quarta-feira, 7 de março de 2012

Da irresponsabilidade

Ando perplexa com a irresponsabilidade de uma turma que tenho. São miúdos que sabem o peso da minha disciplina, que sabem bem que com menos de oito valores reprovam logo (sem precisarem de outra negativa) e que, mesmo assim, vão para as aulas insultar-se e gozar uns com os outros. Engonham a tal ponto que duas horas de aulas não rendem aquilo que noventa minutos rendem com miúdos muito mais novos e, para cúmulo, inscreveram-se para fazer o exame nacional (que não precisavam de fazer) porque assim podem, crêem eles, seguir no ensino regular. Eu e os outros professores ficamos boquiabertos com a incapacidade daqueles miúdos para perceber que o ensino regular não está feito para eles e que, com o que eles se esforçam, atrevo-me a dizer que não há escola nenhuma onde eles encaixem bem.

Enfim, este é cada vez mais um problema vulgar porque também se deve muito às novas formas de educação que desresponsabilizam os miúdos e lhes dão uma ideia de impunidade muito errada. De alguma forma, estes alunos sabem que têm as costas muito quentinhas. Porquê? Só posso dar a minha opinião, mas acho que será porque em casa não lhes exigem grande coisa e porque provavelmente os pais demonstram que cá estarão para resolver as asneiras dos filhos. A coisa funciona mais ou menos assim: «deixa lá, filho, que se chumbares ali, para o ano vais para outra escola melhor» (isto acontece mesmo, que eu já ouvi!). E vão. Às tantas há alunos que já fizeram uma espécie de «Volta a Portugal em Escolas» e não há meio: reprovações atrás de reprovações. Chega a dar para rir.

Depois, parece-me, há um outro problema que é grave e que tem grandes consequências a longo prazo, tal como o anterior. É que sei que há escolas que não admitem que os professores reprovem alunos e que há docentes incapazes de chumbar alguém. Coitadinhos, são tão queridos e fixes e dão-se tão bem com os meninos que as notas são todas niveladas por cima, ainda que calmeirões de dezassete anos cheguem ao terceiro período do 12.º ano sem saberem desenhar as letras do alfabeto. Acho que todos os professores já deram, uma ou outra vez, uma oportunidade a um aluno, mas há quem faça disso regra. E assim eles vão passando, passando, passando até me aparecerem à beira dos exames nacionais sem nem sequer saberem marcar um parágrafo!

O ensino precisa de uma volta e a cabeça dos miúdos também. Em casa e na escola têm de ser responsabilizados pelo que fazem e punidos quando erram ou quando não se esforçam nem um pouco. Se assim não for, vão continuando a fazer o mesmo e vamos todos enterrando a cabeça na areia para fingir que não vemos nada.

Sem comentários:

Enviar um comentário