quarta-feira, 28 de abril de 2021
Um miminho para vocês
segunda-feira, 26 de abril de 2021
Os 84 anos de Guernica
Em busca de um lugar na estante XX
terça-feira, 20 de abril de 2021
A Menina Sugere Isto XLI
segunda-feira, 19 de abril de 2021
Os ensinamentos da Covid-19 I
quarta-feira, 14 de abril de 2021
A Menina Sugere Isto XL
Não é preciso vivermos num regime fascista para convivermos com políticas fascistas. Este livro, Como Funciona o Fascismo, de Jason Stanley, ajuda-nos a perceber isso mesmo. É fácil pensar que, de facto, o tema não interessa assim tanto já que vivemos numa democracia e o fascismo ficou algures no passado. Nada mais errado. A leitura deste livro permite perceber com clareza que estamos rodeados de políticas fascistas. Olhamos para outros países europeus e elas pululam, olhamos para o que dizem algumas criaturas do nosso meio político e, voilà, lá estão elas. Recordamos o desempenho de Trump enquanto presidente dos Estados Unidos e ei-las. O regime pode ser democrático, mas o fascismo anda por aí.
O que o autor, professor em Yale, faz neste livro é dedicar um capítulo a cada um dos pilares do fascismo como a criação de um passado mítico, a propaganda, o anti-intelectualismo, a irrealidade, a vitimização, entre outros. Desenvolvendo cada um dos temas, o leitor vai percebendo a forma velada escolhida por quem defende estas políticas para com elas ir ocupando um lugar cada vez maior, cada vez mais destacado na sociedade. Por exemplo, torna-se claro o modo como através do discurso que louva um passado mítico (que na maior parte das vezes nem sequer aconteceu), se consegue chegar a uma marginalização das minorias. Como se no passado um determinado povo ou nação tivesse sido brilhante porque era genuíno, e agora estivesse em decadência por ter sido maculado com a chegada daqueles que, alegadamente, trouxeram todos os males do mundo na bagagem. Se para quem me está a ler isto parece ridículo, lembrem-se do «Make America Great Again», que remetia para uma época que nunca percebemos bem qual foi (o tal passado mítico), e a questão do muro na fronteira com o México e das políticas de imigração.
O anti-intelectualismo é outra das características das políticas fascistas. Calar as universidades, os cientistas e os meios de comunicação social é urgente para quem quer governar sozinho, sem ouvir ninguém. Para isso recorre-se muitas vezes a uma espécie de psicologia invertida. Algo como: não queremos ouvir as universidades porque elas são de esquerda e só veiculam aquilo que os outros querem ouvir. Isso limita a nossa liberdade de expressão porque as nossas ideias não são divulgadas e portanto somos censurados. Assim sendo, fechamos a porta à ciência. E já agora aos media que não têm um tom laudatório para connosco porque isso certamente significa que são pelos outros. Isto não vos lembra nada? Bastante atual, não?
E com frases curtas, com ideias básicas para serem entendidas pelo mais jumento dos destinatários (é mais ou menos o que Hitler diz no Mein Kampf), lá se vão minando as cabeças alheias, enchendo-as de ideias ridículas contra minorias, contra direitos que nunca se deviam pôr em causa, contra avanços científicos importantes. E assim se controlam pessoas. Com certeza todos vocês conhecem alguém que, nas redes sociais, papagueia ideias de base fascista, achando-se inclusivamente mais inteligente do que os outros por ver o que eles não veem (geralmente usam palavras como «desgoverno» e «jornalixo», duas idiotices que me causam urticária). É o pão nosso de cada dia. E em plena pandemia isso multiplicou-se ad nauseam.
Por isso, meus caros, ler sobre o fascismo não é regressar às aulas de História do secundário. É perceber os meios que alguns usam para se imiscuir na nossa democracia, por um lado, e nos regimes políticos de muitos outros países por outro. Negar o Holocausto, negar factos históricos que embaraçam a história de um país, lançar a dúvida sobre uma minoria com base em casos isolados ou mesmo em... nada... Tudo isto acontece e o saber ainda é uma das melhores formas de enfrentar estes perigos. Não é à toa que quem defende tais políticas não deseja gente informada e instruída. Pelo contrário... Assim, só posso sugerir-vos este livro. Não é uma leitura pesada, é tudo muito acessível e com exemplos de políticas que vigoram ou vigoraram um pouco por todo o mundo ao longo do tempo. É bastante interessante e, assim sendo, a menina sugere mesmo mesmo isto. Boas leituras!
segunda-feira, 12 de abril de 2021
É começar a fazer a lista!
terça-feira, 6 de abril de 2021
Arbitrariedades e pãezinhos
segunda-feira, 5 de abril de 2021
Os Despojos do Dia - o balanço
Ontem fechei este livro e pensei que já não lia um livro tão bom há algum tempo. A seguir, fui à Wook encomendar outro do mesmo autor porque queria continuar. É tão bom encontrar livros assim, que nos abanam, nos deixam a ansiar por mais. E este, na sua simplicidade, é de uma beleza comovente. Além de que levanta algumas questões que sem dúvida ficam a flutuar dentro de nós. É isso o que se quer: livros que nos acrescentem alguma coisa, que nos façam pensar em coisas que até podem parecer óbvias, mas com as quais tendemos a não perder muito tempo.
O protagonista deste livro é Mr. Stevens, um mordomo britânico que trabalhou durante muitos anos para um aristocrata inglês, dono de uma daquelas propriedades enormes, onde decorrem festas e outros encontros entre gente importante. Porém, tudo o que sabemos sobre os tempos de «Sua Senhoria» chega-nos através de reminiscências de Mr. Stevens, o fiel mordomo. Na realidade, o presente da narrativa é um tempo posterior ao da morte deste aristocrata, e o mordomo, embora mantendo o seu trabalho na mesma casa, tem agora um novo patrão a quem servir: um americano de gestos e carácter bem diferentes. Depois de duas guerras mundiais, a realidade é outra e o tempo das casas e das famílias ao estilo de Downton Abbey passou. Mr. Stevens reconhece agora no seu trabalho erros impensáveis nos tempos áureos do serviço prestado a «Sua Senhoria». Mas as exigências são outras e é com saudade que recorda o espírito de missão com que enfrentou cada um dos dias enquanto mordomo de uma casa tão distinta como Darlington Hall.
O novo patrão vai ausentar-se e propõe a Mr. Stevens que goze uns dias de férias. Para isso até lhe disponibiliza o seu Ford e compromete-se a custear os gastos com combustível. A princípio, Mr. Stevens não vê qualquer necessidade de abandonar a casa que é, no fundo, a sua vida, no entanto, a bem do futuro do serviço, resolve aceitar a proposta: usará a viagem para visitar uma antiga governanta de Darlington Hall que, ao que parece, se separou e deseja voltar a trabalhar na propriedade. Ainda que as receções sejam hoje poucas e a equipa de serviçais seja muito menor do que nos tempos de glória, talvez os erros de Mr. Stevens deixem de acontecer se conseguir aquela ajuda extra, que ainda por cima ele conhece tão bem. E assim parte em viagem pelas aldeias e vilas britânicas, vendo paisagens que nunca viu, conhecendo pessoas tão diferentes de si próprio, e aproveitando o tempo para refletir sobre o que foi a vida em Darlington Hall antes de «Sua Senhoria» cair em desgraça.
Se viram Downton Abbey, recordar-se-ão de Mr. Carson, o mordomo que nunca saía desse papel, que era o exemplo acabado da lealdade, que dedicava cada segundo da sua vida ao serviço da casa para que os seus senhores e a propriedade brilhassem e mantivessem a melhor reputação possível. Pois bem, Mr. Stevens é um desses mordomos à antiga, mas durante esta viagem, devido ao tempo que passará sozinho e afastado dos seus afazeres habituais, vai pensar e vai dar a conhecer as suas memórias e o modo como foi entendendo certos acontecimentos vividos em Darlington Hall. Aquilo a que o leitor assiste então é de uma profunda tristeza: a inocência deste homem e a sua devoção ao trabalho impediram-no de ler a real gravidade do que se passava à sua volta. A lealdade a uma pessoa impediu-o de compreender o enorme erro que «Sua Senhoria» estava a cometer. E pior: a devoção cega à profissão impediu-o de viver a sua própria vida, de cometer os próprios erros, de amar quando teve a oportunidade, de se despedir do pai quando o momento chegou... Mr. Stevens era o homem que estava sempre lá, que via e ouvia tudo - das reuniões entre figuras políticas importantes até aos desabafos do patrão -, mas que não entendeu nada. E, claro, quando lhe chega um lampejo do que perdeu, tem um momento de fraqueza. Porém, a dignidade que se exige a um bom mordomo não deixa que dure muito. Rapidamente reúne os cacos e torna a pensar em como poderá melhorar enquanto mordomo de um cavalheiro americano com usos, costumes e gracejos diferentes daquilo a que estava habituado.
O livro é fenomenal. A escrita é belíssima e o jogo entre o que o narrador inocentemente conta e o que o leitor interpreta, à luz de conhecimentos históricos que tem, mas também enquanto ser humano capaz de perceber o desajuste em muitas das atitudes deste mordomo, é feito de forma magistral. Estou ansiosa por ler outros livros de Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura de 2017. Para já vem a caminho Um Artista do Mundo Flutuante, mas não vou descansar enquanto não os tiver a todos. Leiam este livro. Vão gostar muito.
sexta-feira, 2 de abril de 2021
Para o que estávamos guardados VI
Um diálogo provável nos dias que correm*:
- Ena pá, fim de semana prolongado. Vai saber tão bem!
- Também acho. Já estava a fazer falta. O que vais fazer?
- Hum... Acho que vou passar os três dias no sofá. E tu?
- Ah, eu também. Quer dizer, tenho de limpar a casa, mas estarei maioritariamente no sofá.
- Pois, claro. Limpar a casa e lavar a roupa. Mas depois sofá, sem dúvida.
- Siiiiim, ver séries no sofá...
- Sim! E ler! Ah, e tenho uma esfregona nova! Da Vileda, com aqueles baldes todos XPTO que escorrem automaticamente. Vou estreá-la durante o fim de semana.
- ...
- Pois...
* Baseado numa conversa real. Para que conste, amanhã experimento a esfregona nova.