Ontem soube de um problema pelo qual uma aluna está a passar e fiquei de queixo caído. No fundo, boa parte das dificuldades são financeiras e devem-se à situação que estamos a viver em Portugal. O problema maior é que se partiu de uma vida demasiado privilegiada, com tudo aquilo que possam imaginar, com acesso a tudo o que o dinheiro pode comprar, para uma situação em que já vai faltando o mais básico.
Enfim, tudo isto é chocante porque convivemos com estes miúdos e não sabemos (não temos como) o que se passa na vida deles quando saem da escola. E por muito que já sejam crescidos e que possam tentar ajudar arranjando um trabalho em part-time, da revolta já não se livram. E é aqui que alguns miúdos e miúdas se perdem se não forem agarrados como aquela, felizmente, está a ser. Aquilo que ela, que sempre teve muito mais do que aquilo que eu poderei imaginar vir um dia a ter, está a passar é um fruto do tempo e não é, como bem se sabe, a única a sofrer pelos cortes salariais, encerramentos de empresas, dívidas que se amontoam e dinheiro que de súbito deixa de entrar.
Todavia, não vivemos só uma época de desgraça financeira. Atravessamos, também, uma profunda crise de valores que se comprova pelo modo como um dos membros da família da referida aluna conseguiu aumentar o problema, ao arranjar outra mulher, desligando-se do resto da família. Assim, aqueles miúdos acrescentam às dificuldades financeiras a visão do desmoronamento de uma relação que ainda os ia amparando. Como é óbvio, estão revoltadíssimos e precisam de apoio. Mas de onde ele mais devia vir, é de onde chegam os maiores problemas.
A Troika, o Passos Coelho, a senhora Angela Merkel podem tentar arrumar-nos a casa do ponto de vista das contas, mas cabe-nos a nós arrumá-la do ponto de vista dos valores. A um problema que já é gigante, não se deve somar outro igualmente grande e que empata bastante a resolução do primeiro. Por muito que se imponham medidas de austeridade, elas nunca poderão levar-nos a evitar atitudes que demonstram a profunda crise de valores em que estamos mergulhados. E enquanto os adultos andam nisto, dão o pior dos exemplos aos mais novos, que crescem vendo que tudo é possível e natural. Se quem os devia educar pode, no meio de um problema já demasiado grave, arranjar mais problemas e mostrar que se pode tudo, então a lição que eles tirarão será a pior e depois não haverá escola nenhuma que consiga repor os valores que pelo caminho se perderam. Já alguém o disse e eu concordo: vivemos duas grandes crises, a económica e a dos valores. Estamos a tentar que uma se resolva, mas e a outra?
Está a ficar uma situação muito complicada e o problema É que não são casos isolados. Imagino o que essa aluna está a passar, já conheci também infelizmente mais um caso assim. e não é fácil para eles, para a família que não e consistente e para uma sociedade que não tem muitos recursos nem meios.
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