segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Olhando para livros XV

21. Melhor citação (diálogo)

«– Eso no es el mio – respondió Sancho, – digo que no tiene nada de bellaco, antes tiene una alma como un cántaro: no sabe hacer mal a nadie, sino bien a todos, ni tiene malicia alguna; un niño le hará entender que es de noche en la mitad del día, y por esta sencillez le quiero como a las telas de mi corazón, y no me amaño a dejarle, por más disparates que haga.» [Sancho Pança referindo-se a D. Quixote] (Cervantes, 2004, II, 13, pp. 641-642)

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Já me senti assim


...Assim, mais ou menos todos os dias sinto isto: uma danação acima de tudo o que se possa imaginar por ter de largar o livro ou a revista para ir acudir a sopa que tem de ser mexida senão agarra, ou mesmo porque o autocarro está a chegar à minha paragem e tenho de dedicar-me a uma coisa tão prosaica quanto trabalhar. Cada vez tenho maior a convicção de que os nossos dias estão muito mal divididos, de que sete ou oito horas de trabalho por dia é muito e de que a vida nos passa ao lado de tão embebidos que estamos em tudo o que TEMOS de fazer (e que tanto nos separa do que QUEREMOS fazer). Passamos o dia a trabalhar e ao chegar a casa lá vêm outros trabalhos. No meu caso a coisa é a dobrar, pois além daquilo que preciso de fazer em casa, também tenho trabalho "do trabalho" para fazer, seja a preparar aulas ou testes, a corrigi-los, a dar notas... Uma tragédia. E por isso a leitura vai parando e recomeçando, e parando e recomeçando num pára-arranca que não mata, mas mói. E quem diz a leitura diz tudo aquilo que dá gosto fazer e que está sempre em banho-maria porque ainda falta fazer isto e isto e aquilo. Claro que com isto tudo, quando sobra o tempo (nas raras vezes em que tal sucede), agarra-se nele com uma sofreguidão louca e com uma ansiedade de "quero fazer isto, isto, isto e isto, mas o tempo não chega para tudo. Por onde começo?!" que quase sempre chego ao fim com a sensação de que perdi mais tempo a tomar a decisão do que a fazer o que queria.

E depois deste destilar de raiva por não poder dedicar mais tempo ao que me aquece o coração (e que é problema bem velho, mas que só tem tendência a piorar), vou ali ler umas páginas. Amanhã já é segunda-feira e lá voltamos ao mesmo: ter de parar tudo a toda a hora porque tarefas mais chatas nos reclamam. Ah se eu fosse rica...

De Génio I

Eu não sou uma pessoa dada a frases bonitas. Melhor: não gosto de frases bonitas porque as pessoas destruiram as “frases bonitas”. Banalizaram-nas ao ponto de atribuir a autoria de uma determinada frase a alguém que nunca a proferiu. O mundo das redes sociais está pejado de exemplos que dão como sendo de Pessoa, de Borges, de Saramago e de muitos outros palavras que nunca disseram. E, como se não chegasse, muitas das frases consideradas “bonitas” por muitos são totalmente vazias de sentido. Boa parte delas são parvas até. E depois o mundo, partilhando-as até à exaustão num fundo de céu nublado ou em modo campo de flores, partilha a estupidez e assim vão andando as coisas. No fim de contas, o trigo fica por separar do joio e aquilo que importa mesmo fica perdido no meio de tanta mediania cretina. Quantos pensam de facto na “frase” de que tanto gostam? Quantos pensam no que pode (ou não) querer dizer antes de a partilharem com o mundo? Poucos, aposto. E por isso o Facebook parece a parada dos carros alegóricos das palavras bonitas que juntas não fazem uma frase de jeito.

Há uma ou duas que me aquecem o coração e nas quais encontro, de facto, algum significado. Por isso inicia-se aqui o espaço “De Génio”. Para mim, as frases que aqui tomarão lugar são mesmo de génio e significam alguma coisa para mim. Pode ser que algum dia faça o espaço “De Parvo” para todos os ditos que não dizem nada, mas que, mesmo assim, movem multidões.

Ora, começamos com livros e com leitura e com uma frase que mostra isto: as muitas vidas que lemos nos livros, as muitas decisões difíceis que vemos as personagens terem de tomar, as muitas histórias e caminhos e obstáculos, ainda que no papel, ensinam-nos. Um dia, quando for necessário, o que aprendemos vem-nos à memória e saberemos o que fazer com o que lemos. Já o dizia Oscar Wilde:

“É o que lemos quando não temos de o fazer que determina
o que faremos quando não o pudermos evitar."

Gatos da Inquisição musical

Desta vez não trouxe livros, mas sim CD’s. E não é que os felinos-da-Inquisição aprovam?! Ufa...



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Apresento-vos a Lady Gatinha

Ela funciona exactamente assim:


Não ganho para lixívia.

 Nota: A imagem saiu daqui.

Olhando para livros XIV

20. Sequela que nunca devia ter sido impressa

Um Mundo Sem Fim, de Ken Follet. Os Pilares da Terra era já suficientemente mal para continuar-se com a tortura.

Hoje: modo Oasis


Wonderwall (das melhores de sempre!)

A gargalhada e o cansaço

Há uns dias falava com um grupo de jovens com mais ou menos treze anos e, a propósito de um texto que haviam lido, disse-lhes que é pouco o tempo que passamos sozinhos, só com os nossos pensamentos. Com tantas horas de escola, de atividades e de ligações à internet, são quase inexistentes as horas em que podem ser realmente eles mesmos, sem terem de mostrarem a sua faceta mais social. Depois, no seguimento da conversa, disse-lhes que mesmo na idade deles, muitos não têm duas horas do dia que possam dedicar sozinhos àquilo que gostem de fazer, seja simplesmente não fazer nada, ou ler um livro...

O que fui dizer! Ouvi uma gargalhada daquelas que vêm mesmo lá do fundo. Um dos meninos achou muita graça à minha ideia aparentemente utópica de que alguém possa querer passar duas horas a ler. Ou uma. Ou ler. Ler??? Quem é que quer fazer isso?!

Tentei explicar ao menino (procurando manter a calma) que há mais mundo além da internet, do Facebook, dos jogos e dos filmes. Tentei levá-lo a conceber a ideia de que há pessoas que não querem viver na ignorância e que, por isso, dedicam tempo aos livros, a entreterem-se com eles e a aprenderem com o que lá está escrito. Mas qual quê?! O miúdo quase morria de riso e foi até ao fim da conversa incapaz de conceber tal cenário apocalíptico. É isto o que muitos meninos daquela idade (e mais novos e mais velhos) pensam sobre a leitura, sobre os livros e sobre os leitores. Por muito que se lhes explique que não estão certos, por muito que se lhes mostrem novos textos ou novos livros bons e capazes de pôr qualquer um (que não eles, pelos vistos) a ler, a opinião é invariável: ler é ‘seca’ e é para ‘quem não tem vida’.

E se de dentro do menino saiu uma valente gargalhada, de mim só sai desânimo porque me sinto a pregar a peixes que vivem entalados (e enlatados) entre o mundo da casa, onde muitas e muitas e muitas vezes não entram livros porque os próprios adultos não lêem, e o da escola que quer formar leitores e que acha que a mesma receita pode ser aplicada a todos os alunos por igual. Ele ri-se, eu canso-me.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Olhando para livros XII

18. Livro do qual nunca te separarias

Nunca me separaria dos meus livros. Já são muitos, cada vez são mais, ainda que vá vendendo alguns. No entanto, não me separaria daqueles que ainda não li e que ainda quero ler. Nem daqueles que li e que adorei. A minha biblioteca é o meu orgulho. Foi feita ao longo de anos e muitas vezes abdicando de outras coisas para poder gastar aquele dinheiro em livros.

Mas, se quiserem mesmo que escolha apenas um livro, escolho o Quixote. Escolherei sempre o Quixote.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Olhando para livros XI

Devido ao facto de ter uma profissão que não me deixa tempo nem para suspirar, ontem não consegui deixar aqui os livros que me marcaram a infância. Ora, vou regularizar a minha situação.

16. Livro que marcou a infância

Dizer que O Principezinho também me marcou a infância pode soar a clichê, mas é verdade. E de todo o livro, concretamente a parte em que aparece um inventor de pílulas que fazem com que uma pessoa não perca tempo a matar a sede. Ao discurso do inventor, contrapõe-se o do Principezinho que diz que se tivesse o tempo poupado pela pílula, caminharia lentamente para uma fonte... Foi, claramente, o excerto que mais me tocou, de tudo o que li em pequenita. 

Mas recordo ainda outros livros, portanto, lá vem batota:


O Sonhador consistia num volume de histórias que eram fruto da imaginação do narrador. Era uma imaginação muito fértil que o levava a ver-se em situações dificilmente possíveis. Recordo-me pouco das histórias, mas lembro-me bem de chegar a casa um dia e de ver aquele livro sobre um móvel. A minha irmã comprara-mo, bem como ao Principezinho. Para quem não tinha muitos livros e gostava de os ter às centenas, era um presente divino. Nunca me esqueci (ou esquecerei) do modo como o livro veio parar-me às mãos. Isso também me marcou a infância.

Mas os livros de que mais me lembro na infância foram mesmo os desta colecção:


A dupla de BD Calvin & Hobbes também me chegou às mãos pela minha irmã e nunca mais me largou. Confesso que quando era mais pequena, não percebia todo o alcance das tiras de Bill Waterson. Há ali muito mais do que apenas um rapaz e o seu peluche, há tiras que não são, de todo, para serem entendidas por uma criança pequena. Mas os desenhos, as histórias, a lata do Calvin e a inteligência do Hobbes, esses sim, são deliciosos para pessoas de qualquer idade. Li quase tudo o que havia para ler e ainda compro os poucos livros de Calvin & Hobbes que não tenho. Ainda hoje é a minha banda desenhada favorita. 


17. O livro mais caro da tua estante

Bom, para quem colecciona edições do Quixote, esta até era fácil de responder. Mas, deixando o Quixote de fora, o livro mais caro que tenho na minha estante é, talvez, o volume que reúne os romances de Machado de Assis, e que comprei para oferecer-me a mim mesma no Natal de 2014.


Custou perto de oitenta euros, mas tendo em conta que dele fazem parte nove romances, até nem está mau.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Ulmeiro

Estive esta tarde na livraria Ulmeiro, em Benfica. Confesso que passei algumas vezes de carro e de autocarro à sua porta e pensei sempre que havia de lá ir com tempo, mas foi preciso sair a notícia de que a Ulmeiro tinha o fim anunciado para arranjar de facto tempo para visitá-la.

Acredito que em tempos tenha sido um local magnífico e não tenho dúvidas de que há ali dentro toneladas de história enquanto livraria que vendeu livros proibidos, que foi muito visitada pela PIDE... Só por isso, esta livraria já merece ser salva. Mas fora isso, o facto de MAIS uma livraria ter sobre ela o destino do fracasso e do encerramento deixa-me desolada. Oxalá consiga escapar desse fim anunciado e sobreviva. Ainda que a Fnac não cheire a pó e tenha tudo muito arrumado, os alfarrabistas prestam um serviço único ao mundo do livro e à sobrevivência da palavra escrita. Num mundo de tanto comércio, também devia haver lugar para eles.

Trouxe algumas coisinhas da Ulmeiro que hoje, talvez pela reportagem que deu conta do seu fim, talvez pela tarde soalheira, tinha muita gente. Trouxe um livro do Astérix, um de Charles Dickens e o Decameron em três volumes na edição dos Amigos do Livro. Fizeram-me um desconto em todos os livros e assim será até ao dia vinte do próximo mês. Se puderem, passem por lá (Avenida do Uruguai, n.º 13 A). Se não puderem, não deixem de seguir a Espaço Ulmeiro no facebook, pois diariamente são lançados novos leilões com novos livros. 

Ajudem a salvar este espaço de letras para que não acabem, como sempre, a vencer os números.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A ambulância peluda

Se eu colocasse daquelas luzes vermelhas e azuis das ambulâncias e dos carros de bombeiros no lombo de Lady Gatinha, ela própria seria um veículo de emergência. O sinal sonoro, pelo menos, anda sempre ligado.

Olhando para livros X

15. Livro que custou a ler

A minha irmã adora-o e eu odeio-o. Tive de lê-lo na faculdade, mas, ao contrário de muitos outros livros sugeridos por professores, este revelou-se uma enorme, enorme, enorme tortura. No entanto, li-o até ao fim (razão pela qual não coloquei aqui a Eneida: acho que das várias vezes em que tive de lê-la, ficaram sempre umas páginas por terminar). Eurico, o Presbítero foi, por isso, o maior pastel literário que tive de suportar (revoltem-se, defensores acérrimos do Eurico e da Hermengarda). Gosto muito de literatura portuguesa, acho que tivemos e temos dos melhores autores que o mundo já viu. O Herculano era um fabuloso escritor e historiador, mas este romance da época romântica passado na Idade Média não é mesmo para mim.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Olhando para livros IX

14. Livro clássico favorito

Mas há alguém que não seja capaz de adivinhar o título que aqui deixarei? Não me parece. Já falei dele antes e é sempre a este livro que acabo por regressar: Dom Quixote de la Mancha. O curioso é que durante muitos anos, e por influência dos preconceitos literários da minha mãe, também eu considerei que este livro devia ser a coisa mais aborrecida de ler. Um dia saiu de forma gratuita com um jornal por ser o primeiro de uma colecção que se iria iniciar e, claro, aproveitei a oportunidade para ter mais um livro na estante. Por curiosidade li o prólogo e rendi-me. A mestria com que Cervantes fala da produção literária, a graça com que o faz ainda antes de iniciar o seu romance são para lá de encantadoras. Depois chegamos ao famoso primeiro capítulos e à dúzia de palavras mais famosa da literatura: "En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme...", e travamos conhecimento com aquela personagem que tem tanta loucura na sua sensatez e tanta sensatez na sua loucura, que quer melhorar o mundo, mas que quer fazê-lo pela palavra ou com armas anacrónicas, e depois com Sancho Pança, o homem que se quixotiza e que aprende a amar aquele em quem inicialmente viu a garantia de riqueza. E isso muda-nos. A mim mudou-me enquanto leitora e mudou-me a vida. O Quixote é, para mim, o melhor dos livros e fascina-me que aquele autor (que nem sequer escrevia propriamente bem, já que era medonho com a pontuação e outros detalhes) tivesse tantas e tão boas ideias, colocasse na boca das suas personagens palavras tão sensatas que parecem dos nossos dias (o discurso sobre a liberdade, sobre a necessidade de os pais amarem os filhos, independentemente das suas escolhas, sobre o direito das mulheres em não terem de aceitar qualquer um que as queira sem que elas o queiram também apenas para depois não serem apelidadas de cruéis são apenas alguns exemplos). É uma obra do início do século XVII, escrita em boa parte ainda no século anterior, mas que tem muitas ideias e valores de hoje. É absolutamente brilhante e, tal como é dito no título de um livro que por aí anda, ninguém deve viver sem ter lido o Quixote.


A Física e os gatos

Gatos: a testarem a Lei da Queda dos Graves desde tempos ancestrais. 

Regressos

Digamos que, uns oito anos depois, tem alguma graça voltar a uma das escolas onde estagiei, desta vez com outra experiência e com outros olhos. As paredes continuam as mesmas, exactamente iguais. Eu é que não. O entusiasmo com a profissão naqueles dias em que ainda ansiava por ela deu lugar a um enorme cansaço e à cada vez maior certeza de que, embora goste de ensinar, este mundo não é o que me fará feliz. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Olhando para livros VIII

13. Livros em cujo universo habitarias

Resposta fácil: se fosse para viver num mundo de fantasia onde tudo é possível, Harry Potter. Mas se fosse para viver numa epoca em que até gostava de ter estado para conhecer pessoas e hábitos sobre os quais tenho grande curiosidade, Os Maias

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Quixotadas curtas VI

Já há muito tempo que não largo por aqui umas quixotadinhas em tamanho mirim. Ora vamos lá:

1. O meu frigorífico avariou no final do ano passado, mesmo perto do Natal. No mês anterior tinha acabado a garantia de dois anos dada pela marca. Felizmente, tínhamos comprado a extensão de garantia da loja. Não só a marca, mas também a própria loja disseram a aterradora frase “Os electrodomésticos estão feitos para durarem apenas o tempo da garantia.”. Pena é que não tenham preços próprios de coisas que só vão ser usadas durante dois anos. Bom, seja como for, enquanto o frigorífico esteve prestes a morrer, a conta da electricidade disparou. Já esperava. Mas para terem uma ideia, a diferença entre a época em que o frigorífico esteve a funcionar mal e o momento presente em que temos um frigorífico novo (a extensão de garantia é o dinheiro mais bem empregue de sempre, acreditem) a diferença na conta da electricidade é de mais de dez euros. É assustador. Felizmente o problema resolveu-se da melhor das formas e depois de duas contas fora do normal, eis-nos regressados a contitas mais modestas, como eu gosto.

2. E já que falamos em dinheiro, deixem-me partilhar convosco que estou expectante de que a pedra que a minha gata tem na bexiga seja um diamante com carradas de quilates. É que hoje precisei de ir comprar um medicamento que me tinha acabado e que a bichana anda a tomar e assim, num abrir e fechar de olhos, foram mais trinta e cinco euros. Desde que o ano começou, os gatos já nos levaram a gastar quase quinhentos euros, entre vacinas, medicação e ração especial. Contudo, lá está, eu reclamo reclamo, mas não consigo saber que eles precisam de cuidados e deixá-los sem eles. Enquanto puder, é assim que vai ser. E oxalá possa cuidar sempre tão bem deles.

3. E já que falo de gatos, há umas semanas alguém colocou um anúncio no OLX em que trocava uma gata por um iPhone ou por algo que lhe interessasse. A gata era lindíssima, tinha uns sete meses, e a acompanhá-la vinham todos os seus objetos (caixa de areia, entre outras coisas). Mas trocar um animar por um iPhone foi para aí a coisa mais asquerosa que já vi. Esse anúncio foi retirado depois de algumas pessoas se manifestarem veementemente contra a podridão dos valores que levam alguém a trocar um animal de estimação por um telemóvel. Para mim, quem o faz é reles e merece ficar sem a gata e sem o telemóvel. Quanto à peluda, espero honestamente que lhe calhe melhor dono do que o desgraçado que tem tão pouco apego a um animal que prefere trocá-lo por um telemóvel dos bons. Acho que já perceberam que estou a tentar segurar-me porque o que penso mesmo sobre tal pessoa envolve tantos palavrões que não chegariam os asteriscos. Acho mesmo que os palavrões e insultos só seriam mais para o desgraçado que, também no OLX, tentou vender na mesma semana... um gato mumificado que adormecera (alegadamente porque não há como provar isto) no motor de um carro e que lá ficara morto por mais de um ano. No anúncio até dizia, em tom de gracinha, que o gato não largava pelo. A esta pessoa desejo... olhem, deixo à vossa imaginação. Mas se pensarem no Tribunal da Santa Inquisição terão uma ideia daquilo que desejo. Tenho medo do mundo em que vivemos e do facto de haver gente que olhe para os animais como coisas que não valem nada ou que, pelo contrário, valem dinheiro: vivos ou mortos. Pergunto-me como será o nosso futuro num mundo com gente desta e não auguro nada de bom. 

4. Odeio besuntar-me com cremes. Eu bem gostava de ser daquelas pessoas que saem do banho e passam o hidratantezinho sem reclamar, mas não sou. Ora, foi-me receitado um creme caro como tudo (pelo menos pelos meus parâmetros) e eu evito a todos os custos esfregar-me naquilo. Pareço um gato a fugir da água (menos os meus, que gostam bastante de água). Ontem fui aviar umas receitas à farmácia e vi que, da marca do creme que me fora prescrito, havia um óleo de banho que fazia o mesmo pela hidratação da pele. Fiquei encantada: tenho de tomar banho, portanto se o tratamento da pele se despachar no banho, é ouro sobre azul. Com a brincadeira ficaram quase dezoito euros em óleo de banho na caixa da farmácia. Cheguei a casa a pensar que enlouquecera. Depois vos direi se a coisa valeu a pena ou não.

5. Entretanto, e depois da ida à farmácia, apercebi-me de que tenho a sorte de viver num sítio onde há três coisas com atendimentos espectaculares: a farmácia, com as melhores farmacêuticas com quem já me cruzei e que são do mais prestável e atencioso que pode existir; as finanças, com gente que se põe num chinelo para resolver-nos os problemas e os correios, com gente também muito simpática e prestável. Nem todos têm a mesma sorte e se estamos para falar mal, também temos de estar para elogiar. 

Olhando para livros VII

12. Livro para o qual escreverias uma sequela

Honestamente, não sou particular fã de sequelas. Acho que só devem existir quando são muito, muito, muito boas e que se for para serem medianas, não valem a pena. Muitas sequelas não acrescentam nada à história e são uma perfeita desilusão para o leitor. Além disso, tendo a pensar que a vontade do autor deve ser respeitada: se ele quis que o livro terminasse em determinado ponto, é ali que tem de terminar.

Mas, e porque o desafio assim pede, se tivesse de escrever uma sequela (e para não mencionar o Harry Potter que seria a resposta mais óbvia) seria para A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. Seria giro saber o que sucedeu às personagens depois de regressarem da ilha. Houve quem escrevesse uma sequela, mas ainda não a li. Porém, novamente, não vejo como uma necessidade premente as sequelas dos livros de que gostámos.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Olhando para livros VI

11. Livro inspirador


Para mim, que adorava ter a minha própria livraria, este livro é uma inspiração. Um casal deixa a sua vida e os seus empregos e abre um alfarrabista numa zona onde comprar livros não faz parte das rotinas habituais. Aos poucos estes estranhos encontram o seu lugar naquela comunidade e a sua livraria deixa de ser só um sítio onde se vendem livros para passar a ser algo muito mais importante. Não enriquecem com o negócio, mas cumprem um sonho e garantem para si uma vida muito mais feliz. Inspirou-me numa altura em que iniciei o blogue da venda de livros, na impossibilidade de ter a minha própria livraria.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Do "Dia dos Namorados" ou sobre como ser igual a toda a gente

E pronto: chegámos àquele dia muito comercial pelo qual hotéis, restaurantes e algumas lojas tanto anseiam. Hoje é Dia de São Valentim, mais conhecido por "Dia dos Namorados" e hoje muitos trocarão palavras bonitas, presentes e umas horas catitas em sítios a que se calhar até nem costumam ir, como restaurantes mais caros ou SPAs com direito a tudo o que envolva corações e pétalas de rosas. 

Pois bem, meus caros, o "Dia dos Namorados" é puramente estúpido porque alguém que namore quer para si todos os dias e não um assinalado no calendário para tooooodos os namorados. Cada casal de namorados quererá ser único, desejará ter os seus próprios momentos de celebração, trocará presentes porque aquela é uma data especial ou então só porque sim. Ora, o dia catorze de Fevereiro já é tudo menos uma data especial. É só mais uma daquelas que se transformaram numa excelente hipótese de negócio e que, apelando ao sentimento (e às cargas de TPM que, quando bem apuradas, podem fazer da vida de um homem um inferno), vai despachando merchandizing e afins relacionados com a data.

Há uns anos, quando não tinha namorado, ainda ligava um bocadinho à data. Na altura, com as minhas amigas, era o temidíssimo dia em que percebíamos que estávamos encalhadas (que terror: encalhadas aos dezoito anos! A vida não tem qualquer sentido assim!!! O drama, o horror!), como se o resto dos dias não servisse para chegarmos à mesmíssima conclusão. Depois veio o moço e acho que ainda fizemos um jantarzinho romântico ou dois nesta data, até que percebemos que estar num restaurante cheio de gente que nada nos dizia a celebrar a mesma coisa, como se tivéssemos vivido o mesmo, era estúpido. A partir daí passamos por cima deste dia. Não trocamos presentes, não fazemos por ter jantarzinhos românticos nem nada que celebre a data. Fazemos as comemorações que queremos quando queremos (no nosso caso, no mês e dia em que começámos a namorar e em que fomos viver juntos). Esses sim são dias nossos e não partilhados pelo mundo todo só porque a voragem comercial assim o espera.

Mas pronto, haverá sempre muita gente a parar tudo neste dia para celebrar o amor. A esses desejo um excelente dia, apesar de achar que valia mais adiarem as celebrações nem que fosse por um fim-de-semana: os preços estarão consideravelmente menos inflacionados...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Pergunto-me se...

A minha gata tem um cálculo na bexiga, como já aqui vos disse. Por isso tem estado a fazer dieta com uma ração especial que, entre outras coisas, reduz o stress, factor decisivo para a formação destas pedrinhas. Pergunto-me se dar esta ração à Lady Gatinha é o equivalente a dar-lhe um "Xanaxzito". O que sentirá a bichana? Será que vê todos os seus problemas felinos perderem importância? Será que passa a ver o púcaro da água fervida (sim, eu fervo-lhes a água) meio cheio em vez de meio vazio? Será que deixa de preocupar-se tanto com o seu futuro profissional e relaxa mais um pouco? Será que passa directamente a um mundo de unicórnios e arco-íris onde tudo é amor e poesia? Questões, questões...

Curiosidades contemporâneas

Para quem, como eu, queira perceber de onde veio afinal o Estado Islâmico, o que o mantém e como poderá ser possível combatê-lo sem ter de recorrer a mil fontes diferentes, aconselho o Courrier Internacional de Fevereiro, páginas trinta e seis a quarenta e quatro. Em quatro artigos muito claros, percebe-se a génese do Daesh e aquilo que o alimenta, mas tambem aquilo que pode fazê-lo cair. Muito interessante e, nos dias que correm, infelizmente, informação fundamental.

Caturday to read

Ora, hoje, como todos sabem, é "caturday", o melhor dia da semana. E também todos já perceberam quão desgraçado está o tempo para que grandes planos se executem. Assim, para o "caturday" que é hoje, tenho tempo reservado para amimalhar os dois "cats" cá de casa, mais o seu dono e ainda sobra tempo para ler. Leeeeeeer. E hoje chegou esta:


Isto promete! 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olhando para livros V

Lamento não conseguir cumprir os horários deste desafio, mas o dia de ontem foi surreal de tanto trabalho que tive e o de hoje foi a ressaca da desgraça de ontem. Por isso, levo aqui um atraso de dois itens que corrigirei agora. 

9. Livro hilariante

Acho que até hoje, nenhum livro me arrancou tantas gargalhadas quando este:


Um “evangelho” escrito por um suposto amigo de infância de Jesus e que, ao contrário do que possa parecer, consegue, no seu registo humorístico, funcionar como homenagem à figura histórica de Jesus. 

Todavia, há uma colecção de livros que li e reli na minha infância e adolescência que também me fez rir muito e que agora, como professora, recordo bastante amiúde:


Os diários de Adrian Mole, um rapaz inglês hipocondríaco na década de oitenta do século passado eram absolutamente brilhantes. E no meio daquela parvoíce adolescente que povoava a vida do pobre rapaz, aprendiam-se muitas coisas sobre a política da época, a sociedade e os costumes britânicos e por aí fora (nada como os Diários de um Banana desta vida que são, para mim, parentes paupérrimos do bom e velho Adrian Mole).


10. Livro perturbante

Não sei se foi o livro que mais me perturbou até hoje, mas foi este que recordei agora:


Recordei-o porque enlouqueço sempre que me sinto encurralada e é isso o que acontece ao protagonista deste livro de Kafka: esbarra constantemente num muro de burocracia e má vontade que o impedem de cumprir o desejo de falar com quem o contratou. Claro que o fruto proibido é o mais apetecido e ele continuará a tentar, a tentar, a tentar... 

Também considerei o Todos os Nomes, do Saramago, um livro muito perturbante na medida em que nos põe perante o outro e perante a possibilidade de sermos alguma coisa para alguém que não conhecemos e de sermos, ainda assim, os seres mais solitários do mundo.

Mas lembrei-me agora de outro que encaixa aqui na perfeição:


A história é inusitada: certo dia, vendo-se ao espelho, um tipo percebe que tem o nariz ligeiramente torto para um dos lados. A mulher confirma-o descontraidamente, estranhando até que o marido só agora reparasse nisso. Ora, o resultado é uma obsessão que nasce da percepção de que somos sempre olhados e julgados pelos outros e de que nunca temos verdadeiramente acesso ao que pensam sobre nós. E, de facto, é mesmo assim. Só que quando o percebemos, não fazemos disso motivo de reflexão de todos os nossos dias, ao contrário da personagem principal. Perceber que o nariz sempre fora torto, que as pessoas sempre haviam visto nele algo em que ele nunca tinha notado torna-se um choque enorme que o conduz a uma série de peripécias e de reflexões que nos recordam que todos nós, mesmo fora do livro, estamos sujeitos aos mesmos julgamentos. É um livro a não perder.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Olhando para livros IV

8. Livro comovente

Esta é difícil porque não costumo ler coisas que saiba com antecedência que vão entristecer-me. É estúpido, eu sei, mas acho sempre que já existem realidades suficientemente más para ainda querer encontrá-las nos livros. Por isso, tendo a fugir a certos livros que têm a fama de serem comoventes. No entanto, nem sempre escapo verdadeiramente a estas surpresas e no ano passado li o Stoner, um dos melhores romances que já li.

A acção tem como protagonista um professor universitário que estava fadado para uma vida na agricultura. No entanto, apaixona-se pela literatura e pelos estudos clássicos e seguirá outro rumo. Contudo, a sensação que fica é a de que ficou sempre aquém do que poderia ter sido: um grande filho, um grande professor, um grande pai, um grande marido, um grande amante. Estão a ver o "Quasi", do Sá Carneiro? É o poema ideal para este livro em que parece que este homem tão normal falha sempre a vida.

O final, a solidão do final, é do mais comovente que já li. É triste que tanta infelicidade conformada caiba na vida de alguém, mesmo que seja apenas nas páginas de um livro. A arte imita sempre a vida e é comovente perceber que também nós podemos ficar muito aquém, podemos tornar-nos "nadas" e "ninguéns". Leiam que vale bem a pena.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A dorminhoca e seus ajudantes

Sim, eu hoje trabalhei. Não, um professor não tem obrigatoriamente de ficar em casa no dia de Carnaval. Essa ideia é parva e velha. Mas adiante que a quixotada não é sobre isso.

Cheguei a casa e o tempo estava farrusco (como parece que está sempre, aliás). Deitei-me no sofá a ler o Robinson Crusoe e ali a meio de uma tempestade em alto mar, enquanto a luz solar ia desaparecendo de vez, adormeci. O sono foi leve o suficiente para aperceber-me de que o Sr. Gato saltou para as costas do sofá, onde se empoleirou, ajeitou e adormeceu também. O focinho do bichano estava tão perto da minha orelha que lhe sentia a respiração de quem está bem confortável e a dormir muito bem. 

Entretanto, na falta de uma mantinha, senti frio nas pernas. Mas estava tão bem e tão ensonada que não me levantei para ir buscá-la. Enquanto estou nesta modorra, sinto Lady Gatinha passar por cima de mim e aninhar-se nas minhas pernas. Alguns minutos depois já não sobrava frio algum e pude dormir sem esse desconforto.

E é isto. Dois gatinhos que gostam de partilhar o seu soninho comigo e que têm todo o gosto em acompanhar-me nos cada vez mais raros momentos de sorna no sofá. Somos um trio espectacular a dormir!

Olhando para livros III

7. Livro que não conseguiste acabar


O Perfume foi um livro que namorei durante muito tempo. O pouco que sabia sobre a história parecia-me interessante e, assim, lá avancei para a leitura. De facto, tiro o meu chapéu ao autor por ter conseguido colocar tão bem a sensação olfactiva num livro que anda sempre à volta deste sentido, quer seja para um aroma agradável quer seja para o maior e mais fedorento dos pivetes. No entanto, houve um momento da história em que o protagonista, um tipo nascido no meio da lama e da sujidade, mas com enorme capacidade olfactiva, se afasta e vive em completa solidão num sítio longe de tudo. Essa descrição pareceu-me eterna (e não é que eu tenha alguma coisa contra descrições longas) e repetitiva. Acabei por não ter paciência e fiz aquilo que todo o leitor que se preza detesta fazer: abandonei a leitura antes do final do livro. Não deu mesmo. Sei que houve muita gente a adorar este romance, mas para mim foi uma desilusão. Talvez um dia lhe dê uma segunda oportunidade, ou talvez não porque o que aqui não faltam são livros a pedirem atenção. Entretanto, mantenho-o à venda no meu outro blogue porque, realmente, não deixou saudades.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Olhando para livros II

6. Livro mais curto que já leste


Acho que foi este. Tem oitenta páginas e não me recordo muito bem da história, mas sei que é sobre livros e sobre casas feitas de histórias.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A angústia da escolha

Ontem acabei de ler Os Filhos do Zip Zip, de Helena Matos, e, portanto, chegou a hora de escolher um novo livro que me ocupe as vistas nos próximos dias. Ora, essa tarefa, dada a infinidade de hipóteses deixa-me no seguinte estado (sendo que a coisa nem sempre acaba assim tão bem):


Por isso, depois de namorar e ler as primeiras páginas da recém adquirida Uma História da Curiosidade, de Alberto Manguel, lá fui eu para as estantes ver o que traria comigo para a cama. Note-se que o moço desejou-me "boa noite" depois de saber que ia escolher um novo livro. Ele sabe bem a dificuldade que isso representa.

Incapaz de tomar decisões, trouxe comigo para ler antes de dormir O Papiro de César, o último álbum de Astérix. E, de facto, ainda que os responsáveis pelo texto e pelos desenhos não sejam já os originais, há quem tenha boa mão para continuar as aventuras daqueles fabulosos gauleses. O mesmo não tinha acontecido com o anterior Astérix e os Pictos que era muito, mas muito fraquinho para a qualidade a que fomos habituados. 

Todavia, um álbum de Astérix lê-se em menos de uma hora, o que quer dizer que a angústia continua. É preciso escolher um livro que responda aos seguintes requisitos: que seja bom, que seja capaz de envolver o leitor na sua acção, que não seja muito grande e, consequentemente, muito pesado, pois vai andar na minha mala até que termine a sua leitura e eu já carrego muito papel diariamente. Esperam-me momentos de grande indecisão diante das estantes.

Quanto a Os Filhos do Zip Zip, é um livro engraçado para conhecer alguns aspectos do quotidiano da época marcelista (não a de agora, a do século XX...), mas paramos por aí. Tendo em conta que a autora foi consultora para a componente histórica da série Conta-me Como Foi, esperava mais pormenores do quotidiano, do dia-a-dia das pessoas, das marcas usadas, das publicidades feitas para as coisas de uso comum, das curiosidades sobre a vida num tempo que parece já tão longe do nosso, dos hábitos, dos vícios... No início é disso que fala o livro, mas o final já é mais um livro de História que se apressa em contar as batalhas políticas de Marcello Caetano e a cavalgada até ao 25 de Abril. Para quem viu a série portuguesa (eu devorei-a, mas prefiro o original espanhol que, aliás, não se deixou ficar pelo fim da ditadura e mostrou a continuação das suas personagens depois de Franco, indo já na representação da década de oitenta), e gostou de ver como viviam as pessoas naqueles tempos, apetece mais. O que se comia? O que se vestia? Como se entretinham os mais novos? O que era a escola e como funcionava? Quais eram os preços das coisas? Enfim, miudezas (ou não tanto assim) que a curiosidade queria ver esclarecidas. Mas, tirando aquele final em que tudo parece acelerar para o dia em que os militares conseguem a ansiada liberdade, é um livro que entretém, que ensina alguma coisa. O que não ensina, certamente, é a escrever porque tem cada vírgula tão mal colocada e cada expressão mais esquisita... 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Em busca de lugar na estante II


Uma pessoa vai ao cinema ao centro comercial, dá um pulo à livraria que hoje fazia 20% de desconto nos livros e aumenta gravemente o problema da falta de espaço nas prateleiras. E ainda consegue estourar os últimos vales recebidos no Natal (como viverei no resto do ano?!). Comigo veio a novela picaresca citada no Quixote, O Lazarilho de Tormes. Já a tinha em espanhol, mas a tradução vem bem a calhar já que se trata de espanhol de há uns quantos séculos. Veio também Uma História da Curiosidade, de Alberto Manguel (mais um livro espectacular da Tinta da China, mas também um pouco caro...) e A Viagem dos Inocentes, de Mark Twain e publicado pela mesma editora na sua colecção de livros de viagens. Três belos livros, portanto. 

De caminho, fui ver O Caso Spotlight e gostei muito do filme. A acção tem que ver com uma investigação jornalística que revelou inúmeros casos de abusos sexuais infantis por parte de membros do clero em Boston. Mas o filme mostra que aquela investigação foi só o início da revelação de um problema imenso e inimaginável. Vale bem a pena passar aquele tempo no cinema, pois ficamos irremediavelmente agarrados à história, à corrida contra o tempo e contra as pressões que tema tão delicado e chocante sempre suscitam.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Um bico d’obra, sem dúvida!

Se estes meus dias (ou meses, ou anos...) tivessem uma banda sonora, seria indubitavelmente esta. A letra adequa-se e o ritmo anima que é o que se quer perante o bico de obra que é a vida de um professor nesta época.


Carências felinas

O Sr. Gato hoje deve estar com uma carência afectiva qualquer. Desde que acordou (cinco e onze da manhã) que não pára de trazer-me presentes: um pacote de bolachas vazio ao qual demos um nó e que ele adora por fazer barulho. Traz-me o presente, espera pelas festinhas e que se brinque um bocadinho com ele e vinte minutos depois, já noutro ponto da casa, recebo novamente o mesmo presente e repito o ritual. 

O Sr. Gato é um gatarrão. O seu tamanho e aspecto impõem respeito e admiração. Ainda assim é um bebé peludo que não perde a oportunidade de mimar a sua ‘mamã’ felina. É só tamanho mesmo.


Notinha: Felizmente recebo pacotes de bolachas vazios e não ratos e esquilos mortos... Obrigada, Sr. Gato! Ah, a imagem saiu daqui.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Olhando para livros...

Tomei conhecimento pelo blogue Stone Art Books de um desafio em que se fala de livros. Levantei logo a orelha. Ora, a ideia era a de que a partir do dia 1 de Fevereiro se respondesse a um tópico por dia, às três horas da tarde, sendo todos eles relacionados com livros e leituras. 

Depois de, num comentário, ter considerado o desafio interessante, a autora do referido blogue tentou-me a participar nele também. Mas como não consigo publicar todos os dias, não consigo seguir o ritmo previsto para as publicações. Por exemplo, neste momento levo quatro em atraso. Vou, por isso, tentar tratar dos primeiros quatro tópicos já nesta quixotada. Perdoem-me as inventoras do desafio, mas não consigo mesmo fazê-lo de outro modo. Ora, assim sendo e como se pode, cá vai:

1. Top 5 dos livros lidos: É sempre difícil escolher APENAS cinco livros quando já se leram tantos e alguns deles tão, mas tão bons. No entanto, parece-me possível chegar a esses tais cinco que são, até hoje, os que me ficam na memória como OS livros, as histórias que movem o mundo da literatura e que têm de ser lidas pelo menos uma vez antes de morrer. O primeiro é fácil: Dom Quixote de la Mancha. Já aqui falei tanto do livro que inspirou o nome deste blogue que nem vale a pena alongar-me. Resta dizer que ainda agora o estou a reler, desta vez em edição crítica e no original espanhol. Está a ser uma experiência fabulosa. É cliché, eu sei, mas no Quixote está tudo. A vida inteira, a Humanidade, os valores de sempre e para sempre couberam naquele livro. Passar uma vida inteira sem conhecê-lo é deixar passar a oportunidade de ler as melhores páginas alguma vez escritas.

Depois David Copperfield, de Charles Dickens. Antes de o ler pensei que não gostaria nada de ler descrições de cenas de pancadaria sobre uma criança, mas o livro é muito mais do que isso e, por incrível que pareça, o narrador até consegue narrar os seus infortúnios com uma pitada de humor. A história, muito parecida com a do próprio Dickens, é um retrato de uma certa Inglaterra e oscila entre o doloroso e o delicioso. Há personagens com as quais criamos óbvia e imediata empatia e outras que são demasiado asquerosas, mas que, por isso mesmo, se revelam muitíssimo bem construídas.

Em terceiro lugar, talvez fique o livro Todos os Nomes, de José Saramago, um romance maravilhoso sobre o anonimato, sobre a solidão, sobre o que somos para os outros, mesmo para aqueles cuja existência desconhecemos. Este livro é, para mim, a prova de que Saramago era o melhor do seu tempo e um escritor inigualável no nosso país. É um motivo de orgulho e merecedor de todas as leituras e releituras possíveis.

Em quarto lugar, talvez o livro Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo. Um livro tão doce e ao mesmo tempo tão capaz de revolver o estômago. Tenho um fraquinho pela literatura brasileira e este autor é um dos que, para mim, escreveu as mais bonitas linhas em português do outro lado do Atlântico.

Por fim, e só podendo escolher mais um, Os Maias, por ter sido um dos poucos livros capaz de tirar-me o sono. NOs Maias, a parte que mais me agrada nem sequer é a do enredo amoroso, mas sim a da vida social, das soirées, as discussões sobre política e sobre finanças, as tentativas pitorescas de organizar em Portugal eventos correntes noutros países europeus, resultando tudo geralmente numa enorme bodegueira. 

2. Livro detestado: Agora atirem-me com tomates podres, cubram-me com toda a vergonha do mundo, mas o livro que mais odiei e mais me custou a ler foi mesmo a Eneida, de Vergílio. Senhores, cada página era uma dor nova que me dava. Gostei muito da Odisseia, gostei da Ilíada, amo Os Lusíadas, mas a Eneida é apenas tortura para mim. Depois de perceber as interpretações de cada coisa, até admiti que o autor tinha sido um génio. Ainda assim, recordo essa leitura como a mais violentamente dolorosa desde que me tenho por leitora.

3. Livro que leste mais vezes: Empate técnico entre Dom Quixote de la Mancha e Harry Potter e a Pedra Filosofal.

4. Livro que te desiludiu: Os Pilares da Terra foi uma tremenda desilusão. Ouvi falar tanto naquele romance histórico, diziam-se maravilhas e afinal foi do mais reles que já li. É demasiado previsível para ser verdade. E é demasiado inverosímil. Não sei se o autor é sempre assim porque não voltei a ler nada dele, mas fiquei com a sensação de que quis colocar “cérebro de século XX” em personagens do período medieval. E depois, repito, aquilo era previsível página a página. Nem sequer li o Mundo Sem Fim, precisamente por esperar mais da mesma estopada.

E, antecipando a resposta de amanhã,

5. O livro mais longo que já leste: Penso que foi o Quixote numa edição com novecentas e tal páginas. Valeu bem a pena.