quinta-feira, 15 de março de 2012

Carlitos, o pau

Hoje, ao dirigir-me para a sala de aula, vejo um miúdo sentado no chão e encostado a um pau grossíssimo, bom para uma fogueira. Entretanto, e antes que eu chegasse junto dele para saber a razão que o levou a precisar de um cavaco à porta da sala, chegou uma directora e perguntou-lhe que disparate era aquele. Obteve esta resposta:

- É o meu amigo e chama-se Carlitos.

Por já estarmos a ver que aquela história do pau ainda havia de dar mau resultado, este foi-lhe retirado enquantos os colegas berravam «não lhe tire o Carlitos: é amigo dele». Juro que me senti noutra dimensão, de tão disparatada que ia sendo a cena. Ora, como os miúdos arranjam sempre forma de dar a volta à questão, a segunda parte da saga «Carlitos, o pau» consistiu em o aluno desatar a chorar, dizendo que se tinha aleijado numa perna enquanto brincava no recreio e que o cavaco era a sua bengala. Se tivermos em conta que o pau não devia chegar aos quarenta centímetros e que o meu aluno não é anão, aquilo era tão bengala como eu sou um peixe de água doce.

Resumindo e concluindo: ficou mesmo sem o pau, já que este se mudou para a sala da directora, de modo a evitar-se que um dos alunos da turma acabasse por experimentar a ira do «Carlitos-amigo-bengala». No intervalo seguinte lá andava ele à procura da directora, de modo a reaver o seu amigo-pau para irem os dois, numa felicidade idílica, brincar juntos no recreio.

Às vezes estar na escola parece uma alucinação febril.

2 comentários:

  1. Muito bom. Não se deve impedir uma criança de confraternizar com o seu amigo imaginário... :)

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    1. O problema é quando o amigo (Carlitos de seu nome) é também uma arma em potência. Ahahah! :p

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