sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Chora, Camões, chora... III

“Ah e tal, eu sei disso derivado a ter estado lá.” 

Eu até tinha escrito uma quixotada grande sobre isto, mas cansei-me. Não é "derivado a" é "devido a”! Não matem a língua portuguesa, por favor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O meu jardim

Não acredito que não ganhei o prémio de Blogue do Ano! Ando eu aqui a manter dois blogues a pão de ló e no fim é isto?! Mas que despautério!

Obviamente, estou a brincar. Este meu singelo cantinho conhecido por cerca de trinta pessoas é semelhante a um pequeno jardim onde se cultivam meia dúzia de flores e um ou outro arbusto, mas que não é nada que se compare aos jardins de Versalhes. Dá gozo ao jardineiro ver crescer as suas poucas plantinhas, mas no fundo não espera que o mundo goste tanto delas como ele gosta. São suas, só suas e muito suas. As pessoas que passam podem sentir-lhes o perfume, tocar nas pétalas e seguir adiante para ver o jardim seguinte. Ninguém leva verdadeiramente na memória qualquer das flores desse jardim, ninguém atenta verdadeiramente nos pormenores. Por vezes acenam ao jardineiro e é aí que este percebe que afinal não é totalmente invisível e que sempre há quem passe diante do seu modesto jardim. O jardineiro também sabe que há quem goste de trilhar caminhos que passam quase diariamente por ali, mesmo que não lhe acenem, que não cheirem as suas flores, que não se detenham a observar os pormenores, que não abrandem muito o passo. O jardineiro sabe que não pode competir com jardins muito maiores e com maior variedade de flores, com uma flora invejável de tão rica e exótica; mas o jardineiro também não quer competir. Ele gosta do seu jardim pequenino, pequenino. Ele gosta da sua meia dúzia de flores, da meia dúzia de pessoas que fizeram do passeio por lá e do aceno ao jardineiro um hábito saudável. Ele gosta de ser um ilustre desconhecido e de não ter gente menos boa a deitar lixo por cima da cerca, tentando dar cabo das suas flores.

Este jardineiro, como todos os que fazem o que ele faz, gosta do seu cantinho porque o fez nascer e crescer, porque o alindou como pode, porque lhe dedicou o seu tempo. Este seu cantinho parcamente florido é seu e foi nesse jardim que deixou, em jeito de cuidados, as suas alegrias, aflições, tristezas e desejos. Nunca se sentou diante dele à espera de visitas aos milhares, de um reconhecimento desmedido, de um aplauso imenso. Se se sentou diante do seu jardim foi apenas para descansar num lugar seu onde lhe dá muito gosto estar, sem ver passar ninguém ou vendo uns poucos acenos que simpaticamente sempre vão aparecendo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Já só falta...

Já entrei há algum tempo na euforia natalícia. As canções de Natal já tocam cá em casa. Para muitos ainda é cedíssimo, mas para mim faz sentido começar a pensar na melhor época do ano. Primeiramente, porque sei que o tempo passa a correr e que estes quase dois meses vão voar num instantinho. Em segundo lugar, porque como este ano não estou a viver a azáfama infernal que vivi durante cinco anos no trabalho que tinha e que até me impediu de viver estas coisas como gostaria (de tal forma era o volume de trabalho e o pouco tempo livre que conseguia ter), sinto que vou conseguir ter um Natal diferente. Provavelmente vou oferecer presentes mais baratinhos, mas vou conseguir passar um Natal sem pensar que tenho mil coisas para fazer para o trabalho, que no dia seguinte tenho de ir encher chouriços para o colégio (embora haja quem pense que os professores têm férias quando os meninos também têm, as coisas não funcionam assim...) porque é impensável para quem manda deixar os professores descansarem um dia que seja... Enfim, parece-me que se nada mudar até lá, vou ter um Natal parecido com aqueles que tinha antes de ir trabalhar para o colégio de onde decidi sair. Mas agora com sobrinhos e com gatos que deliram tanto como eu com presentes, papel de embrulho e fitas.

Já vi uma loja totalmente preparada para o Natal. Já vi duas montras pequenitas em outras duas lojas também com artigos natalícios. As chuvas e o frio do início da semana já evocam a época que aí vem, por isso faz sentido que os adeptos do Natal comecem já a delirar com a aproximação de mais uma quadra natalícia. E acho mesmo que já podemos começar a ouvir “All I want for Christmas is you” a toda a hora sem que nos olhem de lado. 


Nota: A imagem saiu daqui.

Feliz (Gat)aniversário!

O meu felino mais velho faz hoje três anos e eu adorava que o tempo parasse para o ter sempre comigo.


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A Menina Sugere Isto XXIV

Hoje comemora-se o Dia da Biblioteca. Para assinalar a data, a Biblioteca Nacional de Espanha volta a dar a conhecer um documentário feito em 2011 sobre o funcionamento desta belíssima casa do saber espanhola. É um documentário espantoso, apropriado para todos aqueles que admiram os livros, não só pelas histórias que contam, mas também pelo que representam.

A Menina sugere isto porque se há algo que devemos celebrar é a memória e as bibliotecas encerram dentro de si aquilo que fomos, somos e havemos de ser um dia. Dentro delas, muitos trabalham para preservar tudo o que produzimos, sejam livros, mapas, periódicos, gravuras, partituras... É um trabalho que para os ignorantes não serve para nada, não tem qualquer serventia útil, mas que é, para os que enxergam além do próprio umbigo, fundamental. 

Tenho pena de não poder deixar aqui nada sobre a nossa própria Biblioteca Nacional, mas não conheço para o caso português nenhum documentário como este (até pode existir, mas eu não conheço). Seria interessante saber como funciona a casa que guarda os nossos livros e que histórias tem a nossa BN para contar. Por agora ficamos com o caso do país vizinho num documentário que podem encontrar aqui. A imagem que se segue é da maravilhosa fachada da Biblioteca Nacional de Espanha, com as suas estátuas de autores incontornáveis da cultura espanhola. Ao cimo das escadas, do lado direito, está uma das estátuas que representam Miguel de Cervantes, o autor que levou mais longe, no tempo e no espaço, as letras espanholas.


domingo, 23 de outubro de 2016

A Menina Quer Isto LXXII

Ora bem, continuo sem saber o que pôr na lista de aniversário. Assim para começar preciso de umas pantufas ridículas novas que os meus patos estão perto de entregar a alma ao criador. Depois, aceitam-se sempre vales de compras na FNAC, na Springfield e na Stradivarius (vá lá que não sou de gostos muito caros).

Também aceito livros, claro. Mas estou um bocadinho sem imaginação. Além do que já aqui deixei do senhor Manguel (e que deixo novamente, já que seria muito bem-vindo), também se aceitam os seguintes fofos:










Mas claro que a vida não são só livros. Também envolve gatos, claro. Por isso, como todos os anos peço mais um destes cá para casa:


Sim, aceita-se mais um bosques da noruega. Até tenho um ruivinho debaixo de olho. Não me levem a mal: adoro gatos, mas tenho um carinho especial pelos bosques. Convivo com eles todos os dias e não consigo por palavras explicar-vos como são maravilhosos e bons companheiros estes bichanos. Gostava muito de ter mais um. Pedir não custa, não é?

E já que estou numa de pedir, podem oferecer-me um número infinito de caixas de chá de rooibos da marca Twinings. Não quero mais nenhum: só o da marca Twinings. Passei anos de vida a adorar chá verde e, de repente, rendo-me irremediavelmente a este chá da África do Sul. Além de saboroso, faz bem a uma porção de coisas. Gosto particularmente do desta marca porque não lhe adiciona mais nada. Nada de citrinos, nem de canela... Só mesmo a planta e o sabor é maravilhoso. Deixo a imagem da caixa. Por cá acho que só se encontra no Jumbo, mas se souberem de outros lugares que o vendam, avisem. 


Nota: A imagem do gatinho saiu daqui. As capas dos livros saíram da página da Wook (as capas assinaladas) e as restantes das páginas das editoras Tinta da China, Quetzal e Relógio D’Água. A imagem da caixa de chá de rooibos saiu da página do Jumbo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada - o balanço


Calma, potterianos desta vida, não vou contar-vos o que acontece no livro. Vou dar-vos a minha opinião sem entrar em detalhes da história.

Ainda que seja um livro que nos traga de novo as personagens de uma colecção de que tanto gostámos, ainda que seja da mesma autora que nos habituou a livros que são muito imaginativos, ainda que seja uma quebra no enorme jejum de Harry Potter em que andamos, não gostei.

Vamos ver: a ideia para o enredo até tem potencial. Mas o livro cai frequentemente num enjôo de lamechices que me fizeram pensar que estava a ler uma espécie de revista Bravo para feiticeiros adolescentes. Acho que podemos ter histórias com descendentes de outras personagens sem precisarmos disto. 

Fora isso, já aqui disse que me entristece que o regresso de Harry Potter seja neste formato. Nada contra o texto dramático, mas não é assim que vejo estas histórias. Sabem a pouco. Faltam as descrições que a autora tão bem sabia fazer nos outros livros. Se J. K. Rowling sempre tivesse escrito as aventuras destas personagens nesse formato, era uma coisa. Mas agora isto... Parece que não veio da mesma pessoa. Aliás, nota-se o génio da autora no enredo e em algumas tiradas com graça, mas depois deixo de senti-la em lamechices atrás de lamechices. Provavelmente, o espectáculo teatral seria outra coisa, mas assim lido não é bom. Nem chegamos bem a matar saudades das personagens. Faltam ali muitas coisas. 

Como previa, era preferível ter ficado com os sete volumezinhos da colecção e não ler este. Assim, Harry Potter acabava em grande, com um livro fabuloso que foi o que fechou a saga. Este é manifestamente poucochinho, ainda que com uma boa ideia de base. Mas isto não nos chega porque fomos habituados a muito mais.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Menina Quer Isto LXXI

Com o aniversário quase à porta (e o Natal pouco mais de um mês depois), está a chegar a altura de deixar aqui uns pedidos. Já me pediram a lista de presentes e por isso, para meu bem, devo começá-la, não vá depois merecer um bocado de carvão ou coisa pior.

Bom, este ano (e se nada mudar até lá), aniversário e Natal passar-se-ão comigo desempregada. Por isso, a escolha tem de ser mais cuidadosa do que nos outros anos. Mas dou voltas à cabeça e, como de costume, só consigo pensar em livros. É inacreditável, mas é verdade. Ora, para grande gáudio meu, acabei de cruzar-me com um livro que ficaria a matar cá em casa.


Na realidade, acho que noventa por cento do catálogo da Tinta da China ficava bem cá em casa. Mas vá, começo só por este. Mas há mais desejos, senhores. A seu tempo virão.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Eu Confesso - o balanço


Durante a vida de um leitor, muitos livros lhe passam pelas mãos. Mas há livros e livros. Alguns lêem-se pela curiosidade de conhecer uma história, outros por puro entretenimento e, muito frequentemente, tanto uns como os outros acabam por cair no esquecimento. Lá fica na memória um ou outro pormenor, mas de um modo geral a maior parte do que lemos nestes livros vai à sua vida para longe.

Depois há outros. Há os livros que se lêem por qualquer motivo que não importa, mas que ficam. Ficam muito. São descobertas agradáveis que deixam o leitor feliz por ser isso mesmo: leitor. Livros em que pegamos com a mesma expectativa com que pegamos nos outros todos, mas que se revelam únicos, inigualáveis, difíceis de superar.

Este Eu Confesso, de Jaume Cabré, é uma surpresa para lá de boa no meio de uma biblioteca. Esteve ali alguns meses parado na estante e quando resolveu sair mostrou ser um dos melhores cinco livros que já li. Confesso que inicialmente me custou perceber o discurso do narrador, uma vez que tanto narra na primeira como na terceira pessoas e que tem várias narrativas encaixadas na principal, ainda que se passem em tempos e espaços completamente distintos. Mas percebendo-se este modus operandi do narrador, e compreendendo o tipo de narrador que ali está e que obrigatoriamente não poderá dar-nos uma narração linear, o livro transforma-se num código que apetece descodificar. As referências culturais que nele se encontram são imensas, contudo não aborrecem: desafiam o leitor. Tudo neste livro é um desafio ao leitor. É preciso memória e concentração para ler este maravilhoso e único romance. Porém, dedicando-lhe tempo, ele torna-se no que de melhor podemos ler. 

Não consigo fazer-vos uma sinopse do livro. Para isso convido-vos a lerem o que diz na página da Tinta da China sobre o livro e que corresponde ao texto da contracapa. Há tanto neste livro que é impossível apresentar-vo-lo dizendo “acontece isto e aquilo”. Em boa parte, o livro é a biografia de uma personagem, desde que era um miúdo inteligente de Barcelona, até ao seu final. Pelo meio encontramos de tudo, várias épocas históricas, diferentes espaços e personagens, repetições de gestos, mostrando que o ser humano pode avançar no tempo e repetir o bom e o mau que outros fizeram no passado. E vamos sempre seguindo a história de Adriá, o protagonista, a quem tudo o que ama é roubado. Adriá, que expia culpas históricas que não deviam ser suas, mas que passam a ser. No centro disto tudo, um violino e a sua história que se liga à vida do protagonista de uma forma magnífica. 

Tudo no livro é maravilhoso. Está extremamente bem escrito, tem um enredo e uma construção que são monumentais. Tudo nele é admirável. Não consigo dizer “gostei mais disto ou daquilo”. Contudo consigo dizer-vos o seguinte: nunca gostei de ler sobre as Guerras Mundiais. Nunca. Sejam testemunhos, história, diários: nunca consegui ler esses livros. Sobretudo sobre a II Grande Guerra e o Holocausto. Ora, este livro também passa pela II Guerra Mundial e essas partes são de uma pungência indescritível. Se tivesse de aplicar uma palavra a este romance, diria “humano”, porque mesmo no meio da maior das desumanidades ele consegue continuar a mostrar as pessoas, as suas relações, as suas dores e pequenas alegrias. É um romance muito humano na medida em que mostra aquilo de que somos feitos e muitos são feitos de mal, ao passo que outros são feitos de bem. Mas a maioria dos seres humanos vive sendo uma mistura destas duas coisas. As descrições que são feitas de diferentes personagens que viveram o Holocausto (como vítimas ou como culpados), as situações vividas que são narradas são perturbadoras. Pode ser ficção, mas todos sabemos tão bem qual foi a realidade (e sabê-la é muito diferente de senti-la, note-se) que este livro ganha em verosimilhança. Se não fosse a história do violino (perfeitamente possível, aliás, porque os objectos têm passado e alguns, se falassem, teriam muito que contar). A verdade é que consegui, devido ao livro, ter vontade de ler mais sobre as Guerras Mundiais. Eram matérias de que gostava muito na escola, mas que dispensava conhecer mais a fundo por saber que me chocariam (sou um “coração de manteiga” para o sofrimento dos outros, confesso). Com este livro, venci esse receio e já estou, de facto, a ler sobre o tema. É assim que os livros nos mudam.

Acho que é a primeira vez que faço isto, mas agradeço muito à Tinta da China pela tradução e edição dos livros deste autor. Além deste tenho os outros dois que a editora publicou: As Vozes do Rio Páramo e Sua Senhoria. Mas já fui ler a biografia do autor e sei que escreveu muito mais. Por isso, além de agradecer peço para que, por favor, dêem aos leitores portugueses a possibilidade de conhecer a obra deste catalão que, de 2003 a 2011, esteve empenhado na escrita de um dos livros mais ricos e completos que já tive o gosto de ler. Não são livros baratos, é verdade, mas que venham eles porque são livros assim que nos fazem perceber o valor e a importância da literatura. São livros assim que nos mudam, que nos enriquecem para sempre. 

domingo, 16 de outubro de 2016

Um verdadeiro ga(ro)to!

O Senhor Gato é uma criança. A sério: ele é como uma criança rabina que só está bem a imaginar o próximo disparate e a fazer por ver satisfeitas todas as suas vontades. E se ele tem vontades...

Na semana passada, aprendeu a abrir as gavetas de um módulo de seis que tenho junto da secretária. Assim, do nada, mais ou menos dois anos depois de arranjar o móvel, lá olhou para ele e percebeu que podia abrir as gavetas. Quando o fez a primeira vez, deu-se início a um ciclo que consistia em:

1. Gato abre gaveta e debruça-se para mexer no que está lá dentro.
2. Dona manda vir com ele, esperando não ter de levantar-se para ir lá.
3. Gato é gato e ignora a dona.
4. Dona levanta-se, tira o gato dali, fecha a gaveta e regressa ao sofá.
5. Gato afasta-se com ar de desprezo.
6. Gato regressa ao móvel, abre gaveta e debruça-se para mexer no seu conteúdo.
7. Dona manda vir com ele, esperando não ter de levantar-se para ir lá.
8. Gato afasta-se com ar de desprezo.
9. Gato regressa ao móvel, abre gaveta e debruça-se para mexer no seu conteúdo.
10. Dona manda vir com ele, esperando não ter de levantar-se para ir lá.
...

Perceberam a ideia?

Bom, este armário fica no escritório que é precisamente onde se encontra a comida do Senhor Gato e uma das divisões que estão sempre abertas para os felinos cá de casa. Na impossibilidade de tirar o móvel dali ou de fechar o escritório aos gatos, esperei que ele deixasse as gavetas em paz durante a noite. Deixou, é um facto. Até à noite passada.

Hoje, ao levantar-me, fui abrir o estore do escritório e percebi que havia uma gaveta aberta e três objectos no chão. Agora vejam a esperteza do bicho: de tudo o que ele podia ter tirado, tirou apenas três saquinhos com brinquedos para gato que estavam novos, que ainda não lhes tínhamos dado. Um dos saquinhos até foi aberto... Portanto, no fundo, ele só foi buscar o que era seu por direito. Podia era ter evitado roer o plástico das embalagens no processo, mas enfim... Agora os brinquedos por estrear mudaram de gaveta, que é por causa das coisas. Pergunto-me o que aparecerá no chão amanhã de manhã.


Nota: A imagem saiu daqui.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Pottermore

(Agora que a constipação melhorou ninguém me cala.)

Ontem tinha um cérebro incapaz e, por isso, não consegui pegar no livro que estou a ler (sobre o qual falarei quando o terminar). Precisava de algo mais ligeiro e por isso peguei numa versão em português do Brasil dos textos publicados por J. K. Rowling na página  Pottermore. Neste site, como devem saber, a autora da saga Harry Potter conta pormenores acerca da enorme história que criou, conta-nos até aspectos muito interessantes sobre o seu processo de escrita. Por exemplo, num desses textos explica como se lembrou de fazer chegar os alunos a Hogwarts num comboio que parte da plataforma 9 e 3/4 de King’s Cross, do modo como precisou de fazer desaparecer alguns objectos da saga sob pena de eles acabarem por prejudicar a história (caso daquela ampulheta que Hermione usou em O Prisioneiro de Azkaban e que a fazia viajar até ao passado de modo a conseguir assistir a mais aulas). 

Ou seja: além dos sete livros da saga, ficou muito mais na cabeça de J. K. Rowling. Ficou tudo pensado, nada foi deixado ao acaso. Mas não coube tudo nos livros e, assim, textos breves são deixados em Pottermore e nós, os embevecidos da saga, vamos podendo viver mais um bocadinho nesse mundo de feitiçaria que decorre num meio que é tão nosso: o meio escolar. Tudo foi pensado ao pormenor e é impressionante como tudo faz sentido, como a autora foi tão racional a criar um mundo que é tão pouco real. Li quase todos os textos de um dos volumes ontem à noite e não pude deixar de pensar no quão difícil pode ser para a autora deixar de escrever sobre Harry Potter quando ela criou as personagens e um gigantesco e complexo mundo para elas. Como pode alguém desligar-se de uma obra quando tudo, mas mesmo tudo, nasceu da sua imaginação? Não sei se vos consigo explicar o que quero dizer, mas comparo-o, num nível muito menor, ao que nos acontece quando escrevemos uma tese. Durante o tempo da pesquisa, o tempo das leituras e da redacção, aquele mundo é nosso. Quando fazemos uma tese, convém sermos inovadores em alguma coisa e, portanto, aquele mundo é ainda mais nosso. Depois defendêmo-la e é difícil deixarmos de sentir aquele mundo como sendo pertença nossa. Ainda hoje, e já lá vão seis anos desde a defesa, eu sou uma leoa a defender o meu tema, o meu ponto de vista e se me falarem em clássicos da literatura eu levanto logo a orelha e tenho algo a dizer. Porquê? Porque aquele foi o mundo que eu criei, o mundo em que vivi.

Acho que alguma coisa parecida acontece com uma obra da envergadura de Harry Potter. Por muito que tenha havido quem tentasse colocar-se em bicos de pés para imitar J. K. Rowling criando histórias de pequenos bruxos e bruxas desafiados para este ou aquele conflito, aquela saga é só uma. A autora, ainda que tenha tido as suas inspirações, criou tudo desde o início: quem protagoniza a obra; qual a sua história; onde decorrerá a acção; como descobrem que são feiticeiros; como descobrem que são convocados para frequentar a escola; como fazer para que a escola não seja vulnerável a ataques e a história não perca verosimilhança; como aproximar a realidade dos pequenos feiticeiros à dos estudantes da vida real para que a história seja mais próxima dos leitores... Podia passar o resto da noite a levantar dúvidas sobre a construção do livro. Os textos do site Pottermore são, parece-me, a prova de que um autor pode bem não conseguir desligar-se definitivamente dos mundos que cria. Assim, novos textos nascem e nós vamos vivendo mais um bocadinho a história de Harry Potter. Sim, porque os fãs já se contentam em saber mais sobre os fantasmas de Hogwarts ou sobre objectos mágicos. Não podendo ter mais aventuras, qualquer migalhinha nos embevece (ainda que o último livro, o da Criança Amaldiçoada ainda não me tenha convencido e esteja ali a ganhar pó). 

Por isso, meus caros quixoteiros, se não vivem sem ‘potterices’, vão a Pottermore e aluguem mais um bocadinho de tempo naquele mundo fantástico onde há maus muito maus, mas onde tudo é possível.

O Nobel de Bob Dylan

Embora ainda esteja constipada, arrastei-me até ao computador para falar sobre o tema do momento: o Nobel da Literatura entregue a Bob Dylan.

Assisti ao anúncio do prémio em directo e quando a senhora anunciou, ainda em sueco, o vencedor e a razão da escolha, pareceu-me perceber o nome do cantor, mas como não fazia sentido, esperei pelo anúncio em inglês. Afinal tinha ouvido bem.

Depois da estranheza inicial, pensei no assunto e não é fácil falar sobre as conclusões a que cheguei porque, de facto, o tema é complexo. Muito mais do que parece inicialmente.

O primeiro disparate que ouvi foi o daqueles que diziam que o Nobel da Literatura não podia ir para um cantor. Ora, o prémio foi para as letras que escreveu e não para a sua voz ou performance em concertos. Foi a palavra escrita nas suas letras, foi a poesia que produziu e depois musicou que lhe garantiu esta distinção. Além dessa poesia, o facto de ter sido muito engajada também a destaca e isso nós sabemos que é muito importante para o Comité Nobel.

Portanto, não me choca o facto de ser um cantor a receber o prémio por poder não escrever literatura. Dizer isso é ignorância. Lembrem-se que a nossa literatura começa, precisamente, com canções medievais (a lírica galaico-portuguesa) e que esta é tão importante que voltou a fazer parte dos currículos escolares. Mas se isto não for suficiente, lembrem-se de Homero e das suas epopeias. Há lá textos mais basilares na nossa cultura e que nasceram precisamente para serem cantados? A oralidade de um texto não lhe retira qualidade, apenas lhe dá outra dimensão.

O que me preocupa são, no fundo, duas coisas: o precedente que foi aberto e o que fica de fora. Relativamente ao precedente, preocupa-me esta mudança de rumo que aconteceu agora e que já tinha sucedido em 2015 (prémio que, a meu ver, foi muito mais chocante do que este). Se até aqui todos sabíamos mais ou menos o que esperar do Comité Nobel, a partir de agora é o desconhecimento total. Pode sair dali qualquer coisa, seja ela com sentido ou não. E digo isto porque se as letras de Bob Dylan podem ser consideradas poesia e, consequentemente, literatura, dificilmente posso aceitar prosa jornalística como literatura e, portanto, merecedora do Prémio Nobel da Literatura. Mas foi isso mesmo o que venceu no ano passado. Além deste aspecto, preocupam-me todos os autores que estão na lista, alguns já muito velhinhos, com uma obra literária imensa e que merece ser premiada e que vêem agora uma mudança num jogo que parecia ter as regras traçadas há muito tempo. Posso até não dizer que Bob Dylan não escreve literatura, mas daí a trocar autores como Kundera, Rushdie, Roth ou outros por ele é coisa que não me faz sentido. Parece-me injusto para os outros. Ele pode ganhar Grammys, os outros tinham o Nobel e já nem isso é deles. Além disso, acho que é um sinal terrível que se dá: o Nobel da Literatura premeia livros. Agora vão fazer-se livros a correr com as letras das canções de Dylan. Já existia um, penso que editado pela Relógio D’Água, e o resto eram as suas canções, cujos poemas se conheciam ouvindo-se a sua música. 

A sensação que tenho é que o Comité Nobel quer ser polémico. Mas parece que só quer sê-lo com a literatura. No ano passado fez a monstruosidade de atribuir o prémio a uma jornalista que escreve não literatura. Este ano deixa uma série de autores notáveis de lado para atribuir o prémio a um cantautor. Será que se o Roth pegar numa guitarra e cantar os seus romances passa a ter direito ao Nobel? E o Rushdie, que teve uma fatwa sobre ele durante tantos anos e que durante tanto tempo e que por isso mesmo esteve tão envolvido em causas como a liberdade religiosa, merecerá o Nobel se pegar no xilofone e recitar Os Versículos Satânicos em Fá Mi Ré? Estou a ser exagerada, claro, mas é para mostrar que é normal que haja uma enormíssima sensação de injustiça por parte dos escritores. É como se o Nobel da Medicina fosse entregue a um santo pela cura milagrosa de qualquer coisa. É inesperado e parece que deixa de parte quem de facto dedicou conscientemente uma vida inteira à literatura. O Bob Dylan escreveu, é verdade, muitas canções que são composições poéticas. Cantou, gravou discos, fez concertos. Mas será que ele pensava nele próprio como um autor de literatura? 

A parte boa disto é que levou as pessoas a pensarem no que é literatura. Onde está a literatura? O que dá características literárias a um texto? É só nos livros que encontramos literatura? Está visto que não. Há poesia em muitos lugares e aí vai existir literatura. Bob Dylan escreveu poemas que musicou e, por isso, pode considerar-se que escreveu literatura. Mas se eu fosse escritora estaria neste momento muito chateada com esta decisão. Muitos autores, eternos inscritos na lista dos possíveis vencedores, devem sentir agora que a sua vez nunca chegará porque agora o Comité Nobel pretende mudar as regras do jogo, pretende chocar e voltar ao que era habitual não acontecerá tão cedo. Ainda bem que o nosso Saramago o ganhou noutros tempos, pois se fosse agora talvez o prémio não lhe chegasse.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Siso

E a um mês e cinco dias de fazer trinta e um anos um dos meus dentes do siso conseguiu, finalmente, nascer. Não me serve para nada, mas posso dizer que o tenho.

E também tenho uma dor na gengiva rompida que é bem espectacular.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Menina Sugere Isto XXIII


Adoro a National Geographic, principalmente as suas edições especiais. As de História (como a da capa acima) e de Ciência são as minhas favoritas. É verdade que não são revistas baratas, mas são de uma qualidade enorme e valem cada cêntimo que se paga. No caso das edições especiais de Ciência, os leigos na matéria, como eu, ficam a conhecer a biografia dos seus protagonistas (Galileu, Einstein, Curie, Newton...) e algumas das suas descobertas sem ficarem confusos na segunda linha de texto. No caso das edições especiais de História, tenho lido textos muito esclarecedores sobre temas como os Descobrimentos, Roma Imperial ou, agora, as Guerras Mundiais. Nesta edição não se opta, como de costume, pela primeira ou pela segunda: fala-se das duas grandes guerras, das suas causas, dos seus efeitos, do antes, do durante e do depois. Fala-se de política e de sociedade, das mudanças ocorridas em cada uma dessas áreas, da estrondosa evolução que aconteceu durante o século XX... Enfim, é um número cheio, como se quer, de informação interessante e importante sobre dois acontecimentos que marcaram a Humanidade e que permanecem como uma sombra na nossa História e no nosso futuro, já que temos sempre medo que que esta se repita. Por tudo o que foi  dito, a menina sugere isto.

A Menina Sugere Isto XXII

Não vou mostrar-vos nada que não conheçam já. Vou apenas mostrar-vos uma coisa a que demorei a render-me, mas à qual me rendi que nem uma maluca: as Eco Garrafas da Tupperware.


Comecei por ver toda a gente a comprar uma garrafa destas e pensei “Pronto, mais uma moda...”. Ao fim de uns tempos, apanhei um quiosque da marca no Continente e comprei uma garrafa, mas com a tampa de rosca. Gostei da garrafa, odiei a tampa porque me molhava sempre a beber água. No início do Verão, para usar em malas mais pequenas, comprei uma garrafa mais pequena com tampa de bocal reduzido e aí rendi-me. Acabei por comprar mais três garrafas e por eliminar a água engarrafada cá de casa. As garrafas são fáceis de lavar e, para mim que bebo muita água e que gosto de ter uma garrafa em cada divisão, esta solução é a ideal. As garrafas não são muito caras, mas mesmo que possam parecer caras, o retorno do investimento é rápido só pela água engarrafada que se deixa de comprar. Para mim vale a pena e, a quem ainda não se rendeu, a menina sugere isto.

Nota: A imagem saiu daqui.

Concorrência

Eu gostava de conseguir compreender os taxistas, mas não consigo. Mais ainda quando boa parte do que dizem parece saído de uma emissão da Casa dos Segredos: não querem violência, mas...

Não consigo compreender um grupo profissional que parece lidar muito mal com a concorrência e que, perante o facto de que esta veio para ficar, responde com exigências ao Governo que, segundo o Expresso Diário, passam pelo aumento da bandeirada no Natal e no Ano Novo. Até compreendo que queiram as mesmas regras para a Uber e a Cabify, mas quem é que no seu perfeito juízo, perante estas novas empresas, acha que deve exigir o aumento dos preços no Natal e no Ano Novo????

Pelo que percebi, o Governo já está a preparar uma série de regras que as outras empresas terão de cumprir, no sentido de regulamentar isto e para que não exista uma carga de trabalhos para os taxistas e apenas benefícios para os outros. Ainda assim, os taxistas não estão de acordo. Acabei de ver na televisão um momento mais complicado da manifestação em que os taxistas encontraram um motorista da Uber numa estação de serviço. O que se seguiu parecia, novamente, a Casa dos Segredos, tantas foram as asneiras e os insultos que se ouviram. Neste momento já foi feita uma detenção por vandalização de um carro da Uber.

Nunca usei a Uber, mas já usei taxis algumas vezes e em boa parte delas fui mal servida. Numa das vezes fui insultada porque o percurso era pequeno de mais. Acontece que eu não sabia a extensão do percurso porque desconhecia a zona. O taxista (e tenho muita pena de não ter ficado com o nome dele) discutiu comigo, insultou-me e acabou a perguntar-me se eu gostava que brincassem assim com o meu trabalho. Note-se que ele recebeu mais de cinco euros em dez minutos de trabalho e eu não ganhava muito mais do que isso por hora. Teria mais situações para partilhar, assim como outros também as devem ter. Felizmente, também já me cruzei com bons profissionais, com viaturas limpas e que não deram a volta da Lisboa para levar-me onde eu queria ir.

Nunca usei a Uber, mas tenciono usá-la, precisamente pelas más experiências que já tive com os taxis. E porque não compreendo que todos os sectores tenham concorrência e que este tenha tanta resistência a esta concorrência. A Uber faz, pelo que sei, um serviço de tipo diferente, oferecendo outras comodidades ao utilizador (o facto de podermos chamar um carro da Uber sem termos dinheiro na carteira é óptimo, já que com os taxis temos de ter dinheiro e de preferência trocadinho porque eles parecem nunca ter trocos). Dirige-se a um público em especial. Todas as pessoas que conheço que já utilizaram os seus serviços saíram satisfeitas e mesmo quando o percurso não foi do agrado do utilizador, o dinheiro pago a mais foi-lhe devolvido. Não tenho até agora ouvido relatos de alguém ser insultado por um motorista da Uber porque o percurso é curto...

Enfim, o ideal era que convivessem todos em harmonia, mas parece-me difícil que tal suceda. Que se imponham regras que equilibrem as exigências a uns e a outros julgo fazer sentido. Mas não compreendo esta fúria contra empresas que, segundo os taxistas, fazem concorrência desleal para logo a seguir proporem o aumento da bandeirada por alturas festivas. Claro que se me pedirem mais dinheiro para andar de taxi no Natal, vou optar por quem me pede o mesmo que no resto do ano. Mas serei só eu a ver o disparatado disto? E agora vamos ver como isto acaba. Novamente: todos os sectores têm concorrência e têm de aprender a viver com ela. O dos transportes públicos ligeiros não será excepção.

sábado, 8 de outubro de 2016

Repugnância

Estive a ver a primeira parte da reportagem da TVI sobre crianças tiradas a pais portugueses no Reino Unido e estou ENOJADA. Não consigo compreender como pode um país europeu passar desta maneira por cima do que são os mais básicos direitos humanos. Tirar os filhos a uma mãe apenas porque houve uma denúncia e sem fazer qualquer tipo de averiguação ultrapassa os limites de qualquer compreensão. Colocá-los para adopção pouquíssimo tempo depois é absolutamente cruel. Os testemunhos que ouvimos nesta reportagem são um murro no estômago, daqueles que deixam tudo em volta a doer. Perder o direito a viver com os filhos porque acham que pode a haver dano para aquela criança no futuro é ridículo! Mas é mais grave ainda se considerarmos que existem agências privadas de adopção que depois distribuem estes menores por famílias que já procuravam crianças com esta ou aquela característica. Pelo que percebi, basta uma criança dizer que a mãe lhe deu um estalo para ela e os irmãos serem retirados de casa. Consegui-los de volta é uma batalha que ninguém merece e que pode chegar a nem dar resultado. Mas há mais: basta uma criança dizer que a mãe lhe bateu, como disse, para ela e os irmãos que existam serem levados... e separados. Portanto, de uma vez, um menor sai da casa dos pais para famílias de acolhimento (que, diga-se, ganham bom dinheiro por cada criança acolhida) e nem com os irmãos pode conviver. É tão revoltante que nem há palavras.

Uma das mães tentou falar com as entidades portuguesas competentes no Reino Unido. A resposta que recebeu foi a de que as autoridades portuguesas não podem imiscuir-se em assuntos do foro particular. Um representante português falou no âmbito da reportagem e diz que se trata de um país com soberania, blá blá blá... E portanto as assistentes sociais podem simplesmente ir, de um momento para o outro, a uma casa, retirar de lá os menores porque um menino tem uma nódoa negra, por exemplo, e daí a pouco tempo tê-los como disponíveis para adopção sem que ninguém possa fazer nada. E mesmo sendo cidadãos portugueses. É asqueroso. Nem consigo acreditar.

Amanhã passa a segunda parte da reportagem. Nem sei se quero ver. Não tenho filhos e, portanto, acho que só consigo ter uma pálida imagem da crueldade que aqui está. Posso apenas como filha imaginar o que seria, na infância, ser arrancada aos meus pais sem razão aparente e acabar adoptada por outra família sem que essa fosse a vontade da minha mãe e do meu pai. E no meio disso tudo ninguém me ouvir, ninguém me defender, ninguém perceber o que eu quero. 

O Reino Unido, apesar do Brexit, fica na Europa e não no cu do mundo. É um país para onde muitos portugueses emigram todos os anos. Não digo que não existam situações em que a retirada dos menores faça sentido, mas não acredito em processos em que ao fim de poucos meses a criança já está para adopção, mais ainda quando aqui pelo meio existem agências privadas a trabalhar. Eu não tenciono emigrar, mas se precisasse de o fazer, neste momento estaria a cortar o Reino Unido da minha lista de hipóteses (o que, dadas as relações que têm com estrangeiros, os deixaria extremamente felizes).

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Quixotadas curtas VII

Já há muito tempo que não lanço umas quixotadas curtas. Ora vamos lá recuperar o tempo perdido.

1. Portanto, a ver se eu entendi. Os taxistas odeiam a Uber. Acham que é concorrência desleal porque, entre outras coisas, eles têm de ter formação e a Uber (pelo menos até agora) não. E então qual é a notícia de hoje? Os taxistas propõem ao Governo subirem a bandeirada no Natal, Ano Novo e meses de Julho e de Agosto. Portanto, quando eu tenho competição feroz o que é que faço? Distancio-me subindo os preços. Isto recorda-me uma expressão: “Entregar o ouro ao bandido.” 

2. O Nobel da Literatura devia, pelo menos à semelhança de outros anos, ter sido anunciado ontem. Não foi. O comité que toma estas decisões já se pronunciou, dizendo que não há divergência nenhuma, que o que se passa é que as reuniões para a tomada de decisão começaram com atraso, blá blá, blá. À boca pequena fala-se do facto de o júri não estar bem de acordo com as ideias da nova secretária permanente, Sara Danius. Recorde-se que no ano passado, já ela assumira este cargo, quem venceu o Nobel foi Svetlana Alexievich, com livros de tipo muito diferente dos escritos pelos anteriores vencedores do prémio. Como é dito pelo Observador, “é uma jornalista ucraniana que escreve não ficção, o que muitos consideram como não sendo literatura”. De facto, na altura aquela escolha pareceu-me estranha. Nobel da Literatura devia premiar literatura e nem tudo o que se escreve o é. Pode ser muito bom na mesma, mas as características do texto literário não estão em tudo o que se escreve. Aparentemente, o anúncio do prémio foi adiado para dia 13 deste mês. Acho tudo um pouco estranho, mas gostaria que este tempo a mais servisse para que se fizesse uma escolha com sentido, ao contrário de algumas muito discutíveis feitas nos últimos anos. E que se respeite a nomenclatura “literatura”, para não acabarmos daqui a uns anos a ver o Nobel a ser entregue ao folheto da Pizza Hut ou ao Correio da Manhã.

3. Nas últimas semanas tem-se falado muito dos transportes públicos na capital. Aleluia! A degradação que o sistema de transportes públicos tem vivido nos últimos anos em Lisboa é indescritível e só quem tem de os utilizar sabe os nervos que apanha diariamente. Agora ando menos de transportes, mas ainda os utilizo e é o desespero. Durante anos utilizei diariamente dois autocarros diferentes de manhãzinha e ao final do dia e acho que perdi anos de vida. Fiz várias queixas à Carris e tinham sempre resposta na ponta da língua para justificar atrasos de quarenta a cinquenta minutos em autocarros que deviam passar de quinze em quinze (ou menos, dependendo da hora do dia). Tinha de sair de casa com grande antecedência porque basta falhar um autocarro (coisa que jamais deveria acontecer) para tudo se atrasar meia hora ou mais. Autocarros cheios e pouca frequência dos mesmos, já para não falar das carreiras que foram eliminadas e que fazem falta. A própria frequência com que passa o metropolitano de Lisboa é assustadora. Enquanto estive em Madrid invejei muito a rede de transportes deles. Mesmo em frente ao hotel onde ficámos estava uma paragem de autocarro que ligava aquela zona a outras como Atocha, Passeio del Prado e ainda outros lugares importantes da capital vizinha. A frequência com que este autocarro passava era maravilhosa. Mas acho bem que se fale neste tema porque estamos há muitos anos a aguentar e a pagar por um serviço que funciona francamente mal, principalmente porque não estamos a falar do Burkina Faso, mas de uma capital europeia e mais ainda carregada de turistas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Devaneios ensonados

É feriado. Dia de ficar a fazer ronha na cama. São oito e meia da manhã. A vizinha de baixo já ligou a televisão aos berros nas consultas das tarólogas da SIC. Pergunto-me que mal fiz a Deus para merecer tamanho castigo. Temo ter sido muito má na vida passada. Se calhar fui cartomante e agora estou a ser castigada. 

Tenho ganas diárias de partir aquela televisão a pontapés.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Dia do Animal

Diz-se que há amores que não se explicam. Eu acho que nenhum amor se explica, mais ainda quando é entre humanos e animais. Passei a minha vida quase toda sem saber o que isto era, mas a sonhar com o que poderia ser. Felizmente chegou a altura de ter uns peludos de quatro patas na minha vida e, acreditem, não há dia nenhum em que não me sinta grata por tê-los. Mesmo que me acordem, que me destruam a casa, que façam disparates em cima de disparates, adoro-os e só penso que quero mimá-los todos os dias enquanto os tiver comigo (e oxalá seja por muitos anos).

Os animais dão-nos tanto, tanto, tanto que se só dependesse de mim teria muitos mais. Mas, infelizmente, ainda não fui brindada com o Euromilhões e não vivo numa quinta gigante. No dia em que estas duas condições se cumprirem, aquilo que farei será uma espécie de santuário onde gatos e cães serão reis. Comidinha, água, cuidados médicos e muito amor não faltariam se tal acontecesse. Enfim, dar-lhes-ia tudo o que merecem e merecem muito.

Diariamente sou “brindada” no Facebook com denúncias de maldades feitas a gatos e cães que, infelizmente, não tiveram a sorte de encontrar um dono que os ame. Ontem soube de uma maldade feita a uma gatinha que me deixou agoniada, de lágrimas nos olhos e com um profundo ódio pelas bestas que fazem tais coisas a seres que não conseguem defender-se. Já aqui o disse várias vezes que essa gente merecia que um raio lhe caísse em cima no momento em que provocam deliberadamente dor nos animais. Como o raio divino não cai, as leis dos homens deviam actuar, mas nem isso. E continuamos a ver o “animal racional” a agir muito mais irracionalmente do que os gatos e cães deste mundo. É muito triste e não vejo luz alguma no final deste túnel. São leis de papel e de lá não saem.

O Dia do Animal devia acontecer todos os dias. Cá em casa são todos os dias deles. Ainda antes de eu comer, já eles têm os pratinhos cheios. Antes de eu tomar banho, já a areia deles foi limpa. Todos, como eu, deviam ter a consciência de que eles só nos têm a nós, só dependem de nós. Se eu tiver preguiça de me levantar para o alimentar, é ele que passará fome. Se eu não gosto de uma casa de banho suja, por que hei-de proporcionar-lhe uma areia que nunca é limpa? Se não gosto de água choca, por que motivo haverei de mudar a água deles só de vez em quando? Por isso  e muito mais, hoje devemos todos pensar na forma como podemos melhorar a vida dos nosso bichos e de outros. Devemos pensar no que eles nos dão, que é muito. 

E já agora, o Senhor Gato diz um ensonado “olá”:


domingo, 2 de outubro de 2016

Cotonetes


Sabem o que é isto? Uma caixa cheia de brinquedos para gatos. É oficial: podem gastar todo o dinheiro do mundo em brinquedos para gatos que, no fim de contas, eles acabarão por brincar com qualquer coisa que não tenha sido comprada a pensar neles. E ao comprarmos um brinquedo especificamente para eles, corremos o sério risco de que eles só queiram... A caixa.

Dêem um cotonete a um gato e verão felicidade durante horas seguidas.

Nota: A imagem saiu daqui.