segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Quixotadas curtas V

Ora cá vai mais uma fornada de pequenos desabafos de que me fui lembrando.

- Já repararam que quando estamos a colocar a nossa password para qualquer coisa no teclado do computador e a mesma dá erro, há sempre um momento em que, de irritados que estamos, começamos a escrever os caracteres mais lentamente e com uma martelada mais forte em cada tecla? Assim um bocadinho como se o computador fosse burro e nós quiséssemos mostrar-lhe isso. Tal e qual como quando algumas pessoas falam com estrangeiros aos gritos e muito devagar. Devem achar que com os decibéis elevados os outros passam a perceber línguas que não conhecem. Do mesmo modo, o computador perceberá melhor a palavra passe se lhe rebentarmos com duas ou três teclas e a paciência de quem está ao nosso redor.

- Lembram-se de dizer-vos que se Deus quisesse mais uma praga bíblica para o Egipto poderia atacar a roupa dos faraós com pêlo de gato? Bom, tenho outra: se o pêlo felino não resultasse, podia sempre fazer uma maratona non stop de kizomba nos altifalantes do sítio (anacronismo à parte). É que agora ouve-se kizomba em todo o lado e a toda a hora e acabo por sentir que aquele tipo de música é mesmo uma praga que nos arruina parte do cérebro. Mas melhor que tudo são os erros gramaticais que algumas letras (como esta) têm. Uma praga digna do Egipto em tempos de Moisés!

- Se há coisa de que vou ter saudades é mesmo das esplanadas de Viana. Oh terra boa para "esplanadar"! A foto babona que vos deixo é do "gelado gourmet" da esplanada Fontinha, em Viana, junto ao Jardim da Marginal. O brownie vem quentinho, o gelado é bom e numa noite quente (ou não) cai que nem uma luvinha. A Somersby, a bebida cá de casa neste Verão, também sabia lindamente. Estas coisas são mesmo aquelas que mais deixam saudades. No próximo ano haverá mais.


Ps.: Só mais uma: esta coisa de todos os blogues passarem a vida a falar de corridas e de roupa desportiva para lá de espectaculares e tentando convencer o mundo a render-se às delícias de maratonas e de meias maratonas já começa a enjoar. Acho muito bem que pratiquem desporto e que alguns desses blogues façam uso da influência que têm para motivar os seguidores a fazê-lo também, mas quase reduzir o seu conteúdo a corridas por aqui, por ali, a esta hora, à outra hora, com esta roupa, com aqueles ténis maravilhosos, com os outros mais recentes, com este top, com aquela fita no cabelo... parece-me altamente cansativo para todos os que gostam de seguir o que aquelas pessoas escrevem, apreciem praticar desporto ou não. Enfim, talvez seja só eu a já não ter paciência para esta loucura toda que por vezes já parece ter o seu quê de seita enjoativa.

domingo, 30 de agosto de 2015

A História Secreta - o balanço


Durante as férias li este livro de Donna Tartt que, embora tenha sido publicado recentemente pela Presença, foi escrito antes do famoso O Pintassilgo. A história envolve seis amigos universitários e dois homicídios, sendo que um leva a que o outro aconteça. O segredo dos crimes ficará nas mãos desta meia dúzia de pessoas que tem a uni-los o facto de todos frequentarem as mesmas aulas de Grego com um excêntrico docente que escolhe criteriosamente os poucos alunos que aceita ensinar.

Assistimos ao longo da narrativa ao conhecimento das personagens, ao crime e às dificuldades que cada um terá para lidar com o que sabe. O leitor percebe que a história partilhada que une aquela meia dúzia de pessoas minará também as suas relações e que o futuro promissor da maior parte deles (já de si meninos endinheirados que podiam fazer o que quisessem da vida) ficará comprometido devido a esta história secreta nascida de escolhas pouco consensuais.

Se há livro ao qual ficamos irremediavelmente agarrados, será este. Por um lado parece um policial, mas não me parece que chegue a sê-lo. É mais uma história sobre seres humanos e a forma como reagem ao remorso, à pressão e à desconfiança. Sim: é que se no início do texto parece que cinco das personagens estão unidas por inabaláveis laços de confiança, haverá um momento em que o facto de um segredo muitíssimo importante ser do conhecimento de vários elementos levantará a semente da discórdia. Um começa a pensar que o outro o quer prejudicar e, como em tudo o que envolve homens e mulheres, torna-se impossível para as personagens conseguirem ter a certeza de que os amigos estão a ser verdadeiramente honestos, revela-se extremamente difícil acreditar em tudo o que dizem e não fazer leituras próprias do que fazem. Por isso a tensão vai crescendo até ao momento final em que alguma solução, por mais desesperada que seja, terá de surgir. É, por isso, um livro excelente para dias de ócio em que temos várias horas pela frente para dedicar a este mistério, ao professor de Grego que encontra grande beleza na morte e às personagens que parecem estar fadadas a uma decadência que contraria o berço de ouro e as oportunidades que lhes foram dadas.

Mas, e infelizmente este "mas" começa a fazer sentido para demasiados livros, a quantidade de gralhas que a Presença deixou passar é de pôr os cabelos em pé. É lamentável o pouco cuidado que hoje existe com a revisão de texto, como se fosse algo pouco importante em que não vale a pena gastar tempo e tostões. Contudo, e mesmo que assim não fosse, estamos a falar de um volume que é vendido por mais de vinte euros e que consegue apresentar-nos advérbios terminados em "-mente" (que há décadas que não se acentuam) com um terrível acento agudo. Há letras trocadas, há letras em falta, há erros de translineação... Enfim, o que vale é que o texto é, de facto, muitíssimo cativante, pois se assim não fosse, pela pobreza do tratamento dado à revisão, o livro seria largado em três tempos.

De volta

Depois de uma pausazinha de alguns dias, regresso ao blogue. A ver se antes de regressar ao trabalho consigo falar-vos dos meus dias de descanso. De qualquer forma, tenho de dizer que foram mesmo dias para descansar, sem correrias, sem aquela azáfama de correr para todo o lado para ver e sentir tudo. Pelo contrário: foram dias muito calmos, ainda que parte deles tenham decorrido em plena Romaria da Senhora da Agonia. Sim, regressei a Viana. Em equipa que ganha não se mexe e como se diz sobre a cidade "Quem gosta vem, quem ama fica". Ainda não dá para ficar, mas vai dando para ir e para adorar tudo, como sempre. Este ano até deu para provar as famosas bolas de berlim do Natário. Sim, porque embora vá a Viana quase todos os anos, nunca tinha ido para a fila para comprar aquele doce. Bom, este ano a coisa deu-se e de facto são muuuuuito boas. Apesar de terem canela (algo que não aprecio particularmente), são um petisco.


Mas como vos disse, espero ainda ter tempo para falar mais um bocadinho destes dias minhotos que foram muito bons. Se já não me for possível, vemo-nos no regresso ao trabalho.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Identidade a prazo

Hoje de manhã aproveitei para procurar no Facebook uma moça conhecida. Tinha a certeza do nome dela e procurei, procurei, procurei. Não me aparecia ninguém que correspondesse às suas características. Quando ia desistir, lembrei-me de que a dita moça casou no ano passado. Depois de um esforço mental considerável, lembrei-me do apelido do marido e pesquisei o nome próprio da moça mais o sobrenome do queridíssimo cônjuge. Et voilà! Lá me aparecia a menina que durante mais de duas dezenas de anos teve um nome e que agora tem outro.

A minha veia de estrumpfe zangado veio logo à tona porque se há coisa que não percebo é esta maluqueira de se adoptar os apelidos dos maridos. Além de considerar que é pindérico e bimbo até à exaustão, é mais uma maneira que existe de tornar as esposas numa propriedade do marido. Devido ao número considerável de moças que alteram os nomes quando casam, deduzo que muita gente terá uma opinião diferente da minha. Ainda assim não consigo perceber por que motivo alguém, ali ao fim de um terçozito de vida, resolve subterrar o nome da família em que nasceu sob o apelido da família em que nasceu o marido. Costumo dizer que nunca na minha vida taparia o nome do meu pai com o de qualquer outra família que não aquela que me viu nascer e crescer. Ah e tal, mas é o nome da pessoa com quem casarás e passarás o resto da vida blá blá blá... Pois: é o nome da família paterna dele e antes de ele existir na minha vida, eu tinha um pai, uma origem e não deixei de tê-la por casar. Com o devido respeito pelos pais e famílias dos moços deste mundo: as meninas, quando casam, não deixam de ser quem sempre foram e essa ideia de que passam das mãos dos pais para as mãos dos maridos é tão velha e podre que cheira mal. As mulheres, quando casam, levam uma identidade sua e ainda que no Cartão do Cidadão ou noutros documentos um ou outro aspecto mudem ao longo da vida, o nome, aquilo que nos designa, que é tão nosso, não devia mudar ao fim de duas ou três ou até mais décadas de existência apenas porque existe um casamento. O nome, aquele conjunto de palavrinhas que nos fará virar a cabeça sempre que, ao longo da nossa vida, o ouvirmos é nosso, faz parte da nossa história. Se o primeiro nome é aquele que a família nos escolhe (parecendo às vezes que fumou uns charros valentes antes de o fazer), os apelidos são história nossa. Vivemos num país onde o nome da mãe antecede o do pai e é por este último que seremos tratados ao longo da vida. Ou depende: eu continuarei a ouvi-lo até ao finzinho dos meus dias, enquanto outras mulheres olvidarão um pouco esse nome e distinguirão o do marido. Não concebo tal coisa, soa-me (por muito dramático que possa parecer) a uma traição a nós mesmos e à família que nos deu o nome. Se durante trinta anos me chamei Fulana X, por que motivo devo passar a chamar-me Fulana X Y, sendo Y o nome da família paterna do meu marido? Deixei de ter pai ao casar? Não, portanto não há cá mudanças nenhumas que isto da identidade não tem prazos como os iogurtes. 

Mocinhas casadoiras, vale o que vale o que vou dizer, mas deixai-vos destas tretas que além de ser lixado encontrar-vos nas redes sociais, é coisa que já não se usa. Não sois mercadoria que transacciona de pai para marido por isso deixai estar o apelidozinho, por feio que seja. Além de que se calha haver um divórcio, é uma chatice voltar ao nome original. E atentem no que digo, que tive uma professora universitária a quem isso aconteceu e quem se lixava eram os alunos que não acompanhavam estas mudanças nominais e acabavam sempre a trocar o apelido a alguém que só queria esquecer o marido e o maldito nome dele, pelo qual teve o azar de ficar conhecida...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Novas leituras

Novas leituras de férias envolvem este tipo aqui. Que bela vida!


Fim do Mundo

Será que tenho de ir mesmo a Espanha para conseguir arranjar um exemplar em papel desta revista? Por vezes sinto que estou no fim do mundo onde só há lugar para revistas cor-de-rosa ou de culinária.

Deus me livre!

No dia em que eu disser que quero ter um pau de selfie, internem-me. Mas internem-me mesmo! Há lá objecto mais estúpido do que esse? Olhem que uma pessoa abrir a mala e tirar de lá um desdobrável de metal para tirar fotografias de si próprio é qualquer coisa para a qual nem consigo arranjar adjectivos. Pau de selfie... Valha-me Deus!

Um negócio

Como sabem, sou a rainha das revistas atrasadas. Assim sendo, só esta manhã consegui ler o texto que foi uma das razões pelas quais comprei a revista Sábado da semana de 2 a 8 de Julho, em cuja capa figurava Maria Barroso e Mário Soares. Mas nessa mesma capa, prometia-se um artigo sobre o "Fenómeno Chiado Editora - Em 7 anos passou de empregado do Ikea a patrão e dono de um Ferrari". Postas as coisas nestes termos, comprei a revista.

Já ouvi falar na Chiado Editora (tendo frequentado um Mestrado em Edição, era difícil não ouvir...) e nunca tive muito boa opinião sobre ela. Para quem não sabe, é uma editora que funciona com edições pequenas das quais uma parte é paga pelo autor. Segundo o que é explicado na Sábado, o autor envia o manuscrito para a Chiado, este é aceite ou não, mas seja como for o autor é contactado num prazo máximo de dez dias com a resposta da casa editorial. No caso de haver interesse para a publicação, ser-lhe-á feita uma proposta. Por exemplo, um dos casos referidos pela revista é de um  jovem que começou a escrever aos onze anos e que enviou um manuscrito para a Chiado Editora. Segundo a Sábado, "A resposta chegou poucos dias depois: uma edição de quinhentos exemplares, ficando o autor obrigado a comprar 150 (a 11 euros cada). Investimento total: 1650 euros pagos pelos pais.".

Portanto, ao contrário da maioria das outras editoras (que pagam para publicar), a Chiado parece ser paga para editar os livros de quem quiser mesmo ter exemplares à venda. Tendo em consideração a tareia que o mercado editorial tem sofrido nos últimos anos (é óbvio que com a crise, a venda de livros decresceu), a escolha das obras a publicar está muito mais apertada e acaba por assentar sobretudo em autores que já se sabe que venderão. Torna-se assim muito complicado para alguém que queira ver publicado o seu primeiro livro ser escolhido por uma editora. Alguns eventos como o Prémio Leya e outros que tais lá vão abrindo portas a um ou outro nome, mas, como é fácil de imaginar, a quantidade de pessoas que têm manuscritos que gostariam de ver publicados supera em muito a quantidade de autores "de primeira água" que consegue, de facto, ser aceite por uma editora. Assim, a Chiado opera a outro nível, cumprindo o sonho daqueles que querem os seus escritos em livro, à venda nas livrarias, com direito a ISBN, a apresentações públicas, enfim, o pacote completo. Mas para isso, na maioria dos casos, parece que é preciso pagar.

Ora, isto levanta a questão da qualidade. Se eu pago para publicar o meu livro porque há uma editora que o aceita nesses moldes, será que ele é mesmo digno de publicação ou não? Embora não me agrade o método utilizado pela Chiado, até acredito que no meio de tantos autores alguns tenham mesmo talento. O problema, e agora falo como leitora e compradora assídua de livros, é que não há muitos livros que se destaquem e tudo me parece uma amálgama de títulos. Bom, admitamos que algumas editoras que funcionam da outra forma também publicam romances cor-de-rosa tão ao monte que me pergunto como é que os leitores conseguem, antes de ler, seleccionar os que vale a pena comprar e os que devem ficar na prateleira. Nestes casos, lá está, o nome do autor deve funcionar como peneira e ajudar na escolha. Mas e quando aparecem aqueles autores estrangeiros novos? Os leitores só poderão ir por tentativa e erro, parece-me. Ora, com a Chiado, dado o facto de, por exemplo, só no ano passado ter publicado mais de mil livros, parece-me difícil distinguir o que vale a pena daquilo que mais não deve ter sido mais do que uma vontade enorme de ter o nome numa capa.

Na Feira do Livro de Lisboa deste ano, a Chiado Editora teve vários pavilhões carregadinhos de livros. À entrada tinha um caixote onde sugeriam a possíveis autores que ali deixassem o seu manuscrito. Diga-se que, enquanto ideia de negócio, é genial. Mas a todos os que vêem o mundo do livro de outra forma não deixa de fazer alguma confusão. Se financeiramente resulta, bom para a editora. A mim não me convence e, portanto, a consequência é que não compro livros desta editora. Uma vez mais: poderão existir bons livros a passar-me ao lado devido a esta minha maneira de entender a coisa, mas não conseguirão convencer-me. Aliás, a Sábado também refere o caso de um autor que escreveu um livro a partir da volta ao mundo que resolveu fazer em determinado momento da sua vida. Falou com editoras e recebeu, por parte da Chiado, uma resposta semelhante àquela que acima citei: publicariam quinhentos exemplares com o preço de onze euros cada e o autor teria obrigatoriamente de adquirir cento e cinquenta, custando dez euros cada um. O que o levou a recusar foi, em parte, o facto de não haver um comentário sobre o livro que enviou, a não ser a expressão "reconhecemos na sua obra potencial editorial". Para um autor que deseje uma crítica, ainda que breve, ao que escreveu, no sentido de perceber os seus pontos fracos e os pontos fortes, esta resposta não serve. A Sábado conta que a proposta feita neste caso em particular foi reformulada, mas que o autor recusou novamente.

No âmbito do Mestrado em Edição que frequentei, o caso da Chiado Editora era visto pelos professores com um misto de desdém e de caso de estudo. Se por um lado o mercado editorial está tão mau que precisa de ar fresco, por outro esta possibilidade de tudo poder ser publicado, basta para isso que a editora queira e que o autor pague pode desvirtuar muito o mundo do livro, particularmente numa altura em que ele não precisa de mais nada que o abale. A Chiado é um fenómeno (mesmo no marketing, sendo a sua página no facebook uma das que tem mais seguidores em Portugal, muito devido às frases inspiradoras que publica diariamente e que são partilhadas até à exaustão pelos internautas) no que isso tem de bom e de mau. Se permite que muitos vejam em livro aquilo que outras editoras não aceitaram, a verdade é que ao colocar tudo no mesmo saco corre o risco de ganhar uma fama pouco simpática de editora que não prima pela qualidade do catálogo, mas pela quantidade presente no mesmo. Cada um terá a sua opinião sobre o tema, mas a minha é mesmo a de que o trabalho de uma editora é em boa parte o de selecção e de melhoramento daquilo que depois poderemos adquirir nas livrarias. Nem tudo o que é publicado é bom, longe disso, porém existe alguma lógica para a sua publicação (ou porque, de alguma forma, se adequa ao catálogo, ou porque há um público específico para aquele tipo de livro...). Posso não apreciar tudo o que sai, aliás, todos sabem o que penso dos bestsellers, dos livros de auto-ajuda, da literatura cor-de-rosa, mas ainda aprecio menos a ideia de que pagando, tudo poderá ser livro (ainda que não acredite que a editora aceite tudo o que lhe chega, senão publicaria certamente muito mais de mil livros). Edições de autor sempre existiram, mas eram poucas: não existiam assim tantos autores a poder e querer pagar para ter um livro publicado, até porque sem marketing, sem uma casa editorial por trás seria difícil vender os exemplares. A Chiado veio, assim, mudar as regras do jogo e tornar mais fácil e apetecível a publicação por parte de quem não conseguiu a aceitação de outras editoras (ou que nem tentou). Não tendo veia de escritora, não sei o que se sente tendo um livro para publicar e vendo ser fechadas as portas das casas que podem tornar o sonho realidade. Mas valerá a pena pagar para ter o texto vertido em livro? Não me parece... Do ponto de vista da editora, o negócio parece dar lucro. Do ponto de vista dos autores, não sei.

E ainda a propósito de tudo isto, há umas duas semanas a minha mãe ligou-me. Disse-me que agora, às quartas e às sextas, vendiam livros no mercado aqui da zona. Fui ver para crer e lá estava uma banca no mercado, com livros a monte e pregões muito, muito barulhentos que anunciavam livros a dois euros. Eram quase todos da Chiado Editora.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O cúmulo

Descobri o cúmulo da parvoíce no outro dia. Acho que todos vocês devem ter ouvido qualquer coisa sobre a decisão judicial de impedir uns pais de publicarem na internet fotografias da filha. Ora bem, numa página de facebook com que me cruzei, uns génios da lâmpada publicaram um suposto aviso das autoridades para que os pais evitem colocar fotos dos filhos menores de idade nas redes sociais. Até aqui tudo bem e tudo continuaria bem se, um pouco mais abaixo na página, os mesmos génios da lâmpada não tivessem publicado fotos do filho... em fato de banho.

Tirando uma paragem cerebral das fortes, o que pode justificar isto? Além de achar que não é preciso tribunal nenhum vir proibir aquilo que, logo desde o início, devia fazer parte do bom senso dos pais deste mundo, que moral tem esta gente para espalhar uma mensagem que nitidamente não cumpre?

Se calhar sou um bocadinho suspeita nestas minhas opiniões já que a minha relação com as redes sociais é um pouco estranha. Há uns dias lia um artigo em que alguns psicólogos afirmavam que um casal que não é amigo no facebook tem algo de errado. Pois bem, eu não sou amiga do meu moço no facebook e levamos a vidinha juntos há uma década e uns picos. São escolhas: se fazemos parte da vida um do outro em praticamente tudo, que mal tem ter aquele cantinho só nosso? Estamos condenados só por isso? Não acho nada e até acredito que, talvez, se fôssemos amigos nas redes sociais, teríamos um ou outro arrufo que assim não temos.

Também não tenho no meu facebook ninguém, mas mesmo NINGUÉM, relacionado com a minha vida profissional. Já fui gozada por isso e não quis saber. Assobiei para o alto e continuei assim, exactamente como estive sempre. O princípio é o mesmo: se passo tantas horas por dia com aquelas pessoas, se ao vivo partilhamos tantas coisas, por que motivo também tenho de partilhar com elas aquilo que nada tem que ver com a minha profissão e que se prende muito mais com os (poucos) momentos de lazer que tenho? Ninguém me compreende, mas no mesmo artigo que aqui referi, um dos testemunhos abordados era tirado a papel químico do meu: na rede social, nem o cônjuge, nem os meus colegas de trabalho.

Relativamente a fotografias, minhas há pouquíssimas no facebook. E qualquer fotografia que me pareça mais reveladora nem sequer no blogue aparece. Para quem nunca reparou, até os gatos aparecem meio escondidinhos. Se sou assim com eles, imaginem quando tiver filhos? 

Não compreendo hoje, como nunca antes consegui compreender, esta fixação pela imagem, esta necessidade de mostrar o que se faz ao longo do dia. Conheço alguns casos em que a tara é de tal forma evidente que soa a doença, a narcisismo, a vontade de aparecer e de ser apreciado. Mas, enfim, quando publicam fotografias de si mesmos, ainda vai. Agora, publicar sem autorização as de outros ou, muitíssimo pior, publicar fotografias de crianças parece-me francamente reles. Assim como me parece absolutamente idiota a onda de indignação devido à decisão do tribunal. Muitos disseram que os pais é que sabem o que fazer em relação aos filhos, que o tribunal não tem nada que ver com isso... Deveria ser verdade se existisse bom senso, mas não existe (recordem o que vos disse: alguém publica um conselho das autoridades sobre a não publicação de fotografias dos filhos e umas publicações abaixo esta mesma pessoa tem o filho em calções). E sejamos honestos: a quem interessam essas fotografias publicadas senão aos mesmos que as publicam? Querem partilhá-las com a família? Façam como faziam os meus pais nos anos oitenta e noventa: façam um álbum (físico) e mostrem-no a quem quiserem. Agora, na internet, independentemente dos cuidados todos que tenham, independentemente de só terem adicionadas nas redes sociais pessoas que conhecem de facto, uma coisa devem ter sempre presente na memória: uma vez online, para sempre online. Em que mãos e sob que olhos é que não sabemos.

sábado, 8 de agosto de 2015

1500

Ena pá! Já escrevi mil e quinhentas quixotadas (quer dizer, com esta já escrevi mil quinhentas e uma). Bolas... Que tenho eu tanto para dizer?!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A papelaria

Desde que me lembro, existiu no fundo da rua dos meus pais uma papelaria pequenita, mas onde parecia haver de tudo. Ainda cheguei a comprar por lá alguns cadernos de capa azul e argolas brancas para remediar o fim súbito do caderno quadriculado de Matemática. Também ainda tenho os lápis de cera que a minha mãe me comprou lá algures no meu segundo ciclo. Permanecem impecáveis e, pelo que sei, a minha sobrinha vai-lhes dando uso. De lá saíram muitas folhas de papel de embrulho, vendidas avulso e tiradas cuidadosamente de um escaparate em frente ao qual eu passava algum tempo a escolhê-las. De lá saiu, também, o meu primeiro porta-moedas: vermelho aos corações, na moda do iniciozinho dos anos 90, como se queria. Sobre o balcão costumavam estar as revistas e, enquanto a minha mãe registava o Totoloto (mais tarde o Euromilhões), eu namorava-as todas e namorava também as ofertas que elas traziam. Ao lado do balcão costumava estar um escaparate giratório onde se encontravam as bandas desenhadas e as revistas de cruzadas e enigmas de que tanto gostava. Muitos livros do Donald, da Turma da Mônica e mesmo revistas da Barbie ou da Rua Sésamo sairam de lá. Assim como umas quantas saquetas de cromos para colecções que invariavelmente deixava por terminar.

Dessa papelaria pequenita saiu o meu primeiro livro de Mário Vargas Llosa, A Tia Júlia e o Escrevedor, em edição promovida por uma revista qualquer. Nem sei que idade teria, mas tanto o cobicei na montra que a minha mãe acabou por comprar-mo. Foi, talvez, um dos meus primeiros passos na literatura a sério.

Depois chegou a altura em que o Jornal de Notícias lançou uma colecção de clássicos que saíam semanalmente a 6.95€ com o jornal. O primeiro volume era gratuito e intitulava-se Dom Quixote de la Mancha. Foi nessa edição pejada de gralhas que li aquele que se tornou desde esse primeiro encontro no meu livro favorito. Semana após semana, a senhora da papelaria guardava-me os livros. Mesmo em férias, guardou-mos religiosamente. Aliás, guardou essa colecção e outras que se seguiram e que também fiz. Guardava-me um jornal quando lho pedia, trocava-me as moedinhas em notas que a ela davam-lhe jeito as moedas para os trocos. Enfim, chegou a dar-me livros que lhe iam ficando dos tais brindes que vinham com jornais e revistas. Encomendou-me livros que não consegui comprar quando saíram com o jornal... Era muito porreira.

Essa papelaria deixou de existir no ano passado. Anteriormente havia passado por um processo de modernização que estragou mais do que beneficiou. Depois passou a estar ao balcão um namorado da senhora que era muito antipático. Lembro-me de lhe ter pedido para me guardar um jornal no dia seguinte e quase tive de deixar-lhe o Cartão de Cidadão e um comprovativo de morada. A confiança que sempre havia tido (e que a senhora da papelaria tinha tido em mim) morria com aquela fraca aquisição. Daí para a frente o declínio foi ficando mais óbvio, a loja cada vez mais vazia, a senhora cada vez mais ausente devido à doença dos pais que a obrigava a dedicar-lhes toda a atenção... Até que fechou de vez e, inevitavelmente, apareceu na porta a dizer "Arrenda-se". Depois de vinte e oito anos a conviver com aquela pequena loja e a encontrar lá de tudo (até a revista Ler quando parecia que todos tinham medo de não a vender), desaparecia um dos espaços comerciais mais conhecidos e acarinhados da zona.

Agora se quero uma revista que não aquelas mais óbvias (Sábado, Visão, revistas de culinária, revistas cor-de-rosa...) tenho de ir a um centro comercial porque aquilo que aqui nos sobrou vende o básico dos básicos. Só vendem aquilo que sabem de antemão que será comprado. National Geographic - Historia? Havia de ser verdade. Historia y Vida? Sim sim... Revista Ler? Nos meus sonhos mais estranhos apenas. Até para comprar a Visão História é preciso esperar séculos até que a desgraçada cá chegue!

Na papelaria antiga as coisas não eram assim. Era uma loja de bairro, era comércio tradicional, mas fazia ver a muitas lojas maiores. Vendendo mais do que jornais e revistas, conseguia, ainda assim, ter variedade. E conseguiu, durante muitos anos, ter a simpatia e o cuidado que se querem nestas lojas de proximidade. No momento em que faltou a simpatia e a confiança, começámos a contar os dias para o fecho das portas e, de facto, assim foi. Mas não deixo de ter pena de que estas lojas se percam. Para muitos podem não ser importantes, mas para outros sê-lo-ão, com certeza. Não deixo de olhar para a porta da antiga papelaria e de me surpreender pelo facto de já lá não estarem jornais e revistas. Agora não está lá nada e a zona ficou, parece-me, muito mais pobre e aborrecida.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Contemplando 'felinamente' boa literatura

Eis o felino contemplando algumas prateleiras em busca do livro ideal. Acho que acabou por escolher um Nabokov, embora o Stephen Zweig também lhe tenha piscado um olhinho. O Ovídio e o Camus ficarão para outra altura. Agora o que importa mesmo é deitar a pata a um bom livro...


Diário de uma manhã de férias sem ele (que ainda está a trabalhar)

5h - dois gatos dormem sossegados aos pés da cama.

5:40h - os dois gatos mantêm-se no fundo da cama, mas devido ao fresquinho da madrugada, mudaram-se para um lugar mais quente: em cima dos meus pés. Não consigo mexê-los.

6:20h: os dois felinos tomaram oficialmente posse do espaço reservado aos meus pés. Durmo quase na diagonal, com os pés fora do colchão. Gatos parecem dormir bem.

6:45h: um par de gatos pega-se à porrada (a forma de brincarem um com o outro assemelha-se muito a uma monumental sova) no fundo da cama, dando miadelas danadas e abanando o colchão.

7h: dois gatos param com a luta e resolvem acordar-me para servir os respectivos pequenos-almoços.

7:10h: perante miados insistentes, levanto-me estremunhada e vou encher comedouros. Ração de bebé para um, ração de adulto para outro. Pelo meio tropeço uma vez e torno a desabar na cama.

7:30h: não tenho posição para estar. Vejo as capas dos jornais de hoje, visito o facebook, jogo uma espécie de Scrabble no tablet.

7:50h: o gato maior regressa ao fundo da cama. O tablet dá-me sono. Adormecemos os dois (eu e o gato, claro).

10:20h: saio da cama. O gato saiu uns minutos antes para um segundo pequeno almoço. Sirvo a segunda dose à gata que faz hoje quatro meses. 

10:30h: ainda antes do pequeno-almoço, limpo caixas de areia.

11h: separo os gatos que se encontram envolvidos em mais uma luta brincadeira das deles.

11:30h: tiro uma bolinha de dentro de um dos bebedouros. Parece que a gatinha gosta de pólo aquático...

12h: gatinha brinca, gato grande assiste. Posso ler uma revista. 

12:30h: Concluo, pelos disparates que a gata faz (sendo que alguns envolvem as minhas estantes) que se os meus felinos tivessem uma profissão, a dela seria bibliotecária-tonta-distraída. Ele seria um professor universitário bem vestido e mal-humorado.

13h: evito que a gatinha beba o molho da carne que está no meu prato.

13:30h: os dois felinos adormeceram: ele na varanda e ela no "poleiro". Eu descanso e vejo uma série.

Que dias tão cheios!*

*Título de um álbum de Calvin & Hobbes com muitas tiras a retratarem o Verão (e as respectivas férias) do pequeno Calvin. Merece leitura e cai muito bem nesta altura do ano.


Kit de Férias - o início


Notinha-coisa-pouca: Este é o Kit de Férias Básico. Depois existem todas as revistas que fui comprando e que não fui lendo, todas as revistas do Expresso que estão ali à espera, já para não falar de todos os livros que gostava de despachar durante este mês. Ai Agosto... Devias durar pelo menos oitenta dias para poder fazer uma viagem porreira à volta das minhas leituras!

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sonhando

A RTVE, na qual se inclui a televisão pública espanhola, voltou a colocar na sua página da internet os episódios completos da série Isabel, que havia retirado por uma questão de direitos que nunca cheguei a compreender. Com isto pude acabar de ver a série (faltavam-me seis episódios) e no fim até fiquei de lagriminha no olho. Pareceu-me uma excelente série, capaz de nos agarrar ao ecrã e, como disse numa quixotada em tempos, fazer-nos torcer pelos reis católicos em vez de torcermos pelo nosso próprio soberano. Todos os que queiram aproveitar o Verão para despachar as três temporadas desta série devem ir à página da RTVE e elas lá estarão.

Aproveito e digo-vos que nessa página existem muitas, muitas, muitas outras séries que vale a pena ver. Desde adaptações de clássicos até ao conhecido (e de que também já falei) Cuéntame Cómo Pasó, podemos encontrar muitas coisas boas com que nos ocupar. Além de séries, também existem documentários sobre os mais variados temas que podemos ver. Vale bem a pena. 

Tendo virado o site do avesso não deixei de pensar que seria fabuloso ver a RTP a fazer o mesmo: grandes séries que depois ficariam disponíveis online e não apenas para venda em DVD. Chegar à página da internet da estação e conseguir ver documentários e séries que já passaram há algum tempo seria excelente. Enfim, vamos sonhando que pode ser que um dia...

Praga peluda

Assim de repente (ou não tão de repente assim, pois estava a estender roupa) ocorreu-me a seguinte ideia: uma das dez pragas bíblicas do Egipto poderia muito bem ter sido pêlo de gato na roupa daquela gente toda. Sim, é que por muito que gostassem de gatos e que os achassem a última coca-cola do deserto, nenhum faraó gostaria de estar vestido com modelitos cheios de pêlo felino que não sai nem sob rajadas de metralhadora. E digo isto com conhecimento de causa já que por estupidez (cansaço não pode ser que estou de férias) enfiei uma camisola nova na máquina de lavar acompanhada por... um dos tapetes dos gatos! Como eram da mesma cor e tal... Bom, a camada de pêlos com que a camisola saiu da máquina fez-me temer que ela, de súbito, começasse a miar. Também pensei que pudesse estar tão distraída que em vez de uma camisola tivesse comprado um gato às riscas, mas como eram azuis relaxei um bocado. 

Lá pus novamente a camisola no programa de enxaguamento, imaginando que assim sairiam os pêlos do tecido, mas também do tambor da máquina que havia ficado parecido com um Chewbaccazito cinzento. Retirei a camisola e... já não parecia um gato inteiro: já era só meio gato. Desisti: estendi-a na corda e pensei que antes de dar a camisola à senhora para que a passe a ferro, talvez seja melhor passar-lhe o rolo autocolante por cima, só por causa das vergonhas.

Agora, quanto a mim já sei: quando precisar de vingar-me de alguém ou de lhe infernizar um pouco a vida, atirar-lhe-ei um saco de pêlo felino para cima da sua melhor roupa preta. Ou então ofereço-me para lavar a roupa da pessoa e coloco na máquina também a mantinha rosa e felpuda do Sr. Gato em época de muda do pêlo. É que "casaquinho de gato" em roupa molhada é quase o mesmo que uma arma nuclear: ataca o núcleo dos nervos de uma pessoa que é um miminho. Ora pensai nisso...

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Duras penas

Nos filmes, nos desenhos animados, na banda desenhada, tem muita graça assistir àqueles momentos em que se dá uma luta com almofadas de penas e tudo fica coberto por plumas que esvoaçam pelo ar e que cobrem chão e móveis, tapetes e cortinados, pessoas e animais.

Na vida real é do mais irritante que existe. Malditas almofadas do Ikea, que até tirar-lhes as fronhas para as lavar faz parecer que andei a depenar patos durante uma manhã inteira! 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Até amanhã... no Pacífico!

Quando acabo de ler um livro, pois claro que preciso de escolher outro para ler a seguir. Mas sempre que digo cá em casa "Tenho de ir ali escolher um livro.", o meu moço responde-me "Então até amanhã!". Bom, das duas uma: ou demoro demasiado tempo na escolha ou tenho livros a mais. Ou então é tudo junto: demoro muito porque tenho muito por onde escolher. E verdade verdadinha que é cada vez mais difícil seleccionar a leitura que se segue. Quando tinha (relativamente) poucos livros, ainda não tinha terminado um e já sabia qual seria o senhor que se seguiria. Mas depois deixei de conseguir ter essa espécie de "desejo" por ler este ou aquele livro de seguida. Acabo a leitura e fico sem saber para onde virar-me depois. Pego numa revista, compro o jornal, contudo o momento da tal selecção terá de chegar e então lá irei eu sentar-me a olhar para as estantes a ver se há uma lombada que me salte à vista. É tramado.

Bom, depois de terminar O Indesejado, de que falei ontem, chegou a altura de seguir em frente. Após um bocado a olhar para as estantes e depois de ter ficado entre um autor russo, um português, um romance histórico e uma biografia, acabei por escolher... um livro de viagens. Já aqui disse muitas vezes que adoro livros de viagens. Sou criatura para estar sempre no mesmo sítio, mas com os livros posso ir a todo o lado que não me importo nada. Gosto muito de vários autores, mas fiquei fã do Michael Palin no ano passado quando li Brasil, onde é descrita a sua longa viagem por esse enorme país. Já gostava do senhor por fazer parte dos Monty Python, mas ainda gosto mais por viajar e contar as suas experiências em documentários (e depois em livros) que, sem serem aborrecidos, provocam uma enorme vontade de irmos nós mesmos ver in loco aquilo de que fala. Neste O Pacífico de Lés-a-Lés, o mais recente e editado pela Bizâncio, assistimos à viagem levada a cabo em 1997 pelos países banhados pelo Pacífico. Começa sentado num rochedo junto ao Estreito de Bering e daí seguirá para a Rússia. Prosseguirá a viagem e passará por países como o Japão, a Coreia, o Vietname, a Malásia, a Indonésia, a Austrália e a Nova Zelândia, a Bolívia, o Peru, a Colômbia, o México, o Chile e outros. Invejável, portanto...


domingo, 2 de agosto de 2015

Vilipendiei uma aldeia de estrumpfes

As duas pessoas que moram cá em casa (desta vez deixo os felinos de fora) um dia serão presentes a um Tribunal Internacional de Direitos dos Estrumpfes para serem julgadas pelo crime de devastação de aldeias de estrumpfes, pelo despejo sem dó de centenas e centenas destes pobres coitados azuis de calças brancas e barrete da mesma cor (andam sempre em tronco nu?). E como, perguntais vós? Simples: as quantidades industriais de cogumelos (frescos e de lata) consumidos neste lar só podem ser possíveis através da destruição em massa de aldeias de estrumpfes. Não há outra maneira! Ao menos, para atenuar a maldade, vou fazendo questão de lavá-los bem lavados de forma a garantir que toda e qualquer criatura azul (e de outros tons e feitios também...) abandona o cogumelo antes de este acabar a borbulhar no estufado. 

Espero, mesmo assim, que os estrumpfes que vivem nos quilos e quilos de cogumelos consumidos por mês cá em casa tenham boas pernas para umas valentes corridas. É que se por um lado lhes aniquilo as casas e depois as submeto a lavagens profundas, os que ainda conseguem escapar têm pela frente não o gato do Gargamel, mas dois felinos desejosos de brincar com pigmeus azuis...

Nota: Desculpem, a coisa lá resvalou para os felinos outra vez.

O Indesejado - o balanço

Acabei hoje de ler o livro O Indesejado, de Sarah Waters e que, segundo informação constante da capa, foi finalista do Man Booker Prize de 2009. Por ter sido um romance que me levantou algumas questões sobre leitores e leitura, falarei aqui um pouco sobre ele (e depois devo pô-lo à venda no blogue Moinho de Vento - Livros Usados). 

O enredo envolve uma família aristocrática que no pós-guerra inglês não encontra condições para manter a sua posição social. A degradação da família e das suas finanças será visível em vários aspectos, mas será a sua mansão que revelará ao mundo a desgraça em que o clã, outrora tão abastado, caiu. Dirão algumas personagens que a queda da família Ayres se deve às mudanças ocorridas num mundo que, entre outras coisas, havia experimentado guerras mundiais. Já não haveria lugar, portanto, à existência daqueles proprietários rurais em torno dos quais toda a aldeia ou vila se movimentava e que eram admirados por todos. Nesse aspecto o livro levou-me a recordar o que acontece na série televisiva Downton Abbey, na qual também uma vila existe em torno de uma só família aristocrata que, por sua vez, se vê com cada vez mais dificuldades para manter o estilo de vida e a influência sobre outros que desde sempre se habituaram a ter.

Mas voltando ao romance. Depois de sermos introduzidos na realidade quotidiana da tal família caída em desgraça e de percebermos em que ponto da situação cada personagem se encontra, percebemos que a história levar-nos-á a a assistir a uma sucessão de acontecimentos estranhos que vão permanecendo sem explicação ao longo do livro. A casa continua a ser o elemento central da narrativa e, dentro dela, as diferentes personagens vão viver um estranho conflito entre uma vida "normal" (dentro da decadência, claro) e uma existência cheia de acontecimentos bizarros e inexplicáveis que conferem a tal aura de mistério que faz do livro o pequeno vício que ele é. Sabemos desde logo pelo título e pela informação da contracapa que aquela casa esconde algum segredo, mas este, embora vá produzindo as suas vítimas, não é revelado desde logo. Assim, queremos ir lendo e virando páginas na esperança de encontrar o próximo acontecimento inexplicável e a dimensão que assumirá na história, mas sem que tudo nos seja entregue. Ainda que eu tenha considerado em determinado momento que a história estava a estagnar, a verdade é que depois avança e acabamos por ficar com a ideia de que essa fase mais parada da acção serve para preparar-nos e para dotar o leitor das informações necessárias para o que se seguirá. Um pouco à maneira dos policiais.

Ora, sobre o livro em si não revelarei mais nada para não estragar uma leitura que possam querer vir a fazer. Referirei apenas que enquanto entretenimento o livro é muito bom e que está muito bem construído dentro do género. Não vos direi se afinal a casa está assombrada ou não, mas direi que para quem gosta de livros onde o inexplicável está presente e deixa a sua marca (ainda que no fim o inexplicável possa passar a ser explicável... ou não), este romance é o ideal.

Agora, que questões foram aquelas que referi logo no início da quixotada? Bom, enquanto ia lendo e perante tantos mistérios, como leitora que sou ia levantando hipóteses e procurando compreender o que poderia estar a acontecer. A partir de um determinado momento houve um pormenor que começou a "cheirar-me mal" e pensei que a autora tinha de ser muito fraquinha para ser tão óbvia. Com a continuação comecei a pensar que se calhar não se tratava de uma falha, mas de algo propositado: era suposto o leitor reparar naquele detalhe (que a partir de uma dada altura já não é apenas um pormenor) e não o perder de vista. No final percebe-se que é isso que faz sentido: a autora construiu o seu texto de modo a deixar pistas ao leitor. Ora, aqui entra a ideia de leitor experiente, aquele que além do que está escrito, lê e decifra os sinais que lhe vão sendo deixados aqui e ali. Quem primeiro me falou disto foi a minha professora do secundário. Dizia-nos que além do texto há pormenores simbólicos que informarão o leitor mais experiente sobre o que virá a seguir. Dava como exemplo Os Maias e os muitos pormenores que nas descrições passam ao lado dos alunos, mas que estão lá a servir de indícios para o rumo que a acção tomará daí em diante. Com O Indesejado aconteceu isso e aquilo que inicialmente julguei ser falta de jeito da escritora passou a ser, afinal, o contrário. Mas depois fiquei a pensar: será que num livro onde se quer mistério do início ao fim, onde a dúvida sobre a presença de uma assombração ou não dá um gosto particular ao texto, estas pistas trarão algum benefício à obra? N'Os Maias esses indícios fazem todo o sentido e estão tão diluídos no texto que só mesmo os leitores mais experientes ou os que não o sendo são para eles alertados se deterão neles. Neste caso, e sem saber a vossa opinião, a minha dúvida foi: num livro como este, em que se quer um leitor agarrado à história para saber afinal o que se passa, estes pequenos indícios, sinais, estranhezas enriquecerão o livro ou, pelo contrário, empobrecê-lo-ão? Não tenho mesmo resposta, mas acho que bom bom é quando os indícios são fortes, levantamos a nossa hipótese e depois a realidade é outra, melhor ainda quando é a oposta, a menos provável, aquela em que nunca pensaríamos. Julgo que é algo comum a todos os leitores: gostamos de ser surpreendidos. Ora, quando os indícios são fortes e num livro de mistério se verificam mesmo, o factor surpresa cai por terra. Mas e se os indícios forem fortes e no fim sobrar a dúvida, já farão mais sentido?

É um mundo complexo este. Em todo o caso convido-vos a ler este livro para perceberem do que estou a falar. Como entretenimento é óptimo e, de facto, tem a capacidade de envolver o leitor página após página. No fim de contas, o balanço é positivo, que é o que se quer. 

sábado, 1 de agosto de 2015

"Poné"

Ah, já me esquecia de contar-vos que a minha pequena sobrinha aprendeu a dizer uma palavra que adoro (e ainda adoro mais aquilo que quer dizer). Ora, a piquena aprendeu a dizer "pónei". Bem, na realidade ela diz "poné" e di-lo a apontar para o peluche de um unicórnio que lhe dei há uns meses. Mas vá: unicórnios, póneis... Gosto de ambos e gosto ainda mais de ouvi-la dizer "poné". Portanto vou fazendo uma espécie de "discos pedidos" quando estou com ela, pedindo-lhe para repetir, repetir, repetir...

Quixotadas curtas IV

Ora hoje há três ou quatro coisas que gostava de partilhar com o mundo (as três pessoas que visitam o blogue e que são uns amores), mas sem me alongar muito sobre elas, pois sabeis que tenho alguma tendência para a verborreia agravada. E aqui vão:

- Vizinhos. Quem se lembrou de inventar os vizinhos? Em casa dos meus pais só tinha doidos a rodear-nos. Uns que achavam que os cães não precisavam de ir à rua e que, portanto, podiam borrar o quintal todo e ladrar a toda a hora que seriam sempre uns amorzinhos. Esses e outros vizinhos juntavam-se à conversa de quintal para quintal a falar mal dos restantes habitantes do prédio. Bem, isso durou até eu tirar um bocadinho para, na escada do prédio, explicar-lhes que sempre que se punham à conversa nos quintais, ouvia-se TUDO lá em cima, e não era preciso muito esforço. Depois desses doidos, muitos outros se lhes seguiram e, enfim... É melhor nem falar. Lembrei-me disto porque hoje em dia considero que a minha vizinha de cima segue a tradição e não tem noção daquilo que incomoda os outros. Moro numa zona com vento e a senhora insiste em estender tapetes deixando-os pendurados de tal forma que passam a noite a bater-me nos vidros da janela. Resultado: uma barulheira descomunal. A senhora não percebe ou então é surda. Aliás, como também o deve ser a vizinha de baixo que GRITA ao telemóvel a qualquer hora do dia ou da noite. É brutal! A senhora já   tem uma certa idade e não deve ouvir bem, pelo que, apesar de já falar naturalmente alto, grita quando se irrita e, acreditem, ela irrita-se bastante. E, como se não bastasse no que a vizinhos diz respeito, há uns meses e em duas ocasiões diferentes queimaram-me com cigarros roupa que estava pendurada no estendal. Portanto, uma quase me parte a janela com os tapetes, a outra grita até me assustar os gatos e algum dos muitos vizinhos de cima acha que atirar cigarros acessos para cima de uma corda cheia de roupa lavada faz todo o sentido. Claro que neste último caso tive de me mexer que não ando a trabalhar para pagar roupa que outros destroem por estupidez. Por isso, meus caros, não me imagino a viver isolada, mas gostava de algum sossego e, sobretudo, de estar rodeada por gente que pára a pensar naquilo que incomoda os outros. Será pedir de mais?

- Estou com algum defeito. Tinha um vale para gastar na Zara e não conseguia. Cada vez que entrava lá não via nada de que gostasse e achava sempre tudo demasiado caro para a qualidade que apresentava. Vi-me e desejei-me para conseguir ver-me livre do vale. Consegui, finalmente, trocá-lo por duas camisolas (pelas quais não estou apaixonada como desejaria) que foram o que de mais bonito (e menos obscenamente caro) consegui encontrar. Em tempos fui uma grande fã da Zara. Agora dispenso-a.

- Depois de muito tempo a ser acordada por gatos ainda antes de o meu corpinho (ou principalmente a minha cabeça) decidir que era hora de levantar, penso ter descoberto a filosofia por trás da coisa. No fundo, os meus gatitos procuraram ensinar-me aquela coisa do "deitar cedo e cedo erguer...". E de facto faz algum sentido: sendo naturalmente alguém que não se deita muito tarde (até porque em tempo de aulas acordo com as galinhas), acabei por perceber que quanto mais cedo acordo, mais o dia rende e mais bem disposta ando. Demorou, mas compreendi a lição dos mestres felinos. Obrigada, miaus.

- Estando oficialmente inaugurada a época de férias (aleluia, aleluia, aleluia), inaugura-se também a época de leitura até cair para trás (haverá de dar outra quixotada). Portanto, além dos livros que tenciono ler, está aberta a época da caça à revista. Revistas de História, Courrier Internacional, suplementos Babelia descarregados para o tablet, revistas literárias encalhadas há meses à espera de leitura e, até, revistas de passatempos: marchará tudo neste mês que se quer de minutos longos e de horas intermináveis. Está aberta a época anual para recuperação de energias e para reposição do stock de leituras feitas porque aquelas que estão por fazer são já imensas.