terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A desaparecida regressa

Primeiro fiquei sem ideias e fui de férias. Depois, voltei de férias e senti uma preguiça maior que eu. Quando dei conta, havia passado mais de um mês. Então deixei seguir, sem saber bem o que fazer ao blogue.

Nem listas para o Pai Natal, nem erros que fariam Camões arrancar o outro olho, nem sugestões de leitura, nem votos de festas felizes. Nada. O blogue parou num dia qualquer e assim tem estado. 

Regresso hoje (oxalá que seja para continuar e que vocês ainda estejam desse lado) para desejar-vos um 2020 extraordinário. Espero que as boas leituras, as viagens, os petiscos, enfim, tudo seja absolutamente fantástico. E, claro, que sejam brindados com muita saúde e paz. 

Ultimamente só peço para mim anos tranquilos. É isso o que vos desejo: 366 dias sem nada que vos perturbe, que vos traga surpresas desagradáveis, que vos deixe de coração nas mãos. Apenas um ano tranquilo, sereno, em que saibam ser sempre felizes. E se puderem acompanhar esses dias que agora parecem infinitos com bons livros... Pois façam-no. Assim o tempo sabe muito melhor. 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

A Menina Quer Isto CXXII


Ainda não está traduzido em português, mas já estou em ânsias. Sim, o próximo romance de Salman Rushdie é um Quixote dos tempos modernos e faz uma viagem pela américa num tempo em que «tudo pode acontecer». É, por isso, um texto pleno de peripécias picarescas que acabam por, tal como o clássico de Cervantes no início do século XVII, mostrar o que se passa num país onde os valores morais são constantemente postos em causa.

Sim, o espaço nas prateleiras já não existe; sim, preciso de estantes novas; sim, tenho muitos livros (mas não livros a mais, que isso não existe). E, SIM, este vai morar lá para casa logo que saia em português. 

sábado, 27 de julho de 2019

Livrinhos para as férias - a vida

Biografias, autobiografias, diários, memórias... Enfim, há muitos livros em que o próprio ou outro contam uma vida. E há algumas que são tão ou mais empolgantes e emocionantes que muitos romances. Há muitas pessoas que não gostam destes livros porque consideram, à partida, que serão aborrecidos. Não sabem o que perdem porque, se uns poderão efectivamente ser desinteressantes, há um sem-fim de livros muito bons que evocam a vida de um «eu» real e que vale a pena ler. E as férias também podem ser o tempo ideal para isso. Por isso, seguem algumas sugestões de bons livros deste género.


Wook.pt - Viver para Contá-la

Gabo teve uma vida extraordinária e um talento desmedido para contar histórias. Escreveu esta sua autobiografia que, com muita pena minha, não chegou a ter a tão anunciada continuação. Acredito que, se ela tivesse sido escrita, seria extraordinária, como tudo aquilo que escreveu. Mas este livro já acompanha uns bons anos da sua vida. Do nascimento aos primeiros anos da vida profissional, o leitor pode espreitar a infância do pequeno Gabo, perceber onde, como e com quem cresceu, quem foi fundamental na sua formação, como chegou ao jornalismo e, logo a seguir, à ficção. Como viveu anos conturbados na Colômbia, como sobreviveu quase sem dinheiro no bolso, que amigos teve e que importância tiveram na sua existência. E tudo isto com o estilo incomparável de um dos melhores escritores de todos os tempos. Eu li este livro durante umas férias de Verão, por isso é possível, minha gente.



Wook.pt - Agatha Christie

Falei deste livro aqui quando o li. Não vou repetir-me. Esta autobiografia de Agatha Christie é tão boa ou melhor do que os seus policiais. É que esta foi uma mulher de vida cheia numa época em que não se esperava assim tanto das mulheres. Deitou mãos à obra e aprendeu o que precisava de aprender para ajudar o seu país em guerra e esse conhecimento farmacêutico deu-lhe muito jeito quando precisou de envenenar personagens. Escreveu para sobreviver, mas não apenas por isso. O talento estava lá e a prova disso é que tantos anos depois continua a ser uma das nossas autoras preferidas no que respeita aos policiais. Este grande livro permite-nos conhecer os bastidores de uma vida que já sabíamos ter sido repleta de aventuras. Tem muitas páginas, mas lê-se de uma assentada.



Wook.pt - Cadernos de Lanzarote - Diário I

Eram cinco volumes, mas no ano passado chegaram a seis. Nestes cadernos, José Saramago foi escrevendo sobre os seus dias em Lanzarote ou noutras paragens, foi falando sobre livros e autores, sobre os seus cães... Em entradas maiores ou mais curtas, partilhou um pouco da sua vida com os leitores. Assim, fica o testemunho que quis deixar dos seus dias (sim, porque num diário que acaba publicado durante a vida do autor, claro que não podemos deixar de pensar que escreveu aquilo que quis que lêssemos). É uma parte importante da sua obra e é delicioso vê-lo chegar ao famoso dia em que sabe em pleno aeroporto de Frankfurt que ganhou o ansiado prémio Nobel.



Wook.pt - Diário - Volumes I a IV

Miguel Torga, um dos nossos maiores, foi escrevendo um diário ao longo da vida. Alguns dos seus poemas nasceram ali, embora estes fossem volumes que iriam acompanhar também os acontecimentos do seu país e as reflexões que sobre eles fazia. Quando foram publicados pela primeira vez, estes diários resultaram em dezasseis volumes. Há uns anos, a Dom Quixote compilou-os em quatro livros de tamanho simpático. Com as palavras de Torga, vamos assistindo às mudanças de um país que parecia estagnado e vamos vendo como um grande escritor pensa e muda à medida que os anos vão avançando. São livros de uma beleza extraordinária, como tudo o que saiu da pena de Torga.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

A Menina Quer Isto CXXI


A Dom Quixote publicará a 27 de Agosto aquela que está a ser apresentada como a mais completa biografia de Jorge Amado. Para a escrever, a autora teve acesso a documentos importantes como manuscritos inéditos e cartas escritas a outros autores, amigos e familiares. São cerca de 600 páginas que procuram acompanhar o percurso de um autor brasileiro que foi lido em todo o mundo.

Como fã de Jorge Amado, não posso perder esta oportunidade de conhecê-lo melhor. Por isso, a menina quer isto. Mas muito!

Nota: Sobre este livro, mais informações aqui.

Para as olimpíadas, já!

Vestir umas skinny jeans lavadas depois de tomar banho num dia de muito calor devia ser modalidade olímpica. Ou forma de tortura.

tight jeans

Nota: A imagem saiu daqui.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Livrinhos para as férias - a infância

Para muitos as férias já começaram, mas para outros (como eu), os dias de dolce fare niente ainda vêm longe. Claro que vamos fazendo planos, imaginando que faremos isto ou aquilo, que visitaremos aquele lugar de que nos falaram, que nos banharemos na praia X ou Y, que vamos jantar ao restaurante onde queremos ir há tanto tempo ou que vamos ler isto e aquilo. Aliás, o Verão é mesmo a estação do ano em que as pessoas (pelo que dizem...) procuram pôr as leituras em dia. É aquela velha história de que no resto do ano não dá para ler e de que só as férias de Verão trarão esse luxo que é... ter tempo para ler um livro.

Mas escolher o que ler não é fácil e, portanto, nesta altura do ano acumulam-se as sugestões, geralmente de livros recentes. Parece que se parte do princípio de que todos os outros já estão lidos. Ora, como o blogue As Minhas Quixotadas é uma «maria-vai-com-as-outras», resolvi também fazer algumas sugestões, embora com uma diferença: os livros sugeridos não são necessariamente recentes. Podem até ser bem antigos, que isso não me importa nada. Além disso, vou dividir as sugestões por temas. Hoje vamos à infância.

Há poucos temas que me deliciem mais na literatura do que o da infância. O romance de formação, ou bildungsroman, é aquele que se foca na educação, crescimento e processo de auto-conhecimento de uma personagem. Centra-se, sobretudo, na infância precisamente porque essa será a fase da vida em que formamos muito do que seremos no futuro. Ora, com tal importância, a literatura não poderia deixar de querer retratar esse período pelo qual todos passamos. Daí que muitas sejam as obras que se dedicam totalmente a esses anos ou que, pelo menos, decorrem em grande parte nessa fase da vida. O mundo e as experiências que ele nos proporciona serão responsáveis pelo carácter que desenvolveremos e é do eterno conflito entre o «eu» e o meio em que se move que nascerá um novo adulto. Mas antes passará, como todos passamos, pelos anos de aprendizagem e, se o destino for simpático, de brincadeira e ilusão. 

Além do bildungsroman, muitos outros livros retratam esta fase da vida. Alguns foram escritos a pensar precisamente num público leitor ainda muito jovem. Aí costumam destacar-se as aventuras, aquelas asneiradas em que todos nos metemos uma vez ou outra, ou ainda outras totalmente inventadas e impossíveis, mas que deleitam o leitor. Enfim, a infância permite tudo: desde o seu retrato aproximado até à viagem pela imaginação que tão bem combina com esses anos em que tudo é possível. 

Por isso, por ser tão delicioso ler sobre este período e observar o modo como ao longo dos tempos a infância seduziu escritores e os levou a procurar retratá-la, as minhas primeiras sugestões serão livros que, no todo ou em parte, evocarão os primeiros anos de uma personagem. São livros que eu li e que me ficaram na memória pelo modo mais ou menos alegre como o tema foi tratado. São infâncias de personagens mais ou menos sortudas, mas que em todo o caso cresceram e aprenderam. São livros que, na minha opinião, são boas leituras para a época preguiçosa do Verão.



Quem nunca se perguntou se determinada memória de infância não passa, de facto, de imaginação? Isso acontece com o narrador de O Mundo. Aqui encontramos a Espanha do pós-guerra, mas também uma infância diferente da que hoje vivem as nossas crianças. Brinca-se, imagina-se, contudo também se conhece a dor e a perda. Não é, por isso, uma efabulação que só se fica pelo que é bonito. Nada disso: é a infância como ela pode ser. 



Sim, todos nós conhecemos o Tom Sawyer. Sim, todos vimos a série e ainda cantarolamos que ele anda sempre descalço. Mas quantos lemos este livro e as aventuras deste malandro de fio a pavio? Poucos. Pois o fenómeno é este: eu vi a série, li o livro muitos anos depois e fiquei espantada pelo facto de o livro ser melhor, muito melhor, que a série que devorei em criança. As aventuras que Tom e os seus amigos vivem são tão possíveis e divertidas que esta é uma leitura compulsiva. Mas às vezes as coisas complicam-se e é aí que a infância é posta à prova. É um clássico e isso diz tudo.



Aos 32 anos regressei a estes livros e voltei a assistir ao crescimento do jovem Adrian Mole. Vá, já está mais para adolescente do que para criança, mas isso não importa. Nestes livros assistimos às vicissitudes da vida de um teenager com borbulhas, apaixonado, nascido numa família altamente disfuncional, que quer ser escritor e que é de uma ingenuidade desarmante. Mesmo tendo a sua acção nos anos 80 do século passado, é impossível não soltar uma sonora gargalhada com o pobre Adrian e todos os que fazem parte da sua desgraçada existência.



Quando penso neste livro, recordo sobretudo a beleza da escrita. É tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão triste. A protagonista, Adriana, cresce diante dos nossos olhos e vai, aos poucos, ingressando num mundo de crescidos. Mas a sua imaginação, as brincadeiras que inventa e a amizade que vai conhecer nunca nos deixarão esquecer que é no reino da infância que nos movemos. Todavia, este livro não se fica pelo idílio dos primeiros anos. Vai muito além disso, sempre com grande beleza. Este é um dos melhores livros que li sobre a infância e, sendo sincera, um dos mais fabulosos romances que tive a oportunidade de ler.



Agora alguém estará a reclamar que este é um calhamaço e que ninguém vai ler tal coisa numas férias. Bom, meus caros, eu li isto em meia-dúzia de dias. Um bom livro é um bom livro seja em que estação for e, que eu saiba, o cérebro não tira férias no Verão.

Ora bem, David Copperfield... É verdade que o protagonista cresce, que a infância passa e que os problemas dos adultos chegarão à sua vida. Mas também é verdade que os problemas dos adultos chegam à vida do pobre David quando ele é ainda muito pequeno. Talvez nunca tenham estado longe dele, na verdade. É um romance de Dickens, é óbvio que este miúdo vai comer o pão que o Diabo amassou. Contudo, também vai saber dar a volta às situações e seguir em frente. Construirá a sua vida sem que alguma vez se esqueça do que viveu em criança. É um livro extraordinário, uma obra-prima, uma verdadeira maravilha.



Li este livro no final do ano passado e falei dele aqui no blogue. O protagonista é um rapaz que perder a mãe num atentado terrorista e que guarda «dela» um objecto. Será, no fundo, um novo cordão umbilical que o ligará à mãe, mas que, a determinada altura, mais parece uma brasa quente que lhe queima a pele. Porém, é tarde de mais. Esse objecto acompanhá-lo-á enquanto anda para cá e para lá, como um boneco, à mercê das decisões de adultos que pouco querem saber da sua vontade real. O tal objecto torna-se um fardo para o próprio fardo que é esta criança para os outros. E quando no fim esperamos que a felicidade aconteça, recordamos que a arte imita a vida... com tudo o que ela é. Leitura longa, mas maravilhosa do início ao fim.



Também os nossos autores falaram sobre a infância. Por cá, o livro que mais rapidamente recordo é este Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira. O protagonista mudar-se-á da sua pequena aldeia para o seminário quando conta apenas doze anos. Por lá conhecerá o mundo, mesmo estando dentro de quatro paredes de pedra. A par da sua educação formal, o leitor assiste às vivências próprias da infância bem como à consciencialização de que o mundo é muito mais complexo do que aquilo que os tenros anos nos podem levar a crer. Este protagonista perceberá que existe pobreza, que existe dor, desigualdades várias, mas também amor, amizade e um sem-fim de experiências para viver.


domingo, 21 de julho de 2019

Chora, Camões, chora... XXX



"[...] esfaqueou a mãe com a namorada"... Hum... 

Noutros tempos, esfaqueava-se alguém com uma faca. Agora parece que as namoradas também servem. A menos que a moça seja um espadarte, não estou a ver como é que a coisa se deu... 

sábado, 20 de julho de 2019

Um enorme orgulho

Uma aluna que acompanhei como professora de Português do 5.º ao 9.º ano fez recentemente o exame nacional de Português e teve 19 valores. 

E assim, na mesma semana em que deitei fora tudo o que ainda tinha dos anos em que dei aulas, fecho a etapa com a sensação de que dei o meu melhor e de que marquei a vida de alguém. Fazer parte da alegria desta aluna é maravilhoso e o que de mais bonito os professores recebem. É um orgulho e a certeza de que, apesar de tudo o que aconteceu, era uma boa professora. 

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Retrocesso

Ouvir uma multidão gritar, num comício de Trump, qualquer coisa como «Mandem-na de volta!», referindo-se a um membro da Câmara dos Representantes natural da Somália, recorda outros comícios, num século que passou, mesmo antes de um acontecimento que jurámos não repetir. Aliás, todos os que nascemos depois da Segunda Guerra Mundial ouvimos, na escola, aquela máxima de que a História não deve ser esquecida para não ser repetida. Talvez as palavras tenham sido ditas tantas vezes que perderam o sentido, como quando repetimos o nosso nome e chegamos a um ponto em que já nem nos parece o nosso nome. 

Eis-nos chegados a 2019, mas voltados para a década de 30 do século passado. Deixamos morrer gente em botes no Mediterrâneo; assistimos à luta entre países para ver quem é que NÃO ajuda aqueles que fogem à guerra e à miséria; impávidos e serenos jantamos diante de uma televisão que mostra um suposto líder político escudado por uma multidão acéfala que repete palavras xenófobas com ecos de outros tempos; bocejamos perante actos óbvios de falta de empatia entre seres humanos; observamos o crescimento das nossas unhas quando sabemos que os mais básicos direitos humanos estão a ser pisados e repisados...

 Quando tudo devia soar a perigo, quando todos os nossos alarmes deviam estar a soar, não estão. E assim retrocedemos décadas e vamos voltando placidamente ao que jurámos não repetir.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Peculiaridades de um leitor XV

Estava a ler um artigo do El País sobre livros com temas difíceis que vale a pena ler e fiquei a pensar que, de facto, são muitas vezes esses livros duros, crus, terríveis que nos ficam na memória. Mais até do que o que é divertido ou leve, são as vivências duras das personagens que nos marcam. O sofrimento é intemporal (basta ver que a tragédia era considerada superior à comédia em tempos antigos) e ler a dor do outro é, de algum modo, marcante. Segundo este texto do El País, que inclusivamente faz uma lista de livros com temas difíceis que vale a pena ler, o próprio Nabokov considerava que a literatura que assim não fosse nem sequer era literatura. É, no fundo, a ideia de que os livros devem incomodar. Não sou assim tão radical, mas percebo a sua opinião.

E se pensar nisso, a verdade é que realmente são os livros mais duros aqueles que recordo mais depressa. E mesmo no Quixote, se a parte cómica é imensa e inesquecível, é a dureza com que o mundo trata aquele homem bom e os valores universais que ele defende contra a maldade com que se deparava aquilo que mais lembro. 

Não lemos essa literatura para sofrer. Acho que não temos, enquanto leitores, essa veia masoquista. Lemo-la porque vale a pena, porque essas dores são humanas e porque nos identificamos com elas. De algum modo, isso também nos prepara para as nossas próprias dores. Essa é a boa literatura, no fim de contas: a que fica cá dentro mesmo depois da última página.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Julho?

Hoje, antes de ir para o trabalho, olhava pela janela e vi duas meninas pequeninas pelas mãos dos pais arrastarem as suas toalhas de praia até ao carro. Usavam T-shirts de colónias de férias, pelo que deduzo que terão mais dias de praia pela frente. Curiosamente, quase a chegarem ao carro, veio uma rabanada de vento daquelas que parece que até o escalpe nos vai levar. Fabulosas condições meteorológicas para ir a banhos, portanto.

O problema é que realmente não era suposto isto. Não se esperavam dias sucessivos de tempo esquisito e nada estival. E, portanto, os pais, que não têm tanto tempo de férias quanto os filhos e que precisam de lhes ocupar os dias, fizeram o que podiam inscrevendo-os em colónias de férias que enchem a Costa de Caparica diariamente.

Fiquei a pensar que, de facto, já nada é tão fácil como antes. Nem o tempo, nem as férias dos miúdos, nem a vida dos pais. Eu também fui à praia em colónias e apanhava quase sempre dias de Sol. Nessa altura já avançávamos em passadas largas para a destruição do planeta com os nossos comportamentos selvagens (quem, da década de 90, não se recorda dos milhões de bastõezinhos coloridos de cotonetes no areal da Praia do Rei e da Praia da Rainha?). Mas não se falava disso como hoje e os dias iam correndo. No Verão fazia calor, no Inverno frio e o Outono e a Primavera eram o que tinham de ser. Quando a minha mãe me inscrevia na colónia de férias nunca pensaria que os meus quinze dias de praia fossem passados com o casaco vestido. Geralmente estava bom tempo e mesmo que houvesse um ou outro dia mais cinzento, era a excepção e não a regra.

Actualmente já não é assim. Os pais precisam mesmo de ter onde deixar os filhos e as colónias que fazem dias seguidos de praia são uma óptima solução: os miúdos divertem-se enquanto os pais trabalham e a praia faz-lhes bem. Rapidamente os pais parecerão lulas ao lado da pele bronzeada dos pequenitos. Mas depois há isto: chegar ao carro é já uma luta contra a tempestade. E os pais devem ir para o trabalho pouco sossegados ao imaginarem os miúdos em processo de congelação à beira-mar. 

Julho? Naaaaaa...

domingo, 14 de julho de 2019

Os meus dias

Duas tiras de Garfield que resumem a vida cá em casa. Com a diferença de que eu tenho DOIS gatos e um cão.




Semelhanças

Tenho andado desaparecida. Além de andar em constante sofrimento com o calor, consegui passar o fim-de-semana com uma constipação idiota e inevitável, já que o moço também esteve constipado na semana passada.

Bom, além de tudo o que ando a ler, achei bem começar a ler umas tirinhas do Garfield e estou a ficar extremamente preocupada com as semelhanças que encontro entre o mais famoso dos gatos e o meu Senhor Gato. Deverei ralar-me com o futuro das lasanhas cá de casa? Estará a Madame Pochita em sossego? É que o Garfield não tratava o Odie lá muito bem... 

Leiam este livro que reúne as tiras dos primeiros cinco anos da banda desenhada Garfield. Espero que a editora lance as restantes tiras porque, de facto, não há como não rir com o Garfield. E temer um pouco quando se tem uma espécie de seguidor em casa...


quarta-feira, 3 de julho de 2019

A lei, os animais e os miseráveis

Ontem levámos a Madame Pochita ao veterinário para fazer uma análise. Na sala de espera, a dona de uma gata falava sobre uma situação a que assistiu num bairro de Lisboa há uns anos. No Verão, de repente, começaram a aparecer muitos gatos e cães na mesma zona. Mesmo muitos. O suficiente para despertar a atenção de alguém que visitava o lugar com uma certa regularidade, como ela. Perguntou a uma conhecida por que motivo se viam ali tantos animais. Já devem estar a adivinhar a resposta, mas mesmo assim não deixa de chocar: aqueles bichos todos eram de idiotas que tinham ido de férias e que os tinham deixado na rua. Se ao regressarem eles ainda lá estivessem, muito bem. Se não, arranjavam outros (e no ano seguinte a história repetir-se-ia).

Um dos cães «perdidos» adoptou um trabalhador da construção civil e seguiu-o para todo o lado. O homem teve o cão consigo enquanto continuava a obra que vinha a fazer num apartamento da zona, mas ao final do dia não o podia levar para casa porque já tinha outros animais. Levou-o a uma clínica veterinária e verificou-se que o cão tinha chip. Contactou-se o dono, que vivia a vários quilómetros de distância, e ele foi buscar o animal, dizendo que tinha fugido, que andava à procura dele... Enfim, uma história que não se percebeu se seria verdade ou não. O que aconteceu é que ele levou o cão para casa e, eventualmente, pode ter repetido a mesma brincadeira uns tempos depois.

Actualmente existem leis para a protecção dos animais domésticos. E são leis conhecidas: os media referem-nas frequentemente. Mas ainda há, infelizmente, muita gente com uma mentalidade abjecta no que respeita aos animais e principalmente aos de companhia. Adoptam porque são pequeninos, porque um cachorrinho ou um gatinho são bolinhas de pêlo irresistíveis, porque os filhos andam a pedir um animal... Enfim, levam animais para casa sem pensarem que é um compromisso sério e para a vida. Provavelmente são criaturas sem consciência, já que eu nunca conseguiria estar de férias descansada sem saber onde e como estariam os meus peludos. É inacreditável estarmos em 2019 a falar do abandono de animais como falávamos na década de 90 e tão pouco ter mudado. Sim, há leis, é verdade. Mas preocupa-me ainda mais a mentalidade que se manteve e o pouco que as leis conseguem fazer pelos animais.

Eles não falam, não pedem para ser adoptados. A escolha é sempre nossa. Se são fonte de despesa? São. Se destroem coisas? Destroem. Se dão dores de cabeça? Dão. Mas amam-nos de uma maneira única e dão-nos mais alegrias dos que uns móveis imaculados. Levá-los para casa tem de ser uma decisão pensada e se depois quiserem ir de férias, assumam a decisão e deixem-nos protegidos e bem cuidados nos lugares apropriados. Não o fazer é de quem não presta, é de seres miseráveis. E esses deviam ser bem punidos pela lei, a bem dos animais.

animal cruelty,pets abandoned,SPCA

Nota: A imagem saiu daqui e é de Siddhant Jumde.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Um "eureka!" bastante atrasado

Acabei de ouvir o Nuno Júdice no seu espaço para comentário na SIC perplexo por muitos professores correctores dos Exames Nacionais serem docentes do ensino privado. Mais ainda: espantado por isso acontecer devido à avalanche de atestados apresentados pelos professores do público nesta fase do ano e que os retiram das listas para a correcção de exames.

É extraordinário assistir a isto e pensar: bolas, isto já acontece há tanto, mas tanto tempo e só agora é que olham para este problema como se fosse de agora? Como se fosse novo? Caros senhores, o problema é mais do que antigo, há anos que os professores dos privado - sempre entre a espada e a parede - são o recurso para uma tarefa a que não conseguem escapar e que é só mais um prego no caixão onde enterrarão o amor pela profissão (igual àquele em que eu arrumei o meu). Há muitos anos que reclamamos do mesmo, mas os docentes do privado não têm voz suficiente para se fazerem ouvir e sentem que lutam sozinhos. Falo porque o vivi. Porque nunca tive nenhum dos direitos concedidos a um professor que corrige exames nacionais. A administradora da chafarica onde ensinei durante vários anos achava que tínhamos de nos orgulhar por sermos chamados para a correção de exames. Quanto à dispensa de reuniões não urgentes por estar a corrigir exames... Não se aplica. Os dias extras de férias? Não se aplica. O reembolso das deslocações ao agrupamento de exames para ir buscar ou entregar provas? Não se aplica. Na hora H nada se aplica aos docentes do privado. E porquê? Porque as regras dependem da boa vontade de quem manda e, não raramente, quem manda é idiota.

Portanto, Sr. Nuno Júdice e quejandos, o problema referido é velho como o tempo. O que acontece é que nunca ninguém olha para os docentes do privado. Ninguém vai escutar o que eles têm para dizer. No dia em que o fizerem, terão o verdadeiro estado do ensino em Portugal. 

A Única História - o balanço

Wook.pt - A Única História

Uns tempos antes do início da Feira do Livro, chegou-me às mãos este novo romance de Julian Barnes. É a história de um amor e das marcas por ele deixadas; é a história de um amor que acontece uma vez na vida e que passa a servir de medida para todos os outros que acontecerão. E é, sobretudo, um ponto de partida para pensarmos nas palavras iniciais do narrador: «Preferiam amar mais e sofrer mais; ou amar menos e sofrer menos?». Se a resposta parece ser simples e ir ao encontro da óbvia ideia de que queremos sofrer o mínimo possível, a verdade é que não é assim tão linear. Queremos sofrer menos, mas também queremos uma vida intensa e cheia de amor. Portanto, coloque-se tudo na balança e veja-se o que se quer mais.

Julian Barnes é um autor daqueles de quem se espera sempre um novo livro melhor do que o anterior. É um autor que se supera e que traz para os seus textos temas intemporais, como o deste A Única História. Não se limita a escrever por escrever: os seus livros têm sempre algo que fica cá dentro, precisamente porque evoca aspectos que são nossos e que são eternos, como o passado, como a nossa finitude, como o amor. E alia aos temas uma escrita lindíssima, rica, mas clara e encantadora. 

Este A Única História é um romance que vale a pena ler. Inquieta pela intensidade da história, pelas  evidentes marcas que o amor deixa numa vida e porque, como leitores, encontraremos nele algo que também é nosso. O protagonista desenvolve uma relação de amor com uma mulher mais velha e essa é a «única história» que vale a pena contar. No fundo, todos temos uma história que queremos partilhar, uma que é aquela que lembramos todos os dias, que nos fica na pele e que se torna a única história, a tal que serve de medida a todas as outras. E é por isso, porque Julian Barnes soube retratar algo que é tão humano, que este é um livro a não perder. Boa leitura!

domingo, 23 de junho de 2019

Coisas que não entendo VI

(Diálogo imaginado, mas bastante possível...)

- Então e que idade tem o menino?
- Tem 6 anos, vai fazer 7.
- Ah...

Não! Como??? Com 6 anos vai fazer 7? Eu julgava que isto das idades era aleatório e uma pessoa, vá, aos 15 podia acordar no dia de aniversário com 64. Afinal não é? Tiraram-me o tapete, meus caros, tiraram-me o tapete.

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Nota: A imagem saiu daqui.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A Menina Quer Isto CXX

Ainda há poucos dias terminou a Feira do Livro de Lisboa (com uma safra MUITO produtiva) e já tenho mais dois na minha lista de livrinhos a ter. Um deles ainda não chegou às livrarias, e o outro já estava na Feira, mas com um preço assustador. São ambos da Tinta da China, onde fiz umas comprinhas aproveitando a promoção «Leve 4 pague 3». 

O autor de Quando a Penumbra Vem é Jaume Cabré, o mesmo de Eu Confesso, que é um dos melhores livros que já li. Neste caso temos treze histórias e em todas elas está presente a morte.

Quando a Penumbra Vem

O outro livro é o Cinco Travessias do Inferno, de Marta Gellhorn. Faz parte da coleção de viagens da Tinta da China e, neste volume, não se fala concretamente num destino como aconteceu em livros anteriores, sendo sim um «relato das minhas melhores viagens horrorosas». Quando alguém assume que as viagens de que vai falar foram horrorosas, a coisa promete.


Portanto, mais dois para a lista. E mais duas estantes, por favor. 

sexta-feira, 14 de junho de 2019

A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert - o balanço

Wook.pt - A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert

Com uns dias de descanso para aproveitar, escolhi um livro mais leve para ler. Note-se que leve não diz respeito ao peso, já que o volume é uma verdadeira bisarma de quase 700 páginas. A ideia era mesmo a de ser entretida por um livro com uma história em que queremos mesmo, mas mesmo, correr para saber o final.

Bom, antes de mais, acho que todos se recordam da barulheira em torno deste livro há alguns anos, quando saiu. Foi um best seller, um campeão de vendas, foi a loucura. Acabei por comprá-lo nessa altura e tem estado a aguardar placidamente a sua vez.

A história é narrada por um escritor, Marcus Goldman (que, aparentemente, voltará a aparecer como personagem noutro livro do autor, O Livro dos Baltimore). A propósito de uma fase em que se encontra com a famosa crise da página em branco, visitará o seu antigo professor universitário e amigo Harry Quebert. Esta personagem é assim um mix de Rocky Balboa com Umberto Eco, por isso imaginem. Bom, devido a um acontecimento meio macabro, Goldman ver-se-á na obrigação de investigar o desaparecimento, 33 anos antes, da jovem Nola. A semelhança entre «Nola» e «Lola» não deve passar despercebida. Lembram-se da Lolita, de Nabokov? Tenho a sensação forte de que o autor deste livro quis que recordássemos essa menina, já que a Nola deste livro tem 15 anos e uma relação amorosa com Harry Quebert quando ele tem 34.

Nola, depois de uns meses de amor com o tal mentor de Goldman, desaparece misteriosamente. Durante 33 longos anos a sua cidade não saberá que destino teve. E tudo continuaria assim se Harry Quebert, já sexagenário, não se lembrasse de mandar plantar umas hortênsias no seu jardim. Os jardineiros, remexendo a terra, descobrem ossadas humanas e lá vai o respeitado professor passar uns dias à prisão. É por isso, para salvar a pele do amigo e também por precisar de uma história para contar, que Goldman se envolve até à alma na investigação do que realmente aconteceu a Nola três dezenas de anos antes.

Ora bem, na essência, é o costume. Rapariga desaparece, rapariga é encontrada morta, investigação, rapariga era uma safada, ai não, afinal era uma santa, fim. Porém, este livro parece aqueles comboios que param em todas as estações e apeadeiros e vão com uma lentidão desesperante por esse Portugal fora. Saímos desses comboios com a sensação de que passámos décadas lá dentro e com vontade de nos esbofetearmos por termos sequer comprado o maldito bilhete. Bem, estou a exagerar. O livro cumpre bem a missão de entretenimento (que era, recordo, o meu objectivo), mas tem dois defeitos: em primeiro lugar a acção desenrola-se com uma lentidão desesperante (o livro devia ter menos umas duzentas páginas para acabar com o flagrante enchimento de chouriço) e, depois, tem demasiadas reviravoltas. Dirão: mas isso não é mau, isso confere suspense ao livro. Sim, uma reviravolta sim. Mas três ou quatro cansam. Houve mais «culpados» pela morte de Nola do que portugueses a votar no CDS nas últimas eleições (bem, talvez não fosse assim tão difícil...).

Além desses dois defeitos que, mais do que entusiasmarem, aborreceram, há a questão do estilo. Todas as personagens falavam da mesma maneira. Fossem escritores consagrados, polícias de uma cidade pequena, meninas de 15 anos... Ouvir um era ouvi-los todos. E lá se vai a verosimilhança. Aliás: com tantos twists a verosimilhança já estava nas ruas da amargura. No final fiquei com a sensação de que o autor quis fazer uma coisa mesmo mesmo única, nunca vista, mas conseguiu tornar o livro um pouco mais ridículo. E pelo meio ainda tivemos o momento Cyrano de Bergerac, com uma personagem a escrever cartas de amor em nome de outra e a criar com isso uma enorme confusão. Ah, os clássicos...

Tudo isso empobreceu o livro, a meu ver. Podia ser um livro muito bom sem as reviravoltas a mais e se o autor se tivesse lembrado de que as pessoas não engoliram um dicionário, logo não falam todas da mesma forma. Assim, perdeu qualidade. No entanto, é um livro excelente para nos ocupar umas tardes porque, claro, queremos sempre saber o que aconteceu à jovem Nola. E é por isso que não o largamos. Mesmo quando nos parece que já é de mais, que já se está a exagerar muito, queremos saber o final e queremos saber se a nossa aposta é a correcta. Por isso continuamos e levamos o livro até à última página. No fim já é uma questão de honra.

Tenhamos, porém, em conta que o autor deste livro era jovem e ainda inexperiente nestas andanças quando o escreveu. Isso faz diferença. Talvez nos livros seguintes tenha tido mais cuidado com estas questões de estilo e de verosimilhança, que são importantíssimas, ou talvez não. A verdade é que vende imenso e muita gente adora o que escreve. Apesar de tudo, consegue deixar-nos com vontade de saber que fim terá a história e, portanto, é um livro que ocupa muito bem o nosso tempo.

Agora, o que me irritou realmente, o que me deixou louca de nervos foram as gralhas. Tantas! Mas ninguém revê os livros? Muita gente pode, ao contrário de mim, ter adorado os muitos twists da história. Depende de cada leitor. Mas duvido que algum tenha gostado de encontrar tantas gralhas num só livro. Letras trocadas, letras em falta, erros de concordância, enfim... Uma paródia! Bem sei que é preciso publicar muito e depressa, contudo, é necessário cuidado. Não existem livros sem gralhas, mas também não é preciso semeá-las página sim, página não. Fora tudo o resto que é da competência do autor e cuja apreciação depende do gosto e da experiência do leitor, isto foi o que verdadeiramente me irritou.

O balanço final é, portanto, este: óptimo para entreter, para espicaçar a curiosidade do leitor, mas cansativo porque quando parece que chegámos a um final (embora demasiado óbvio), eis que recomeça o virote outra vez. E torna-se a repetir o que já sabíamos, ainda que com uns acrescentos. É uma espécie de espiral, portanto. Às voltas, voltas, voltas, mas alargando um pouco mais o panorama, acrescentanto um pouco mais de informação. Todavia, voltarei a dar uma oportunidade ao autor. Vamos ver se entretanto mudou alguma coisa...

Nota: A imagem da capa saiu daqui.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Foi a Hora H - parte 2

Estive novamente na Hora H e a desgraça foi esta:


E as filas na Leya?! E os cestinhos cheios de livros que muitas pessoas tinham? E as pilhas enormes que algumas levavam em braços de tal modo que quase só se lhes via a testa? Uma maravilha!

Nota: As imagens saíram da página da Wook.




terça-feira, 11 de junho de 2019

A Feira do Livro em todo o lado

Já se contam os dias para o fim da Feira do Livro de Lisboa, que será no próximo domingo. Do que tenho visto, muita gente tem marcado presença neste evento que todos os anos anima o Parque Eduardo VII. Se fazem compras, isso já é outra história... 

Livros do dia, Hora H, promoções várias: são muitas as oportunidades para trazer para casa aquele livro que se queria, mas que não se encontrava ou cujo preço não era apetecível. Ora, isto é tudo muito bom, mas apenas para quem mora em Lisboa ou arredores ou quem, por acaso, está na capital por estes dias e pode deslocar-se à Feira. E para quem está longe não vai nada nada nada? 

Alguma coisa irá. Não é a Feira, que infelizmente não percorre o país, mas pelo menos duas editoras estão a dar oportunidade aos leitores de aproveitarem um bocadinho da Feira nos seus sites

A Tinta da China tem na sua página online uma vistosa publicidade aos seus livros do dia: até ao último minuto da Feira do Livro de Lisboa será possível comprar no site da editora qualquer um dos 95 títulos que foram sendo destacados como Livros do Dia ao longo da Feira. Isto é bom para quem não pode mesmo deslocar-se até lá, mas também para quem, tendo ido, não acertou nos dias em que os livros que queria estavam com um preço mais simpático. Portanto, os livros estão lá, com o mesmo desconto que tiveram na Feira e os portes são oferecidos pela editora. Vale a pena. 

A Relógio d'Água faz um desconto em todos os livros do seu catálogo que já tenham mais do que os 18 meses previstos na Lei do Preço Fixo. Vi esse anúncio no seu site logo nos primeiros dias da Feira. Infelizmente, vendo a página pelo telemóvel, não encontro o anúncio. Contudo, lembro-me de que para terem o desconto tinham de, na finalização da compra, escrever o código Feiradolivro. Fiz o teste com um livro com mais de 18 meses e resultou: o desconto foi aplicado. Acima de um determinado valor os portes são gratuitos e essa opção também surge na finalização da encomenda. Gostava de poder ser mais detalhada quanto a esta promoção, mas de facto não consigo ver o anúncio da mesma no telemóvel. De qualquer modo, vão ao site e experimentem. O código funciona, portanto passem o catálogo a pente fino e aproveitem a oportunidade. 

Gostaria de ver mais editoras enveredarem por este caminho. Em paralelo com a Feira darem a todos os leitores, de norte a sul do país, a possibilidade de aproveitarem ao menos uma parte do que o evento oferece. Pelo menos os livros do dia. Se não puderem aplicar todos os preços em vigor na Feira, que ao menos façam como a Tinta da China e disponibilizem essa possibilidade aos leitores. Seria muito bonito. 

Nota: Vi, depois de publicar este texto, que a Gradiva está também a fazer um desconto de 40% em todo o catálogo (apenas para livros com mais de 18 meses). Visitem a página da editora e vejam se alguma coisa vos agrada. 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Dica para passar o feriado...

... segundo o Senhor Gato:

Nota: Cuidado, pois são necessários anos de preparação para conseguir relaxar desta maneira. O Senhor Gato é já veterano nisto: há cinco anos e meio que passa feriados (e basicamente todos os outros dias também. ..) enfiado em caixas. Se nunca experimentou, aconselhe-se com um especialista em contorcionismo antes de tentar encaixotar-se. Quando conseguir, o resultado final deve ser mais ou menos este:

Nota 2: Não tente igualar o Senhor Gato em beleza: é impossível. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

A Menina Quer Isto CXIX

Wook.pt - Diz-Me Que És Minha

Eu sei, eu sei que não costumo ler thrillers, que opto normalmente por outros géneros e que uma coisa assim costuma estar distante dos meus hábitos de leitura. No entanto, este (acabadinho de sair) Diz-me que és minha parece-me bastante porreiro e fantástico para ocupar o tempo (e agora começam aqueles dias mais longos e de sol que pedem livros, livros e mais livros).

De acordo com a sinopse, a protagonista perde uma filha numa viagem de família e pensa tê-la reencontrado vinte anos mais tarde. No entanto, pode ou não ser ela, até porque todos julgam que a rapariga morreu no dia em que desapareceu. Stella, a mãe, vai iniciar uma busca pela verdade e vai tentar provar que não está louca, que é o que todos pensam sobre ela. A mim parece-me que tem tudo para estar, mas espero que os livro me elucide e, sobretudo, que me surpreenda. 

Este é o primeiro livro desta autora sueca, Elisabeth Norebäck, e parece-me promissor. Pela sinopse e pela capa, acho que vou mesmo dar-lhe uma oportunidade. Venha o livro, um dia livre e um gelado para acompanhar. 

Feira do Livro, aí vou eu...

Nota: A imagem saiu daqui.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Perdoai-lhes, Senhor!

No pavilhão da Guerra & Paz na Feira do Livro, uma jovem de uns vinte e poucos anos comentava com uma amiga que tinha lido um livro de Júlio Dinis de que não tinha gostado muito porque o português «é velho». E, mesmo assim, tinha gostado mais de ler A Morgadinha de Canaveses...

Wook.pt - A Morgadinha dos Canaviais

Nota: A imagem saiu daqui.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Foi a Hora H

Hoje, ao final do dia, fui com o moço à Feira do Livro. Assim foi a Hora H nos pavilhões da Leya:


Vi filas enormes para as caixas de pagamento. Isso deixa-me contente: gosto de ver as pessoas as comprarem livros, pois é sinal de que há leitores e de que há quem valorize os livros e a leitura. É bom para as editoras, mas é ainda melhor para quem tem o prazer de passar umas horas com uma boa história, longe de realidades mais comuns, entregue a um mundo de papel que até pode ser pior do que aquele em que vivemos, mas que é diferente e nos ensina sempre qualquer coisa. 

segunda-feira, 3 de junho de 2019

A obra que fica

Na sexta-feira passada, fiz a minha primeira (e até agora única) visita à Feira do Livro. No bolso levava uma lista, mas curiosamente afastei-me dela e deixei-a para segundas núpcias. É que vi em promoção dois livros com os quais andava curiosa e de uma autora que queria conhecer melhor: Agustina Bessa-Luís. Os livros foram A Sibila e Fanny Owen.

Agustina faleceu hoje e os portugueses desfazem-se em mensagens simpáticas por essas redes sociais fora. Que faleceu uma grande escritora, que a cultura ficou mais pobre, que a literatura lhe deve muito. A minha questão é: quantos dos que dizem estas coisas fizeram efectivamente a maior homenagem possível a um autor, lendo o que escreveu? Quantos conseguem chamar os livros de Agustina de obras fundamentais da literatura nacional porque realmente leram algum dos seus livros? E quantos chutam mensagens de pesar só porque é uma moda das redes sociais?

Seja como for, morreu Agustina, mas vivem os seus livros. E a obra é imensa, há muito por onde escolher. Queira-se ler e haverá muitas histórias para conhecer. Vamos, então, a elas, pois mais do que palavras soltas numa rede social, é com leituras que os escritores se homenageiam e se perpetuam. 

terça-feira, 28 de maio de 2019

A Menina Quer Isto CXVIII

Não preciso de dizer mais do que isto: Gabriel García Márquez e seus textos jornalísticos. Querooooooooooo!

E a Feira do Livro começa amanhã...

Wook.pt - O Escândalo do Século

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Diário de Madame Pochita V

Querido diário, 
Ando pela rua a exibir a minha coleira cheia de bonecos. Sou uma pirosona, eu sei, mas não passo sem esfregar a minha beleza na cara do Bruce, o cão mais jeitoso do pedaço. 
Ok, ok... É uma coleira para evitar bichezas, mas acho que podemos concordar que tudo me fica bem, não é?! Madame Pochita sambando na cara das inimigas!

quarta-feira, 22 de maio de 2019

A Menina Quer Isto CXVII

Wook.pt - Agradar e Tocar

Adoro os livros do Lipovetsky. Adoro o modo como descreve e interpreta a sociedade actual. Neste novo livro vai falar sobre o modo como tudo está feito para nos conquistar, para nos seduzir. Dos anúncios de televisão à própria política, a sociedade consumista está marcada pela necessidade de  ser convencida. Essa sedução está em todo o lado, é constante e, frequentemente, não damos por ela. Lipovetsky é um pensador muito claro na exposição das suas reflexões e, por isso, vale sempre a pena lê-lo.

Porém, aqui entre nós, acho que a editora está com uma noção de preços um bocadinho... desfasada. Este livro tem um preço de capa de 26.90€. Mesmo com mais de 450 páginas, não deixa de ser um livro de pequeno formato e com capa mole, custando-me assim a conceber que seja mais caro do que muitos álbuns fotográficos ou novelas gráficas. Aliás, já noto esta questão dos preços nas traduções portuguesas deste autor há muito tempo e tenho pena porque, de facto, isto afasta alguns compradores. Eu, por exemplo. Gosto da ideia, quero o livro, mas não o vou comprar, pelo menos enquanto não passarem os 18 meses da lei do preço fixo. Este vai mesmo ter de esperar.

Nota: A imagem saiu daqui.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Diário de Madame Pochita IV


Querido diário,

Hoje fui ao veterinário porque parece que este mês fiz um ano. Bem, ninguém sabe bem quando é que eu fiz um ano, já que nasci na beira da estrada, mas aparentemente isso foi no mês de Maio de 2018. Não faço ideia, também não gosto de me lembrar desses tempos. Agora sou muito mais feliz.

Mas vamos ao que importa: parece que peso vinte quilos e mais duzentos gramas. Estou uma chouriça, foi o que a dona disse. E depois a veterinária deu-me um biscoito porque subi para a balança. Foi o biscoito mais fácil da minha vida. Tansa.

Tive um resultado esquisito na análise da Leishmaniose. Ouvi falar num fraco positivo. Levei uma pica e em breve vão tirar-me sangue para saber se tenho mesmo qualquer coisa ou não. Espero que não. De qualquer forma, agora tenho quem cuide de mim. Por isso, parabéns para mim: porque fiz um ano e porque apesar de tudo sou uma cão muito sortuda. 

A Menina Quer Isto CXVI


Esta Feira do Livro que aí vem promete. O espaço já não é nenhum lá em casa, preciso de mais estantes e quando tiver filhos o quarto deles será enfeitado com livros, mas não dá para deixar de querer coisas novas se o que vai saindo é muitas vezes bastante apetitoso. Este romance de Thomas Hardy é um desses exemplos. Publicado pela Relógio D'Água, conta a história de um tipo que, no meio de uma bebedeira, vende a mulher e a filha por cinco guinéus. Com o tempo chega a tornar-se uma pessoa respeitada na sociedade, contudo, o seu segredo obscuro vai estar sempre presente... Parece ou não promissor?

Bem, a lista está a compor-se. O espaço para arrumar mais livros é que não.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Felina vaidosa

Alguém chegou a este blogue pesquisando «felina vaidosa».

...

Deve ter tido uma desilusão.

Prioridades e o novo AO

Não é preciso muito para perceber que não gosto do Novo Acordo Ortográfico. Já aqui falei dele, particularmente quando o assunto estava na ordem do dia. Infelizmente, tive de render-me a ele na minha vida profissional. Contudo, o blogue mantém-se ainda hoje com a ortografia antiga. É uma situação um bocadinho doida, mas foi a minha opção por isso tenho de a aguentar.

Todos nós sabemos que quando o novo AO entrou em vigor, as editoras passaram a utilizá-lo e, a menos que os autores exijam o contrário, os livros aparecem com a nova grafia. Podemos até ter torcido o nariz, mas as pessoas de bom senso continuaram a querer ler e não desistiram de comprar novos livros só porque a escrita era diferente da usada até então. Repare-se: eu disse pessoas de bom senso. Infelizmente, anda por aí muita gente doida.

Quem segue editoras nas redes sociais é informada com frequência sobre as novidades que vão saindo. Com facilidade pode verificar-se que não são poucos os que aproveitam tais publicações para mandarem vir (outra vez) com o AO, dizendo que não compram livros com o novo acordo, que não lêem em “abortês” e pérolas afins. Ora, crendo no que dizem estes iluminados, sou levada a pensar que a) só compram livros de autores que escrevem pela grafia antiga e b) que não lêem nada que esteja com o novo AO, por apetitoso que possa ser o livro.

Sendo eu alguém que acha que o novo AO está pejado de idiotices e de regras que não têm lógica nenhuma, posso falar à vontade quando digo que as pessoas que cospem tais alarvidades sempre que sabem de algum novo livro prestes a sair não gostam assim tanto de ler como pensam. Abdicar de ler o que de bom ou muito bom vai saindo porque está com a nova grafia é, no mínimo, infantil. A língua sempre mudou, faz parte das suas características o facto de se alterar com os tempos, com as novas realidades. Podemos discordar de regras disparatadas que só criam confusão, mas quem gosta efectivamente de ler não deixará de querer conhecer novos autores e obras promissoras só porque não estão lá umas quantas consoantes mudas. Mais: tantos anos depois ainda andar a fazer birra com isso parece-me digno de garotos pequenos e não de gente adulta. 

Acho que não se pensou suficientemente no novo AO, acho que há regras absolutamente estúpidas e arbitrárias e que em muitos casos mudou-se sem razão lógica. Creio que tudo isto deveria ser repensado, até porque vários países que deveriam estar a usar o AO não o estão a fazer. Espero, fazendo fé numa notícia do Expresso de há algumas semanas, que se repense tudo isto e, não acabando com o AO (que seria pior a emenda que o soneto) se reponha a lógica em idiotices como a forma do verbo “parar” sem acento (acabando igual a uma preposição...). Todavia, a vida não pára e todos os dia saem livros que quero ler. Estejam com a nova grafia ou não, quero lê-los. Gosto de ler e, como tal, não posso abdicar de conhecer o que vai sendo publicado só porque não está como estaria há vinte anos. Se o nosso querido Eça ou o nosso Camilo voltassem à terra e lessem um livro com a grafia que usávamos, por exemplo, na década de 80 do século passado, também teriam um fanico. Foi antes de aplicarmos o novo AO e mesmo assim já não escrevíamos como eles escreveram em tempos. Porquê? Porque a língua não é sempre a mesma, embora algumas almas mais tacanhas achem que sim.

Por isso, caros senhores que comentam todas as publicações das editoras com impropérios contra o novo AO e que afirmam não comprarem livros que o tenham, se não querem ler, não leiam. Comprem os vossos livros sempre sem a nova grafia e ocupem-se a lê-los. Pode ser que vos falte tempo para irem torrar o juízo dos outros com birrinhas infantis e fora de prazo nas redes sociais.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Hilariante

Os banqueiros estão unidos nos argumentos sobre a necessidade de os portugueses pagarem pelo uso das caixas multibanco porque esse serviço tem custos para os bancos e porque somos dos poucos países na zona euro que usam as caixas multibanco de forma gratuita. Tem graça: pensava que esse serviço ficava pago com os milhões dos contribuintes que de tempos a tempos o Estado injecta na banca devido ao fantástico trabalho que tem sido feito nessa área... Que ingénua sou. 

terça-feira, 7 de maio de 2019

Diário de Madame Pochita III

Querido diário, 

Tinha meia dúzia de coisas para dizer, principalmente sobre lógica aristotélica e falácias, mas acabei por distrair-me com festas no peito e por isso terei de deixar tais considerações para amanhã. Agora, confesso, nem estou em mim. Por agora, ficarei aqui tombada em cima dos chinelos da dona a receber o devido tributo por ser uma Cão muito fofa. 

Até amanhã! 

Às camadas

Na gala do MET, a Lady Gaga usou um vestido que na realidade eram mais ou menos quatro vestimentas numa só. Era assim uma espécie de bolo às camadas. A última já estava mais para recheio do que para camada, mas pronto.

Ora, e o que concluo eu de tudo isto? Que a Lady Gaga com quatro camadas de roupa sobre ela consegue sempre parecer mais esbelta do que eu com uma fininha blusa de algodão. Que vida a minha! 

sexta-feira, 3 de maio de 2019

O planeta dos Macacos (e da CMTV)

Se um extraterrestre instalar um serviço de televisão paga que inclua um canal extraplanetário e se esse canal for a CMTV, o que vai o pobre ET pensar das pessoas que habitam o nosso planeta, ao ler coisas destas?


Diário de Madame Pochita II

Querido diário,

São agora 9:30 H e já cãopri muitos dos afazeres da minha lista. Consegui surripiar duas peças de roupa da dona de dentro do cesto da roupa suja e melhorá-las com dois buracos gigantes. Ela não gostou, mas tenho esperança de que venha a perceber que a pele precisa de respirar.

Já lavrei a areia do gato. Fui lá, enfiei a pata e... bom, digamos que a casa precisa de ser varrida. Mas deixo isso para os donos porque eu já fiz muito hoje e começo a precisar de uma soneca das valentes.

Para já fico por aqui. Depois da soneca vou ver se consigo roer, partir, esconder, roubar, rasgar ou esburacar qualquer coisa. É uma vida estafante. A verdadeira vida de cão.

Ass.: Madame Pochita, a bárbara.

terça-feira, 30 de abril de 2019

Histórias de Nova Iorque - o balanço

Terminei ontem a leitura deste livro, pertencente à colecção de textos de viagens da Tinta da China. O autor, Enric González, é jornalista e no início do milénio esteve em Nova Iorque como correspondente do El Pais

O livro aborda temas tão diferentes quanto as origens da cidade, a loucura que é arrendar por lá uma casa sem declarar falência, a adoração que os nova-iorquinos têm por beisebol (e as peculiaridades de alguns dos mais conhecidos jogadores dos Yankees e dos Mets), a máfia da cidade e as suas personagens, os bifes e a sua ciência, os diferentes bairros da cidade, os homens ricos que criaram grandes impérios que ainda hoje rendem muitos milhões e, claro, aquela data inesquecível que nunca mais se separará da cidade: o 11 de Setembro. 

É um livro pouco extenso, lê-se rapidamente. Além disso, o autor tem um humor imenso e sabe rir-se dos desastres que lhe vão acontecendo na cidade, quer seja na odisseia desmedida para conseguir um tecto sob o qual viver, quer seja perante uma perseguição policial enquanto se encontra carregado com as compras feitas no supermercado. Têm um olhar jornalístico inequívoco e, assim, consegue olhar para Nova Iorque sem ficar preso aos elementos mais conhecidos. Pelo contrário, consegue olhar além do óbvio e descobrir beleza em aspectos muito pequenos da cidade. Sendo estrangeiro, consegue ainda olhar de fora e aperceber-se mais facilmente das peculiaridades que fazem de Nova Iorque uma daquelas cidades que nos atrai e repele. Atrai porque nos entra em casa pelos filmes, porque sentimos que a conhecemos desde sempre, porque gostaríamos de ver ao vivo aqueles arranha-céus, o Ground Zero ou a Estátua da Liberdade. Repele porque temos ideias prévias relacionadas com a criminalidade em bairros como o Bronx e outros, porque tememos ser engolidos pela velocidade a se vive por ali e por muitas outras razões. 

Seja como for, fechamos o livro confirmando a sensação criada, provavelmente, pelos inúmeros filmes que mostram Nova Iorque: aquela não é uma cidade como as outras. Tem uma identidade muito própria e acredito que quem lá vai deseje regressar. Como o autor deste livro. Nova Iorque, os seus sons, as suas luzes ficam na memória, exercendo encanto como as sereias de Ulisses. Livros como este servem para provocar a vontade. Servem, diria eu, para acrescentar um novo lugar à lista de destinos a conhecer. E servem para entreter os que não podem partir e a quem resta viajar à roda do quarto, vendo o mundo pelas páginas de um livro. 

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Diário de Madame Pochita I

Aqui onde me vedes, luto contra a minha manta azul que acabou de engolir uma das minhas 5835 bolas de ténis. E não a cospe! Ah, mas eu não desisto! Não desisto de recuperar a minha bolinha e não desisto de tentar deixar a minha dona sem um chinelo. Se tem dois, por que motivo não posso ficar com um?! E eu que até tenho quatro patas. Oh vida injusta!

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Pelo Latim: habemus grammaticam!

Esta quixotada podia perfeitamente pertencer ao grupo «A Menina Sugere Isto», mas falando-se aqui de uma gramática de latim, língua que poucos chegam a aprender, achei que podia fazer isto de forma diferente. 

Como penso que já disse aqui no blogue, sou, de acordo com o meu diploma, professora de português e de latim. No entanto, nunca dei aulas de latim fora do estágio. Tive a oportunidade de o fazer, mas não quis aceitar a oferta por uma razão muito simples: não viria a ser boa professora. Deixo essa tarefa para quem domina a língua melhor do que eu. Fiquei-me pelo português já que ensiná-lo era mesmo o meu sonho.

Contudo, aprendi latim na faculdade e dou-lhe até maior valor hoje do que dava na altura. Foi soberbo para perceber melhor a nossa língua, para compreender de onde vinham as palavras e que caminho haveriam de percorrer até chegarem a ser as que hoje usamos. Foi uma aprendizagem importante para mim e acredito que faz muita falta aos nossos alunos. Tenho a certeza de que a nossa gramática seria mais fácil de aprender se também passassem pelo conhecimento da gramática latina. No entanto, a lógica do útil e do inútil e do imediatamente utilizável foi-se sobrepondo e Portugal deixou morrer o ensino do latim nas escolas. Aqui e ali ainda se aprende, sobretudo nos colégios privados, mas a maior parte das escolas desistiu da oferta da língua latina. 

Porque é uma língua morta, porque não dá dinheiro, porque não garante acesso a postos de trabalho: as razões foram imensas e todas presididas por uma enorme ignorância. O latim está-nos no sangue, na história e quem manda optou pelo esquecimento. Louvo os colégios que insistem no seu ensino, que o têm inclusivamente como disciplina obrigatória, que percebem que o português se aprende melhor se a base latina estiver lá. Eu, como disse, não daria uma boa professora de latim, mas nem por um segundo lhe retiro a importância que tem. E não deixo de lamentar o esquecimento a que tem sido sujeito. É mais estudado, lido e ensinado em países de língua não românica, como a Alemanha, do que em Portugal. E hoje, com a autonomia das escolas, até seria mais fácil inclui-lo nos curricula. Felizmente, ainda existe quem a ele dedique a vida: a estudá-lo e a ensiná-lo.

Por isso mesmo, porque tenho o privilégio de conhecer alguém que se apaixonou pelas línguas e literaturas clássicas e que tem a elas dedicado o seu tempo, aproveitei para deixar no blogue um testemunho muito mais rico do que o meu no que à importância do latim diz respeito. 

Gabriel Silva é professor de latim desde 2010, se não me falha a memória. Fez o seu mestrado e o doutoramento na área das línguas e literaturas clássicas. Continua a traduzir e a investigar (porque este mundo não tem fim e são poucos os que labutam nele), mas também a ensinar latim a crianças e jovens do ensino básico e secundário. Pedi-lhe para escrever um pequeno texto sobre a língua dos romanos e ele acedeu. Aí vão as suas palavras.

«Olavo Bilac (o poeta brasileiro, não o cantor) disse, em tempos, que a língua portuguesa é a última flor do Lácio. O Português é, sim, uma das flores que o Lácio deu ao mundo. Que todos sabemos que o Latim é a base principal do nosso idioma, não duvido. Mas até que ponto utilizamos palavras de todos os dias sem conhecermos um pouco da sua história? Saberemos nós que quando estamos a considerar uma coisa, de certo modo estamos com o olhar posto nas estrelas? Teremos noção de que o verbo pular está relacionado com frangos? O Latim tem muitas utilidades. Passar um raio-x em boa parte da língua portuguesa é apenas uma delas. Poderia agora elencar os mil benefícios de aprender Latim: ajuda na gramática, dá uma maior sensibilidade para o Português e outras línguas românicas, abre portas para um mundo imenso de literatura..., mas já consigo ouvir um coro que se levanta contra o ensino/aprendizagem da língua do Lácio. Os argumentos são os habituais: já não se usa, não tem utilidade, não dá dinheiro, não gera emprego... Mas agora pergunto eu: e não é bom conhecer/saber uma coisa apenas porque sim, pelo simples gozo de aprender e de saber? Estou longe de imaginar (quanto mais de querer!) que toda a gente se torne latinista, mas não é tão bom aprender uma coisa nova? Eu não sei tocar nenhum instrumento musical, mas gostava apenas porque sim, porque é agradável aprender, e é mais um meio de olear a nossa maquinaria mental. Sabem que mais? A ignorância é atrevida.»

E já que falamos tanto de latim... Frederico Lourenço tem sido responsável por traduções de textos clássicos e por adaptações dos mesmos aos mais novos. Tem feito um trabalho imenso na área. Na Quetzal, publicou recentemente esta Nova Gramática do Latim.

Wook.pt - Nova Gramática do Latim

Já a tenho e está estupenda. Além de que era difícil aos alunos de latim encontrarem uma boa gramática (o velhinho Compêndio já não era fácil de encontrar), é bom ver sair estes títulos que dão novo fôlego e chamam a atenção para esta «língua morta» (linda expressão). Não deve haver aluno de Letras que não vá a correr para esta gramática, mas seria bom que outros se sentissem tentados a aprender um pouco mais sobre esta língua. Por extensão, saberão mais de português. E isso é sempre bom.

Por isso, se tiverem curiosidade, se quiserem tentar perceber o que ainda existe de latim no nosso português, fica esta sugestão. É um livro bonito, bem feito e com um conteúdo importantíssimo para os falantes de português. E, nunca se sabe, pode ser que nasça assim a vontade de saber mais. Até porque essa deve manter-se sempre. 

Nota: A imagem saiu da página da Wook.