sábado, 30 de maio de 2015

Feira do Livro # 2

Mas nem só de Quixotes a mil euros se fez o meu primeiro passeio pela feira. Num primeiro balanço, parece-me muito maior este ano, mas mais cara do que no ano passado. De facto, há livros em que o desconto nem se sente, o que me entristece sempre já que a feira pretende ser o lugar onde as pessoas que habitualmente até nem compram muitos livros podem alargar-se mais um pouco. Há as pechinchas do costume em alguns pavilhões, mas depois temos outros onde se retiram pouco mais de dez porcento aos livros. E depois há os Quixotes a mil euros, claro.
 
Bom, mas o que comprei eu? Pouca coisa quando comparado com o ano passado. Ainda assim, deu para trazer algumas coisinhas fixes, nomeadamente dois livros de Calvin & Hobbes que nem sabia que não tinha. Ora, as compras foram estas:


No pavilhão da Gradiva, estes dois livros do Calvin estavam em promoção. Julgava que tinha O Tigre Assassino Ataca de Novo (uma espécie de antevisão da minha vida com o Sr. Gato, como se vê pela capa), mas afinal não. O outro é uma antologia de Calvin & Hobbes que também não tinha. O livro da colecção Adam foi oferta da editora por comprar dois do Bill Watterson.

 
Uma novidade da Relógio D'Água: Pippi das Meias Altas.

 
Na Bertrand, Cotovia e Antígona, mais uns livrinhos. Na Bertrand As Quatro Viagens de Colombo (cortesia do moço) e livro que queria havia muito. Na Cotovia, o último de A. M. Pires Cabral, de quem sou fã. A propósito: se ainda não leram O Cónego, deste autor, a minha pergunta é: que esperam?! É muuuuito bom. Trouxe ainda um de Kingsley Amis que, pelo que sei, fala sobre o nosso país. Da Antígona, das pechinchas que são os livros manuseados, saiu A Invenção de Morel (uma falha na minha biblioteca) e um de Jack London intitulado Martin Eden.
 
Por fim, não levei um Quixote de mil euros, mas levei uma adaptação que procurava há alguns anos e que fazia falta na minha colecção. Consegui, finalmente, a adaptação publicada na colecção Biblioteca dos Rapazes. E ainda fiquei com outros Quixotes debaixo de olho, mas a feira também só ainda vai no terceiro dia...
 


Feira do Livro # 1

Ontem foi dia de ida inaugural à Feira do Livro de Lisboa. Começou logo com um momento hilariante que partilho convosco para que possam revivê-lo, se vos apetecer. Ora, iniciando a feira pelo lado direito, passo no Pavilhão da Lello e pergunto à senhora do stand o preço de uma bonita edição do Quixote que por lá estava. Ela berra para fora, para um senhor sentado ali ao lado, quanto era o Quixote e ele responde rapidamente «Mil euros!». Perguntei à senhora se eu tinha ouvido bem e ela, meio embaraçada (pareceu-me), disse que sim. Entretanto o senhor apareceu junto de mim e o que se seguiu é épico:
 
- Sabe, é uma edição muito antiga e já esgotada. - disse o senhor.
 
Eu ia olhando para o livro e ia achando que o corte frontal do livro estava demasiado branquinho para o livro ser assim tão antigo. E, enquanto mantinha o meu sorriso de quem precisava urgentemente de gargalhar pelo inusitado da coisa, o senhor ia continuando:
 
- Sabe, são gravuras feitas a chumbo, bla bla bla.
 
- Pode dizer-me a data do livro? - digo eu.
 
- Ah, ele tem uns setenta anos. E é uma edição rara bla bla bla... - continuava o senhor enquanto folheava o livro para trás e para a frente.
 
- Mas pode ver-me a data do livro? - insistia eu.
 
Ele continuava a falar e a passar as páginas do livro, mas nada de abri-lo na ficha técnica. E eu ia dizendo:
 
- Pode abrir na última página?
 
Ele continuava.
 
- Está bem, mas pode abrir na última página?
 
- Ah, sabe, eles não costumavam marcar os livros com a data.
 
- Mas pode abrir na última página? - insistia eu.
 
E ele passando as folhas e falando da edição que era muito antiga.
 
Até que a senhora que estava dentro do stand, a que me atendera em primeiro lugar, e a quem a paciência já parecia faltar, diz:
 
- Abre lá na última página!
 
Ele abriu e seguiu-se um silêncio constrangedor: o livro era de 1980 e ele pedira-me mil euros por ele, afirmando ser uma edição antiga e rara, com uns setenta anos. Olhei para ele e disse:
 
- Esse livro é de 1980, tem mais cinco anos do que eu e pede-me mil euros por ele?! Devia vir cá a ASAE!
 
E segui caminho. Nem queria acreditar no inusitado da cena. Aliás, tenciono contactar a editora e explicar o que aconteceu porque me parece de doidos. Pensava que estas tontices só aconteciam nos filmes e nas novelas. Bem, mas foi só o início da feira para mim...

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Uma mãozinha chega

Um dia escrevo um livro só com as aventuras que vivo com este gato. Tem cada mania, lembra-se de cada coisa que palavra de honra... Parece que as sonha!
 
Tenho estado desde de manhã a corrigir testes. Antes de almoçar ele esteve na varanda a dormir e foi tudo bastante tranquilo. Entretanto fiz uma pausa e parece que essa hora de almoço transmitiu ao Sr. Gato a ideia de que daí para a frente todo o meu tempo seria consagrado a brincar com ele. Ora, tristemente, precisava de voltar à correção dos testes. Assim, depois de ir à cozinha e de pôr a louça na máquina, brinquei com ele uns cinco minutos (fi-lo correr atrás de uma pena pesa na ponta de um fio suspenso de uma cana) e sentei-me à secretária para continuar as correções. E é aí que ele faz qualquer coisa que me deixou a rir durante muito tempo e a pensar que este gato é de uma esperteza assustadora. Mas assustadora mesmo. Senão vejam:
 
Sentei-me na cadeira, liguei o computador e o bichano aparece no chão ao meu lado com aquele miar de reclamação típico de quando exige quer alguma coisa. Fiz-lhe umas festinhas e continuei o trabalho. Ele prosseguiu com os miados e foi buscar a cana com a pena para ao pé dele, como quem diz «a cana está aqui, eu estou aqui: brinca comigo já!». Continuei a trabalhar, embora só me apetecesse rir. Como o focinhudo não via nenhuma acção da minha parte que fosse ao encontro daqueles que eram os seus desejos superiores, trepou para cima da secretária e começou a cheirar-me a mão que segurava o rato do computador. Cheirou, cheirou, deu umas trincas e depois começou a abrir muito a boca, como faz quando quer agarrar alguma coisa para transportar. Pois... Ferrou portanto os dentinhos na minha mão (e eu a fazer «mão morta» a ver até onde a coisa chegava) e eis que com a minha mão na boca, dá meia volta e vai para saltar da mesa para o chão com ela presa nos dentinhos (felizmente era coisa que não estava a magoar). Quase como se o tipo percebesse que de todo o meu corpo, a mão direita chegava para brincar com ele. E se Maomé não ia à montanha... Pois a montanha viria até ele.
 
Bom, retirei a minha mãozinha antes que o salto se iniciasse mesmo (mas já com ele posicionado para pular) e depois escangalhei-me a rir com a esperteza e a lata do bicho. Acho que de tudo o que já o vi fazer, esta ideia de me vir roubar só a mão foi mesmo a melhor. Que pena que ninguém filmasse a cena porque seria digna de ser ver que contada não chega.
 
E assim, depois de rir, rir, rir, rir, lá fiquei eu a pensar que este Sr. Gato é preocupantemente inteligente e um nadinha, só mesmo um nadinha, maquiavélico...

É hoje!

Começa hoje a Feira do Livro de Lisboa. Desta vez não irei logo no primeiro dia, mas não deixarei de passar por lá umas quantas vezes. Visitem a feira e comprem os livros que puderem. Esta é a oportunidade anual que muitas pequenas editoras têm para vender mais títulos. E por lá, nós, leitores, encontramos muito do que é bom e que nos escapa durante o ano porque a maioria das livrarias concede um prazo de validade muito curto aos livros. Por isso aproveitem.  A partir de hoje à tarde, no Parque Eduardo VII.


terça-feira, 26 de maio de 2015

O meu problema com as sandes

Quem me conhece sabe que gosto muito mais de pão do que de bolos e que prefiro mil vezes comer uma sandes do que um bolo, quer seja em casa quer seja fora. Porém, em cafés, pastelarias e no bar da faculdade começo a ter horror a sandes e a preferir optar por um bolo cheio de creme. E porquê?

É um facto que geralmente as sandes são mais caras do que bolos (o que não deixa de ser estranho), mas também não é preciso justificar tanto o preço absurdo que muitas vezes se pede por uma sandes colocando dez fatias de fiambre dentro de um pão e untando-o com meio pacote de manteiga. O mesmo com o queijo. Há pouco tempo, numa cafeteria muito conhecida pedi uma sandes de queixo e não estou a exagerar quando digo que a altura do queijo dentro do pão atingia os dois centímetros. Fiquei enjoada e durante uns tempos nem consegui ver queijo flamengo à minha frente. Acho que a quantidade que puseram dentro da minha sandes era mais ou menos a mesma que vem num pacote de queijo normal e que abastece a minha casa durante mais de uma semana...

Com o fiambre já me aconteceu o mesmo muitas vezes e já cheguei ao cúmulo de ter de tirar boa parte do fiambre que me puseram dentro do pão e pelo qual estava a pagar de maneira a conseguir comer a sandes. E quando é com a manteiga? Aí nada a fazer: manteiga a mais arruina o pão e não dá para tirar.

Acabou de acontecer-me o mesmo no bar da faculdade. Pedi uma baguete com fiambre e manteiga e pedi logo "pouco fiambre". A senhora lá me ouviu e cumpriu, mas quando chegou à parte da manteiga parecia possuída e que o ordenado dela dependia das camadas de manteiga que ia pôr naquele pão. Tive de a mandar parar e mesmo assim, com o resto da sandes aqui à minha frente, estou a olhar para o disparate que para aqui vai.

Não dá para entender a pancada, mas é tão frequente que parece uma espécie de convenção. Parece que esta gente recebe formação e que lhe é dito "Hey, o pão até é barato, mas queremos que as sandes sejam mais caras que os bolos, por isso é carregar no recheio. São dez fatias de fiambre ou de queijo por pão e meia barra de manteiga por cada lado do pão. Se o fizerem, serão funcionários do mês."

Gentes, parem de arruinar o pão e de nos tratar como porcos. Assim até eu prefiro bolos cheios de creme logo ao pequeno almoço.

sábado, 23 de maio de 2015

Cuéntame Cómo Pasó

Como os senhores da RTVE resolveram retirar do site os episódios completos da série Isabel (deixando-me sem ver os últimos sete da última temporada, o que me deixou à beira do colapso), tive de escolher outra coisa para ver e lá me lembrei de começar a seguir a enorme série Cuéntame Cómo Pasó. Esta série é o original no qual se baseou o Conta-me Como Foi, que passou há alguns anos na televisão portuguesa (RTP). Aliás, para quem viu a versão portuguesa, os primeiros episódios parecem mesmo tirados a papel químico da versão espanhola. Claro que ao ver a original, sinto algumas saudades das nossas personagens, da nossa língua e da nossa realidade que foi sempre sendo mostrada no Conta-me Como Foi.

Contudo, embora a série espanhola não tenha a sorte de ter uma Rita Blanco a fazer de mãe da família principal como nós tivémos, o Carlitos (o filho mais novo da família) é hilariante. E mais (sendo que isso é que me faz olhar para a versão espanhola com outros olhos): os nuestros hermanos fizeram render a série de tal forma que ela se inicia em 2001, retratanto o ano de 1968 e já vai, no presente, no retrato do que aconteceu em 1983.

Eu adorei o Conta-me Como Foi português. Vi muitas coisas que, não raras vezes, só nos livros de História me tinham aparecido. Mas ainda hoje não percebo a forma parva e abrupta como fizeram acabar a série. O Conta-me que por cá passou na RTP acabou com o 25 de Abril de 1974 e com a família que sempre havia vivido naquele bairro, a cujas alegrias e tristezas assistiramos, a encher um camião com os seus pertences para mudarem para um apartamento em Benfica que o Carlitos tinha ganhado num concurso. E puf, assim se sumiu aquela família, sem se saber como foram os tempos pós-revolução, sem se perceber muito bem o que aconteceu ao filho mais velho... Uma estupidez sem nome. Na altura correram muitos comentários desgostosos no facebook e ainda se imaginou que viria uma continuação, mas agora já se perdeu a esperança. No fundo, só merecemos rever o Portugal da ditadura, não nos foi permitido perceber como aquelas personagens e, no fundo, o país continuou a viver depois do fim da censura, da opressão, do medo. E havia tanto ainda para contar! A série tinha um elenco excelente e, nem que fosse até à década de oitenta, teria valido a pena continuar a contar uma história que não acabou, de certeza, na manhã do 25 de Abril de 1974. Muito menos com uma família a enfiar-se num camião para mudar para um apartamento que nem chegámos a ver. Quem fez a série esqueceu-se, provavelmente, de que os espectadores também se afeiçoam às personagens e aos locais por onde elas se movem. Mais ainda quando o que está a ser representado ajuda a perceber aquilo em que nos tornámos. E para muita gente, como os meus pais e outras pessoas mais velhas, aquela série permitia recordar e rever objectos, usos, costumes e tradições que havia, mas que acabaram perdidas no tempo durante a viagem daqueles tempos para os de agora.

Por isso, mais uma vez e com pena, digo que os espanhóis são muito mais inteligentes que nós nestas coisas. Souberam imaginar a série e mantê-la. Mas mais ainda: souberam manter fiel o seu público, já que ainda hoje, catorze anos depois do primeiro episódio, ela é vista por milhares de pessoas e continua a ser um dos programas mais queridos da televisão espanhola. Aquelas personagens, a sua vida, tornou-se algo a seguir e, por haver ainda tanto que contar, a série não morreu com Franco, como a nossa desapareceu com o fim da ditadura. O Cuéntame Cómo Pasó permanece e dá uma visão mais abrangente do que foi a vida quotidiana espanhola desde 1968 até, pelo menos, 1983. Aliás, nisto de saber aproveitar o que se tem, é dar um pulinho à página do canal RTVE para ver-se como, de facto, os espanhóis produzem séries variadas, muitas baseadas na sua história ou na sua literatura. Nós por cá fizemos umas quantas séries de jeito (A Ferreirinha, O Conde D'Abranhos, Os Távoras...) e depois passámos a achar que nas telenovelas repetitivas, com uma personagem muito boazinha e uma muito má que lhe faz a folha até ao último capítulo quando toda a gente casa, tem filhos e tudo acaba em bem, é que estava o ganho. Aburricamos, pois, a televisão e as gentes, não aproveitamos a nossa História que é tão rica de histórias, ignoramos a nossa literatura (para depois vermos os brasileiros, muito mais espertos que nós, adaptarem O Primo Basílio, Os Maias, A Relíquia...). É assim que somos e dá alguma pena.

Portanto penso que continuarei com o Cuéntame Cómo Pasó, visto que o Conta-me Como Foi desapareceu no seu melhor momento para não mais voltar. Sendo as memórias, especialmente as de infância, algo que sempre será visto com carinho e nostalgia, séries como estas teriam pernas para andar se fossem bem feitas e se não morressem na praia, como aconteceu com a excelente versão portuguesa, Conta-me Como Foi, da qual eu tenho muitas saudades e sobretudo muita pena pelo fim indigno que lhe deram.


(Imagem das personagens do Conta-me Como Foi português. Saiu daqui.)


(Imagem das personagens do Cuéntame Cómo Pasó espanhol. Saiu daqui.)

Nota: Podem encontrar a série Cuéntame Cómo Pasó aqui.

Está aberta a estação estival!

Geralmente diz-se que começou o tempo quente quando vamos à praia pela primeira vez no ano ou quando calçamos as primeiras sandálias ou, até, quando inauguramos as primeiras camisolas de manga curta sem precisar de casacos nenhuns.

Mas eu inauguro o tempo quente hoje, com a primeira caixa de dois quilos de cerejas. Estão bem boas e vão ser o meu pequeno almoço. Está iniciado o tempo quente, hoje faço o enterro do tempo frio.


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Pelos dez anos

Há dez anos e um dia era uma miúda sem namorado. Estava a acabar o segundo ano da minha Licenciatura e divertia-me todos os dias com as maluqueiras próprias de um grupo de amigas igualmente estouvadas, descomprometidas e bem dispostas. Eram tempos de gargalhadas, de aventuras tontas, de férias combinadas à maluca para uma pousada da juventude e de noites longas.

Há dez anos e um dia era assim e não podia melhorar. Lavavam-se as vistas de vez em quando, faltava-se a umas aulas para ir comer sundaes de chocolate, tínhamos conversas parvas e os dias iam correndo.

Há dez anos e um dia era assim, mas há dez anos, no dia vinte e dois de Maio de 2005 as coisas mudaram um bocadinho. Aquilo que não podia melhorar melhorou. A vida mudou, sim, mas para melhor porque se se mantiveram as gargalhadas, as maluqueiras e as aventuras com as amigas, a verdade é que entrou no caminho um amigo novo. Na realidade o maior e melhor amigo que alguma vez terei. E porque tenho uma sorte dos diabos (mesmo quando me revolto com o mundo e digo que não), esse melhor amigo começou nesse dia a ser o meu namorado. É-o até hoje e, por mim, por ele, por nós, sê-lo-á sempre.

Nesse dia, há dez anos, não o vi. Foi um Domingo, o Benfica sagrou-se Campeão Nacional e acabei no Marquês com uma das amigas a celebrar a vitória do meu clube (rival do dele). Nessa manhã, ele pediu-me em namoro no Messenger (lembram-se do Messenger? Tenho algumas saudades.), mas nada de nos encontrarmos porque, calma, o Benfica ia ganhar o campeonato nesse dia. Disse à minha mãe: "Mãe, tenho um namorado novo!", e expliquei-lhe quem era. A resposta foi "Coitado, nem sabe no que se mete."...

De facto, meteu-se em tais trabalhos que hoje, dez anos depois (e com o Benfica campeão outra vez...), vive comigo, faz festas no mesmo gato a quem eu faço festas, aguarda comigo a chegada da nova gatinha e celebra comigo este dia vinte e dois de Maio de 2015. 

Estes dez anos foram um privilégio que a vida me deu. Foram a resposta a um pedido que fiz e que só posso agradecer até ao fim dos meus dias. O meu namorado é o meu melhor amigo, é a minha maior companhia, é o meu orgulho, é a melhor pessoa que conheço e o que aprendi com ele até hoje não tem limites. Se fui feliz nestes dez anos, a ele o devo. Se os momentos maus são hoje fracas memórias, a ele o devo. Se sou o que sou, se tenho o que tenho, em parte também lho devo. Em dez anos nunca discutimos, nunca perdemos tempo a zangar-nos, nunca precisámos de "dar tempos" (como parece que alguns vão fazendo) nem de olhar para outros lados. Nunca precisámos de desconfiar um do outro, nunca demos lugar aos ciúmes, nunca deixámos de ser quem éramos nem de fazer aquilo de que gostávamos só porque um de nós não queria. Não. Soubemos juntar as nossas vidas sem anularmos o que éramos antes do aparecimento do outro; sabemos respeitar-nos e respeitar as escolhas e gostos do outro; ele adora carros e bicicletas; eu adoro livros; eu fui com ele a encontros de automóveis e lojas de desporto; ele percorre a Feira do Livro ao meu lado. Ao Domingo ele sai para pedalar e eu preparo-lhe o almoço, depois de uma manhã de ronha na cama. À tarde estamos juntos e somos felizes.

Não o trocava por nada deste mundo, não mudava nada nele e dez anos depois sinto um amor imenso e um orgulho tremendo por saber-nos aqui chegados, com uma vida tão diferente daquela que tínhamos em dois mil e cinco, tendo tudo aquilo com que sonhámos durante tanto tempo. Foram dez anos palmilhados passo a passo, preenchidos com tantas coisas que o tempo passa a ser como no quadro de Dalí: diluído, fugidio... Seja como for, foram os melhores dez anos que podia ter pedido e ele é a melhor pessoa que já conheci e por isso...

Para ti, amor, dez anos volvidos, deixa-me dizer-te que viste sempre muito melhor aquilo que não fui capaz de enxergar. Se no oitavo ano gostavas de mim e eu fugia de ti (e isso foi há uns módicos dezassete anos...), agora tenho a certeza de que tinha de ser como é e não de outra maneira. Estes dez anos foram os melhores até agora. Daqui em diante como será? Bom, por mim será como durante tanto tempo te disse e que, no fundo, mantenho e manterei sempre:

"Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver."
                       Carlos de Oliveira


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Todos os dias nos entram crimes pelos olhos dentro. Basta ligar a televisão e lá estão eles. Normalmente anónimos, ferem-nos cada vez menos de tão adormecidos que vamos ficando relativamente à dor alheia. Chegamos a bocejar, a dizer que os noticiários são sempre o mesmo, esperamos por aquela parte em que se fica a saber o tempo para o dia seguinte e os vencedores dos jogos de futebol. Já estamos neste ponto: é tanta dor, tanto desatino que já não há terminais nervosos que cheguem nem lágrimas que queiram cair. 

Mas um dia chega em que a vítima não nos é estranha. Ou porque a conhecemos ou porque conhecemos alguém de quem ela é próxima e aí pára o mundo. Afinal o crime é mesmo mau e causa mesmo vítimas e dor. Não gera apenas números, como nos vamos habituando através da banalização a que vai sendo sujeito nas televisões. Um dia percebemos que alguém que é assassinado é pai de alguém, filho de alguém, amor da vida de alguém e nesse dia sente-se tudo o que não se sentiu antes com todos os mortos que nos foram sendo anunciados, verdadeiramete enumerados nos noticiários. Há um dia em que uma daquelas notícias escabrosas traz como principal vítima alguém muito, muito próximo de outra pessoa com quem, ainda que brevemente, nos cruzámos. O coração fica pequenino, o nó na garganta enorme. Aí é inevitável pensar que haveria ainda tempo para essa pessoa estar com os seus, se um assassino lho não tivesse roubado. Aí temos de pensar que esse homem, esse marido, esse filho, esse pai, morto por razão nenhuma, merecia cada segundo da sua vida, merecia viver mais e que lhe não fosse sem direito roubada a vida que era sua e dos que o amavam. 

E dói pensar que para essa pessoa a vida se apagou, assim como se apagou a alegria de todos os se apenas por existirem seriam a sua própria alegria. Porque alguém foi mau o suficiente para matar, muitos chorarão e revoltar-se-ão. Quererão com o seu ente querido o tempo que foi roubado e não terão mais do que o da despedida no velório e no funeral. Não é justo. E quem matou? Por cá andará, pagará ou não pelo crime, mas para aqueles cuja vida atingiu, pagará sempre muito pouco. Não é justo. 

Aconteceu isto a alguém que em tempos conheci e eu não consigo, não consigo mesmo, imaginar o que seja perder um pai assim. E também não sei o que lhe poderia dizer. Só sei que não é justo, que não há tamanho, medida ou palavras para descrever tanta crueldade e tanta dor causada por nada. 

Desta vez a notícia não foi só mais uma. Morreu um homem e um filho chorará o tempo que não terá com o pai. Esse filho não se despediu do homem que lhe deu a vida e nunca perceberá o que justificou  que roubassem a existência de uma das pessoas que mais amava. 

Não consigo imaginar o que se sente nestas circunstâncias. E também não consigo desejar força aos que ficam a chorar esta morte porque não há força que chegue perante tamanha barbárie. Na realidade, não sei sequer o que dizer agora, quando tudo deixa de ser alheio e distante e nos toca, de facto, na pele. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

De taxi ou de avião? O preço é o mesmo.

Ora vejam lá se não tem lógica: os taxistas propõem como tarifa mínima a qualquer utente que queira apanhar um táxi no Aeroporto de Lisboa a módica quantia de vinte euros, independentemente da distância que precisem de percorrer. Mas tanto quanto sei, nos dias que correm, uma viagem de Lisboa ao Porto de avião pode chegar a custar menos de vinte euros... Portanto fica mais caro ir de táxi do Aeroporto aos Olivais do que de Lisboa ao Porto de avião. Faz sentido? Faz sentido aos taxistas, que prometem em contrapartida andarem arranjadinhos e ter táxis catitas.
 
O Governo parece que não está muito satisfeito com a ideia. Vá lá... Ainda há esperança.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Da Pó dos Livros

Acabadinha de chegar da Pó dos Livros está esta edição para crianças e jovens que mistura a vida de Miguel de Cervantes com a história de D. Quixote e Sancho Pança. Tem umas ilustrações bonitas e é de 1969. Gosto muito!





Uma palavra, claro, à Pó dos Livros que foi de uma prontidão imensa no envio do livro e que custeou os portes. De certeza que esta não será a única ver que utiilizarei os seus serviços. Gostei muito mesmo.

Eu sou um arco em chamas

Sim, leram bem: eu sou um arco em chamas. E porquê, perguntam vocês? Coisa simples. 

O Sr. Gato ainda não percebeu que as noites se fizeram para dormir. Aliás, ele ainda nem percebeu muito bem que é um gato e que lhe compete a digna de inveja missão de dormir mais do que mandam as regras do decoro. Ou não percebeu ou fingiu que não percebeu, mas adiante. Assim, o menino devia dormir de dia e, adivinhem, dormir ainda mais de noite. Pois, só que não. Dormir de dia talvez (a menos que a dona esteja em casa e aí dormir é desperdício de tempo, o que importa mesmo é brincar), mas de noite só mesmo um bocadinho que é para não enjoar.

Ora, nós tivemos um estore estragado durante vários meses e que, portanto, não fechava completamente, permitindo a entrada de alguma luz. Sempre pensámos que arranjando aquilo e deixa ndo a casa às escuras, o bichano dormiria melhor. Na semana passada veio cá o senhor e arranjou tudo, casa escurinha e... Gato com insónias. 

Começou com um leve miado às cinco da manhã. Pensei que estava a ter pesadelos. Afinal não: fofinho peludo acordara já e nem uma casa às escuras o demoveu de querer começar um dia cheio de brincadeiras. Mas, diga-se, a mim não me apetecia nada brincar àquela hora, portanto fiz o que um dono NUNCA deve fazer: fui dar-lhe comida para ver se se calava e voltava a dormir. Ora, daí a pouco havia todo um bailarico na minha cama com um gato de seis quilos a saltar por cima de mim como um leão no circo a saltar por um arco em chamas. Ora salta da direita para a esquerda, ora da esquerda para a direita... E eu ali a espumar de raiva e a pensar "Daqui a uma hora tenho de levantar-me e este tipo só vai permitir-me cinco horas de sono. Como vou eu trabalhar neste estado?!"  Tudo isto polvilhado com umas doses de asneiras para lá de giras.

No final de três dias de demonstrações circences em que eu própria funcionava como arco flamejante, desisti e concluí que o melhor era deixar um bocado do estore aberto, como antes. E não é que resultou? Agora deixa-me dormir mais uma hora ou duas (mais do que isso não que ele rala-se com a minha saúde e teme que durma em demasia). Levanto-me quando começa o miado parecido com a rosnadela, ponho-lhe um farnelzito e volto para a cama, onde ele me deixa ficar mais uma horita ou duas (por vezes até torna a juntar-se a mim), ainda que quando se farta, volta a fazer de mim um arco em chamas e salta por cima de mim para a mesa de cabeceira ou da mesa de cabeceira para o outro lado da cama. Mas isto aos fins de semana.

Nos dias úteis quem o acorda sou eu. Muahahahahahahah!

sábado, 16 de maio de 2015

Antes da Feira do Livro...

Bem sei, bem sei... Ah e tal, a Feira do Livro está quase aí. Pois é, mas a minha lista já ia grande e tive a oportunidade durante esta semana de riscar-lhe uns itens e, assim, saltam já para as prateleiras de modo a que outros possam regressar comigo do Parque Eduardo VII.

Assim, nos últimos dias consegui a preços simpáticos os livros Luka e o Fogo da Vida (Salman Rushdie); Contos de Nick Adams (Ernest Hemingway); Contos Argentinos (dir. Jorge Luis Borges); Eu Confesso (Jaume Cabré); O Grande Manuscrito (Zoran Zivkovic); A Ilíada de Homero (adapt. De Frederico Lourenço); O Luto de Elias Gro (João Tordo); o volume de Literatura Espanhola da História Ilustrada das Grandes Literaturas; Novos Contos da Montanha; A Vida de Dostoiévsky e, por fim, As 1001 Horas de Astérix. Muito porreiro.

Agora ficarei quietinha à espera do início da Feira do Livro de Lisboa, esperando encontrar pechinchas e coisas que valham bem a pena. Antes disso, ainda tenho de ir descobrir onde arrumarei isto tudo...


quinta-feira, 14 de maio de 2015

Desespero

A minha vida agora é isto: a adrenalina e a descomunal carga de trabalhos que traz consigo a fase final do ano lectivo (e sim, "lectivo", porque pelo menos no blogue, cantinho que me pertence, acordos ortográficos ridículos não entram, bem me chega ter o aturar no trabalho), os trabalhos finais do segundo semestre na faculdade, um projecto relacionado com a faculdade onde me formei e, para cúmulo, um gato que deu em acordar e querer brincar antes das seis horas da manhã. 

De caminho, como se a loucura fosse insuficiente, andamos a preparar a chegada de uma gatinha que, espero fervorosamente, acalme os ímpetos de brincadeira do Sr. Gato que, no que a mimo diz respeito, é capaz de ganhar o primeiro prémio mundial. Ontem fomos ao Pet Outlet e foram uns belos 16kg de comida felina a entrarem cá em casa (deviam ter sido 18kg, mas não tinham um dos sacos de 2kg de que precisava...). Tão cedo não penso em comida para gatos! 

Portanto, meus caros, desespero pelo fim das aulas, desespero pelas minhas férias... Desespero por tudo!

domingo, 10 de maio de 2015

O conceito de leitor elevado ao cubo

Concluí há pouco, enquanto olhava para as minhas estantes, que elevo o conceito de «leitor» a qualquer coisa nunca vista. E porquê? Porque percebi que ando a ler três livros ao mesmo tempo, cada um por uma razão diferente. O Quixote por ser transportável na mala e óptimo para ler nos transportes públicos (note-se que me refiro a uma edição de bolso, e não à da Relógio D'Água ou parecida); o Viver Para Contá-la que só consigo ler quando tenho algum tempo livre (cada vez menos) e que não leio no autocarro devido ao tamanho do livro; A Casa Assombrada, de John Boyne, no Kindle, porque tenho chegado à cama tão cansada que o Kindle (onde posso ler com a luz do candeeiro já apagada) é o ideal para ler e adormecer logo a seguir (se adormecer com o Viver Para Contá-la na mão e ele me cair em cima é um problema...). Além disso uma história de fantasmas na Inglaterra de Dickens é leve o suficiente para estes tempos de trabalho desmedido com a proximidade do final do ano lectivo.
 
Três livros, três ocasiões diferentes, três tamanhos diferentes e, afinal, três histórias distintas. Leitura ao cubo. É a loucura!
 
Notinha Nerd: E não é que já só faltam dezoito dias para a Feira do Livro de Lisboa?! Aleluia!!!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Pés que ronronam e pés que não

Para uma pessoa que anda de saltos altos diariamente, o dia de descanso em que pode calçar os seus ténis passa a ser encarado como um quase feriado nacional e religioso em honra do santo dos ténis e dos pezitos confortáveis. Nestes dias, calço os meus novos Merrel e imagino-me, qual ursinho carinhoso, a fazer trala la lala por nuvens, prados verdejantes e arco-íris. Ao longe ouço um som: são os meus pés que ronronam interminavelmente.

Depois vem o dia seguinte e regresso aos excomungados saltos e aos pés cansados. Desço da nuvem, chego à terra e acabo com o ronron de prazer de uns pezinhos satisfeitos. Depois só me sobra mesmo o do gato, que gosta de roçar-se nos meus saltos quando chego a casa (vá-se lá entender...). Esta vida é mesmo um vale de lágrimas.

terça-feira, 5 de maio de 2015

A melhor ideia DE SEMPRE!

Há talvez uns dois meses rendi-me à evidência de que passar a ferro é A tarefa que mais abominamos cá em casa. O jeito é nulo, o tempo disponível não é nenhum e a vontade é ainda menor. Assim sendo, ou arranjava uma solução ou capacitava-me do facto de que tinha de aprender a passar a ferro como deve ser e fazê-lo para o resto da vida, ainda que isso me consumisse horas valiosas de vida, de que preciso para trabalhar ou, simplesmente, para descansar.

Optei por arranjar uma solução que não fosse passar mil horas agarrada ao ferro e a solução foi entregar a minha roupa a quem sabe engomar, que me vai buscar a roupa a casa e que me vai levá-la. Sem enganos, sem trocas, sem nada: só isto. Os últimos dois meses têm sido assim e estou muito satisfeita. Mando a minha roupa e em três dias ela volta engomadinha, bem acondicionada e bem dobrada. É maravilhoso! 

Resultado: gasto mais uns trocos por mês (pago quarenta e cinco cêntimos por peça, independentemente do tipo e tamanho da peça em questão), mas se calhar com o que poupo em electricidade até compensa (quem não tem jeito passa mais tempo com o ferro ligado do que quem tem experiência na coisa). Depois, o facto de me virem buscar a roupa e depois trazê-la é de uma comodidade ímpar. Estou satisfeitíssima com a menina responsável pela roupa e, graças a ela, ganhei imenso tempo livre.

A quem fique interessado, ela engoma na zona de Lisboa e se quiserem o contacto, enviem um email para o endereço do blogue. Vale bem a pena para gente pouco amanhada com o ferro, como eu.

Mudar lençóis ou lutar com o gato?

A tara que o Sr. Gato tem por estar em cima da cama quando mudo os lençóis é doentia. O tipo vê-me a retirar os lençóis para lavar e põe-se em cima. Eu puxo-os e ele morde-os para eu não os levar. Depois ponho o lençol lavado e ele deita-se imediatamente. Quando ponho o outro por cima ele ainda não saiu e, portanto, há uma saliência quentinha e irregular quentinha sob o lençol quando acomodo o edredão na cama. No fim do processo, sinto que passei por uma aula de zumba e três de vira minhoto. Isto para conseguir mudar os lençóis com um gato gigante e cheio de dentinhos em cima do colchão. 

Devem existir mais gatos doidos como ele, mas na sua companhia a minha vida dava um filme. 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sim, isto acontece


Ontem foi por volta das seis e meia da manhã e hoje foi uma hora mais tarde. Não adianta: o Sr. Gato entende que eu não preciso de dormir e o resultado é o modo zombie em que me encontro normalmente. Eu bem tento ignorar-lhe os miaus, até lhe expliquei que hoje é Dia do Trabalhador e que posso dormir mais e tudo, mas nada. No seu entender EU trabalho para ELE e portanto tenho de servi-lo, seja feriado ou não. E lá fui eu dar-lhe raçãozinha nova para ele se ir deleitar. Sou escrava de um gato. Brevemente passarão a dois.

Nota: A imagem apareceu no meu mural do facebook. Penso que tem origem na página Cat Addicts.