terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Prémio Livro do Ano Bertrand 2017


Vem aí a segunda edição do Prémio Livro do Ano Bertrand, na qual os livreiros e os leitores Bertrand serão convidados a votar naquele que considerarem o melhor livro de 2017 em cada uma das três categorias em concurso: Melhor Livro de Ficção Lusófona; Melhor Livro de Ficção de Autores Estrangeiros e, por último, Melhor Reedição de Obras Essenciais da Literatura Lusófona ou Universal. 

Sendo tantos os livros publicados todos os anos, foi preciso reduzir aqui a lista de opções, e, portanto, foi já feita uma pré-selecção que resultou na escolha de 119 livros. Em meados do próximo mês estarão disponíveis os cinco finalistas de cada categoria e só os mais votados de cada uma vencerão o prémio. Este não tem valor pecuniário, mas permite uma maior divulgação e destaque dos livros vencedores.

Resta-me dizer-vos que poderão votar depois de receberem, enquanto livreiros ou leitores Bertrand (detentores do cartão gratuito de fidelização), um convite por e-mail, enviado pela Livraria Bertrand. E, embora apeteça muito, só podemos votar uma vez por categoria, por isso convém fazê-lo com consciência. Caso queiram, podem consultar aqui o regulamento. 

Até lá, leiam muito que só faz bem à saúde.

Nota: Quixotada escrita a partir da nota de imprensa feita chegar pela área de Comunicação das Livrarias Bertrand.

Oportunidade na BD da Gradiva


Calculo que a imagem se veja um bocadinho mal, mas fica a dica: até ao dia 15 de Março, a banda desenhada do catálogo da Gradiva está com uns fantásticos 40% de desconto. Noto que é na Gradiva que são publicados os magníficos álbuns de Calvin & Hobbes e os de Fox Trot. Porém, além destes, são muitos os livros de banda desenhada a beneficiarem deste desconto apetitoso e podem consultá-los aqui. Aproveitem a oportunidade e vivam boas leituras aos quadradinhos. 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Vestígios felinos

Há dias em que saio de casa, olho para a minha roupa e pergunto-me se ela sai sozinha do armário para “espolinhar-se” em pelo de gato. Vesti hoje um casaco que, com a luz artificial, parecia porreirito. Porém, à luz do sol, está quase mais peludo do que o Senhor Gato! E eu sem nenhum rolo para tirar pelo da roupa. Bonito. 

Já inventaram tinta que repele a urina. Para quando a invenção de qualquer coisa que, aplicada nos tecidos, não deixe agarrar-se o pelo dos bichanos? O povo aguarda com expectativa. Ou então sou só eu. 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Chora, Camões, chora... XXIII

É importante uma pessoa assegurar-se da ortografia correcta de uma palavra antes de a bordar, diria eu. 


Quem comprar isto pode depois bordar as correcções por cima a vermelho. 

Eu até comentava, mas...

Acabei de ler na página de Facebook da SIC Notícias que uma das ideias do Senhor Trump para travar os ataques armados em escolas consiste em... armar os professores e dar-lhes formação para defenderem os alunos em caso de ataque. 

A ir para a frente, é a medida que faz com que os professores batam no findo do fundo. Serão uma espécie de mártires-seguranças. Uma coisa destas não cabe na cabeça de ninguém que não esteja enlouquecido. Como professora, só posso suspirar e revirar os olhos por alguém ter sequer uma ideia assim. É mesmo não compreender a profissão, as escolas, o ensino, e ver a questão da segurança completamente pelo lado errado. 

Haveria muito para dizer sobre o facto de alguém poder achar que os professores devam/queiram andar armados nos seus locais de trabalho, mas além de estar com pressa acho isto tudo tão estúpido que deixemos o assunto por aqui. 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

História da Vida Privada em Portugal: A Época Contemporânea - o balanço


Nem sempre a História olhou para a privacidade dos lares por isso habituámo-nos a entender o estudo do passado como algo que olhava para a economia e para os movimentos sociais, esquecendo que dentro destes existiam indivíduos e que a sua vida ia muito além da sua integração numa economia e numa sociedade. Felizmente, isso acabou por mudar e alguns historiadores começaram a compreender que o estudo das diferentes épocas ficava definitivamente incompleto se não se olhasse para aspectos tão privados como a moda, os sonhos e ambições da população, a alimentação, as crenças religiosas, a vida em família, as ocupações lúdicas, a estrutura das habitações, entre outros muitos aspectos.

Esta História da Vida Privada é composta por quatro volumes que, receio, já não sejam assim tão fáceis de encontrar. Podem ser utilizados como livros de consulta, mas resulta muito bem ler cada volume de uma ponta a outra. A visão que assim formamos de uma determinada época torna-se mais completa e consistente, o que me parece importante.

O terceiro volume, aquele que escolhi ler em primeiro lugar por tratar de uma época (de 1820 a 1950) que figura nos romances camilianos e queirosianos, apanhando ainda a I República e os primeiros tempos do Estado Novo, permite-nos ficar com uma ideia muito concreta do que eram as vivências mais íntimas da população durante aqueles cento e trinta anos. Uma coisa interessante que retive foi a grande evolução das liberdades individuais até à década de 30 do século XX. A República prometia mudar a sociedade e começou mesmo a fazê-lo, alterando medidas relativas ao divórcio, à participação das mulheres na sociedade, entre outros aspectos. Contudo, a chegada do Estado Novo fez com que o relógio português andasse irremediavelmente para trás e com que o papel de dona de casa fosse o único aceite pelo regime para as mulheres. 

Ter uma noção do que aconteceu durante a época abordada em cada volume é importante porque nenhum indivíduo age fora do período histórico em que lhe coube viver. Não esperem, contudo, ser situados historicamente nestes livros, pois para isso existem os outros, os que se dedicam à História económica, política e social. No entanto, é mesmo importante ter uma noção básica de quais os grandes marcos destes cento e trinta anos analisados neste volume de modo a percebermos que o que era constante na vida privada de 1820 poderia já não o ser em 1950, precisamente porque muito mudou entre uma baliza temporal e a outra. 

O único aspecto menos positivo que verifiquei neste livro prende-se com algumas expressões que não são muito claras e que não são alvo de nota de rodapé. Não sei se será por se tratar de conhecimento pressuposto (como a referência aos «cabelos à Joãozinho»), mas senti a falta de algumas notas de rodapé que, mais do que indicarem as fontes, explicitassem melhor alguns aspectos referidos. Também senti que poderia haver mais ilustrações. Nestes volumes, elas são de dois tipos: a preto e branco nas páginas de texto e a cores nas páginas destinadas à exibição de imagens capazes de ilustrar o assunto abordado. Ora, as imagens coloridas, agrupadas em páginas em diferentes secções do livro, mais não são do que a repetição a cores e com melhor resolução daquelas que já havíamos visto a preto e branco com legendas nas páginas de texto. Creio que, em vez da redundância de fotografias, seria mais enriquecedor a inclusão de novas imagens, diferentes das que já haviam sido vistas no momento da leitura do texto.

Excluindo estes dois aspectos, asseguro-vos de que é um livro extraordinariamente interessante. Aborda muitas áreas da vida dos portugueses de oitocentos e da primeira metade de novecentos e permite-nos ver o quanto a vida mudou não só durante aquele período, mas também de meados do século XX até agora. Para quem, como eu, tem família noutros pontos do pais, o livro torna-se ainda mais interessante por revelar pormenores relativos às diferentes regiões, como, por exemplo, que pão se comia no Minho, como se realizavam casamentos na Beira Alta, por que motivo o catolicismo teve mais dificuldade em chegar às gentes do Alentejo, entre outros aspectos. Gostarei de ler o resto da colecção, embora não já de imediato, porque ainda se trataram de quase quinhentas páginas de informação interessante para digerir. Mas não deixo de vos sugerir estes volumes.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Do ridículo

Acho extraordinário que alguém pondere seguir os «três mandamentos» ditados pelo presidente do Sporting. Já acho inqualificável o facto de alguém, em pleno século XXI, propor tais disparates, mas que haja quem faça deles lei é ainda mais chocante. É a prova de que o espírito crítico e a capacidade de análise estão desaparecidos de muitas cabeças. É ainda indicativo de que sensatez que leva a colocar as coisas em perspectiva e a vê-las na medida correcta estão, também, pela hora da morte. A forma como alguns adeptos saíram da Assembleia Geral atirando palavras e gestos pouco simpáticos à comunicação social mostra-nos que, infelizmente, ainda há quem alinhe cegamente pela batuta alheia.

Quanto às três «regras» impostas pelo controverso presidente... O meu comentário logo que vi as imagens em directo foi «recorda-me a imagem de um ditador a falar às massas». Mantenho a interpretação. 

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Diário de Um Zé Ninguém - o balanço


Ora, depois de um livro muito mau, nada sabe tão bem como ler um livro muito bom. E este livro é muito bom. 

O “Zé Ninguém” do título em português mostra bem quem é o autor deste diário: um homem perfeitamente comum, com um dia-a-dia absolutamente normal e, portanto, sem nada de muito relevante a registar num diário. Porém, é precisamente a mediocridade da existência deste autor que confere tanto humor a este livro. É que se, por um lado, ele não é ninguém que mereça ter, por tratar-se de vida ou obra de relevo, o seu diário publicado, por outro ele valoriza tanto o seu diário e os acontecimentos  irrelevantes que nele relata que o confronto destes dois aspectos fazem com que o leitor ache ainda mais graça ao livro. Mas ele é mesmo o único que vê alguma importância neste registos quase diários. Em determinada altura alguém chega a arrancar algumas páginas deste seu caderno para atear o lume ou para embrulhar restos de comida...

O protagonista, o “eu” deste livro, é um homem de meia-idade que tem a vida mais normal e aborrecida que se possa imaginar. De vez em quando acontecem-lhe algumas situações que perturbam a sua existência perfeitamente comum de funcionário “lambe botas”, mas mesmo esses são pouco dignos de nota. O que quero dizer é que o humor deste livro está em todos estes aspectos: no facto de o próprio título revelar que este diário pertence a alguém pouco digno de destaque, mas tratar-se ainda assim de um tipo de escrita (a diarística) que geralmente só se publica quando a vida do autor pode interessar ao leitor ou quando, pelas reflexões feitas, a obra pode ser relevante para o público; o humor também é visível na ingenuidade do próprio protagonista/autor do diário, recordando o adolescente Adrian Mole cujos diários fizeram furor vários anos depois da publicação desta obra; o facto de este homem tão desinteressante ter sobre si (e sobre o seu diário) uma ideia completamente diferente da que os outros parecem ter também provoca o riso, pois ele é o único que não percebe que os trocadilhos que faz não têm graça nenhuma e que o que escreve não interessa a ninguém porque, bom, escrever uma carta à lavadeira sobre uns lenços que perderam a cor não é coisa digna de figurar num diário que interesse ao público; o humor está também nas personagens que rodeiam o narrador, como o amigo que deixa de ser visto por estar doente e que não avisa ninguém de que o está, censurando depois os amigos por não o terem visitado (e, quando eles dizem que nem sabiam que estava doente, ele responde que a notícia saíra na Gazeta do Ciclista, como se toda a população tivesse a obrigação de ler tal coisa)... Poderia, acreditem, continuar a enumerar elementos que conferem humor a este texto, mas teria de ser ainda mais reveladora do que nele acontece e acho que vocês não querem isso. Basta-me dizer que vale mesmo a pena lê-lo e que com ele garantirão umas horas bem passadas e muito divertidas. É humor simples, sem recurso a grandes enredos e confusões. O risível está precisamente nisso: na simplicidade de tudo, no facto de ser tudo tão prosaico que nem parece ser digno de nota. É um livro que se lê em poucas horas e que só queremos continuar para ver o que tem para nos contar este autor do diário no dia seguinte. Mas porquê se é tudo tão normal como a vida de qualquer um de nós? Precisamente por isso.  Leiam que vão perceber o que quero dizer. 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A Peregrinação do Rapaz Sem Cor - o balanço


O balanço será estupidamente rápido: se Murakami, o muitas vezes denominado «eterno candidato ao Nobel», é isto, então desisto já. Que pobreza de livro! Que coisa medonhamente fraca, cheia de lugares-comuns e psicologia de pacote. No início ainda parece ter pernas para andar, mas depois a coisa fica inverosímil e, sejamos honestos, estúpida. O tipo super desinteressante descrito no início do livro aparece em determinada altura quase como um Don Juan por quem toda a gente teve um fraquinho. E afinal também era bonito. E rico. E, acrescento eu, chato como tudo. Mas também assim combina perfeitamente com o resto da história. Não aconselho.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

De Génio IV

«Os vários momentos de tempo livre de que depende qualquer leitura séria, silenciosa e responsável tornaram-se apanágio quase exclusivo dos universitários e dos investigadores. Vamos matando o tempo, em vez de nos sentirmos à vontade adentro dos seus limites.»

George Steiner, em O Silêncio dos Livros, Gradiva, p. 28.
(Destacado meu)

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Chora, Camões, chora... XXII

Acabei de ouvir uma apresentadora da RTP 1 dizer que uma determinada raça de porcos não está em extinção precisamente “derivado de” certas práticas. 

Chora, Camões. Já não há esperança. 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ai, estas cabeças!

Há uns dias, eu, a minha mãe e a minha irmã partilhámos um taxi. Conversávamos sobre esquecimentos ridículos, como aqueles em que não sabemos dos óculos que trazemos na cabeça. A minha irmã contava a última aventura: saíra de casa para ir trabalhar e voltou atrás porque não sabia do telemóvel e não o encontrava na mala. Só já em casa percebeu que ele... estivera sempre colado à sua orelha, pois estave sempre a falar ao telefone. Contou também que já teve de voltar a casa por não se lembrar se tinha ou não desligado um electrodoméstico e, chegada lá, distraiu-se a fazer outra coisa e voltou a sair sem verificar se tinha ou não desligado o tal aparelho eléctrico. 

O taxista, ouvindo aquilo tudo, resolveu partilhar a última da sua esposa. Estaria a senhora a limpar a louça molhada com um pano, quando foi interrompida. Quando quis regressar à louça, não encontrava o malfadado pano. Procurou, procurou, pôs o marido a procurar também e do pano da louça nem sinais. Veio mais tarde a ser encontrado no congelador, que a senhora terá aberto na altura da interrupção e onde pousou o pano sem mais se lembrar disso.

A minha mãe já conseguiu acreditar que o carregador do telemóvel tinha avariado por não estar começar a carregar a bateria depois de ser ligado ao telefone. Depois de maldizer a vida e a falta de sorte com os telemóveis, apercebeu-se de que não tinha ligado o carregador à tomada. O carregador estava bom: a minha mãe é que não.

Perdi a conta ao número de vezes em que, depois de sair de casa, voltei atrás para verificar se tinha trancado a porta. De todas as vezes o resultado foi uma viagem à toa porque a dita porta estava invariavelmente mais do que trancada. O tormento só acabou no dia em que o meu namorado me deu uma descompostura em que dizia que eu tinha de ser consciente a fazer as coisas e que, ao trancar a porta, não podia ir a pensar na «morte da bezerra», pois tinha de estar atenta ao que estava a fazer. Santo remédio: passei a estar mais consciente no momento de realizar acções como trancar a porta de casa, desligar aparelhos da corrente eléctrica, apagar os bicos do fogão, fechar torneiras e outras do género.

Mas, no que é menos grave, sou pessoa para perder os panos com que estou a limpar alguma coisa (o problema não é exclusivo da esposa do taxista); para não saber da caneta que tinha há dois segundos na mão; para entrar no elevador e esquecer-me do andar em que moro, carregando no botão que me leva para dois andares acima (é embaraçoso, admito); para não saber dos óculos de sol que pus em cima da cabeça; para virar a casa do avesso porque pousei o telemóvel em qualquer lado (e eu largo-o mesmo em qualquer lado) e acabar a descobri-lo na toquinha do arranhador alto dos meus gatos; para ir à cozinha e, ao entrar lá, perceber que já não sei o que fui lá fazer; para levantar-me para ir fazer «xixi» e acabar na casa de banho a fazer um rabo de cavalo, voltando ao sofá sem ter feito o que ia fazer e tudo porque me distraí com o espelho... E, confesso, quanto mais velha pior. Noto que depois dos anos em que o meu sono funcionou muito mal a coisa piorou bastante.

Contudo, apesar dos nervos momentâneos que isto dá e do stress que sentimos quando estamos longe de casa e não sabemos se desligámos o fogão (e agradeço muito, por isso, ao meu moço por me ter ensinado a ser consciente no que respeita a coisas que se podem tornar num problema sério), no fim, e quando não se trata de nada de grave, acabamos por rir com os disparates que fazemos sem darmos conta. A ciência explicará estes lapsos que nos fazem concluir que estamos «lelés da cuca». A nós resta-nos rir com eles e aprender a procurar as coisas no sítio certo: os lápis em cima das orelhas, a la merceeiro; os telemóveis dentro dos armários da cozinha ou na cama dos gatos; os panos da louça nas gavetas do frigorífico; as canetas dentro dos tachos; a carteira dentro de um sapato e as chaves de casa entaladas no segundo volume de As Mil e Uma Noites. Vão-se lá entender estas cabeças!...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Una Historia de La Guerra Civil Que No Va Gustar a Nadie - o balanço


Já acabei de ler este livro há vários dias, mas como andei (e ando) em crise de inspiração e de vontade de escrever, só hoje venho falar-vos dele.

Na minha opinião, ler sobre guerras não é nada fácil. Em primeiro lugar porque há o nosso lado emocional que, quando não é totalmente posto de lado (algo que só acontece mesmo se o autor for muito mau), faz com que experimentemos alguns sentimentos que nos atordoam. Ninguém gostará de ler sobre milhares de mortos, sobre torturas, sobre crimes hediondos que ficam sem castigo. Por isso, ler sobre conflitos bélicos exige um estômago que nem sempre está preparado para tais leituras.

Por outro lado, uma guerra nunca é simples. Envolve avanços e recuos, estratégias e estrategas, gente leal e desleal, causas e consequências e, ainda, um desmesurado número de nomes de intervenientes que ora estão de um lado, ora se passam para o outro. Fora isso ainda temos os nomes de cada tipo de armamento, a designação e a explicação de cada estratégia utilizada, as datas em que se conquistou determinada vitória ou um redondo fracasso. Não, ler sobre guerras não é nada fácil.

Contudo, este livro de Juan Eslava Galán facilita-nos a vida no que à Guerra Civil espanhola diz respeito. Talvez seja por isso o «que no va gustar a nadie» do título: é que com esta história todos perceberão o enorme desastre que foi aquele conflito e todos repudiarão ainda mais o arrastar ao longo do tempo e apenas por orgulho uma guerra que estava mais do que perdida. Permite-nos, este livro, perceber como começou e como se desenrolou a Guerra Civil espanhola iniciada em 1936. Mais: como colaboraram nela as outras nações e de que modo foram determinantes para o seu desenlace. O autor deixa ainda bem claro, através de uma escrita muito simples, que papel teve o povo neste conflito e como o sexo masculino se transformou em constante alimento fugaz de uma guerra que estava perdida. Percebemos como um dos lados partiu em vantagem e como o outro teve de se adaptar às circunstâncias e aprender a lutar já com a guerra bem avançada. Percebemos, também, como Franco soube contornar todos os obstáculos que pudessem impedi-lo de chegar ao poder e de tornar-se no «Generalíssimo». Espantamo-nos com a facilidade com que se fuzilavam dezenas e dezenas de pessoas cujos corpos, muitas vezes despejados em valas comuns, nem chegaram a aparecer. Arrepiamo-nos com o bombardeamento de lugares como a tristemente conhecida Guernica e como, afinal, mais do que estratégia militar espanhola, tal acontecimento serviu à Alemanha para testar os seus aviões e a capacidade de bombardeamento, ganhando com isso conhecimentos que viriam a ser utilizados na já prevista Segunda Guerra Mundial. Mas, sobretudo, recordamos que tudo isto aconteceu há menos de cem anos aqui ao lado e terminamos a leitura perguntando o que é mais óbvio: como raio foi isto possível?

Este é, sem dúvida, um livro fabuloso para quem quer começar a ler sobre a Guerra Civil espanhola. É claro, está bem organizado e abrange tanto a parte militar da guerra quanto as consequências da mesma sobre os civis (por exemplo, a fome que assolou as populações nos territórios controlados pelos republicanos, como foi o caso de Madrid que resistiu estoicamente ao cerco feito pelos fascistas). Além disso, o autor escreveu outros livros que, usando o mesmo tom, seguem a história espanhola ao longo dos tempos que se seguiram à guerra, tanto durante a repressão franquista quanto depois, já na fase de transição. Escreveu, ainda, livros que explicam outros conflitos (como as Guerras Mundiais e a Revolução Russa), ou religiões como o Cristianismo. 

O mais importante de tudo, parece-me, é que este livro abre portas: quem quiser ler mais sobre a Guerra Civil espanhola poderá, a partir dos conhecimentos com ele adquiridos, chegar mais facilmente a outras leituras (até porque a bibliografia final é riquíssima); se, por outro lado, o leitor quiser ficar por aqui, já terá uma ideia muito clara do que aconteceu e do que levou à vitória de Franco no final do conflito. Por tudo isto, o balanço é positivo e a menina recomenda este livro.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O *#&|%! do armário dos primeiros socorros

Cá em casa é sempre o mesmo: posso ter o armário dos primeiros socorros muitíssimo bem abastecido com gazes, pensos, soro fisiológico, pomadas cicatrizantes e muitas outras coisas que ninguém se magoa. Mas se as pomadas passam de prazo sem que me aperceba disso, se o mesmo acontece ao soro ou a qualquer coisa que está nesse armário, não falha: alguém precisará desses produtos. E, melhor ainda, é bastante provável que isso tudo aconteça a um feriado ou a um Domingo, de maneira a que nem sequer seja possível dar um pulinho à farmácia do lado. É a Lei de Murphy aplicada aos produtos de primeiros socorros para o tratamento de feridas.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Chora, Camões, chora... XXI

Em letras bem grandes no suplemento ípsilon, do Público, na página 30. Sublinhei o ataque a Camões, mas nem valia a pena porque se vê tristemente bem. Depois, já no texto, mais uma gralha. E ainda não li tudo. Sabe Deus o que encontrarei quando o fizer...



Chora, Camões, chora... XX

A aplicação «Notícias ao Minuto» é pródiga nos ataques à língua portuguesa. Por isso gosto de visitá-la todos os dias. Masoquista.

Ora, como não estou a conseguir publicar quixotadas com imagens a partir do telemóvel, a primeira foto já tem alguns dias. Mesmo assim, gosto tanto dela que não podia deixar de partilhá-la convosco.


Os sublinhados pré-históricos são, claramente, meus. Ora, «lembram-os» é coisa que não lembra a ninguém. Aprende-se na escola que quando o verbo termina em som nasal, aos pronomes «o», «a», «os», «as» acrescenta-se um «n». De outra forma, seria até difícil pronunciar a palavra. Experimentem dizê-la estando com o nariz entupido... Ah pois, e ainda se diz que a língua portuguesa só nos complica a vida!

Também se costuma «ser suspeito de» fazer alguma coisa, pelo que a escolha da preposição no artigo não foi a melhor. Ainda assim, consegue ser menos má quando comparada com a colocação de vírgulas na frase seguinte, uma vez que parece que alguém se esqueceu de colocar uma antes de «embora» de forma a isolar a oração subordinada.

O próximo exemplo é tão, mas tão óbvio que nem vou tecer qualquer comentário. Não, mentira: vou. Não consigo não dizer isto... Onde anda o trabalho de revisão?! É que cada vez que percebo que ele não existe, não consigo evitar perguntar-me por que raio estou eu desempregada.