domingo, 4 de março de 2012

O tempo

Hoje passeava-me pelos blogues do costume e por mais alguns em que vou tropeçando alegremente e a determinada altura começou a surgir-me uma questão que não sei se também atormenta os quixoteiros que param aqui nesta esquina da blogosfera. A minha pergunta é a seguinte: como é que estas meninas que passam a vida a cuidar da imagem têm tempo/paciência (e ia acrescentar dinheiro, mas é preferível não o fazer) para passar a vida em salões de cabeleireiro, massagistas (está bem, essas aguentam-se facilmente...), manicures, pedicures e o diabo a sete? Não o pergunto por mal, nem para escarnecer de actividades que por vezes me parecem excessivas, mas sim porque para mim passar quatro horas no cabeleireiro a arranjar as madeixas é uma tortura. Aliás, no que toca a manicures, pedicures, depilações e afins, procuro tratar de tudo em casa, por minha conta, que sempre sai mais baratito (e ao mesmo tempo posso ir ouvindo como ruído de fundo os desenhos animados que a RTP2 passa todos os dias).

Fui pensando nisso e do tempo e da paciência comecei a entrar pelo caminho dos resultados. Sim, acredito que as pessoas que cuidam assim tão afincadamente da imagem tenham muito melhor aspecto do que eu, cujo grande luxo são as madeixas no cabeleireiro. Contudo, não será demasiado? Não andarão as pessoas a perder demasiado tempo a montar uma imagem que, no final de contas, se desmonta em peças e tem como resultado uma pessoa completamente diferente? Não andaremos a fugir em demasia daquilo que somos? Não digo, obviamente, que deixemos de nos cuidar e que comecemos a parecer meninas das cavernas, mas pelo que vou vendo na blogosfera, parece-me que isto da aparência exterior está muito sobrevalorizado. Perigosamente sobrevalorizado, aliás. São as roupas da moda (moda essa que está sempre a mudar e que nos vai obrigando a puxar da carteira mais vezes do que gostaríamos), são os tratamentos estéticos milagrosos, são as unhas de gel e as cores quentes e frias, são as mil e uma coisas que se podem fazer com o cabelo, são as aplicações disto e daquilo ali e além, são tantas coisas a pedir manutenção que às tantas parecemos carros a precisar de inspecções periódicas e de quem dê uma mãozinha para afinar isto tudo.

Enfim, como em tudo na vida, quem gosta e pode faz e quem detesta e não pode fica quieto. Tudo isto só é possível porque cada vez mais o ser humano quer atingir uma espécie de perfeição (pelo menos externa) e, portanto, as pessoas submetem-se ao que tem de ser para lá chegarem. A mim parece-me tudo demasiado exagerado, tanto do ponto de vista do tempo que se gasta nestas tarefas e que tanta falta faz para outras que julgo mais produtivas (mas, lá está, cada um gere o seu tempo e cada um sabe de si), quanto dos recursos gastos a montar uma mulher fantástica que na realidade é um amontoado de peças da indústria estética. E com isto a simplicidade perde-se e ganha terreno, muitas vezes, a futilidade e o que não interessa para nada.

Com isto lembrei-me de uma história que faz parte de O Principezinho em que um comerciante lhe tenta vender umas pílulas e em que a simplicidade se perde (embora aqui seja com o objectivo de economizar tempo). Deixo-a aqui.

« - Bom dia, disse o principezinho.
  - Bom dia, disse o comerciante.
Era um comerciante de pílulas aperfeiçoadas que acalmam a sede. Toma-se uma por semana e deixa-se de sentir qualquer necessidade de beber.
  - Por que é que vendes isso? disse o principezinho.
  - É uma grande economia de tempo, disse o mercador. Os peritos fizeram as contas. Poupam cinquenta e três minutos por semana.
  - E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?
  - Faz-se aquilo que se quer...
"Eu, disse para si mesmo o principezinho, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, caminharia muito lentamente para uma fonte..."»

Saint- Exupery, Antoine (1996). O Principezinho. Lisboa: Relógio D'Água.



 

4 comentários:

  1. Não me importava de ter orçamento para gastar horas semanais em massagens! :) Infelizmente não tenho.
    Só me tento de vez em quanto a lavar e secar no cabeleireiro, meia horinha porque em casa é chato, nunca fica tão bem e mesmo assim ando sempre atrás das promoções semanais, mais de 7 euros é um roubo! :P
    Quando às unhas, já estou especialista, pinto-as eu!

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    1. Eu também não me importava de ter orçamento para isso (se bem que tenho quase a certeza de que acabaria a estourá-lo em outras coisas). O que me parece é que há quem exagere e, às tantas, só viva à volta disso e da aparência externa. Enfim, são gostos e se há quem tenha tempo e dinheiro para dedicar a essa vida, olha, é bom para os negócios que vivem disso. Lol Isso das unhas experimentei no Verão passado até um verniz (que até nem foi barato) me tingir as unhas. Andaram uns dois meses com a coloração mais estranha do mundo. Desde aí não lhes voltei a pôr nada porque fiquei com pena delas. Mas sim, prefiro fazê-lo em casa (até porque da última vez que paguei para mo fazerem [ver Quixotada de 16 de Novembro de 2011]) a coisa correu mal (e eu não contei metade da história na Quixotada!).

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  2. Eu concordo contigo plenamente. Ou eu não sou uma rapariga normal, ou então não sei. Eu realmente concordo que as pessoas devam andar minimamente apresentáveis, mas não acho necessário gastarem rios de dinheiro nessas coisas. Nem é a questão de dinheiro, a mim é questão de paciência. Coisa que me falta, e não percebo nada de moda, compro roupa quando preciso. Pinto as unhas raramente, mas ando com elas arranjadas por mim, uso o básico, os cremes diários e tal, não sou fanática por bijutarias, maquilhagem etc...Não acordo 2 horas antes para esticar o cabelo antes de sair de casa, não tenho paciência. é a minha personalidade e até admiro quem tenha essa coragem, vivo com pessoas assim e sei mais ou menos o que é para elas sair à rua sem maquilhagem, impossível. Mas para mim é tudo uma mascara, uma falsa máscara para impressionar, chamar atenção..eu sei lá. há muito exagero nesta sociedade, pessoas preocupam demasiado com aquilo que gostariam de ser, ou aquilo que os outros pensam e não com aquilo que deviam ser ou realmente são. Na minha opinião é só mesmo aparência, não valorizam as pequenas coisas do dia-a-dia, porque não têm tempo. é muita revista cor de rosa, o que me preocupa mais é que isto parece um vírus que começa já a afectar adolescência.
    Talvez seja eu que esteja errada, mas é só a minha opinião. cada qual é como cada qual.
    :)

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    1. Uma pessoa cuidar de si é legítimo. Uma pessoa não fazer mais nada senão tratamentos disto e daquilo, idas ao cabeleireiro para pôr e tirar extensões, cortar meio centímetro ao cabelo, pintá-lo a cada quinze dias, pôr e manter unhas de gel, fazer pedicure, fazer a depilação em todos os centímetros e mais alguns em esteticistas parece-me já exagerado. Se um dia a pessoa tiver de saltar umas manutenções, o que acontece? Cai aos bocados? Quem gosta e tem paciência (e dinheiro) faz o que quer e quem sou eu para dizer que não o devem fazer? Só já me começa a parecer um pouco um fanatismo estranho com a aparência.

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