segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Que venha 2019!


E cá chegamos ao final de 2018, o ano mais «montanha-russa» da minha vida. Mas também, provavelmente, aquele que mais me marcou e o ano que mais lições me deu.

Em 2018 arranjei trabalho, assisti ao milagre que permitiu ao meu pai ter uma vida nova, passei um mês e meio a correr para o Curry Cabral para o visitar, vivi momentos em que não via solução para os problemas, mas felizmente vivi outros em que tudo começou a encaixar e a resolver-se.

Em Novembro a sorte bateu-me à porta e vou contar-vo-lo agora. Numa daquelas coincidências raras, cruzei-me com uma editora, levando na mão um livro de um autor publicado por ela. Conversa puxa conversa e acabei numa entrevista. Começo em breve a trabalhar na divisão literária de uma conhecida casa editorial, a fazer aquilo que já era um sonho antigo: trabalhar no mundo do livro, participar na sua realização. É um desafio, mas o facto de poder ter esta oportunidade já confirma que a melhor coisa que fiz foi deixar uma profissão que estava a consumir-me para tentar fazer outras coisas. 

Foi, acreditem, um longo caminho para chegar até aqui. Contudo, acho que tudo aconteceu no momento certo e foi preciso dar cada passo para poder atingir esta meta. O desemprego, desesperante por vezes, permitiu-me acompanhar os meus pais nos momentos mais complicados; o trabalho, inicialmente em part-time, possibilitou-me algum rendimento, mas também o tempo preciso para ver o meu pai no hospital durante aquele mês e meio em que esteve internado; também me permitiu conhecer outras pessoas, algumas que espero manter na minha vida; e, claro, abriu-me portas que agora, no novo ano, transporei com a esperança de que não mais se tornem a fechar.

Apesar de tudo, chego a ter pena de que o ano termine. Bem sei que é só um número no calendário, mas 2018 foi um ano único, foi um ano de emoções à flor da pele. Se tivesse de escolher uma palavra que definisse o que estes 365 dias foram para mim, optaria por «esperança» porque foi ela que me manteve até ao fim. Mesmo quando já esperava muito pouco, houve sempre um restinho de esperança que ficou e que me ajudou a seguir em frente. 

Também foi um ano de sorte. Não porque me tenha saído o Euromilhões, que não saiu (também sem jogar é difícil...), mas porque houve momentos em que os acasos geraram oportunidades. Às vezes na mesma semana ou com poucos dias de diferença. Em 2018 tive daqueles segundos em que a cabeça fica confusa devido à rapidez com que tudo sucede. Pereceu, em alguns momentos, que os acontecimentos foram mais velozes do que aquilo que me era possível processar. Disse algumas vezes que me sentia a entrar na máquina da roupa para a centrifugação e a sair de lá depois de umas dezenas de voltas, tonta, cambaleante, bêbeda de pasmo.

Por isso chego a 31 de Dezembro de 2018 com pena porque termina este ano tão marcante, mas expectante relativamente ao que está para vir. Talvez não venha a ser um turbilhão de emoções como foi este ano, mas será, certamente, desafiante. Por isso, de coração aberto e preparado, digo: venha ele que cá o espero. Ao ano velho arrumá-lo-ei na memória e no coração como o ano mais emocionante da minha vida até agora.

A todos vocês que mais uma vez, ao longo de um ano, seguiram as minhas quixotadas, quero agradecer a companhia neste percurso. O blogue foi ficando de lado nos momentos mais duros, mas sei que posso sempre voltar a ele: encontrarei alguém desse lado. Quero também lamentar não ter sido mais original no que escrevi, não vos ter proporcionado gargalhadas como noutros tempos. Se não o fiz, foi porque não consegui. Mas oxalá possa tornar a fazê-lo! E, por fim, quero desejar-vos o melhor dos anos. Que 2019 traga saúde (hoje já percebo por que motivo as pessoas sempre desejaram saúde antes de qualquer outra coisa), felicidade, amor, bons livros (claro!) e muitos risos. Que seja o ano em que os sonhos se cumpram e em que novos e bons desafios vos sejam propostos. E que no fim, de hoje a 365 dias, possamos voltar aqui a fazer um balanço positivo, de grande saudade por um bom ano que passou. Desejo-vos o melhor: desejem-me também sorte para a mudança profissional que aí vem.

FELIZ ANO NOVO!


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Menina QUERIA Isto, Mas Já Tem X


Ora bem, isto é uma vergonha, mas cá vai: é o meu primeiro dicionário GRANDE de língua portuguesa. Tenho um de Espanhol que é gigantesco, mas de Português só tinha o Dicionário Moderno da Porto Editora, que era bom e que deu um jeitão nos tempos da tese. Mas este é outro campeonato. É tão completo que dá vontade de lê-lo em vez de consultá-lo. Faz uma coisa que adoro: apresenta frases que utilizam em contexto a palavra procurada. Também indica o grau de abertura de uma determinada palavra naquelas em que a pronúncia pode não ser óbvia. Mostra ainda os casos verbais mais complicados nos tempos que costumam dar trabalho. E, como se não bastasse, apresenta no final um prontuário com os principais aspectos linguísticos que habitualmente precisamos de saber. É um dicionário fenomenal para professores e alunos porque introduz muitas entradas directamente relacionadas com os Programas Curriculares e com a nomenclatura que eles incluem. Parece-me um excelente investimento para quem tem de trabalhar com a língua portuguesa, mas, de modo geral, para todos os falantes que queiram ter por perto um repositório das palavras que utilizamos.

Soube deste Dicionário da Língua Portuguesa através de um e-mail da editora. Nele vinha um vídeo com personalidades que utilizam diariamente o dicionário. Deixo-vo-lo aqui para que possam vê-lo e, quem sabe, entusiasmarem-se com este belíssimo volume. Já agora, uma informação importante: custa 42 euros.


Agora sim: o Natal foi...

Não consegui vir desejar-vos, como fiz todos os anos, um feliz Natal. Ainda assim, acho que todos os seguidores/leitores deste blogue sabem que lhes desejo o melhor e, portanto, acreditem que me lembrei muito de vocês e tive pena de não vos deixar umas palavras antes da noite mais bonita do ano.

Tive dezasseis pessoas a passarem o Natal cá em casa. Esfalfei-me que nem uma louca. No dia 24 só consegui sentar-me durante o jantar. Foi uma trabalheira, mas foi talvez o melhor Natal da minha vida. Teve um significado diferente. Depois de um ano muito mau, o de 2017, em que tudo foi incerteza, 2018 foi o ano da mudança e da esperança. Ver o meu pai bem e contente, saber que parte dos problemas está a tornar-se passado é uma alegria enorme. 

Por tudo isto, porque valia a pena viver cada segundo com estas pessoas da minha vida (algumas vieram de longe para celebrar o Natal connosco), porque tudo tinha de ser bom e perfeito, acabei por não conseguir passar pelo blogue. Espero, contudo, que tenham tido um Natal tão bom como o meu. Com poucos presentes, mas com muitas pessoas presentes e muita alegria. E agora venha a passagem de ano e um 2019 em grande. Com novidades para breve...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A Menina Quer Isto CXII

Se ainda for a tempo de pedinchar alguma coisa nova para o Natal, então a Menina quer este dicionário. Ainda está quentinho, acabadinho de sair. A Menina portou-se bem e queeeeeeeeeer! Além disso, 2019 está mesmo a pedir um dicionário novo...


domingo, 16 de dezembro de 2018

Madame Pochita - actualização


Embora a foto seja anterior à esterilização e não mostre a fatiota que ela anseia arrancar de cima do pelo, eis Madame Pochita na sua fotografia para a carta de condução. 

Ora, no sábado foi à veterinária ver como iam as coisas e, minha gente, eu quero ter a pele desta cachorra! Tem uma cicatriz tão maravilhosamente cicatrizada que nem parece que aconteceu ali alguma coisa. Nem vermelhita estava! Mudou-se o penso e no sábado regressa para, espero eu, ser despida. É o que ela mais quer. E eu também, que estou farta de andar a coçar-lhe as costas. Sim, falo a sério. Vejo-a tão aflita que meto a mão dentro da fatiota e dou uma ajudita. Se ela ronronasse, fá-lo-ia, tamanho o alívio. Mas pronto, corre tudo bem e isso é um alívio.

PS.: Ela não lê o blogue, por isso posso contar: hoje fomos comprar o presente de Natal de Madame Pochita. Mandámos gravar uma chapinha cor-de-rosa em forma de osso com o nome dela e os nossos contactos telefónicos. Ficou tão, mas tão querida. Vai ficar a matar naquela coleira cor-de-rosa! Acho que de todos os presentes que já embrulhei é o mais fofo de todos. E além de giro que dói, é muito, muito útil. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

No tempo da Pedra

Queridos quixoteiros, com a "morte" do meu telemóvel, tornou-se ainda mais difícil responder com prontidão aos vossos comentários. Publicá-los é fácil, mas responder-lhes precisa mesmo de um computador, coisa que só costumo ligar no fim-de-semana. Por isso peço-voz desculpa. Espero em breve, passada a loucura consumista é responsável por aumentos bárbaros nos preços, poder substituir o falecido telemóveis e retomar a actividade "blogueira" com a devida normalidade. Até lá, se não vos responder atempadamente, perdoem-me, mas a minha tecnologia retrocedeu ao tempo da Pedra. Ou pior.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Quase desconectada

Que altura do ano o meu telemóvel haveria de escolher para falecer? Esta, claro. Quando tuuuuudo está mais caro ou esgotado. Resultado: voltei temporariamente ao meu velhinho iPhone 4 (imaginem) e, no fundo, a coisa serve só para fazer e receber chamadas. Já não tem novas actualizações, de antigo que é. Portanto, vir ao blogue e publicar nele, se era difícil, pior ficou. Baaaaaaaaaaaaah!

Bom, lá deixarei de pegar no telemóvel por isto ou aquilo. Pode ser que assim me despache mais a terminar os livros que ando a ler.

sábado, 8 de dezembro de 2018

O feriado de Madame Pochita

Para muitos, hoje foi dia de enfeitar a árvore de Natal. Para outros, foi dia de passeio e de aproveitar o belo dia de sol que esteve. Para alguns, foi dia de compras em centros comerciais a abarrotar de gente. Já para a Madame Pochita foi o dia de ser esterilizada (e conseguiu sê-lo antes do primeiro cio!). Correu bem. Está ali tombadinha na sua caminha, mas está bem. Esperamos que rapidamente volte a ser a cabrita saltitona do costume. Por agora, triplicámos a dose de miminhos. Não falta muito para lhe saírem arco-íris pelas orelhas.


(Madame Pochita a regressar a casa depois do período de recobro.)

Canção Doce - o balanço


Canção Doce é um daqueles livros que nos faz pensar. Não fechamos o livro como se nada se tivesse passado durante a sua leitura. Pelo contrário: todo o livro é uma revelação sobre um modelo de sociedade que, infelizmente, conhecemos bem e no qual nos servimos dos outros sem querermos realmente saber o que eles querem, pensam ou vivem depois de saírem de junto de nós.

A acção decorre em Paris, num apartamento pequeno de uma família de classe média. Paul e Myriam têm dois filhos e, inicialmente, a mãe opta por ficar em casa com os pequenos, abdicando da sua carreira no Direito. Porém, à medida que o tempo passa, começa a sentir-se sufocada entre as paredes da pequena casa e vem ao cimo a inveja pela vida profissional do marido. Aos poucos vai-se desenhando na sua cabeça o desejo de regressar ao trabalho, mas deixar os filhos entregues ao cuidado de uma estranha gera nela uma ambiguidade de sentimentos difícil de suportar. Inevitavelmente, acabará por surgir a oportunidade profissional e a consequente necessidade de arranjar uma ama para os filhos. Inicia-se a busca e eis que surge Louise, aquela que é vista como a Mary Poppins dos tempos modernos de tão perfeita que é. 

O livro começa a sua história pelo fim. É-nos contado nas primeiras páginas o final da relação entre a ama e esta família francesa. O resto da história é uma analepse, ou seja, é o voltar atrás para se perceber que caminho foi percorrido até àquele momento fatídico em que Louise mata as crianças de quem cuida. Não estou a desvendar nada que estrague a leitura: é mesmo assim que o livro começa e, acreditem, essas primeiras páginas são sufocantes. São páginas dolorosas, de uma dor inimaginável. Contudo, o resto do livro é uma revelação. É um retrato cru de como tendemos a ser ilhas, de como estamos sozinhos mesmo no meio de uma multidão.

Paul e Myriam querem uma ama e têm-na. E rapidamente ela será mais do que uma ama. Será praticamente uma empregada de limpeza, uma cozinheira, uma costureira, uma palhaça... Enfim, será tudo aquilo que lhes fizer falta. E eles aceitam e agradecem que ela faça sempre mais e mais e mais. Aceitam e agradecem a sua presença constante porque isso lhes liberta o tempo. Aceitam que ela lhes mude a casa, que lhes mude os hábitos, que tome decisões que eles até nem tomariam. Tudo porque isso lhes facilita os dias e porque lhes dá a sensação de que a vida é perfeita, de que não têm de se preocupar com nada que não seja importante e que se prenda com as suas vidas profissionais, essas sim dignas de atenção.

O problema é que todos gostamos de ter a papinha feita até ao dia em que alguma coisa, por pequena que seja, começa a irritar-nos. Aí, a Fada Madrinha começa a transformar-se numa Bruxa aos olhos de quem nela principia a encontrar defeitos. E, de repente, aquela que era indispensável passa a ser facilmente descartável. Aquela que tantos elogios recebeu torna-se digna de críticas gratuitas.

Sem desvendar mais sobre o enredo, deixo-vos apenas aquilo que pude perceber com esta narrativa. Percebi que estamos muito sozinhos. Que por muito que façamos falta nesta empresa ou para aqueles colegas, poucos são os que realmente querem conhecer-nos e tentar perceber quem somos, que carga carregamos aos ombros, que dores temos em nós. Há neste livro um momento que considerei duríssimo, carregado de uma crueldade desmedida. Quando Myriam informa uma amiga de que procura uma ama, esta aconselha-a a que opte por uma estrangeira que tenha os seus próprios filhos longe, no país de origem. Isto para que possa estar sempre disponível para os filhos da patroa, seja a que horas ou a que dia da semana for. Queixa-se ela de que a ama que fica com as suas crianças é um problema porque nunca pode ficar durante a noite, nem ser avisada de uma necessidade de um momento para o outro. Como se a ama não tivesse vida, família, ou como se não precisasse nem devesse ter tempo para si. Vi neste pequeno diálogo uma crueldade e um egoísmo imensos que, infelizmente, não estão assim tão longe daquilo que conhecemos nesta sociedade louca em que vivemos. É como se as pessoas fossem objectos que se usam sempre que se quer e que se deitam fora quando já não servem. É uma inversão dos valores e de tudo aquilo que deveríamos ser. E é chocantemente verdadeiro. Paul e Myriam vêem em Louise apenas o que querem ver: alguém que lhes facilita a vida. Nem mesmo quando sabem que a ama atravessa momentos difíceis procuram ajudá-la (pelo contrário: ainda conseguem censurá-la). Não entendem que assim só fazem com que a sua família ganhe uma dimensão doentia para aquela ama que, aos poucos, vê serem cortados todos os fios que ainda a ligam ao mundo.

Com este livro, Leila Slimani venceu o Prémio Goncourt de 2016 e, em meu entender, foi muito merecido. A escrita é muito directa, sem grandes rodeios ou floreados, e assim vai bem ao encontro da mensagem que pretende passar: uma mensagem também ela crua e violenta, chocante por ser tão verdadeira. É um livro que «não mata, mas mói» e que, precisamente por isso, vale muito a pena ler.

Em busca de lugar na estante XVII

(Entretanto, estes dois já encontraram lugar na estante e, por isso, as fotografias não foram tiradas por mim.)



A minha prateleira consagrada a Saramago e ao que sobre ele se escreve soma e segue. Honestamente, interessa-me pouco o que a Pilar tem a dizer, mas quero muito continuar ler as palavras de um homem que era, a meu ver, um génio das palavras. A minha admiração por este escritor é imensa, principalmente porque é a prova de que o nascimento não tem de determinar todo o futuro. Mesmo nascendo numa família pobre e sem oportunidades de estudar, foi Saramago o primeiro (e até agora o único) autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura. E por isso mesmo tanto se escreve sobre ele. A prateleira agradece.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ironias canino-literárias

O meu cão, mais conhecido como Madame Pochita, atacou um livro da minha estante. Teve gosto, pode dizer-se. Mas acredito que até o nome do livro fosse uma afronta difícil de suportar. Vai daí e o melhor mesmo é fazer desaparecer o maldito livro da prateleira e, se possível, da face da terra. Madame Pochita tentou, mas o livro deu luta. Melhor: os gatos deram luta. Sim: Madame Pochita tentou destruir O Livro dos Gatos, de T. S. Eliot. Tenho ou não tenho um cão capaz das maiores ironias?






sábado, 10 de novembro de 2018

A Quinta dos Animais - o balanço



A primeira edição deste livro deveria ter tido um prefácio do autor que, no entanto, acabou por não ser publicado. Foi descoberto anos mais tarde. Nele, Orwell explicaria que vários editores, na década de quarenta do século passado, se recusaram a publicar esta obra por perceberem que ela metaforizava lindamente o que se passava na Rússia. Ninguém queria provocar a Rússia e, portanto, era melhor deixar o livro no fundo da gaveta.

Felizmente foi publicado e cá está para nos contar uma história, uma espécie de fábula que não deixa ninguém indiferente. Creio que é daqueles livros de que todos conhecemos em traços gerais o enredo, mesmo sem os termos lido. Numa quinta, os animais iniciam uma revolução que os levará a livrarem-se dos humanos, gerindo eles próprios o espaço, o seu trabalho e tudo o que diz respeito à sua existência. Inicialmente, tudo é idílico. Todos parecem ter o mesmo objectivo e todos parecem ter o mesmo valor naquela quinta. Contudo, rapidamente as coisas começam a mudar e a igualdade entre os animais vai ficando cada vez mais diluída. Esta mudança decorre numa gradação que, se no início chega a ter graça, começa a deixar o leitor desconfortável à medida que tudo se torna mais sério. Mais: nós, que já vimos isto acontecer, percebemos todos os paralelos entre o que acontece com estes animais e aquilo que já vimos suceder em sistemas totalitários (ou no meu antigo local de trabalho...). Assistimos ao fim da liberdade de expressão, ao culto do «bode expiatório» que quer distruir o que de bom o «grande líder» fez, à repressão, aos castigos, à criação de uma força repressiva protectora dos que mandam, entre outros aspectos. Não falta ali nada, até aqueles acéfalos que dizem amén a tudo sem qualquer espírito crítico lá estão.

Ao mesmo tempo que lemos uma história com animais que falam, como nas fábulas da nossa infância, entramos também com estes bichos numa realidade terrível que só é a deles no papel. Na verdade, tais erros só acontecem na realidade humana, o que mostra que somos profundamente idiotas e que cometemos alegremente os mesmos erros vezes e vezes sem conta. Ora, esta estranheza causada pela dicotomia entre uma história impossível de se tornar realidade e uma história que é real  embora com outros protagonistas é uma das razões pelas quais este livro é tão bom. É preciso ser-se um tijolo para não se sentir o incómodo que este texto nos provoca. Só mesmo alguém que viva numa realidade completamente irreal poderá ler A Quinta dos Animais e ficar apenas pela camada superior. Há sempre mais qualquer coisa. Há sempre um espelho que nos reflecte enquanto humanos e que nos desfoca, nos distorce. Reconhecemo-nos ali, naqueles cavalos, naqueles porcos, naquelas ovelhas... mas não nos reconhecendo ao mesmo tempo. Acho mesmo que em certo momento damos por nós a pensar no animal que seríamos, se ali estivéssemos. Qual seria o nosso papel? Conseguiríamos manter o nosso espírito crítico, mesmo quando os outros nos quisessem conduzir cegamente? Conseguiríamos erguer a voz? Conseguiríamos ser mais do que as ovelhas que se limitam a repetir sem pensar a propaganda que lhes passam? Ou seríamos como elas e viveríamos felizes na mais profunda ignorância?

A boa literatura abana-nos pelos ombros. Este livro é indubitavelmente boa literatura. Em tempos tive um colega de trabalho que afirmava ser este o seu livro favorito. Agora, tanto tempo depois, percebo a razão e rio-me ao imaginar as vezes em que ele viu semelhanças entre os porcos deste texto e aqueles que nos lideravam...

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Patinhas

Ter cães ou gatos em casa implica perceber que o chão, por mais vezes que passemos a esfregona, terá sempre marcas de patinhas. Sempre. Já desisti de ter um chão “sem patas”. Nenhum dos três abdica da felicidade de andar sobre um pavimento húmido. A ala felina gosta até bastante de se rebolar no chão recentemente lavado. 

Também já desisti de atirar roupa para o chão. Com os gatos era coisa tranquila, mas com a Madame Pochita não há meias que parem quietas. E jornais: também não posso deixar jornais à “pata de semear”. A bem da verdade tenho a casa quase guardada no bolso a ver se alguma coisa escapa. Entre cães e gatos nem sei se EU consigo escapar...

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

sábado, 13 de outubro de 2018

É muito estilo!

Fashion bloggers, cuidado! Madame Pochita tem muito estilo e está aqui para vo-lo mostrar!


Ps.: Depois da ida ao veterinário, Madame Pochita, sensível ao sol, coloca os óculos. Balanço: uma otite daquelas com ácaros nojentos. Agora todos os animais cá de casa estão sob vigilância. E esta menina vai andar a lavar os ouvidinho com uma solução para isto. Daqui a duas semanas volta ao veterinário. Ah, e aos cinco meses, são 12.310 kg de destrambelhamento. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Em que aprendo coisas novas

Tirando a curta fase da minha vida no meu sétimo ano em que tive um Pastor Alemão, nunca tinha tido um cão. Portanto, estou a visitar um mundo novo, já que um cachorro está nos antípodas dos gatinhos. Eles quando me vêem, no máximo atiram-se para o chão a pedir uma festa. O cão quando me vê vai buscar a caixa dos fogos de artifício, estoura-a de uma vez, desloca uma anca a abanar a cauda e toda a sua metade traseira, fica com ar de quem está a sorrir e, se dúvidas houvesse, ainda dá um latido. Cada um demonstra à sua maneira e a do cão é, definitivamente, mais efusiva. 

Portanto, além de tudo o resto, aprendo a viver com narigadas de cão nas minhas calças (cortesia do nariz molhado), com gatos que olham para o cão com ar de quem nunca tinha visto um “gato” tão esquisito (penso que lhes apetece dizer “feio” mesmo. São uns snobs), com chão pingado de água por todo o lado, já que o cão sai dos bebedouros ainda “a beber” (o meu moço diz que a cachorrinha tem “a delicadeza de uma vaca”), com um cão que odeia ir à rua e que ainda faz o que tem a fazer nos resguardos em casa... Toda uma festa. Mas pronto: vivendo e aprendendo. Um dia de cada vez até que isto entre em alguma espécie de normalidade. Ou que eu me habitue à loucura. Eheh. 

Roubo triangular

Há o comércio triangular e o roubo triangular. Ora vejam:

- o gato rouba a comida da cadela;
- a cadela rouba a comida da gata;
- a gata rouba a comida do gato. 

E é isto a minha vida. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Vale tudo?

No Brasil, Bolsonaro ficou a um passo de chegar na primeira volta ao Planalto. Vários órgãos de comunicação social fizeram um apanhado de frases por ele ditas ao longo dos tempos. Esta criatura de extrema-direita terá proferido em tempos o seguinte dito: “Só não te estupro porque você não merece.”. E também defendeu que o salário das mulheres devia ser menor porque... elas engravidam. Também disse que seria incapaz de amar um filho homossexual e que o mal da ditadura foi só ter torturado e não matado. 

Esta pessoa conseguiu 49 275 358 votos e ganhou em metrópoles como São Paulo. Só se tramou no nordeste brasileiro. Por isso, só mesmo por isso, disputará a segunda volta das eleições. 

Agora, expliquem-me: bem sei que a economia brasileira está gravemente doente, que os problemas sociaia são imensos, e que tantos escândalos na política tiram a confiança em quem a faz, mas vale tudo? Como conseguem ouvir frases destas e achar que este é o líder que faz falta? Em que níveis está o desespero para esta ser tida como a melhor opção? 

Na escola sempre nos avisaram que a História se repete. Mas éramos garotos e isso parecia uma coisa demasiado longínqua para ser motivo de preocupação. Pois bem: a democracia que os gregos deram ao mundo está, infelizmente, cada vez mais moribunda porque uns a atacam e muitos deixam que a ataquem. Um tristeza. 

domingo, 7 de outubro de 2018

A Menina Quer Isto... CXI


O quê? Um livro sobre livros? Ainda por cima sobre livros que ficaram na História e que ajudaram a moldar aquilo que somos? E fala do Dom Quixote?!Venha ele! É do Martin Puchner e chama-se O Mundo da Escrita. A título de curiosidade: se houver por aí sócios do Círculo de Leitores, este livro estará na próxima revista que iniciará em breve.

sábado, 6 de outubro de 2018

Mas já?! Ainda está calor!

Este fim-de-semana prolongado foi dedicado aos animais cá de casa. Foi por isso mesmo que escolhemos quinta-feira como sendo o dia indicado para receber a Madame Pochita, mesmo tendo de passar quase um mês à espera do dia 4 de Outubro (tempo em que ela cresceu, claro). Assim teríamos mais tempo para a ajudar a ambientar-se ao novo lar. Até porque na segunda-feira é dia de trabalho e ela terá de estar capaz de aguentar várias horas sem nós. Mas adiante, que o tema é outro. 

Precisámos de comprar uns resguardos porque a pequena ainda não está habituada a ser passeada e a fazer as suas coisinhas na rua. Lá fomos à loja dos chineses em Benfica. O dono andava atarefadíssimo a arrumar um dos mostradores da entrada com... artigos de Natal. Sim, meus caros, bolas e enfeites vários a recordarem paisagens nevadas. E eu em t-shirt e Havaianas a transpirar como em Agosto. Confesso que me cheira mais a férias do que a Natal. Quer dizer: agora até me cheira mais a cão, mas isso é outra coisa. Agora, Natal?! A sério? Não sei como vai ser, mas não me parece que estejam criadas condições para sonharmos com cenários natalícios. Aguardemos para ver se o mood melhora e se o frio chega. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

No Dia do Animal

Ontem foi Dia do Animal (e hoje é Dia do Professor...) e, por acaso, houve a coincidência não planeada de ser um dia diferente dos outros. Ontem, chegou cá a casa a nossa mais recente companhia. É uma cadelinha de quase cinco meses que teve um início de vida complicado ao nascer na berma de uma estrada muito movimentada. Viu um dos irmãozinhos ser atropelado e morrer na estrada. Foi resgatada pela associação Pé Ante Pata e foi de lá que veio, depois de a ter visto num anúncio de adopção.

Os dois felinos parecem ter percebido que ela não teve um início de vida tão tranquilo como o deles e estão a acolhê-la como se sempre tivesse estado cá. Ela é que ainda está assustada, mas aos poucos as coisas melhoram. Por agora ainda está a repôr as energias com uma loooonga soneca. 

Queridos, quixoteiros, dêem as boas-vindas àquela que doravante ficará conhecida como Madame Pochita. Que seja muito feliz. 


domingo, 23 de setembro de 2018

Viva, mas preguiçosa

Desculpai, queridos quixoteiros, mas ando desaparecida. Chego a casa muito cansada e com demasiada preguiça para vos falar. Na sexta-feira consegui o prodígio de cair na cama e adormecer logo, sem nem sequer ler as paginazinhas da praxe. Logo que passe esta fase, regresso para as quixotadas do costume. 

Entretanto, este meu cérebro em férias, aproveita para ler literatura juvenil pejada de bruxas e de princesas. Comecei também a ler Os Loucos da Rua Mazur, mas o início não é tão envolvente como o anterior Perguntem a Sarah Gross. Está, portanto, em stand by à espera de dias mais propícios e menos quentes. Sinto-me constantemente em modo “sopa no caldeirão da bruxa”. Pffff!

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Chora, Camões, chora... XXIX

Durante uma insónia, percorro a aplicação “Notícias ao Minuto” e, num artigo sobre “borbulhas nas orelhas” (sim, leram bem), encontro uma gralha hilariante. Ora cá vai ela: 


Bom, buracos no queijo já encontrei. Quando é suiço é frequente, mas eu até gosto mais do queijo manchego. Agora, borbulhas no queijo confesso que nunca vi. Talvez os queijos que como não tenham passado pela fase das borbulhas na adolescência, o que é uma sorte. Tenho sido brindada com queijos bonitos, de aspecto imaculado, nada refilões e que não me pedem dinheiro para ir ao Bairro Alto todos os fins-de-semana.  No fundo, sinto-me abençoada por nunca ter tido de rebentar uma borbulha no queijo. Nem no queixo, mas disso a “notícia” não fala.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Como subir a média

(Pensamento muito lógico tido e verbalizado por mim enquanto o moço via uma série na qual uma criança estava possuída por um demónio e desatava a falar latim):

- Se há altura em que uma possessão demoníaca dá jeito a uma pessoa, é no dia do exame final de Latim. Teria aumentado bem a minha média de Licenciatura. 

domingo, 26 de agosto de 2018

Eu sou velha o suficiente para... V

Eu sou velha o suficiente para recordar-me de que, de tempos a tempos, lá aparecia uma desgraçado carregado com listas telefónicas para deixar à porta de cada um dos apartamentos do prédio onde vivia com os meus pais. Vinham de lá as Páginas Amarelas, para estabelecimentos comerciais e afins, e as Páginas Brancas, com os telefones (fixos) dos habitantes da Amadora e de Sintra. Cada casa só tinha direito à lista telefónica da sua zona. Se precisasse de consultar a lista com os telefones do Porto, por exemplo, tinha de pedir onde ela estivesse disponível. 



Os cafés também tinham listas telefónicas. Bom, a bem da verdade eu ainda sou do tempo em que nem todos tínhamos telefone fixo e, por isso, quando se ligava para a aldeia, telefonava-se para o café e pedia-se para se chamar a pessoa com quem se queria falar. Ou então deixava-se o recado de que ligariam para lá no dia seguinte à hora tal e que convinha que ela lá estivesse. Mas isso dava toda uma outra quixotada.

As listas telefónicas eram uns calhamaços carregados de números que raramente serviam para alguma coisa ao cidadão comum. De quando em quando, sendo preciso um médico de determinada especialidade ou um canalizador, as Páginas Amarelas ainda davam algum jeito. A outra lista telefónica, a dos números pessoais e estabelecimentos da nossa zona, nunca era aberta. Geralmente tínhamos os contactos das pessoas com quem costumávamos falar, pelo que a lista não tinha utilidade nenhuma. 

Não sei de quantos em quantos anos nos entregavam as listas, mas lá eram substituídas ao fim de algum tempo. Era um desperdício de papel, mas era o que havia na altura. Em determinado momento passou a ser mais prático ligar para as informações (118) e pedir um número de telefone. Porém, as listas lá iam aparecendo à nossa porta e alguém era pago para as entregar. Mais um emprego que foi à vida com o desenvolvimento tecnológico. Mais espaço nas nossas casas, que já não têm de arranjar lugar para aqueles enormes calhamaços. 

No outro dia lembrei-me disto e até senti uma certa nostalgia. As listas deixaram de aparecer e nem demos pela falta delas. Como tudo o que foi mudando, tudo o que foi saindo de cena e substituído por algo melhor, não demos por nada. Abraçámos a mudança e pronto. Esquecemos como era antes para sabermos como é agora. E, mudando tudo cada vez mais depressa, vamos esquecendo cada vez mais rapidamente a realidade das coisas antes de as novas coisas chegarem. 

E afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

                                  Luís de Camões

Em busca de lugar na estante XIV

De Espanha vieram dois livros novos, acabados de sair e ainda não traduzidos em português, de dois grandes autores: Paul Theroux e Mário Vargas Llosa. O primeiro, conhecido pelos seus livros de viagens, escreveu já romances e regressa ao género com este Tierra Madre, editado em Espanha pela Alfaguara.


Na mesma editora, publicou-se este ano La Llamada de la Tribu, de Vargas Llosa. É uma espécie de autobiografia literária, isto é, um regresso aos livros que o moldaram nos últimos cinquenta anos. O autor peruano evoca os autores que alteraram o seu olhar e o seu modo de pensar, procurando mostrar ao leitor de que modo ele é devedor dessas leituras. São escritores que o ensinaram a colocar o indivíduo no centro, à frente de outras noções colectivas.


sábado, 25 de agosto de 2018

O grande fiasco (e fome, muita fome)

Provavelmente, muitos de vocês já utilizaram o serviço Uber Eats com muito sucesso. Nós por cá não. Até há algum tempo ainda não faziam entregas no meu código postal, mas no outro dia, ao chegar a casa, vi uma jovem fazer uma entrega no meu prédio e pensei “Olha que maravilha!”.

Ontem cheguei a casa e, depois de uma sopinha, parecia faltar qualquer coisa (à sexta-feira à noite falta sempre qualquer coisa). O moço lá se lembrou do Uber Eats e fizemos um pedido para ser entregue logo que possível. Depois fomos acompanhando o desenrolar do processo na página do pedido. Foi preparado e saiu do restaurante. Rejubilámos de alegria: é que de lá aqui não são mais de quinze minutos. Vimos o bonequinho avançar no mapa, tínhamos o nome e a cara do motorista, tudo corria bem. 

Até que o desgraçado parou. E continuou parado. E o meu telemóvel não tocou a informar-me de nada. Passou meia hora. Tentei contactar o estranhíssimo número de telefone do motorista: desligado. Passou uma hora... Enviámos um contacto escrito à Uber Eats. Sem resposta. Telefonei para a linha de apoio:

 “Ah e tal, vamos contactar o condutor.” - respondeu alguém com uma pronúncia dificílima de compreender. 

“Boa sorte. Ele tem o telefone desligado.”

Tempo de espera em linha, fome a apertar. Nisto já passava das dez e vinte da noite. Quando finalmente regressam ao telefone dão-me a extraordinária novidade: não conseguem contactar o motorista. E eu que pensava que o telefone (iniciado por 303) só estava desligado para mim... No mapa, o tipo continuava encalhado no mesmo sítio havia uma hora (a comer o meu jantar, imaginava eu, cada vez mais faminta). Mas a novidade continuava: como já tinha sido ultrapassado o razoável tempo de espera, iriam cancelar o pedido para fazer outro se quisesse. Respondi-lhes:

“Vou fazer outro, mas directamente à Pizza Hut porque, como deve imaginar, não fiquei lá muito impressionada com os vossos serviços.”

O moço tratou desse novo pedido, enquanto eu recebia o e-mail do cancelamento e da garantia de devolução do dinheiro retirado do cartão. Depois disso, ficamos a aguardar a pizza. 

Uns quarenta minutos depois telefona-me o entregador do Pizza Hut muito indignado porque estava a tocar à minha campainha havia dez minutos e ninguém abria. Eu, que geralmente sou simpática, passei-me:

“Então se está a tocar há dez minutos, por que é que só me telefonou agora?! Obviamente aqui não soou campainha nenhuma, senão teria aberto!” .

Quando chegou à minha porta de casa, o senhor já vinha mais simpático, mas ainda se atreveu a um “Estive para voltar para a loja.”. Acho que pelo meio da fome rosnei um “Voltasse.” e expliquei-lhe que este tipo de campainhas, quando se carrega no botão, ouve-se uma espécie de um eco do toque, como sucedeu quando estava ao telefone comigo e finalmente soou aqui o toque da campainha. Se ele ao tocar não ouviu nada, é porque não tocou. Se tinha o meu número, só tinha de me ligar ou pedir à loja que o fizesse. Acho que já estava tão endiabrada que o senhor percebeu que era mau caminho continuar por ali e acabou por pedir desculpa. 

Portanto, o meu serão de ontem foi isso. Uma sucessão de fiascos que culminaram em pizza morna e mau humor. Ou eu tenho muito azar ou há por aí gente a trabalhar muito mal. Pelo sim pelo não, é melhor ter sempre em casa ovos prontinhos a estrelar. 

domingo, 19 de agosto de 2018

Perguntem a Sarah Gross - o balanço


No final de Julho folheei o livro Perguntem a Sarah Gross nos CTT da zona quando precisei de enviar uma encomenda. Isto de se venderem livros em todos o lado permite estas coisas. Todavia, só o comprei quando tive de passar seis horas no aeroporto de Lisboa devido a um voo cancelado. 

O autor, João Pinto Coelhor, venceu o Prémio Leya de 2017 com Os Loucos da Rua Mazur e parece que já havia sido finalista anteriormente com este livro. Confesso que esta coisa dos prémios nem sempre me dá grande confiança, mas neste caso o enredo pareceu-me promissor. Além disso, a narradora é uma professora de Literatura que vai trabalhar para um importante colégio privado onde tem de lidar com problemas muito complicados. Porém, no meio daquilo que implica ensinar num colégio elitista naquela época, uma outra personagem sobressai: Sarah Gross, a directora da escola. As duas mulheres desenvolverão uma amizade peculiar e isso recordou-me a directora da primeira escola (também privada) onde trabalhei. Aliás, a fase da história em que a narradora está a adaptar-se à escola e à preparação do ano lectivo levou-me a recordar os tempos em que também eu o fiz. 

No fundo, existem neste livro vários tempos, várias vozes e várias acções dentro da principal. Existe a história de Kimberley, a narradora, que opta por refugiar-se numa escola muito longe da família para fugir de alguma coisa; e existe a história de Sarah Gross. Além dessas, existem as de todos os que com elas se cruzaram e não foram poucos. A narradora escreve no século XXI para deixar testemunho das suas vivências no Colégio de St. Oswald's no final da década de sessenta do século XX. Porém, somos também levados a um outro tempo e a um outro espaço: Oshpitzin na primeira metade do século passado. Todos conhecemos o lugar, mas parece que antes de ser baptizado como Auschwitz era assim que se chamava. E, assim, somos levados a pensar num aspecto que provavelmente sempre nos passou ao lado: nem sempre aqueles lugares malditos o foram. Antes de lá chegar todo o mal de que o ser humano é capaz, eram cidades normais, onde viviam pessoas normais e tranquilas. 

Sempre que a narração nos leva para Oshpitzin percebemos a terrível gradação entre a cidade antes da invasão e depois dela. E depois assistimos aos horrores da guerra, ao modo como aos poucos os lugares se esvaziaram de tudo e se transformaram em vazios espaços de má memória. Oshpitzin nunca mais o foi e será para sempre Auschwitz, por muitos séculos que passem. A ideia de que houve um antes só nos chegará por livros como este porque, na realidade, é tudo tão avassalador que é difícil pensar que aquele lugar não tenha sido sempre maldito. O autor é prodigioso nisso. Tendo passado algum tempo em Auschwitz e trabalhado com diversos investigadores sobre o Holocausto, a sua fundamentação histórica é sólida (no final, os Agradecimentos mostram-nos isso mesmo), tanto sobre o local antes da invasão como depois da chegada dos alemães. As descrições dos guetos, depois dos campos de concentração, do modo como tudo por lá funcionava, de como tudo foi acontecendo em crescendo até ao limite da desumanização são muito bem feitas. Além disso, o autor foi também magistral na criação de uma personagem ficcional que se mistura com todos os que tiveram de passar pelo inferno da Segunda Guerra Mundial na Polónia. Sarah Gross é essa personagem e a sua história, que poderia ser a de qualquer outro judeu, é um murro no estômago. Algumas páginas foram muito difíceis de ler. Tem de se parar e ganhar fôlego para mais sofrimento, mais dor, para mais histórias de sobrevivência no meio da loucura mais abjecta. É verdade que é apenas uma personagem, mas considerando a formação do autor no que ao Holocausto diz respeito, saber que tudo aquilo podia acontecer é tremendo. Mais: a escrita tão clara, tão crua, tão directa impede grandes divagações. O filme acontece na nossa cabeça a cada nova frase e o enredo, tão tristemente real, parece agredir-nos a todo o instante. É impossível saber o que aquelas pessoas viveram. Como alguém diz em determinado momento, o dicionário ainda não tem palavras para a dimensão do terror, do medo, da perda e da dor que ali se viveram.

Apesar de todos sabermos em traços muito gerais aquilo que a História registou, o resto é imprevisível. Falo-vos do enredo, do que sucede às personagens. O livro é muito bom também porque nesse aspecto somos levados ao sabor do imprevisível. Quando achamos que tudo rumará numa direcção óbvia, a acção dá uma pirueta. E mesmo quando, no fim, ficamos a ranger os dentes de raiva por certos finais, acabamos por perceber que a vida é mesmo assim: nem sempre os maus levam um tiro no fim. Por vezes vivem até morrerem de velhice e os bons têm de aprender a viver com isso. 

Pelo meio de toda esta história, além da História com «H» grande de que já vos falei, outros temas surgem. Racismo na América da década de sessenta do século passado, segregação, violência sexual, entre outros. Há muito dentro deste livro e vale a pena lê-lo. O autor, sem histórias lamechas, apresenta-nos tempos e realidades que ainda nos dizem muito e que, cada vez mais, vale a pena conhecer. Sabendo nós o reino de doidos em que andamos metidos, é importante não perder de vista o que já foi para que jamais volte a ser. E a verdade é que todos temos agora muito receio de que aquilo que se conquistou se perca para se repetirem os mesmos estúpidos e perigosíssimos erros de outros tempos. 

Podia ter feito um «A Menina Sugere Isto» porque sugiro mesmo, mesmo, mesmo este livro. Espero que este autor continue a escrever, que continue a deixar nos seus livros as realidades que conheceu durante o desempenho da sua função no Conselho da Europa e enquanto conheceu o pior de Auschwitz e o melhor de Oshpitzin. Acredito que haja ainda muitas histórias para contar e que ainda conseguiremos (acho que vamos conseguir sempre) surpreender-nos com o que por ali se viveu. Fiquei agradavelmente surpreendida com a sua escrita tão límpida e despretenciosa (tão diferente de um ou outro autor do momento...). Não é um livro perfeito, mas é muito, muito bom. E é brilhante na sua missão de levar-nos a um lugar passado que tem as duas caras que os loucos lhe deram: a do bem e a do mal.

E agora vou começar a namorar o livro Os Loucos da Rua Mazur, vencedor do Prémio Leya 2017, que ainda nem sequer tenho. Isso e esperar que o autor João Pinto Coelho publique mais umas coisas.

sábado, 18 de agosto de 2018

Chora, Camões, chora... XXVIII

Na revista do Expresso de hoje, na página 20, surge uma entrevista à actriz Meg Ryan. Numa das traduções das respostas da entrevistada encontramos a pérola destacada. Ora apreciem lá. 



PS.: Dá-lhe, Camões!

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A Menina Sugere Isto XXXVII

Aqui a menina é a rainha da pele seca. Mas também é a rainha do «odeio besuntar-me em cremes, prefiro transformar-me numa folha de papel do que sentir-me coberta de coisas viscosas». A menina é uma drama queen, como podem perceber.

Ora, perante tal problema, surgiu inesperadamente uma solução: um óleo da Boticário. O Óleo Hidratante de Quinoa & Argan da linha Nativa SPA é das melhores coisinhas que já me passou pelas mãos. Quando estou no banho, depois de passar e de enxaguar o meu óleo lavante de uma marca caríssima para peles desgraçadas como a minha, passo este óleo da Boticário e massajo um bocadinho a pele. Depois é só dar a última chuveirada e sentir o ronronar de uma pele satisfeita e que não precisa de cremes. E o cheirinho do óleo? Gentes, dá vontade de bebê-lo (o que não é nada aconselhável). O perfume é divinal e a acção é imediata: a pele fica logo mais macia e o efeito perdura no tempo. Melhor ainda: não fica pegajosa. Fofa, mas sem colar. É genial!



Na realidade, existem três óleos de quinoa nesta linha da Boticário e, segundo o que me foi dito, o mais adequado para a minha pele nem sequer é este, mas sim o de quinoa e amêndoas para peles secas a necessitarem de hidratação urgente. Mas, como o que me chegou às mãos foi este que trata das estrias (que, felizmente, não tenho), vou utilizando o que tenho e, quando acabar, chego-me ao outro. Se este que não é o mais adequado para o meu problema já me deixa a pele que é uma maravilha, então imagino como me sentirei ao utilizar o outro.

Assim sendo, a menina sugere MUITO isto. Ando ultimamente a experimentar mais coisas da Boticário porque conheci alguém que vende os produtos por catálogo e que me vai indicando o que é melhor para mim (aliás, faz o trabalho muito a sério: não há nada que não saiba sobre os produtos da marca e não perde uma formação sobre eles de modo a atender melhor as necessidades das clientes). E com isto estou a ficar fã da marca: não fazia ideia de que tinha tantas coisas nem de que fosse tão boa. Tem sido uma agradável surpresa. Para já para já, sugiro este óleo. Contudo, cheira-me que não ficarei por aqui.

Nota: A imagem do produto foi retirada da página da Boticário.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Livrices para livrólicos I

Perdoem-me a minha ausência, mas estive numas mais que merecidas férias. Foram nove dias ali no país do lado e, com caminhadas de vinte quilómetros por dia, venho suficientemente espatifada para ainda não vos ter dito nada. As férias, apesar de vir mais cansada do que fui, foram fantásticas e, claro, regressar sabendo que há um trabalho de que gosto à minha espera dá todo um novo sabor à coisa. Além disso, regressar sabendo que a enorme dificuldade que foi a doença do meu pai está a ficar cada vez mais para trás é ainda melhor. Foram tempos difíceis e as férias foram realmente importantes para descansar de momentos e de situações que mais vale esquecer.

Portanto, aqui estou de regresso e começo uma série nova de quixotadas. Chama-se «Livrices para livrólicos» e vai falar de objectos que só nós, os fanáticos por livros, queremos. Uns melhores e outros piores, claro. Todavia, em comum têm o facto de serem feitos a pensar em nós e neste nosso vício que nos aquece o coração. E nós bem sabemos que há por aí um enorme mundo de coisas ligadas aos livros que adoraríamos ter em casa.  É curioso ver que à medida que a leitura vai perdendo adeptos (ou não consegue, melhor dizendo, ganhar adeptos novos), mais objectos vão surgindo a pensar naqueles que não dispensam um bom livro. Somos um nicho de mercado, mas aparentemente devemos dar lucro, senão ninguém perdia tempo com estas coisas.

O primeiro objecto de que vos falarei já tem alguns anos de existência. Já o tinha visto na Feira do Livro nos tempos em que o El Corte Inglés (pródigo em ter coisinhas do género) tinha um pavilhão na Feira, mas o preço era proibitivo. Acabei por trazê-lo, finalmente, comigo nestas férias. Não foi barato (quase quarenta euros), mas como tinha uma troca para fazer, acabou por doer menos. Chama-se «The Book Seat» e é uma espécie de almofada com um formato peculiar que permite manter o livro aberto, deixando as mãos livres para comermos, segurarmos uma chávena de chá ou fazermos o que quisermos. É maravilhoso!



Como as fotos mostram, também serve para os tablets e para os próprios e-readers. Podem tê-los sobre várias superfícies: desde uma mesa até ao vosso colo, passando pelo braço do sofá ou pela vossa cama. Ele aguenta-se de pé. A peça em acrílico, ajustada por uma molinha, mantém o livro aberto e para mudar as páginas só precisam de baixá-la, o que é facílimo. Além disso, tanto serve para livros fininhos como para calhamaços, uma vez que a mola permite ajustar o rectângulo de acrílico.


Ao ser mole e leve (cerca de 250 gramas) é não só facilmente transportável, mas também adequado para as diferentes superfícies, permitindo posições que vão ao encontro das posições malucas que nós, leitores, descobrimos frequentemente.


E como se não fosse já tudo muito bom, ainda vem com um bolso incluído na parte de trás para podermos guardar um lápis ou os próprios óculos:



Também é importante saber que o interior é feito em esferovite e que, para segurança das crianças, a ponta do fecho eclair foi cortada para que lhes seja muito difícil abrir o «Book Seat» e engolir o recheio. Ah, e já que falo em petizes, parece que também há para os mais pequenos, embora não tenha conseguido encontrar nenhuma fotografia para vos mostrar. Em vez de serem assim como estes da «The Book Seat», têm figuras e formatos de monstros e de animais.

Falta-me só dizer que hoje já adormeci com o meu no colo. Fiquei muito fã disto, até porque resolve os meu problemas de leitura na cama, já que rapidamente me fartava de estar de barriga para cima e acabava de lado sem saber muito bem como segurar o livro. Também resolve um dos flagelos de qualquer leitor: os braços gelados no Inverno quando queremos ler na cama. É fácil: colocamos o Book Seat no colo e só precisamos de tirar os bracinhos de debaixo da roupa quando for preciso virar a página. Numa fracção de segundos voltamos a ter a mão no quentinho, podendo prosseguir a leitura. É o melhor!

Deixei-vos já o link da marca. Agora deixo-vos o link da Amazon do Reino Unido, onde podem encontrar as diferentes cores e preços. Esta é uma daquelas coisas sem as quais podemos viver perfeitamente, mas também é daquelas que tornam a vida mais cómoda. Quem gosta de ler sabe que há momentos em que a leitura se torna desconfortável. Pois bem, o Book Seat resolve. A menina  já testou e aprovou!

Nota: As imagens saíram de diferentes páginas. Lamentavelmente, não consigo já referi-las todas pelo que se alguém se sentir lesado, é só dizer e as fotografias serão retiradas.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Parece que combinaram

As edições de Agosto da National Geographic e do Courrier Internacional escolheram como tema principal o sono. Considerando que a qualidade do nosso sono é cada vez menor e que hoje faz, mais do que nunca, sentido estudá-lo e perceber até que ponto as suas perturbações podem afectar-nos a vida, é importante que se fale sobre isso e que aprendamos um pouco mais sobre uma parte da nossa existência que tendemos a descurar. Contra mim falo: sempre achei que dormir era uma perda de tempo. Há sempre tantas coisas para fazer, tantos livros para ler: que sentido faz passar tanto tempo na cama a deixar as horas escapar? Loucura!

Até ao dia em que a ansiedade me levou o sono. Quando as noites passaram a ser dormidas pela metade, sempre cheias de sonhos, e quando quatro ou cinco horas eram passadas comigo a tentar adormecer, mas sem conseguir parar de pensar na desgraça dos meus dias, então ficou claro que o sono era importante. E que os dias não deixavam de ser horríveis por passar mais tempo acordada: pelo contrário. 

Estou bastante curiosa para saber o que tem o Courrier Internacional para contar-me sobre os sonhos. Parece que todos nós sonhamos sempre, mas que poucos se lembram daquilo com que sonham. Pois eu tenho o infortúnio de lembrar-me todos, todos os dias e odeio. Há sonhos que preferia não ter e muito menos recordar durante o dia. Infelizmente, sempre fui assim. Sejam sonhos bons, maus, aborrecidos, repetidos, assustadores: não há diferença, pois lembro-me sempre deles e chego a acordar cansada por isso mesmo. Tenho a sensação de que o meu cérebro não se desconecta, de que está sempre muito alerta. A ver se agora percebo porquê.

Por ser um tema importante e interessante; por ser uma parte muito considerável da nossa vida e por merecer toda a atenção, ficam estas duas sugestões de leitura para um mês que tende a ser de férias e, por isso mesmo, de grandes sonecas.



Em busca de lugar na estante XIII

Porque nisto dos livros novos, o mal está em começar, eis que tenho mais três em busca de um já quase inexistente lugar na estante. Apertem-se, encolham-se, façam o que quiserem: têm de caber todos!


domingo, 29 de julho de 2018

Em busca de lugar na estante XII

Depois de uma Feira do Livro para lá de produtiva, eis que as promoções das editoras e uma oferta inesperada chegam cá a casa para reclamar o merecido lugar na estante. Qualquer dia preciso que também chegue cá a casa a bela da estante, já que as minhas estão a pontos de dar início a uma greve por excesso de trabalho. Sindicalistas.





quinta-feira, 26 de julho de 2018

Chora, Camões, chora... XXVII

Na dúvida, coloquem-se os dois acentos:


A pérola saiu do Expresso Diário da passada segunda-feira, dia 21 de Julho.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Eu não aprendo

Ontem, o Senhor Gato estava um dengoso. Apanhou-me deitada de lado e veio colar-se a mim, deitou a cabeçorra no meu braço e quanto mais eu falava com ele, mais ele ronronava de alegria. 

Festinhas, festinhas, festinhas até que a peste não resistiu mais: prendeu-me a mão com as patas e ferrou os dentes. Era uma armadilha. 

Mas quando é que eu aprendo que estes bichos fazem estas coisas?! Quando ele me papar um braço, provavelmente. Decididamente, sou um jumento. 

terça-feira, 17 de julho de 2018

A praga

Têm aparecido muitos mosquitos cá em casa. Já andei à procura de alguma coisa que pudesse estar a provocar a praga, mas não encontrei nada. Bem sei que o Verão e o calor trazem estas porcarias, mas com tanto espaço livre por essa natureza fora, tinham mesmo de mudar-se todos cá para casa? Quem me dera que, na reunião da Criação do mundo, não se tivessem lembrado de criar os mosquitos...


quinta-feira, 12 de julho de 2018

Antígona com promoções

Caríssimos quixoteiros, até domingo a Antígona estará com 40% de desconto em todo o seu catálogo (à excepção dos saldos e das novidades). Aproveitem, que as férias estão mesmo aí e bons livros fazem sempre falta. 

A Menina Quer Isto... CX

Aí vai mais um para a lista. A Quetzal ainda vai dar cabo de mim (e dos meus parcos trocos). Mas este tema, este pseudo-conhecimento (ou sensação de conhecimento) que a internet provoca parecem-me bastante interessantes. Até porque, actualmente, muita gente tenta escudar-se na facilidade de acesso à informação para evitar outras fontes (como os eternos livros), acabando frequentemente por nem saber utilizar convenientemente a internet e os seus recursos. Este livro é sobre tudo isso e sobre o modo como acabamos a usar a internet como forma de confirmar apenas o pouco que sabemos. 

A menina quer isto, pois!



Nota: A imagem da capa saiu daqui

terça-feira, 3 de julho de 2018

Acabadinha de sair!

Minha gente, chegou finalmente às bancas (as que ainda se dignam a recebê-la e que não sucumbem ao facto de serem poucos os que a compram) a nova edição da Revista Ler, referente à Primavera de 2018. Bem sei que já estamos no Verão, mas nota-se pouco, por isso aproveitemos este número que é melhor do que nada. A capa parece-me meio outonal, mas vem na senda das estações trocadas, por isso perdoa-se a falta de tons mais primaveris e a preferência pelo castanho de tempos mais fresquitos. Assim como assim anda tudo trocado e o importante é mesmo (a) Ler



segunda-feira, 2 de julho de 2018

Promoção na Tinta-da-China

Caríssimos quixoteiros, a Feira do Livro terminou há menos de um mês e eis que já lá vem nova possibilidade de desgraça. 

Até ao dia 12 deste mês, a Tinta-da-China estará com 25% de desconto em 25 títulos. Caso comprem dois livros, poderão receber um saco exclusivo da editora. Podem ver os títulos com desconto aqui

Já tenho uns quatro debaixo de olho, mas como não me saiu o Euromilhões, vou ter de reduzir os desejos para um ou, na loucura, dois. De qualquer modo, como não gosto de hiperventilar sozinha, partilho a notícia. Boas compras, eheh!

domingo, 1 de julho de 2018

Já ninguém escreve cartas, mas...

Já ninguém escreve cartas, o que é uma pena. Muitos já nem entendem bem qual a lógica de tais coisas, uma vez que têm vivido numa épica em que o imediato é regra e em que coisas como o e-mail, o sms, os skypes desta vida são os únicos caminhos com sentido. 

Porém, as canções, seja em que língua forem, tratando de sentimentos evocam sempre as cartas. Nada das outras coisas imediatas, nada de e-mails e de facetimes e afins. É que apesar de velhinhas, as cartas são românticas, são bonitas. Têm uma história gigantesca e quem nunca recebeu uma carta de amor não sabe o que perdeu. 

Por isso, não deixa de ter uma amarga graça ver que o que é tantas vezes apelidado de ultrapassado é depois repescado para as letras de canções. Não serve para umas coisas, mas serve para as outras. Insultada de um lado, trauteada de outro. Quanta injustiça há nisto!

segunda-feira, 25 de junho de 2018

A Menina Quer Isto CIX

Conheci na Feira do Livro de Lisboa a Fábula, a chancela responsável pela área infanto-juvenil da 20|20 Editora, e gostei muito do que vi. Fiquei com vários livros debaixo de olho e à espera de nova feira ou de outra oportunidade que me permita trazê-los para casa. Para não me esquecer do que quero, trouxe um catálogo da editora e guardo-o religiosamente de modo a poder encontrar tudo facilmente quando finalmente me puder chegar à frente.

Além do design, que considerei adorável, gostei muito de boa parte dos títulos deste catálogo. Tanto por recuperar clássicos da literatura infanto-juvenil que serão sempre inesquecíveis como por ter outros livros que também parecem muito promissores. Em jeito de apresentação, deixo-vos aqui aquilo que quero.

1. Tesouros da Literatura

Esta é uma colecção que publica clássicos de autores portugueses ou não. O público alvo destes textos é alargado (quem achar que um adulto não pode deliciar-se com literatura infanto-juvenil é um jumento) e, segundo o catálogo da editora, os livros «incluem prefácios que sublinham a importância dos autores e das obras». Há dois títulos que me fazem falta nas prateleiras. E só não há mais porque já os tenho noutras edições.




2. Judith Kerr

Não conhecia esta autora, mas tanto O Tigre Que Veio Para o Chá quanto os livros protagonizados pela patusca gatinha Mog entraram directamente para a minha lista de livros a ter. São livros lindíssimos, as ilustrações são deliciosas e, no caso do tigre que toma chá, a tradução também tem tudo para correr bem, já que é da Carla Maia de Almeida.




3. Obras Premiadas

Já que estamos numa de felinos, eis mais um: Há Um Tigre No Jardim. O livro é tão, mas tão bonito que já foi premiado relativamente às suas ilustrações. Ora, como a infância é a época em que no jardim da avó podem existir tigres e muitas outras coisas que só a imaginação pode ver, parece-me ser um livro maravilhoso para os nossos miúdos. E para nós.


4. E. B. White

São deste autor dois clássicos que já tivemos a oportunidade de ver no cinema: A Teia de Carlota e A História de Stuart Little. Ok, cinema é bom, mas ler os livrinhos que deram origem aos filmes é ainda melhor. A fábula disponibiliza-nos estes títulos em traduções de Carla Maia de Almeida. De caminho, refiro ainda um terceiro livro do autor que, segundo o catálogo da editora, procura recriar a vida de Louis Armstrong: O Cisne e o Seu Trompete.





5. José Mauro de Vasconcelos

Não haverá ninguém que nunca tenha ouvido falar em O Meu Pé de Laranja Lima. José Mauro de Vasconcelos é, talvez, o mais conhecido autor brasileiro de literatura infanto-juvenil. A Fábula apresenta-nos quatro propostas além da já referida: Vamos Aquecer o Sol, Rosinha Minha Canoa e O Veleiro de Cristal. Não tenho nenhum deles e até faço um mea culpa: nunca tive coragem de ler O Meu Pé de Laranja Lima. Uma grande falha, eu sei. Li alguns excertos e fiquei sempre com medo da dor que perpassa o livro. O pobre Zezé sofre tanto e eu não queria que ele fosse tão infeliz... Contudo, acho que chegou a altura de conhecer esta obra e as outras deste autor que é um nome incontornável da literatura lusófona.





E pronto: creio já ter uma boa lista para a «estragação» do próximo ano. Acho que por mais que cresça, estes livros supostamente para um público mais jovem vão sempre aquecer-me o coração, não há nada a fazer. Acho que torna a nossa existência mais bonita poder saltar de vez em quando para mundos onde é possível tomar chás com tigres ou encontrá-los no jardim. Faz-nos bem à cabeça, ajuda a que não levemos tudo tão a sério e a deixar viver por mais tempo a criança que sempre deveríamos manter cá dentro. Ler estes livros é alimentá-la, deixá-la permanecer e ela agradece impedindo-nos de sermos chatos e quadrados como alguns adultos passaram a ser. Agradeço à Fábula todas estas possibilidades de leitura e todas as muitas outras que possam estar para vir. Está, sem dúvida, a fazer um excelente trabalho.

Portanto, a menina quer isto tudo. Ai ai... Depois, quando os tiver e os ler, conto-vos como foi e faço o típico balanço.

Nota: Todas as imagens foram retiradas da página da Wook.