Se há obra que gosto de leccionar é Os Lusíadas, do nosso muy patriótico Camões. Este senhor conseguiu, numa obra épica absolutamente perfeita, glorificar o povo português, elevá-lo a píncaros a que jamais voltará, enquanto lhe dava magistralmente nas orelhas e o criticava até ao ponto de nos dever fazer corar de vergonha. Geralmente a tendência é olhar apenas para o panegírico que sobressai do texto e que coloca os portugueses à cabeça do mundo (quem diria...), contudo, nada menos interessante, são as muitas palmatoadas que surgem, não só nas considerações do poeta, mas um pouco por todo o texto, e que mostram o lado podre da maçã brilhante. Note-se que quando Camões vê a sua epopeia publicada, já Portugal estava a afastar-se dos tempos áureos da expansão e o que por cá se vivia era uma rambóia desenfreada que consistia em estourar todas as riquezas que conseguiramos acumular.
A minha grande pena é que os alunos, normalmente, já detestem Os Lusíadas ainda antes de olharem para a Proposição! Ah e tal, que o texto é longo, chato, em verso e em Português do tempo da outra senhora. Enfim, para a semana lá vou eu tentar mudar-lhes a opinião e fazê-los ver que ler aqueles versos não dói nada, pelo menos fisicamente. É que muitas das alfinetadas que Camões dá aos portugueses daqueles tempos ainda hoje picam...
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