, de que não têm de se preocupar com nada que não seja importante e que se prenda com as suas vidas profissionais, essas sim dignas de atenção.

O problema é que todos gostamos de ter a papinha feita até ao dia em que alguma coisa, por pequena que seja, começa a irritar-nos. Aí, a Fada Madrinha começa a transformar-se numa Bruxa aos olhos de quem nela principia a encontrar defeitos. E, de repente, aquela que era indispensável passa a ser facilmente descartável. Aquela que tantos elogios recebeu torna-se digna de críticas gratuitas.

Sem desvendar mais sobre o enredo, deixo-vos apenas aquilo que pude perceber com esta narrativa. Percebi que estamos muito sozinhos. Que por muito que façamos falta nesta empresa ou para aqueles colegas, poucos são os que realmente querem conhecer-nos e tentar perceber quem somos, que carga carregamos aos ombros, que dores temos em nós. Há neste livro um momento que considerei duríssimo, carregado de uma crueldade desmedida. Quando Myriam informa uma amiga de que procura uma ama, esta aconselha-a a que opte por uma estrangeira que tenha os seus próprios filhos longe, no país de origem. Isto para que possa estar sempre disponível para os filhos da patroa, seja a que horas ou a que dia da semana for. Queixa-se ela de que a ama que fica com as suas crianças é um problema porque nunca pode ficar durante a noite, nem ser avisada de uma necessidade de um momento para o outro. Como se a ama não tivesse vida, família, ou como se não precisasse nem devesse ter tempo para si. Vi neste pequeno diálogo uma crueldade e um egoísmo imensos que, infelizmente, não estão assim tão longe daquilo que conhecemos nesta sociedade louca em que vivemos. É como se as pessoas fossem objectos que se usam sempre que se quer e que se deitam fora quando já não servem. É uma inversão dos valores e de tudo aquilo que deveríamos ser. E é chocantemente verdadeiro. Paul e Myriam vêem em Louise apenas o que querem ver: alguém que lhes facilita a vida. Nem mesmo quando sabem que a ama atravessa momentos difíceis procuram ajudá-la (pelo contrário: ainda conseguem censurá-la). Não entendem que assim só fazem com que a sua família ganhe uma dimensão doentia para aquela ama que, aos poucos, vê serem cortados todos os fios que ainda a ligam ao mundo.

Com este livro, Leila Slimani venceu o Prémio Goncourt de 2016 e, em meu entender, foi muito merecido. A escrita é muito directa, sem grandes rodeios ou floreados, e assim vai bem ao encontro da mensagem que pretende passar: uma mensagem também ela crua e violenta, chocante por ser tão verdadeira. É um livro que «não mata, mas mói» e que, precisamente por isso, vale muito a pena ler.

Em busca de lugar na estante XVII

(Entretanto, estes dois já encontraram lugar na estante e, por isso, as fotografias não foram tiradas por mim.)



A minha prateleira consagrada a Saramago e ao que sobre ele se escreve soma e segue. Honestamente, interessa-me pouco o que a Pilar tem a dizer, mas quero muito continuar ler as palavras de um homem que era, a meu ver, um génio das palavras. A minha admiração por este escritor é imensa, principalmente porque é a prova de que o nascimento não tem de determinar todo o futuro. Mesmo nascendo numa família pobre e sem oportunidades de estudar, foi Saramago o primeiro (e até agora o único) autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura. E por isso mesmo tanto se escreve sobre ele. A prateleira agradece.