Tenho andado pouco por aqui. Até tenho umas ideias para escrever, mas tenho estado cansada e acabo por não ligar o computador. Mas hoje... Hoje tive mesmo de vir. É que hoje senti-me uma blogger importante. Dei um pulo ao blogue no telemóvel e eis que me deparo com dois comentários anónimos a aguardar moderação que são uma pérola. Não os vou publicar nos comentários e responder-lhes por essa via porque achei melhor dar-lhes a glória de uma quixotada, de bons que são. Ora aí vai um print screen da coisa (carreguem na imagem para verem melhor, por favor):
Ora, esta criatura corajosa o suficiente para comentar o blogue de forma anónima quis deixar sua opinião relativamente à quixotada em que falei das leituras que fiz no ano passado e que ela não aprova. No primeiro comentário, começa por achar extraordinário que eu tenha dado aulas de português. Isto porque, na sua opinião, sou «poucochinha» e «baixinha». Bom, caro leitor-meio-enraivecido, acertou num ponto: sou baixinha. Tenho pena de não ter sido abençoada com mais uns centímetros, mas infelizmente a genética falou mais alto e, com um pai e uma mãe pouco altos, não poderia esperar crescer muito. Mas nada que uns belos saltos não resolvam. Quanto ao «poucochinha», fico a aguardar um novo comentário seu a explicar o que quer dizer com isso. Presumindo que seja qualquer coisa como «és limitadita, filha», a minha questão é: e parou a ler o blogue porque...? Por favor, substitua as reticências com a explicação que desejar. É que eu, quando vejo que o blogue não me acrescenta nada e que a escrita do autor mostra que ele não é lá muito dotado, prefiro optar por um livro. O mesmo acontece quando tenho o azar de me cruzar com um livro que não me aquece o coração: volta direitinho para a estante. Podia chamar-lhe nomes e assim, mas era perda de tempo. Também perdeu pelo menos treze minutos da sua vida a comentar este blogue. Aliás, explique-me lá: como é que conseguiu demorar tanto tempo a escrever dois comentários tão curtos ao mesmo texto, tão básicos e mal pontuados?
Ah, mas parece que o que a espanta é a má qualidade dos livros que li em 2018. Pois, lamento não ter lido Os Miseráveis, o Crime e Castigo e o Quixote pela quinta vez. De vez em quando importa variar. E às vezes ler outras coisas. Li O Pintassilgo e achei uma excelente história. Se um dia for capaz de ler um livro extenso (quando passar a fase das vogais) e der uma oportunidade àquele romance, talvez tenha uma surpresa. Palavra de professora de português especializada em literatura! Mas se só quiser ler clássicos, também está à vontade. Nunca se perde tempo a ler um grande livro que o tempo consagrou. Perde-se tempo a destilar rancor nos blogues alheios, mas a ler boas histórias não. Também se perde tempo a responder a gente malcriada, mas, oh well, tinha aqui um bocadinho livre e resolvi retribuir-lhe a atenção que me dedicou.
Lamento, mas atirar ao ar o possível nome da editora em que trabalho não me fará abrir a boca e dizer «acertou, é mesmo essa» ou «errou, tente lá outra vez». Mas apreciei a tentativa de se mostrar esperta. Às vezes isso faz bem ao nosso ego e, quando a realidade em que nos movemos é suficientemente má para sentirmos a necessidade de ir destilar veneno para os blogues dos outros, qualquer tentativa de elevação do ego é importante. Deixe-me dizer-lhe, caro-leitor-altamente-erudito-que-só-lê-o-cânone-validado-pela-tríade-Eco-Steiner-e-Bloom, eu permito-lhe que venha aqui, a esta humilde casa, escrever comentários venenosos. Por duas razões: a primeira é porque considero que farei algo por si ao permitir que «bote» cá para fora o fel que têm aí dentro a consumi-la; a segunda é porque esse veneno dá jeito para quixotadas destas em que mostro que não tenho só gente muito porreira a ler o que escrevo e a comentar com educação. Não: a caríssima leitora-danada-com-a-vida-e-com-um-ligeiro-problema-com-aquilo-que-sou-e-que-faço é a prova de que, além dos quatro leitores habituais, também tenho os que vêm camuflados visitar a página. Só que alguns dos anónimos são pessoas normais. E depois há a caríssima.
Bom, para abreviar a coisa: agradeço-lhe o palavrão. Foi uma inovação nesta casa! Acho que nunca o tinha escrito no blogue sem ser em referência a livros que utilizam tal vocábulo. Talvez por ter a tal veia de professora (bem sei que lhe custa a crer que já tenha dado aulas porque sou «baixinha» e «poucochinha», mas é verdade e era bem boa no que fazia), evito esse tipo de linguagem. Porém, não posso esperar o mesmo dos eruditos-brejeiros-revoltados que por aqui passam. Ainda assim, vá lá, desta vez passa, mas da próxima mando-a de castigo voltada para a parede ou lavar a língua com sabão azul e branco. Ai a menina!
Por fim, uma correcção: não é «a Kepler». Quando muito são «os Kepler». Os autores são um casal. Escrevem excelentes livros para entreter. Sabe, aquela coisa que os seres humanos de vez em quando precisam de fazer? Não deve estar a ver... Olhe, vamos ver se me explico assim (eu, que fui tão boa a explicar coisas aos meus alunos): está a ver aquilo que faz quando vem aqui entreter-se a ler coisas que a irritam? Isso é entretenimento. No seu caso é entretenimento masoquista. No meu, quando quero ocupar as horas mortas, leio livros. Às vezes leio autores intocáveis, como Dickens, Eça de Queirós, Camilo, Twain, Vargas Llosa ou outros, mas por vezes, como criatura mortal e imperfeita que sou, leio coisas como os Kepler. E o folheto do LIDL. E o frasco do champô. Coisas inócuas, que me enervem pouco. Vá, aprenda comigo. Afinal, sou professora (piscadela de olho).